Pixinguinha deu forma ao choro, no in�cio do s�culo 20, e popularizou a m�sica, nascida do di�logo do lundu com a m�sica europeia (foto: Biblioteca Nacional Digital/reprodu��o
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O choro � fruto da fus�o de ritmos importados da Europa, como a valsa e a polca, com o lundu, de inspira��o africana. Essa � a origem da primeira m�sica urbana tipicamente brasileira, e, consequentemente, a g�nese da MPB. Ao surgir na metade do s�culo 19, com a incorpora��o de sotaque sentimental, ele foi ouvido, inicialmente, nos sal�es do imp�rio, interpretado pela pianista e compositora Chiquinha Gonzaga. Mas coube ao g�nio Pixinguinha, na d�cada de 1910, dar forma a esse estilo musical.
Um resumo da trajet�ria dessa importante express�o art�stica brasileira � oferecido no �lbum “Choro 150 anos – Uma m�sica viva”, idealizado pelo diretor musical Carlos Alberto Sion, com produ��o do cavaquinista, compositor e pesquisador Henrique Cazes.
No s�culo 19, a pioneira Chiquinha Gonzaga levou o choro para os sal�es elegantes do Rio de Janeiro (foto: IMS.com/Reprodu��o
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JAZZ
O chorinho, como o g�nero � chamado, n�o parou de se diversificar ao assimilar influ�ncias da m�sica de concerto e do jazz, influenciando compositores da import�ncia de Heitor Villa-Lobos e Tom Jobim.
Em pouco tempo, essa m�sica envolvente se espalhou por meio das rodas de choro, pr�tica que une memoriza��o e improviso. Parte desse acervo, disposto numa linha do tempo, est� reunido no CD comemorativo, que traz 17 faixas.
A abertura cabe ao cl�ssico “Noites cariocas”, de Jacob do Bandolim. Da segunda a quinta faixa, ouve-se o trabalho dos inventores do choro, que estabeleceram alto padr�o de elabora��o: Ernesto Nazareth (“Fon fon” e “Matuto”), Chiquinha Gonzaga (“Atraente”) e Jo�o Pernambuco (“Gra�na”).
Da sexta � nona faixa, destacam-se os talentos de Pixinguinha (“Sofres porque queres”, “Desprezado” e “Lamentos”) e Bonfiglio de Oliveira (“O bom filho � casa torna”).
A partir da d�cima faixa, surgem os modernizadores da Era do R�dio, que fizeram experi�ncias com a assimila��o de elementos da m�sica de concerto: Radam�s Gnattali (“Valsa triste”), Garoto (“Quanto d�i uma saudade”), Jacob do Bandolim (“Vibra��es”), Severino Ara�jo (“Chorinho por voc�”) e K-Ximbinho (Ternura).
As faixas finais remetem � retomada do choro na d�cada de 1970, com o surgimento da gera��o de grandes int�rpretes representados por Paulo Moura (“Tarde de chuva”), Waldir Azevedo (“V� se gostas”) e a dupla Rog�rio Caetano e Eduardo Neves (“Chorinho em Cochabamba”).
O violonista e compositor goiano Rog�rio Caetano, que participou da grava��o de cinco faixas, destaca a import�ncia desta colet�nea hist�rica. “� um privil�gio estar ao lado de v�rios compositores que sempre tive como mestres e de m�sicos de grande talento”. Ele conta que a sua “Chorinho em Cochabamba” est� entre as m�sicas mais tocadas em rodas de choro no Brasil e no exterior.
Entre os int�rpretes das 17 faixas est�o instrumentistas talentosos de diferentes gera��es, como Ronaldo do Bandolim e Henrique Cazes (cavaquinho), Yamandu Costa (viol�o 7 cordas), Z� Paulo Becker (viol�o), Guto Wirti (contrabaixo), Beto Cazes (percuss�o), Maria Teresa Madeira (piano), Daniela Spielman (sax) e Andr�a Ernest Dias (flauta).
Em “150 anos de choro”, a diversidade da instrumenta��o se soma � pluralidade de abordagens interpretativas, que podem sugerir do ambiente de concerto � informalidade caracter�stica das rodas de chorinho.
“150 ANOS DE CHORO”
.V�rios artistas
.17 faixas
.Sony Music
.Dispon�vel nas plataformas digitais
Entrevista
Henrique cazes
compositor e cavaquinista
(foto: Youtube/reprodu��o)
“O choro permanece em viva transforma��o”
Qual � a import�ncia do lan�amento do disco “150 anos de choro – M�sica viva”?
