
“Eu juro que � coca�na.” Tal afirmativa, qualquer que seja o contexto, � p�ssima. Bem, n�o no caso de Bussunda, ou Cl�udio Besserman Vianna (1962-2006), o mais ador�vel e popular dos cassetas. Pois v�rias testemunhas contam que ele, bastante jovem, dando uma festa em casa, pegou um porta-retrato com a foto da m�e, a psicanalista Helena Besserman Vianna, vestida de noiva, e cheirou em cima do objeto v�rias carreiras. Ainda lambeu o porta-retrato. Enquanto fazia isso, a m�e chegou em casa. A� Bussunda se justificou com ela, jurando ser coca�na. Antes cheirar p� do que lamber a m�e vestida de noiva, n�o?
Filha
Essa � uma das hist�rias impag�veis que v�m � tona na miniss�rie documental “Meu amigo Bussunda”. Rec�m-estreada na Globoplay, a produ��o, assinada pela Emo��es Baratas e Kromaki, tem quatro epis�dios. O diretor-geral � Cl�udio Manoel, outro ex-casseta, que trabalhou ao lado de Micael Langer tamb�m nos document�rios “Simonal: Ningu�m sabe o duro que dei” (2009) e “Chacrinha: Eu vim para confundir e n�o para explicar” (2021), em parceria com J�lia Besserman. A �nica filha de Bussunda tinha 12 anos quando ele morreu, aos 43, de ataque card�aco, em Munique, durante a cobertura da Copa do Mundo da Alemanha.
A miniss�rie, por sinal, � aberta com uma piada sobre a morte. Em 2003, o extinto site de humor Cocadaboa noticiou a morte de Bussunda. N�o havia redes sociais, mas a not�cia viralizou tanto que v�rios cassetas receberam mensagens de condol�ncia.
“Na �poca, a gente usava a pr�pria internet como pauta para o programa”, lembra Claudio Manoel, referindo-se � esquete em que todos os integrantes do humor�stico, incluindo o pr�prio Bussunda, faziam refer�ncia � tal “morte”.
O t�tulo “Meu amigo Bussunda” d� o tom � produ��o, uma s�rie muito afetiva, produzida neste ano com depoimentos de dezenas de amigos, parentes e companheiros de carreira. A ordem � cronol�gica. O primeiro epis�dio vai dos anos 1960 at� o final dos 1980, mostrando a inf�ncia, a vida com os amigos e o surgimento do apelido – avesso a banhos, Bussunda, ainda adolescente, ganhou tal nome.
O segundo epis�dio vai at� 1998, cobrindo a entrada na Globo e o programa “Casseta & Planeta urgente”. J� o terceiro vai at� 2006. J�lia Besserman dirige o quarto epis�dio, que re�ne humoristas da nova gera��o falando sobre a influ�ncia do “Casseta”.
O lan�amento coincide com os 15 anos de morte do humorista – em 17 de junho, uma semana antes de completar 44. “Para fazer essa jornada afetiva, precisei de tempo, porque no in�cio o trauma e o tamanho da dor eram grandes. Agora tamb�m � uma quest�o de maturidade, pois j� experimentei fazer document�rios”, diz Claudio Manoel, que participa como entrevistador.
Para Micael Langer, � muito relevante trazer a trajet�ria de Bussunda � tona. “Ainda que seja uma presen�a fresca na lembran�a de muitas pessoas, ele j� come�a a n�o fazer parte da lembran�a de outras”, diz.
Os casos s�o hil�rios. Com rico material de �poca, milhares de fotos e imagens, � poss�vel ver como Bussunda cunhou a frase “Cospe ou engole”, criada a partir da esquete em que ele, de terno e gravata, gravou com mulheres na Praia de Ipanema.
MUDAN�AS
Como seria Bussunda nos dias de hoje? A pergunta � obrigat�ria na era do politicamente correto. “Ele estaria atento �s mudan�as da �poca”, responde prontamente Cl�udio Manoel.
“O Bussunda que morreu aos 43 n�o era o Bussunda que fez ‘M�e � m�e’ (can��o que tinha como refr�o ‘M�e � m�e/ Paca � paca/ Mulher � tudo vaca!’), criada em outra �poca. Ele era muito menos da pancada e do choque, seu jeito era mais bonach�o”, diz Cl�udio. “Tenho certeza absoluta de que ele estaria fazendo piadas do tempo de hoje. Mas seria tamb�m cr�tico ao tempo de hoje, � galera que se acha no dever de patrulhar os outros e fazer a faxina do passado.”
Bussunda, a miniss�rie mostra, n�o era deste mundo. Ainda bem.
“MEU AMIGO BUSSUNDA”
l S�rie documental, em quatro epis�dios. Dispon�vel na Globoplay