
“Fomos os primeiros a parar e seremos os �ltimos a voltar.” Foi com essa observa��o recorrente que os
agentes culturais
de v�rias �reas, do teatro ao cinema, da m�sica �s artes visuais, deram, ao longo do �ltimo um ano e meio, a dimens�o do impacto da paralisa��o do
setor
a partir da chegada da pandemia.
Aparentemente, chegou o momento de quem estava no fim da fila enxergar a luz no fim do t�nel. Quem sobreviveu a esse per�odo de restri��es, impossibilitado de exercer plenamente seu of�cio, v� agora a perspectiva concreta de retomar as atividades de forma consistente.
Artistas
,
produtores
e
t�cnicos
est�o, pouco a pouco, reencontrando o
p�blico
, num movimento que, espera-se, n�o d� marcha a r�.
O Teatro Francisco Nunes ainda n�o foi reaberto devido ao fechamento do Parque Municipal, onde foram detectados casos de raiva em morcegos. Na esteira de museus e teatros, foi a vez de o Cine Santa Tereza voltar a funcionar, h� cerca de uma semana, para abrigar parte da programa��o presencial do Circuito Municipal de Cultura.
O M�sica de Domingo voltar� no pr�ximo dia 26, com apresenta��o do Assanhado Quarteto, no Cine Theatro Brasil Vallourec, e segue nos dias 11 de outubro, quando Acau� Ranne e Titane dividem o palco do Teatro da Cidade, e 24 de outubro, com o show “V�rtice”, de Rafael Martini, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Fab�ola afirma que a reabertura dos 17 centros culturais da prefeitura, espalhados pelas diversas regionais da cidade, ocorrer� em breve. Os protocolos para o funcionamento desses equipamentos e das bibliotecas p�blicas municipais foram aprovados pelo Comit� de Enfrentamento � Pandemia do COVID-19.
“� importante, neste momento, que esses espa�os voltem a funcionar e a oferecer uma programa��o cultural, al�m da programa��o que a gente vem mantendo no ambiente virtual”, diz a secret�ria. Ser�o reabertas tamb�m as 22 bibliotecas p�blicas municipais, at� porque a maior parte delas est� dentro dos pr�prios centros.
Os grandes eventos do calend�rio anual tamb�m v�o retomando seu espa�o f�sico na cidade. Se o Festival Liter�rio de Belo Horizonte (FLI-BH) teve o formato virtual, em maio passado, a Virada Cultural, prevista para 16 e 17 de outubro pr�ximos, ser� majoritariamente digital, mas com algumas interven��es art�sticas que n�o provocam aglomera��o ocupando endere�os no Hipercentro. “Ainda n�o d� para colocar as pessoas na rua por um per�odo de 24 horas, mas d� para fazer algumas interven��es urbanas, como proje��es, dentro da programa��o da Virada”, diz Fab�ola.
EXPERI�NCIA
A 11ª edi��o do Festival de Arte Negra (FAN-BH), prevista para o in�cio de dezembro, dever� ter uma abertura ainda maior para atividades presenciais, com algumas a��es em locais fechados que j� est�o autorizados a receber p�blico, como teatros, museus e cinemas.
“Vai ser a primeira experi�ncia no sentido de fazer um evento grande num formato h�brido, com a programa��o dividida de forma mais equilibrada entre o on-line e o presencial”, diz. Para 2022, est�o previstos o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ-BH) e o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), al�m da Virada Cultural. “A gente espera que seja poss�vel realizar tudo no formato presencial, mas isso vai depender da vacina��o e das condi��es sanit�rias para a gente poder confirmar”, diz a secret�ria.
PAL�CIO DAS ARTES
Mais importante equipamento cultural do estado, o Pal�cio das Artes j� est� em pleno funcionamento, com todos os seus espa�os de frui��o abertos ao p�blico. O Grande Teatro, por exemplo, foi palco de apresenta��es ao longo das �ltimas semanas e vai receber, nos pr�ximos dias, shows de Paulo Ricardo (25/09), Sandra de S� (1º/10), A Cor do Som (2/10), o Tributo a Tina Turner (3/10) e Richard Clayderman (4/10).