Penso que seja importante marcarmos a data de 150 anos, que leva em conta um consenso entre pesquisadores e historiadores, segundo o qual a m�sica dos chor�es existiu a partir da d�cada de 1870, pois o choro permanece em viva transforma��o, resgatando instrumentos do passado, como o oficleide, consagrando novos cl�ssicos, como o “Chorinho em Cochabamba”, espalhando-se pelo mundo e at� caminhando para ser reconhecido pela Unesco como patrim�nio da humanidade.
O choro pode ser visto como a g�nese da m�sica popular brasileira?
Sim. Logo que surgiu, na d�cada de 1870, o choro foi percebido como uma s�ntese dos elementos de base da nossa musicalidade. N�o por acaso foi mat�ria-prima essencial para Villa-Lobos, celeiro de m�o de obra musical para o samba e laborat�rio de moderniza��o harm�nica de nossa m�sica popular, bem antes da bossa nova.
Como voc� avalia a atua��o de Chiquinha Gonzaga e Joaquim Callado na cria��o do choro?
Chiquinha e Callado foram pioneiros importantes, tanto pela qualidade de suas cria��es quanto pela atua��o que abriu portas para a m�sica dos chor�es. Chiquinha expandiu o choro no campo do teatro de variedades, e Callado, no ambiente acad�mico.
Pixinguinha deve ser visto como o principal respons�vel pela populariza��o do choro?
Sim, e por v�rias raz�es. Ele foi int�rprete de grande comunica��o e virtuosismo, o perfeito equil�brio entre elabora��o e balan�o. Como compositor, deu forma ao choro como g�nero musical e foi autor de uma obra imensa e de alt�ssima qualidade. Como arranjador, abriu caminhos profissionais para a atua��o de seus colegas chor�es em grava��es e emissoras de r�dio. Enfim, contribuiu em todos os campos art�sticos e profissionais.
Que contribui��o Ernesto Nazareth, Radam�s Gnattali e Garoto deram � moderniza��o do g�nero?
Radam�s e Garoto colocaram o choro em di�logo com o jazz e a m�sica de concerto. O processo de Nazareth foi similar, d�cadas antes, amalgamando o pianismo europeu com elementos r�tmicos da m�sica dos chor�es. A alta qualidade das composi��es dos tr�s fez a diferen�a.
Qual foi o crit�rio para a escolha do repert�rio e dos int�rpretes presentes em “150 anos de choro”?
Para compor o elenco de int�rpretes, procurei unir o “chor�o raiz”, como Ronaldo do Bandolim ou Silv�rio Pontes, com artistas que dialogam com a m�sica de concerto, como Maria Teresa Madeira, Andrea Ernest Dias, e com o jazz, como Leo Gandelman. E que fossem de diferentes gera��es para garantir diversidade na abordagem interpretativa.
Depoimento
Carlos Alberto Sion
Diretor musical
Jazz brasileiro
Com a digitaliza��o de grande parte dos acervos das empresas da ind�stria fonogr�fica e tamb�m com lan�amentos, h� alguns anos, de selos independentes, surgiu enorme interesse pela extensa obra e grava��es de mestres compositores e int�rpretes do choro, esse importante g�nero/estilo da m�sica brasileira.
Obras importantes do in�cio das grava��es/registros nos discos de 78rpm e vinis do passado (que voltaram recentemente) despertaram a curiosidade e admira��o das novas gera��es de m�sicos e artistas da m�sica instrumental no Brasil e tamb�m no exterior, com novos aficionados no mundo todo.
Hoje, com Facebook, sites, redes sociais e centenas de r�dios no Brasil transmitindo programas dedicados ao choro, podemos sentir o interesse crescente que nos levou a produzir o �lbum “Choro 150 anos” com m�sicas de diversos estilos, a partir de pesquisas e registros de temas do s�culo 19 ao s�culo 21, que nos proporcionaram a releitura de autores dos mais diversos estilos do g�nero.
Admiradores como o jazzista Wynton Marsalis, craques como Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, e tamb�m alguns dos nossos grandes nomes da MPB, como Paulinho da Viola, Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, entre outros mestres, s�o todos f�s declarados desse estilo de m�sica do Brasil.
A ideia do �lbum/disco � levar a um p�blico maior repert�rio abrangente que permita ao f� rever e conhecer obras de Ernesto Nazareth e tamb�m de Rog�rio Caetano, da nova gera��o de instrumentistas e compositores
do choro.
Alguns dizem que o choro � o jazz brasileiro. Sem d�vida, � um grande estilo musical na arte do improviso e de socializa��o das rodas de choro, que levam centenas de pessoas aos bares, teatros e �s pra�as pelo pa�s todo.