
Quatro anos ap�s lan�ar o �lbum "Espiral de ilus�o" (2017), com repert�rio de sambas autorais, Criolo volta a se dedicar a esse g�nero musical. O cantor e compositor paulistano protagoniza o show virtual e gratuito "Criolo samba em 3 tempos", que estreia nesta sexta-feira (30/07), �s 21h, no site do Teatro Unimed. Dirigido pela cineasta Monique Gardenberg, o espet�culo recria uma roda de samba para celebrar compositores de diferentes gera��es.
"Recebi um convite da querida Monique e do Jeff [Neale, da Dueto Produ��es] sobre a possibilidade de construir algo diferente. Essa � uma ideia deles com a dire��o e concep��o especial de Monique, um filme-concerto rodado num espa�o especial e �nico", explica Criolo.
Acompanhado pelos m�sicos Ricardo Rabelo (cavaco), Gian Correa (viol�o de 7 cordas), Ed Trombone (trombone) e Maur�cio Bad� (percuss�o), o artista gravou o show no palco do teatro, em S�o Paulo.
As m�sicas do repert�rio foram escolhidas a dedo pelos cinco m�sicos, com o intuito de prestar homenagem ao samba. Ao todo, s�o 11 can��es de compositores como Pixinguinha (1897-1973), Cartola (1908-1980), Noel Rosa (1910-1937), Nelson Cavaquinho (1911-1986), Nelson Sargento (1924-2021), Mauro Duarte (1930-1989) e Caetano Veloso.
"A m�sica � fundamental como marco hist�rico documental do que estamos vivendo e do que queremos de melhor para o futuro"
Criolo, cantor e compositor
Como o t�tulo indica, o projeto descrito como um “filme-concerto” � dividido em tr�s partes. A que entra no ar nesta sexta-feira (30/07) � aquela em que Criolo canta "Carinhoso" (de Pixinguinha e Braguinha), "A flor e o espinho" (de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha) e "Luz negra" (de Nelson Cavaquinho e Amancio Cardoso).
A segunda, com estreia marcada para o pr�ximo dia 6, trar� as can��es "Canto das tr�s ra�as" (de Mauro Duarte e Paulo C�sar Pinheiro), "Barrac�o de zinco" (de Luiz Antonio e Oldemar Magalh�es) e "Agoniza mas n�o morre" (de Nelson Sargento).
A terceira e �ltima parte do show ser� disponibilizada em 13 de agosto e conta com as can��es "Corra e olhe o c�u" (de Cartola e Dalmo Castello), "Palpite infeliz" (de Noel Rosa) e "Desde que o samba � samba" (de Caetano Veloso), al�m de "Linha de frente" e "Cal�ada", do pr�prio Criolo, presentes no �lbum "Espiral de ilus�o".
RITMO
Criolo explica que a divis�o das tr�s partes se baseou na tem�tica das m�sicas e tamb�m no ritmo que cada uma prop�e. "O primeiro tempo tem um clima de 'sofr�ncia'. O segundo re�ne m�sicas que tratam de quest�es raciais e sociais. J� o terceiro celebra a vida e o nosso amor ao samba. Tamb�m pensamos nessa divis�o por enxergar uma crescente r�tmica muito bem constru�da entre elas", afirma.
Para ele, essas can��es funcionam como um alento nos dias atuais e tamb�m um lembrete de como foi o passado. "Os sambas expressam nossa alma, apresentam um recorte do tempo e tudo o que nele aconteceu. Eles mostram dias dif�ceis demais. Nosso povo sempre esteve lutando e lutando, aprendendo sa�das com amor, criatividade e trabalho. E quase sempre emudecidos", afirma.
"A m�sica � fundamental como marco hist�rico documental do que estamos vivendo e do que queremos de melhor para o futuro", conclui.
Famoso pela atua��o como rapper, Criolo se apaixonou pelo samba por influ�ncia dos pais. Ele cresceu ouvindo compositores fundamentais como Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Moreira da Silva e Nelson Sargento. Quando come�ou a escrever rap, aos 14 anos, o amor pelo g�nero ficou adormecido, mas foi retomado quando o artista passou a frequentar o Pagode da 27, tradicional encontro de sambistas no bairro do Graja�, em S�o Paulo, onde ele cresceu.
