
O dia 28 de junho de 1969 ficou marcado pela invas�o violenta e discriminat�ria do bar Stonewall Inn pela pol�cia de Nova York. A resist�ncia dos frequentadores � truculenta abordagem homof�bica entrou para a hist�ria, e a data passou a ser celebrada em todo o mundo como s�mbolo da luta pelo respeito � diversidade e � toler�ncia. Nesta segunda-feira, Dia do Orgulho LGBTQIA+, artistas que movimentam a cena cultural de Belo Horizonte contam como buscam fazer a diferen�a em favor de uma sociedade mais representativa, mesmo em tempos de pandemia.

Nos �ltimos anos, uma divertida e agregadora disputa de queimada ganhou as ruas da capital, atraindo a aten��o na Virada Cultural. Por tr�s da popular “Gaymada” est� a companhia de teatro Toda Deseo, criada em 2013 a partir de um trabalho de pesquisa desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A trajet�ria do grupo se mistura, em alguns aspectos, com as mobiliza��es populares e culturais ocorridas em BH.

PESQUISA “A companhia surgiu por conta do trabalho de conclus�o de curso do ator Rafael Bacelar. Dali veio a nossa primeira pe�a, 'No soy un Maric�n'. Desde ali a gente j� entendeu que isso n�o seria uma simples composi��o da companhia, formada em sua maioria por homens gays, mas tamb�m um tema de pesquisa”, explica David Maurity, ator e um dos fundadores da Toda Deseo. Atualmente, a companhia � formada tamb�m por mulheres bissexuais, travestis e pessoas de outros g�neros.
Nessa caminhada, a Toda Deseo ocupou diversos espa�os por meio das artes c�nicas, especialmente as ruas. A “Gaymada” � consequ�ncia disso. “Com ela, atingimos p�blico muito maior, que n�o era necessariamente o do teatro. Na verdade, a 'Gaymada' funcionou como instrumento de forma��o de novos p�blicos e tornou a Toda Deseo ainda mais conhecida, a ponto de levar nossos trabalhos para outras cidades”, diz Maurity.
“Come�amos falando de como as figuras LGBTQIA entendem esse corpo na sociedade, mas houve a virada no nosso pensamento, pois s� falar da quest�o do corpo e das viv�ncias n�o seria suficiente para as pessoas entenderem as nossas urg�ncias e necessidades”, explica o ator.
Alguns espet�culos procuram questionar o papel das institui��es que colaboram para a manuten��o do pensamento arcaico e preconceituoso. “Tivemos o 'Nossa Senhora (do Horto)' e o 'Gl�ria', sobre religi�o, confrontando a ideia reproduzida por alguns de que ser LGBT � errado, pecaminoso ou algo que n�o deveria existir”, diz David Maurity, referindo-se a montagens lan�adas entre 2016 e 2018.
Em 2019, o grupo encenou “Quem � voc�?”, a primeira pe�a infantil da Toda Deseo. A tem�tica � ligada ao autoconhecimento e ao enfrentamento dos medos inerentes � inf�ncia.
Maurity se orgulha do trabalho da companhia. “Claro que n�o conseguimos falar de todas as viv�ncias LGBTQIA , mas as que inclu�mos no teatro fazem com que as pessoas entendam essas exist�ncias, como elas s�o m�ltiplas e est�o presentes em todas as �reas da sociedade”,afirma. “N�o somos minoria. Tentamos trazer quest�es para mostrar como a viol�ncia est� muito presente, destacando como essas pessoas s�o parte fundamental na constru��o social”, argumenta.
Estreia Durante a pandemia, a Toda Deseo tamb�m ocupa espa�os virtuais. O grupo adaptou e gravou algumas de suas pe�as para exibi��o on-line, al�m de estrear a performance solo “Conselheira”, de Juliana Abreu.
Al�m disso, deu sequ�ncia ao projeto “Ch� das primas”, agora realizado via plataforma Zoom, promovendo encontros e conversas entre pessoas envolvidas com as artes c�nicas.
O efervescente carnaval de rua de BH tamb�m deu lugar a experi�ncias voltadas para a inclus�o das diversidades. Em 2018, foi criado o bloco Truck do Desejo, que logo expandiu suas atividades e se configurou como “coletivo de mulheres l�sbicas e bissexuais, cis ou trans, feministas, antirracistas, antifascistas e trans-inclusivas”. A defini��o extensa condiz com a proposta abrangente e transformadora empreendida pelo grupo.
Isabella Figueira, coordenadora e uma das regentes do bloco, conta que tudo come�ou entre amigas que sentiam falta de espa�o para mulheres LBT (l�sbicas, bissexuais e trans) “carnavalizarem sem medo e sem preconceito”. Assim que as primeiras oficinas musicais surgiram, outras se juntaram e logo o bloco ultrapassava 100 integrantes.
