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Estado de Minas INC�NDIO NA CINEMATECA

Governo havia sido alertado sobre situa��o de abandono de galp�o incendiado

Administra��o Bolsonaro nega responsabilidade no desastre, mas abre edital para regularizar gest�o da Cinemateca Brasileira


31/07/2021 04:00 - atualizado 30/07/2021 23:21

Galpão localizado na Vila Leopoldina, em São Paulo, polo de produção audiovisual, começou a pegar foto na tarde de quinta(foto: Twitter/Reprodução)
Galp�o localizado na Vila Leopoldina, em S�o Paulo, polo de produ��o audiovisual, come�ou a pegar foto na tarde de quinta (foto: Twitter/Reprodu��o)

No pr�ximo dia 8 de agosto se completar� um ano da demiss�o de todo o corpo t�cnico da Cinemateca Brasileira. Nestes quase 365 dias, a institui��o s� contou com funcion�rios respons�veis pela manuten��o e limpeza do local. 

Em manifesto publicado nesta sexta-feira (30/07), um dia ap�s um novo inc�ndio destruir parte de seu acervo, ex-funcion�rios denunciaram um “crime anunciado” em decorr�ncia do “abandono pelo governo federal”. A previs�o de um inc�ndio j� havia sido feita h� mais de um ano, pelos mesmos ex-funcion�rios.

O grupo tamb�m fez um levantamento pr�vio do que pode ter se perdido pelo fogo que consumiu o galp�o na Vila Leopoldina. O local abrigava arquivos de �rg�os extintos, como a Embrafilme e o Instituto Nacional do Cinema, bem como documentos do Tempo Glauber, que guarda o acervo do cineasta Glauber Rocha (1939-1981). Tamb�m fazem parte do grupo filmes nacionais e estrangeiros em 35mm, vindos do acervo da distribuidora Pandora Filmes.

Faz tamb�m que o governo Bolsonaro tomou para si a tutela da Cinemateca—at� ent�o, a institui��o era gerida pela Associa��o de Comunica��o Educativa Roquette Pinto, entidade privada que afirmava n�o receber os repasses do governo previstos no contrato. 

Com a tutela, mas sem gest�o alguma, no in�cio deste ano, em car�ter emergencial, a Sociedade Amigos da Cinemateca foi escolhida pelo governo para gerir a Cinemateca. A gest�o Bolsonaro, por�m, n�o assinou conv�nio.

Viaturas do Corpo de Bombeiros foram enviadas para conter o incêndio, que destruiu acervo e mobiliário(foto: Twitter/Reprodução)
Viaturas do Corpo de Bombeiros foram enviadas para conter o inc�ndio, que destruiu acervo e mobili�rio (foto: Twitter/Reprodu��o)

EDITAL

Somente ontem, ou seja, ap�s o inc�ndio, a Secretaria Especial da Cultura publicou um edital no “Di�rio Oficial” para contrata��o de uma entidade para gerir a institui��o pelos pr�ximos cinco anos. O contrato prev� o aporte de R$ 10 milh�es anuais, mas o contemplado dever� buscar mais recursos.

O contrato deve prever a execu��o de atividades de guarda, preserva��o, documenta��o e difus�o do acervo audiovisual da produ��o nacional por meio da gest�o, opera��o e manuten��o da Cinemateca Brasileira, segundo o edital assinado por Bruno Gra�a Melo C�rtes, secret�rio Nacional do Audiovisual, pasta subordinada � Secretaria Especial da Cultura, que � comandada pelo ator Mario Frias. 

Frias est� em Roma, para uma reuni�o dos ministros de Cultura dos pa�ses do G20. Pelo Twitter, o secret�rio eximiu o governo atual de qualquer erro, colocando a culpa na gest�o anterior. "O estado que recebemos a Cinemateca � uma das heran�as malditas do governo apocal�ptico do petismo, que destruiu todo o Estado para rapinar o dinheiro p�blico e sustentar uma imensa quadrilha de corrup��o e sujeira criminosa."

Entre os documentos a serem apresentados pelos interessados em participar da sele��o est�o o programa de trabalho proposto pela entidade para o desempenho das atividades previstas com dura��o de cinco anos - a contar de dezembro de 2021 (ou da assinatura do contrato) - e podendo ser renovado "sucessivas vezes". 

