Steven Soderbergh revitaliza o filme noir em 'Nem um passo em falso'

Incomodado com a recorrente pasteuriza��o do cinema, com a repeti��o de f�rmulas e o requentar de ideias, o cineasta Steven Soderbergh defende que os g�neros narrativos mais comuns em Hollywood entraram num piloto autom�tico que ele chama de “modo pornogr�fico”, assim definido por tornar graficamente expl�cito o que deveria ser sutil, sobretudo a brutalidade.

Por isso, h� 10 anos, desde que tentou refinar o formato do cinema-cat�strofe com “Cont�gio” (2011), o longa mais citado em refer�ncia a pandemias desde que a COVID-19 se alastrou, ele vem se esfor�ando para filtrar as impurezas dos fil�es.

O novo trabalho do ganhador do Oscar de Melhor dire��o por “Traffic: Ningu�m sai limpo” (2000) foi regado a aplausos e a cr�ticas entusiasmadas no encerramento do Festival de Tribeca, em Nova York. Parte da calorosa recep��o se deve � atua��o de Don Cheadle.

“� curioso ver Steven sempre atr�s das c�meras, mapeando tudo o que a gente faz, sem dar margens � perda de sutilezas nas nossas atua��es. Coisa que poderia acontecer se ele ficasse sentado, assistindo � nossa interpreta��o por uma telinha de computador”, diz Cheadle, elogiando a experi�ncia da troca com atores de diferentes gera��es como Jon Hamm, Julia Fox, Ray Liotta, Matt Damon, Bill Duke e Benicio Del Toro, com quem contracena nas situa��es mais tensas do roteiro.

“� um filme que passa pela Detroit de ontem para falar da Am�rica de hoje, a partir da cobi�a que rege as grandes corpora��es industriais”, comenta.

Dono de um Oscar de coadjuvante por “Traffic” e laureado com o pr�mio de Melhor ator em Cannes por “Che”, que Soderbergh lan�ou em 2008, em duas partes, Del Toro define o processo de cria��o do filme como linha de montagem, no qual todos se complementam.

“No esquema de Steven, os atores se combinam de modo a permitir que voc� veja como os personagens se comportam sob diferentes �ngulos. A medida do nosso rendimento em cena � desempenho do colega”, afirma.

“Nem um passo em falso” � um estudo sobre o ato de atrai�oar em uma Detroit dos anos 1950  onde a aspereza est� no ar, em meio � ind�stria automobil�stica em ebuli��o. A trama lembra cl�ssicos do g�nero como “A morte num beijo”, dirigido por Robert Aldrich, em 1955.

“A gente ouvia muito falar em 'O grande golpe', de Stanley Kubrick entre os jornalistas que nos viram em Tribeca, por haver um clima de g�ngsteres e por haver uma triagem da explora��o da confian�a alheia”, explica Del Toro, que encarna o ladr�o Ronald Russo.

FRACASSADOS

Seu personagem � um exemplar do submundo de fracassados retratados por Soderbergh em narrativa tensa, como raras vezes o cineasta respons�vel por projetos autorais como “Kafka” (1991) alcan�ou. Fiel � ideia de libertar o noir de qualquer ran�o “pornogr�fico”(leia-se uso desmedido da viol�ncia), ele se apoia mais na tens�o do que na agress�o a fim de mapear valores �ticos em um mundo oprimido pelo lucro.

“� uma f�bula moral sobre um homem em busca de reden��o”, define o ator Brendan Fraser, uma das maiores surpresas da trupe montada por Soderbergh, que rouba v�rias cenas ostentando muitos quilos acima da sarada silhueta que desfilava pelas telas h� duas d�cadas, em “A m�mia” (1999).

“Estamos diante de uma realidade onde as grandes companhias automotoras colidiram, deixando um saldo de perda para Detroit e para a Am�rica”, diz o ator. (Ag�ncia Estado)