"Com sua sabedoria popular e oralidade espont�nea que revela uma percep��o aguda da realidade em que est� inserido, o sambista oferece uma cr�nica imbat�vel do Brasil"
Monique Gardenberg, diretora
"Quando fui acolhido pelo Pagode da 27, a coragem de expressar esse amor foi tomando for�a. Depois de uma d�cada aprendendo com o mestre Rebelo e tantos outros, tive coragem de apresentar algo a todos", ele diz.
Assim nasceu "Espiral de ilus�o", seu mais recente �lbum de est�dio, que sucedeu "Convoque seu buda" (2014), "N� na orelha" (2011) e "Ainda h� tempo" (2006), dedicados ao rap. Desde o lan�amento do registro, o artista colocou na pra�a os singles "Boca de lobo" (2018), "Et�rea" (2019), "Sistema obtuso" (2020) e "Fellini" (2021). Nesse meio tempo, ele tamb�m lan�ou o EP "Existe amor" (2020), em parceria com Milton Nascimento.
Para quem tem despendido igual energia ao rap e ao samba, Criolo talvez seja a melhor pessoa para apontar o ponto de encontro dos dois g�neros. Segundo ele, isso acontece "na origem e no desejo de alegria e mudan�a, na for�a da palavra e no gingado �nico que nosso povo tem".
Mas observa que "tamb�m est� na indigna��o, no amor e na for�a que provoca uma melhora em todos que entram em contato com a arte. O rap e o samba prop�em vida para al�m do caos", ele diz.

SABEDORIA
A diretora Monique Gardenberg concorda com Criolo e acrescenta: "Com sua sabedoria popular e oralidade espont�nea que revela uma percep��o aguda da realidade em que est� inserido, o sambista oferece uma cr�nica imbat�vel do Brasil".
Segundo ela, isso � ainda mais importante se levado em conta o racismo estrutural presente na sociedade brasileira. "Vivemos um momento de muita luta pela repara��o de direitos de grupos ainda brutalmente discriminados", afirma.
Conhecida pelo trabalho como diretora dos longas "Benjamin" (2003), "� pai, �" (2007) e "Para�so perdido" (2018), Monique Gardenberg n�o � estreante na fus�o entre m�sica e audiovisual. Ap�s seu primeiro filme, "Jenipapo" (1996), ela passou tamb�m a dirigir videoclipes, entre eles o premiado "N�o enche", de Caetano Veloso.
O principal desafio da grava��o de "Criolo samba em 3 tempos" foi registrar um show sem a plateia. "Procurei levar em conta a aus�ncia [do p�blico], no lugar de fazer de conta que estavam ali. Ent�o, ignorei a plateia vazia e criei um ambiente voltado para dentro do palco onde os m�sicos puderam tocar e cantar para eles pr�prios, reproduzindo um clima de roda de samba, mas com distanciamento", ela afirma.
Em raz�o disso, ela considera que o resultado final se aproxima mais do clipe do que do registro de um show ao vivo, da� a decis�o de caracteriz�-lo como um "filme-concerto".
"O que h� de cinema nele � a utiliza��o de v�rias c�meras em �ngulos diferentes. � um registro diferente, por natureza. Os artistas est�o no palco, mas a plateia n�o est� ali. E o ambiente em que eles est�o foi criado especialmente para receber as m�sicas", ela diz.
“CRIOLO SAMBA EM 3 TEMPOS”
Show do cantor e compositor, acompanhado de Ricardo Rabelo (cavaco), Gian Correa (viol�o de 7 cordas), Ed Trombone (trombone) e Maur�cio Bad� (percuss�o). O primeiro tempo estreia nesta sexta-feira (30/07), �s 21h, no site do Teatro Unimed. Gratuito. O segundo tempo estreia em 06/08 o terceiro, em 13/08, sempre �s 21h. A �ntegra do filme-concerto ficar� dispon�vel at� 22/08.