No Cine Humberto Mauro, est� em cartaz, at� o pr�ximo dia 29, a mostra “Exagerados: Cinema contra o baixo-astral”. A Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard e outros espa�os expositivos do Pal�cio das Artes abrigam no momento a mostra “50 anos em 5 atos”, que celebra o cinquenten�rio da institui��o. E at� o pr�ximo dia 26, o espet�culo “Wilde. Re/Constru�do” cumpre temporada na Sala Jo�o Ceschiatti.
Presidente da Funda��o Cl�vis Salgado, Eliane Parreiras diz que o funcionamento desses espa�os combina os protocolos da prefeitura e do programa Minas Consciente, j� que a institui��o � vinculada ao estado. “As pessoas est�o voltando aos poucos, mas estamos tendo um p�blico surpreendentemente bom”, diz, destacando que duas atra��es que ocuparam o Grande Teatro – o show da Orquestra Mineira de Rock e o concerto “Stabat Mater”, com a Orquestra Sinf�nica de Minas Gerais – esgotaram os ingressos que foram disponibilizados.
“Em momento algum os teatros do Pal�cio das Artes ficaram com a agenda vazia, mas tudo o que estava programado foi sendo reagendado. Estamos falando de um cen�rio que vai de mar�o de 2020 at� agosto de 2021, ent�o foi um enorme trabalho de remanejamento, o tempo inteiro, e isso agora come�a a se concretizar, com alguns shows j� realizados e outros tantos previstos”, diz Eliane Parreiras.
Segundo ela, “� um processo de concretiza��o, com os produtores apostando mesmo que vai dar certo, querendo fazer seus eventos e confiantes de que o p�blico vai responder”. Eliane afirma que o impacto econ�mico causado pela pandemia foi grande para a Funda��o Cl�vis Salgado, especialmente por causa do longo per�odo em que os teatros ficaram fechados.
“Mesmo com as autoriza��es pontuais de reabertura, voc� n�o trabalha a produ��o de um espet�culo, um show num espa�o t�o curto de tempo. Tivemos um per�odo grande com poucas propostas. Com essa reabertura mais recente, mesmo considerando a limita��o de p�blico, come�ou a ter um esbo�o de interesse por parte dos produtores, mas tem a� um trabalho de equil�brio financeiro no sentido de voc� achar um artista cujo cach� seja de um tamanho que o p�blico v� responder e possa cobrir. A quest�o � que, para al�m da necessidade do p�blico de se sentir seguro, teve um impacto financeiro tamb�m para as pessoas que n�o t�m dinheiro para assistir aos shows que teriam outro tipo de resposta num cen�rio normal”, ressalta.
O que ainda deve demorar um pouco para voltar ao formato presencial s�o as a��es formativas – como as aulas do Cefart – e a rotina dos corpos art�sticos. “Temos todos os protocolos de retorno e estamos fazendo o calend�rio dos corpos art�sticos, inclusive no que diz respeito ao local de ensaio, o tamanho das forma��es, as condi��es t�cnicas, a circula��o de ar, o espa�o para distanciamento, todos esses crit�rios que impactam muito na organiza��o dessas atividades coletivas, o que vale tamb�m para as aulas.”
Cinemas
Com a reabertura em julho deste ano, as salas de cinema tamb�m come�am a retomar f�lego ap�s um longo per�odo de asfixia, que resultou no fechamento de 11 delas – nos complexos do Shopping Paragem e do Shopping Pampulha, al�m de uma sala no Ponteio Lar Shopping, que est� provisoriamente desativada.
Diretor do Sindicato das Empresas Exibidoras de Belo Horizonte, Betim e Contagem, L�cio Otoni diz que a resposta do p�blico a esse novo momento foi acima da expectativa do mercado, mesmo considerando que, historicamente, agosto e setembro s�o meses que registram uma frequ�ncia menor nas salas.
