Curtas-metragens mostram sua for�a no Festival Kinoforum, que come�a hoje

“A criatividade em tempos de crise aflora. Gra�as a Deus, a gente tem cultura para iluminar a vida.” Com essa frase, Zita Carvalhosa, diretora do Festival Internacional de Curtas-Metragens de S�o Paulo – Curta Kinoforum, que chega � 32ª edi��o nesta quinta-feira (19/08), exprime seu espanto diante das 2,8 mil inscri��es vindas de diversas partes do mundo.

Depois de laboriosa sele��o, conforme aponta Tita, chegou-se aos 200 t�tulos de 39 pa�ses que comp�em a programa��o. O festival, que se estende at� 29 de agosto, pode ser acompanhado gratuitamente no site www.kinoforum.org.

“Por conta da pandemia, a gente achou que receberia pouqu�ssimos filmes, est�vamos com esse medo. Fomos surpreendidos. N�o se pode dizer que n�o se produziu no mundo”, destaca Zita.

Considerado um dos maiores e mais tradicionais festivais dedicados ao curta-metragem no mundo, o evento traz obras premiadas nos festivais de Cannes, Locarno, Clermont-Ferrand, Bafici-Buenos Aires, Annecy e Toulouse. Ganham espa�o a cultura ind�gena e a produ��o das periferias brasileiras, com exibi��es e debates; homenagens a Glauber Rocha, pelos 40 anos de sua morte, e ao franc�s Chris Marker, autor do cl�ssico “La jet�e” (1962), por seu centen�rio; al�m mostras latino-americana e internacional.

A diversidade marca os eixos tem�ticos. “A gente prop�e ampla programa��o com abordagens diferentes para estimular as pessoas a assistirem aos curtas. Tem as mostras brasileira e internacional, tem os programas especiais, mais chamativos, focados em Glauber Rocha e Chris Marker, tem a mostra infantojuvenil, al�m das proje��es especiais em torno dos 20 anos de atividades das Oficinas Kinoforum de Realiza��o Audiovisual. S�o diferentes recortes”, diz Zita. “Gostamos de exibir filmes com a ideia de curadoria.”

As inscri��es para 2021 refletem uma produ��o pulsante. “O festival tem uma coisa importante: a gente n�o tem pretens�o de exibir os melhores filmes ou determinado tipo de filme. Achamos muito legal exibir obras com propostas est�ticas diferentes. Passamos tr�s meses pensando em como escolher e como programar”, informa.

A produ��o brasileira est� representada por 116 t�tulos. Entre eles, “C�u de agosto”, rec�m-premiado no Festival de Cannes, que tem no elenco Gilda Nomacce; “Ela que mora no andar de cima”, estrelado por Marcelia Cartaxo; o amazonense “Seiva bruta”, com Luiz Carlos Vasconcelos no elenco, eleito o melhor curta latino-americano no prestigioso Directors Guild of America (DGA); e “Menarca”, de Lillah Halla, selecionado para a Semana da Cr�tica do Festival de Cannes, vencedor do pr�mio do p�blico no festival Cinelatino de Toulouse (Fran�a).

A COVID-19 � abordada em “Rep�blica”, de Grace Pass�; “Monumento ao wi-fi”, de Gustavo Vinagre; “Gilson”, de Vitoria Di Bonesso; “Rep�blica das sa�vas”, de Piero Sbragia; e “Janelas daqui”, de Arthur Sherman e Luciano Vidigal.

O programa tamb�m destaca obras assinadas por cineastas veteranos, como Evaldo Mocarzel (“O menino, o sabi� e o rato”), Petrus Cariry (“Foi um tempo de poesia”), Rafael Conde (“O suposto filme”) e Sylvio Lanna (“Nova pasta. Antigo ba�”).

Um programa presta homenagem especial � montadora e professora V�nia Debs, falecida em junho, aos 71 anos, devido a complica��es de um mieloma m�ltiplo. Ser�o exibidos cl�ssicos em que ela trabalhou: “Ver�o”, de Wilson Barros, “A garota das telas”, de Cao Hamburger, “O crime da imagem”, de Lirio Ferreira, “Clandestina felicidade”, de Marcelo Gomes e Beto Normal, e “Morte”, dirigido por Jos� Roberto Torero e protagonizado por Paulo Jos� e Laura Cardoso.

A programa��o especial joga luz sobre a cultura ind�gena, com mostra dedicada ao Festival Amotara, realizado por mulheres cineastas, e a sess�o “M�sica e modo de viver dos guaranis”.

Diretores cujos filmes est�o presentes na programa��o do Curta Kinoforum destacam a abrang�ncia e a import�ncia do festival. Realizadora de “C�u de agosto”, que recebeu men��o especial do j�ri no Festival de Cannes, em julho deste ano, a paulistana Jasmin Tenucci ressalta o car�ter aglutinador do evento.

“O festival promove como poucos as discuss�es num clima de muita comunh�o. Isso te possibilita conviver e trocar com seus pares, festejar o cinema com eles, o que vejo pouco em outros festivais. � alegre, agrad�vel, procura criar situa��es para que as pessoas se conhe�am, ent�o fica como uma comunidade”, aponta.

Jasmin revela que se sente honrada com a recente premia��o em Cannes. “Tem outro aspecto importante: passando l�, o filme come�a a passar em v�rios outros lugares, � mais assistido e mais discutido”, diz. O pr�mio de men��o especial ajuda o cineasta a prosseguir na carreira, diz ela. “Representa tamb�m a possibilidade de investimento e de coprodu��o para um pr�ximo projeto.”

Assim como Zita Caravalhosa, a diretora ressalta o vigor da atual produ��o de curtas-metragens no Brasil. “Alguns editais de curtas permanecem. Ent�o, as pessoas ainda conseguem fazer de forma relativamente descomplicada, at� porque voc� consegue financiamento de um jeito ou de outro. Voc� consegue fazer barato, juntar sua turma e produzir um curta de qualidade em dois dias”, comenta Jasmin Tenucci.

“Justamente por isso, a gente v� uma experimenta��o maior em curta, o que � sempre interessante. No Festival de Tiradentes deste ano, fiquei muito surpresa com a diversidade e com o quanto os curtas exploram tem�ticas e possibilidades de linguagens”, conclui. (DB)

Festival Internacional de Curtas-Metragens de S�o Paulo. At� 29 de agosto. Exibi��o gratuita de 200 filmes de 39 pa�ses. Informa��es: www.kinoforum.org