Mug da Vila Isabel regeu a batucada da escola de Noel Rosa e Martinho
da Vila por 30 anos (foto: Instagram/Reprodu��o)
O samba perdeu quatro baluartes em menos de um m�s. Em 27 de maio, Nelson Sargento, presidente de honra da Esta��o Primeira de Mangueira, compositor de sambas-enredo da agremia��o e autor de m�sicas de meio de ano como “Agoniza, mas n�o morre”, morreu v�tima da doen�a.
Na sexta-feira (18/06), em curto espa�o de tempo, se foram outros dois nomes importantes das escolas cariocas. Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o La�la, era hist�rico diretor de carnaval e arquiteto do “rolo compressor” que a Beija-Flor de Nil�polis imprimiu no carnaval do Rio de Janeiro em parte da d�cada de 2000. Poucas horas antes, havia morrido Mestre Mug, comandante da bateria da Vila Isabel – a escola de Martinho da Vila – por tr�s d�cadas.
No in�cio deste m�s, o cantor Dominguinhos do Est�cio, a voz que entoou “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre n�s” na Marqu�s de Sapuca� e em milhares de churrascos Brasil afora, tamb�m sucumbiu. Complica��es de doen�as como a COVID-19 e a idade avan�ada abreviaram a trajet�ria dos quatro. � ineg�vel, por�m, que os caminhos da passarela ficam mais tortuosos sem a presen�a desses gurus. O carnaval n�o ser� mais o mesmo.
La�la foi o arquiteto do "rolo compressor" que a Beija-Flor imprimiu no carnaval do Rio na d�cada de 2000 (foto: ANTONIO SCORZA/AFP %u2013 2/2/10)
Grosso modo, o desfile das escolas de samba se divide entre m�sica e visual. La�la, como nenhum outro, conhecia os meandros dos dois quesitos. Vacinado com as duas doses, mas v�tima do novo coronav�rus, aos 78 anos, ele estava sempre munido de suas guias e da b�n��o dos orix�s.
O come�o foi no Acad�micos do Salgueiro, onde chegou a puxar os sambas dos desfiles de 1974 e 1975. Passou ainda pelas escolas Unidos da Tijuca e Grande Rio, al�m de ter se aventurado na folia paulistana.
Na Beija-Flor, para onde foi levado pelos bicheiros da fam�lia Abrah�o David, chegou ainda nos anos 1970, ap�s o sucesso no pavilh�o salgueirense. Depois de idas e vindas, retornou em 1995. Ao lado do amigo Neguinho da Beija-Flor, tinha carreira consolidada no meio do samba, mas come�ou a atingir a gl�ria nos preparativos para o carnaval de 1998, quando, sem o carnavalesco Milton Cunha (hoje comentarista da TV Globo), resolveu n�o contratar estrela para o posto. Teve a ideia de criar uma comiss�o de carnaval formada por diversos artistas, chefiados por ele.
A estrat�gia deu certo e, a partir dali, a “Deusa da Passarela” passou a enfileirar ta�as. O expediente de delegar a cria��o a um comit� foi seguido por diversos dirigentes. Foi com um trof�u, ali�s, que La�la se despediu de Nil�polis. Ap�s vencer a disputa de 2018, mudou-se para a Tijuca, mas ficou por apenas um ano. Em 2020, esteve na Uni�o da Ilha do Governador. O rebaixamento para o segundo grupo foi seu �ltimo ato.
O diretor era famoso por “juntar” sambas que participavam dos concursos internos das escolas. Buscando a can��o que embalaria o desfile, inventou o costume de fundir obras rivais, criando m�sicas antol�gicas. Foi da mistura de duas letras, por exemplo, que a Grande Rio desfilou, em 1993, com “No mundo da lua”, o samba mais importante de sua hist�ria, conhecido pelo verso “Clareia, dindinha”.
Nelson Sargento, presidente de honra da Mangueira, imortalizou o samba "Agoniza, mas n�o morre"
(foto: Cafi/Divulga��o)
PUXADOR
Tamb�m muito querido pelos f�s do carnaval, Domingos da Costa Ferreira morreu em 30 de maio, aos 79 anos, ap�s dias internado por causa de uma hemorragia cerebral. Com porte de gal� e voz marcante, virou Dominguinhos do Est�cio por causa do bairro em que nasceu. E foi por aquelas bandas que come�ou a carreira, na Unidos de S�o Carlos, depois rebatizada Est�cio de S�. Ficou l� durante boa parte dos anos 1970, at� se transferir para a Imperatriz Leopoldinense. Pela alviverde, em 1989, imortalizou o samba “Liberdade, liberdade”, sobre a Proclama��o da Rep�blica.
Assim como La�la, passou pela Grande Rio, mas voltou � Est�cio para o carnaval de 1992, dando � escola o seu �nico t�tulo na Primeira Divis�o, com o samba sobre o movimento modernista paulistano, marcada pelos versos “Me d�, me d�, me d�, me d�/Onde voc� for, eu vou com voc�”. Pioneirismo era a marca de Dominguinhos: afinal de contas, cinco anos mais tarde, foi ele quem conduziu a Viradouro para seu primeiro campeonato entre as grandes.
Dominguinhos do Est�cio foi aut�ntico puxador. Com gritos de guerra e chamadas de empolga��o, n�o se limitava a conduzir o samba. Enquanto cantava, convocava o p�blico, incentivava os desfilantes, pedia garra e distribu�a “abra�os” e “al�s” a personalidades. Tudo isso sem nunca se esquecer de, a todo momento, invocar a Virgem de Nazar�, de quem era devoto.
CL�SSICOS
Dominguinhos do Est�cio foi voz que eternizou "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre n�s" (foto: Instagram/Reprodu��o)
Assim como La�la, Nelson Sargento havia recebido duas doses da vacina contra COVID, mas n�o resistiu � doen�a. Al�m das can��es dolentes sobre as dores de viver e amar, fez m�sicas de avenida para a Mangueira. Ao lado do padrasto e parceiro de caneta Alfredo Portugu�s, em 1955, por exemplo, escreveu “Primavera”, cl�ssico carnavalesco sobre as esta��es do ano.
Mug da Vila Isabel, nascido Amadeu Amaral, regeu a batucada da escola de Noel Rosa e Martinho da Vila por 30 anos. � frente dos ritmistas, conduziu o hist�rico samba de 1988, “Kizomba, a festa das ra�as”, do famoso refr�o “Valeu Zumbi/ O grito forte dos Palmares”. Esse desfile rendeu o primeiro campeonato � escola. Aos 70 anos, foi internado por causa de uma h�rnia de disco, mas contraiu infec��es no hospital e n�o resistiu.