Em fevereiro do ano passado, o compositor e regente carioca Jo�o Guilherme Ripper entregou a
partitura
de “Cartas portuguesas”,
�pera
feita sob encomenda para a Osesp e a Funda��o Gulbenkian, de Portugal. Um m�s depois foi declarada a pandemia da COVID-19. A obra, que j� teve duas montagens – em agosto, em S�o Paulo, e em novembro, em Lisboa –, tem narrativa ambientada no s�culo 17. Ganhou atualidade por causa de seu tema, o
isolamento
e a
solid�o
.
Obrigada pela fam�lia, ainda na inf�ncia, a abra�ar a vida
religiosa
, Mariana, sem voca��o, fechou-se no Convento de Nossa Senhora da Concei��o, em Beja, no Alentejo. Quando ela tinha cerca de 20 anos, um regimento franc�s chegou � cidade. Nele estava o oficial No�l Bouton de Chamilly (1636-1715).

A religiosa teria ca�do de amores. Quando a rela��o foi descoberta, Bouton deixou Portugal e prometeu a Mariana busc�-la um dia. Em v�o. O resultado desta longa espera foram cinco cartas nunca respondidas. Em 1669, as missivas foram publicadas em Paris (sem autoriza��o da autora) com o nome de “Cartas portuguesas”. Nunca se comprovou se a freira, que morreu aos 83 anos, no mesmo convento, foi a autora das cartas, que se tornaram um cl�ssico da
literatura
.
Ripper est� em Belo Horizonte acompanhando a montagem, que tem dire��o de cena de Jorge Takla e a soprano Camila Titinger no papel principal. O concerto c�nico ser� regido pelo maestro Roberto Tibiri�� e contar� com a participa��o das sopranos �rica Muniz, Deborah Bulgarelli e N�vea Freitas. Na mesma noite, ser� executada a “
Sinfonia nº 8
”, de Beethoven.
EMO��ES ENCLAUSURADAS
O compositor conheceu a hist�ria mais profundamente em 2016 quando, apresentando a �pera “Onheama”, no Festival Terras Sem Sombra, no Alentejo, visitou o convento em Beja. “Fiquei encantado, vi que a hist�ria daria um monodrama (�pera ou pe�a teatral interpretada por um s� cantor ou ator). Como j� tinha feito “Domitila” (�pera de 2000 baseada nas cartas trocadas entre D. Pedro I e Domitila de Castro do Canto e Melo, a marquesa de Santos), vi que daria para fazer no mesmo modelo. Quando recebi o convite do Arthur Nestrovski (diretor art�stico da Osesp) para fazer uma �pera sob encomenda, pensei em ‘Cartas portuguesas’”, conta.
Takla tamb�m dirigiu as duas montagens anteriores. Atuando pela primeira vez na Sala Minas Gerais, o diretor c�nico criou um pequeno palco que vai at� as quatro primeiras filas da plateia. � esse espa�o que vai comportar as solistas. “Este prosc�nio n�o foi feito em lugar nenhum. A sala � extraordin�ria e estamos explorando aqui uma nova geografia”, diz ele.
Sobre a diferen�a entre �pera e concerto sinf�nico, Takla explica, didaticamente, que a grande diferen�a � que, no segundo caso, a orquestra n�o est� no fosso. “O cen�rio fica na frente da orquestra, tudo integrado, mas sem aglomera��o.” Para ele, “Cartas portuguesas” mexe com o p�blico por causa da mistura de emo��es. “S�o frustra��es, esperan�as, amor, medo, tudo junto no enclausuramento. Para a orquestra, � uma obra deslumbrante, e para a cantora, muito dif�cil, emocionalmente desgastante, pois � uma pe�a muito f�sica.”
PALCO VIVO
Compositor e diretor c�nico t�m opini�es complementares sobre apresentar a montagem para uma sala sem p�blico – somente as duas apresenta��es em Lisboa tiveram plateia, mas reduzida pela metade.
“Acho extraordin�rio montar uma �pera durante a pandemia, ainda que seja um pouco frustrante n�o sentir as palmas, a acolhida do p�blico. Mas assistir a tanta gente trabalhando para apresentar uma obra de arte � muito lindo”, diz Takla.
Ripper acrescenta: “Como tamb�m estou do outro lado do balc�o (ele dirige a tradicional Sala Cec�lia Meireles, no Rio de Janeiro), encaro tudo como um processo natural do momento em que estamos vivendo. Sempre tento ser otimista. Que bom que estamos conseguindo produzir e lutando para manter o palco vivo.”
ORQUESTRA FILARM�NICA DE MINAS GERAIS
Com o concerto sinf�nico “Cartas portuguesas”,
de J.G. Ripper, e a “Sinfonia nº 8”, de Beethoven.
Nesta quinta (10/06), �s 20h30, no
canal do YouTube da Filarm�nica