
N�o fosse a pandemia da COVID-19, Kacey Musgraves j� teria pisado no Brasil pela primeira vez. A cantora norte-americana, descrita como "a estrela country para quem odeia m�sica country", era uma das atra��es confirmadas no Lollapalooza Brasil e se apresentaria no �ltimo dia do festival, em 5 de abril de 2020, em S�o Paulo, com o show da turn� do disco "Golden hour" (2018).

Esse trabalho, o terceiro de uma carreira iniciada em 2013, representou uma mudan�a significativa na carreira dela. Bastante elogiado, o registro ganhou disco de platina nos Estados Unidos – ou seja, vendeu mais de 1 milh�o de c�pias –, figurou em v�rias listas de fim de ano e rendeu a ela quatro Grammys, incluindo o de �lbum do ano.
E assim como n�o desembarcou no Brasil por causa do coronav�rus, ela talvez n�o tivesse tempo h�bil para terminar seu quarto disco de est�dio e lan��-lo em 2021, j� que ainda estaria ocupada colhendo o sucesso do terceiro.
"Star-crossed", o novo e bastante esperado trabalho de Kacey Musgraves, chegou �s plataformas digitais na �ltima sexta-feira (10/09). As 15 faixas distribu�das em pouco mais de 47 minutos tamb�m ganharam vers�o audiovisual em "Star-crossed: O filme", dirigido por Bardia Zeinali, que re�ne os videoclipes de cada uma das m�sicas e est� dispon�vel para streaming no Brasil pela Paramount+.
Descrito como "uma trag�dia moderna em tr�s atos, contando uma jornada extremamente pessoal de m�goa e cura", o disco gira em torno do div�rcio entre a artista e o m�sico Ruston Kelly, com quem ela foi casada entre 2017 e 2020. "Eu fiz o meu melhor para homenagear o amor que foi compartilhado, mas tamb�m tive que me honrar como uma escritora que experimentou uma gama muito ampla de emo��es dif�ceis", declarou ela, em comunicado enviado � imprensa.
Os dois singles divulgados antes do lan�amento j� indicavam que o �lbum seria recheado de letras honestas sobre a separa��o. Na m�sica-t�tulo "Star-crossed", lan�ada em agosto passado, Musgraves canta sobre "acordar de um sonho perfeito". "Voamos alto demais s� para sermos queimados pelo sol?", ela questiona no refr�o.
Em "Justified", que tamb�m chegou �s plataformas digitais em agosto, ela afirma que "a cura n�o chega em linha reta". Por isso, ela conta que chorou, riu, amou, odiou e mudou de ideia diversas vezes ap�s o fim do casamento.
O disco pode ser dividido em partes que mostram Kacey Musgraves passando a hist�ria de amor a limpo consigo mesma. Em "Good wife", ela descreve cenas corriqueiras da vida de casada, como levar caf� da manh� na cama e ouvir os problemas do companheiro enquanto pede ajuda a Deus para "ser uma boa esposa".
COVER Em "Camera roll", a artista canta sobre a experi�ncia desconfort�vel de revisitar as fotos do passado. Ap�s passar pelas diferentes fases do t�rmino, Musgraves parece resignada e pronta para seguir em frente em "What doesn't kill me" e "There is a light".
A m�sica que encerra o disco � um cover de "Gracias a la vida", escrita pela cantora e compositora chilena Violeta Parra (1917-1967). J� gravada por cantoras como Elis Regina (1945-1982) e a argentina Mercedes Sosa (1935-2009), a can��o em espanhol parece sintetizar o atual estado de esp�rito da artista norte-americana. "Agrade�o � vida, que me deu tanto/ Me deu risadas e pranto/ Me ensinou a distinguir felicidade da tristeza", diz a letra.
Apesar de ainda ser reconhecida como uma cantora country, Kacey Musgraves se afasta do g�nero nesse quarto disco. A simplicidade e sinceridade de suas letras continuam as mesmas que lhe renderem a aclama��o de cr�tica e p�blico em "Golden hour", no entanto, o novo trabalho dialoga com um tipo de pop minimalista e elegante que une sons sintetizados a instrumentos org�nicos como guitarras e viol�o.
A produ��o assinada pela pr�pria cantora ao lado de Daniel Tashian e Ian Fitchuk faz "Star-crossed" soar como um disco de transi��o. Ali�s, o trabalho funciona como o encerramento de um ciclo, j� que o �lbum anterior foi escrito quando ela estava se apaixonando.
OLIVIA RODRIGO Por conta da tem�tica, � dif�cil n�o comparar "Star-crossed" com "Sour" (2021), o �lbum de Olivia Rodrigo, a nova grande promessa da m�sica pop. As duas se assemelham at� mesmo no jeito franco de expor sentimentos e situa��es da vida pessoal. Musgraves faz isso aos 33 anos com a carreira consolidada, e � poss�vel sim que tenha influenciado o jeito que Olivia, de 18, comp�e.
As duas pertencem a universos diferentes, mas � bem prov�vel que concorram juntas nas categorias principais do pr�ximo Grammy, em 2022.
Resta saber se Kacey Musgraves ainda ser� enquadrada na country music. Para quem come�ou na m�sica incomodando muita gente que v� o g�nero com certo conservadorismo, ela desabrochou r�pido e partiu para uma est�tica pr�pria. Em outras palavras: virou o jogo. E n�o � errado dizer que ela se tornou uma estrela pop para quem odeia m�sica pop.