“� medida que fomos crescendo em alcance e visibilidade, o bloco se entendeu como plataforma pol�tica, de educa��o e produ��o de conte�dos, para al�m do carnaval. Cresceu muito o n�mero de envolvidas, foi marcante a variedade de experi�ncias. V�rias mulheres sa�ram pela primeira vez para tocar e se divertir. Conseguimos criar um espa�o de apoio m�tuo, resist�ncia e confian�a”, explica Isabella.
Fernanda Polse, cantora e diretora art�stica do Truck do Desejo, diz que “representatividade pode ser uma palavra batida, mas � real, ela salva vidas”. Isso ficou evidente em tr�s anos de atividades. “Isso � um legado para a hist�ria de BH, na medida em que ajudamos outras mulheres a sobreviver neste mundo que n�o quer que a gente exista e festeje”, diz Fernanda, destacando o acolhimento �s mulheres trans e outras diversidades.
REDE Truck do Desejo participou de festivais, shows e gravou m�sicas, entre outras iniciativas. Mas o principal, segundo as integrantes, � a rede de fortalecimento. Durante a pandemia, com a impossibilidade de realizar eventos presenciais, o coletivo p�s em pr�tica o apoio a outras mulheres.
“Quando falamos de pandemia, as mais impactadas s�o as mulheres marginalizadas, negras, trans, chefes de fam�lia”, lembra Fernanda. O grupo se organizou como espa�o de prote��o � vida, explica ela.
A campanha Truck Solid�ria arrecadou cerca de R$ 20 mil, convertidos em cestas b�sicas para 214 mulheres em situa��o de vulnerabilidade e suas fam�lias. “A meta era R$ 5 mil, mas em 45 dias arrecadamos mais. Isso mostra a for�a do coletivo”, ressalta Isabella. “Nosso pr�ximo passo � criar um programa de amparo psicoterap�utico para mulheres do bloco e as que convivem com elas, como familiares, namoradas e companheiras.”
plataforma A expans�o das atividades tamb�m foi o caminho da @Bsurda, criada em 2009 como festa itinerante em boates, mas que logo ganhou as ruas de BH. Atualmente, o produtor e fundador Ed Luiz prefere defini-la como “plataforma”, devido � pluralidade de a��es, sempre tendo como foco a promo��o da diversidade LGBTQIA .
“Hoje, a gente pode falar com orgulho que somos assumidamente uma proposta LGBTQIA que contempla todas as letras da sigla”, afirma o DJ. Al�m das festas, que ocorriam em lugares abertos e no carnaval, o grupo encampa a��es afirmativas. Durante a pandemia, foi criada uma cl�nica virtual de atendimento psicoterap�utico, com cinco profissionais � disposi��o do p�blico.
Depois de 12 anos na ativa, Ed v� a ocupa��o de espa�os como grande conquista. “Fomos a primeira festa a fazer evento LGBTQIA no Mineir�o. Sa�mos no carnaval, mesmo sem ter bateria. Sa�mos com trio financiado de forma independente e sem patroc�nio, com a ajuda do p�blico, numa campanha de arrecada��o. J� estivemos na Parada do Orgulho LGBT de BH. Isso tudo sem um foco espec�fico, abra�ando toda a diversidade”, argumenta o DJ e produtor.
Impossibilitada de voltar �s ruas, a @Brsurda segue atuando em ambientes virtuais. Refor�ando campanhas para que as pessoas fiquem em casa e se protejam da COVID-19, o grupo promove discotecagens virtuais. A �ltima ocorreu neste fim de semana, durante a 2ª Parada Virtual LGBTQIA realizada em Belo Horizonte.
NAS REDES
Toda Deseo
Instagram: www.instagram.com/todadeseo/
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Truck do Desejo
Instagram: https://www.instagram.com/truck_do_desejo/
Facebook: https://www.facebook.com/truckdodesejo
@Bsurda
Instagram: www.instagram.com/bsurda/
Facebook www.facebook.com/festaabsurda
Saiba mais - Entenda a sigla lgbtqia
Mais que sigla, LGBTQIA � s�mbolo da luta em favor da diversidade. O “L” representa a l�sbica, mulher que sente atra��o por outra mulher. “G” vem de gay, homem que sente atra��o por outro homem. “B” remete ao bissexual, homem ou mulher que sente atra��o tanto pelo g�nero masculino quanto pelo feminino.
“T” se refere � transexualidade – pessoas que n�o se identificam com o g�nero atribu�do a elas quando nasceram. “Q” remete �s pessoas queer, como drag queens, para quem a orienta��o sexual e a identidade de g�nero n�o decorrem da biologia, mas da constru��o social. “I” est� relacionado � pessoa intersexo, que est� entre o feminino e o masculino e n�o se enquadra na norma bin�ria (masculino/feminino). “A” contempla quem n�o sente atra��o sexual por outras pessoas, independentemente do g�nero. O sinal “ ” inclui outros grupos – como os pansexuais, que sentem atra��o por outras pessoas, independentemente do g�nero.