PLANO

Este projeto deve estipular metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execu��o e minutas b�sicas de regulamento de compras e de regulamento de sele��o de pessoal. E ainda um plano detalhado para capta��o e gera��o de recursos adicionais. O resultado provis�rio sair� em 27 de outubro.

Com a fun��o de preservar e difundir o acervo audiovisual brasileiro, a Cinemateca Brasileira � de responsabilidade, hoje, da Secretaria Nacional do Audiovisual, bra�o da Secretaria Especial de Cultura e subjugada ao Minist�rio do Turismo. At� o ano passado, a Associa��o Roquette Pinto (Acerp), uma Organiza��o Social (OS), estava � frente da institui��o. Mas, o Minist�rio da Educa��o (MEC), na gest�o do ex-chefe da pasta Abraham Weintraub, n�o renovou o contrato com a Acerp. 

Sem repasse, a Cinemateca somou in�meras d�vidas, at� mesmo de contas de luz e �gua. O Minist�rio P�blico Federal (MPF) chegou a alertar o governo federal, no �ltimo dia 20, sobre a situa��o de abandono do galp�o incendiado. 

Ex-diretor da Cinemateca Brasileira e ex-secret�rio de Cultura de S�o Paulo, Carlos Augusto Calil, hoje presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca, classificou o inc�ndio como um "desastre" e lembrou que este foi o quinto sofrido pela institui��o – o primeiro inc�ndio ocorreu em 1957. "O que se perdeu agora no dep�sito foi o que havia sobrevivido � inunda��o de fevereiro de 2020. O que a �gua come�ou o fogo terminou", disse.

Calil n�o acredita que o inc�ndio tenha sido uma fatalidade. "Assim como no Museu Nacional, isso n�o foi uma fatalidade. O abandono das institui��es p�blicas brasileiras de mem�ria � um assunto escandaloso", disse. 

Entre os filmes depositados no galpão havia matrizes em 35mm de títulos nacionais e estrangeiros (foto: Twitter/Reprodução)
Entre os filmes depositados no galp�o havia matrizes em 35mm de t�tulos nacionais e estrangeiros (foto: Twitter/Reprodu��o)

PREOCUPA��O

E alertou que ainda h� muito com o que se preocupar – inclusive no que diz respeito ao pr�dio principal da Cinemateca, na Vila Clementino, onde est� o acervo inflam�vel. "A seguran�a da Cinemateca n�o se faz apenas com controles de temperatura e de seguran�a. Ela � feita pelo exame peri�dico desse acervo pelos t�cnicos, e a Cinemateca est� sem t�cnico nenhum. Ela est� fechada h� mais de um ano." 

Andr� Sturm, propriet�rio da distribuidora Pandora Filmes, que teve seu primeiro emprego na pr�pria Cinemateca, falou sobre a perda.  “Durante muitos anos, fui juntando uma cole��o de c�pias de distribuidoras que fechavam, c�pias da Pandora, e fui mantendo uma cole��o. Em determinado momento, como n�o tinha mais como manter, doei a cole��o para a Cinemateca Brasileira. O meu acervo, que hoje era de todo o mundo, queimou. E s�o c�pias que nunca mais v�o existir, porque ningu�m mais faz c�pias em 35mm”, lamentou Sturm. 

O abandono refletia no trabalho de quem vive do cinema, como conta a roteirista e diretora Sinai Sganzerla, filha do cineasta Rog�rio Sganzerla (1946-2004) e da atriz Helena Ignez. “V�rias pessoas estavam se organizando e chamando a aten��o para isso. Esse atual governo n�o tem o menor apre�o pela mem�ria, pela cultura, pelas artes. Recentemente, enviei e-mails para l�, mas n�o tinha retorno. Tenho amigos que trabalharam l� sem receber. N�o renovaram os contratos e a Cinemateca ficou completamente abandonada”, afirma Sinai.

De acordo com ela, os arquivos de diversos filmes de Rog�rio Sganzerla est�o na Cinemateca. Ela teme pela destrui��o do acervo. “Os negativos dos filmes do meu pai est�o l�. � muito triste. � uma falta de amor � pr�pria hist�ria. L� tamb�m ficam guardados documentos, iconografias e um acervo important�ssimo. Acervos de televis�o, do Glauber Rocha, entre outras coisas. Meu pai mesmo era um frequentador da Cinemateca”, diz.