“O p�blico respondeu a essa reabertura, dentro dos protocolos, com respeito a eles e � capacidade de espectadores estabelecida”, diz, acrescentando que a autoriza��o para ocupa��o de 70% das salas a partir deste m�s de setembro permite vislumbrar o futuro com otimismo.
“Teremos grandes lan�amentos em outubro, com a Semana da Crian�a, por exemplo, quando chega ‘A fam�lia Addams 2’. E tem o novo ‘007’, o novo ‘Venom’, filmes que estavam represados e que agora ser�o lan�ados exclusivamente nas salas de cinema. Essa retomada est� sendo interessante, porque o cinema provou-se um programa bastante seguro, com os protocolos sendo respeitados”, diz. Apesar desse cen�rio promissor, L�cio Otoni acredita que as redes de exibi��o que sobreviveram at� aqui v�o precisar de um per�odo de tr�s a quatro anos para conseguir equilibrar as contas e se recuperarem completamente.
“As empresas ficaram mais de um ano com faturamento muito baixo, perto de zero em alguns per�odos, ent�o vai demorar para que retomem suas melhores condi��es, mas o importante � ter voltado. O Brasil tinha em torno de 3.500 salas de exibi��o e a estimativa, a que chegamos por meio de um levantamento, � de que em torno de 400 delas fecharam. O mercado brasileiro demorou para chegar a 3.500 salas, mas, com a pandemia, pequenos e m�dios exibidores n�o conseguiram sobreviver”, lamenta.
TEATRO
Profundamente afetada pela pandemia, a classe teatral est� ensaiando um retorno ainda t�mido ao modelo presencial, segundo Magdalena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Artistas e T�cnicos em Espet�culos de Divers�es do Estado de Minas Gerais (Sated).
Citando o sucesso de p�blico “Acredite, um esp�rito baixou em mim”, de �lvio Amaral e Maur�cio Cangu�u, e “Wilde. Re/Constru�do”, com texto e dire��o de S�rgio Abritta, como alguns dos poucos exemplos de espet�culos que conseguiram emplacar temporadas desde a reabertura dos teatros, ela diz que o movimento de retomada � lento porque os produtores est�o descapitalizados.
“Ningu�m tem dinheiro para colocar um espet�culo em cartaz, porque isso tem um custo com transporte, alimenta��o, equipamento, enfim, mesmo pensando em despesas m�nimas, o pessoal est� sem dinheiro”, aponta.
Ela classifica o impacto da pandemia como “desastroso” para o setor e salienta que, no �mbito das artes c�nicas, o cen�rio � particularmente dram�tico para os artistas circenses de pequenas companhias.
Diretor do Sindicato dos Produtores de Artes C�nicas de Minas Gerais (Sinparc), R�mulo Duque concorda que o cen�rio � desolador, mas ele confia na reestrutura��o do setor e vislumbra, inclusive, a realiza��o presencial da 47ª Campanha de Populariza��o do Teatro e da Dan�a de Minas Gerais, entre janeiro e fevereiro do pr�ximo ano.
Um aceno nesse sentido � a realiza��o de uma esp�cie de recorte da Campanha no formato on-line, que teve in�cio em julho e segue at� o final deste m�s, com oito espet�culos, exibidos nas redes sociais do Sinparc, como forma de “amenizar a situa��o e viabilizar o trabalho das pessoas”, segundo Duque. Ele diz, no entanto, que h� um entrave: o projeto da Campanha, que at� o ano passado contou com patroc�nios via Lei Rouanet, est� paralisado no setor de an�lise do Minist�rio da Cultura.
“Estamos, no momento, com pouca comunica��o com os �rg�os p�blicos federais, mas botando f� em que teremos o projeto aprovado e os recursos disponibilizados at� o final deste m�s. A�, � reunir os produtores para, at� dezembro, come�ar a desenhar essa 47ª Campanha, qui�� toda em formato presencial, ocupandoocupando os teatros da cidade, com um n�cleo de acompanhamento respons�vel pelo cumprimento das a��es de combate � pandemia”, diz.