O diretor de cinema Guilherme Fi�za tamb�m falou sobre sua profunda decep��o pela destrui��o da hist�ria do audiovisual brasileiro. “A gente est� falando de acervo que vem desde o s�culo 19, passando por v�rios ciclos. Est� tudo guardado ali. A mem�ria imag�tica do pa�s. Ela n�o s� guarda filmes, mas tamb�m documentos: roteiros, cartazes de filmes e tudo que envolve esse universo”, comenta.

Fi�za conta que v�rios filmes seus est�o na Cinemateca. “Eu tor�o muito para que tenha sido uma pequena parcela. Qualquer parcela (perdida) de um museu � incalcul�vel. � como voc� perder um dedo, um bra�o. Isso faz parte do projeto (do governo federal). � uma desconsidera��o completa do que � o Brasil. Eles querem construir outra hist�ria, que n�o � essa contada em documentos”, afirma.

A reportagem procurou o Minist�rio do Turismo para obter posicionamento. Em nota, a Secretaria Especial da Cultura informou que "cabe registrar que todo o sistema de climatiza��o do espa�o passou por manuten��o h� cerca de um m�s como parte do esfor�o do governo federal para manter o acervo da institui��o".

O im�vel atingido pelo inc�ndio foi doado pela  Secretaria do Patrim�nio da Uni�o � Cinemateca Brasileira em fevereiro de 2009, durante o governo Lula (PT). Em 2016, um dos galp�es da Cinemateca foi atingido por um inc�ndio que destruiu 1 mil rolos de filmes, correspondentes a 500 obras. A maior parte era formada por cinejornais.

Pelo Twitter, o cineasta Kleber Mendon�a Filho comentou que o ocorrido “n�o parece um acidente”. Lembrou-se tamb�m de um alerta sobre a situa��o da Cinemateca feito durante o Festival de Cannes. “Nada foi feito”.  Pela mesma rede social, a atriz Leandra Leal citou um aviso de funcion�rios da Cinemateca em abril deste ano sobre as condi��es do galp�o. "No m�nimo, esse inc�ndio foi resultado de neglig�ncia. Estamos perdendo nossa mem�ria", escreveu. 

Houve rea��es tamb�m no exterior. Com sede em Lyon, na Fran�a, o Institut Lumi�re, dirigido por Thierry Fr�maux, tamb�m diretor do Festival de Cannes, afirmou, via Twitter, que o inc�ndio � “o novo s�mbolo tr�gico da desastrosa pol�tica cultural realizada no Brasil”. 

Com in�cio na pr�xima quarta (04/08) na Su��a, o Festival de Locarno afirmou que a trag�dia “impacta a comunidade do cinema em todo o mundo” e que a magnitude do ocorrido demanda “imediatas a��es e respostas”. (Com ag�ncias)

Não foi divulgada até ontem a extensão do acervo perdido com o incêndio(foto: Twitter/Reprodução)
N�o foi divulgada at� ontem a extens�o do acervo perdido com o inc�ndio (foto: Twitter/Reprodu��o)


O que estava no 
galp�o incendiado*

» Acervo documental
Arquivos de �rg�os extintos: Empresa Brasileira de Filmes S.A. – Embrafilme (1969/1990), Instituto Nacional do Cinema  – INC (1966-1975) e Conselho Nacional de Cinema – Concine (1976;1990). Parte do acervo de documentos oriundos do arquivo Tempo Glauber, do Rio de Janeiro, inclusive duplicatas da biblioteca de Glauber Rocha e documentos da pr�pria institui��o.

» Acervo audiovisual
Parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, de c�pias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35mm. Matrizes e c�pias de cinejornais �nicos, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de fic��o, filmes dom�sticos, al�m de elementos complementares de matrizes de longas-metragens, todos esses potencialmente �nicos. Parte do acervo da Escola de Comunica��es e Artes da Universidade de S�o Paulo (ECA) da produ��o discente em 16 mm e 35 mm. Parte do acervo de v�deo do jornalista Goulart de Andrade.

» Acervo de equipamentos e mobili�rio de cinema, fotografia e processamento laboratorial
Al�m do seu valor museol�gico, muitos desses objetos eram fundamentais para consertos de equipamentos em uso corrente j� que, para exibir ou duplicar materiais em pel�cula ou v�deo, � necess�rio maquin�rio obsoleto e sem reposi��o no mercado.

*Fonte: Manifesto de ex-funcion�rios da Cinemateca Brasileira


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