
De acordo com a Secretaria Municipal de Esporte e Cultura, � muito dif�cil mensurar numericamente quantos espa�os culturais deixaram de existir. Muitas pessoas n�o conseguiram manter seus empreendimentos, por falta de recursos para despesas b�sicas, como �gua e luz, por exemplo .
A secretaria explica que neste per�odo pand�mico, apenas por meio da LAB, que � uma lei federal, foi destinado para o munic�pio R$ 2.151.409,66, dos quais, aproximadamente, 80% desse recurso foi empregado em 2020 e o restante poder� ser aplicado em 2021.
“Essa implementa��o foi uma constru��o popular, que contou com a participa��o da sociedade civil e do Conselho de pol�ticas culturais”, acrescenta.
Ainda segundo a secretaria, com o relaxamento das medidas sanit�rias, o munic�pio que est� na onda verde e o setor como um todo, v�em uma luz no fim do t�nel, com a reabertura de casas de espet�culos e outros espa�os destinados � cultura.
Desafios e apoio ao setor
Raquel Miranda, fundadora do Coletivo La Noche � C�nica, afirma que a pandemia trouxe um impacto direto nas a��es culturais que eram realizadas de forma presencial, interrompendo suas atividades e diminuindo a renda de artistas, produtores, gestores e espa�os.
Al�m disso, segundo a fundadora do coletivo, esse momento pand�mico pode ter, de alguma forma, dificultado a mobiliza��o e atua��o dos conselhos de Pol�tica e Patrim�nio Cultural, de forma a interromper os tr�mites a respeito da publica��o de mais um edital do Fundo de Preserva��o do Patrim�nio Cultural.
“Por outro lado, a coloca��o em pr�tica da Lei Aldir Blanc atenuou os impactos da pandemia sob o setor, al�m de ter fomentado uma redistribui��o de recursos dentro do munic�pio. Ou seja, iniciativas n�o t�o maduras tiveram a oportunidade de acessar recursos nunca antes alcan�ados, para ampliar e fortalecer as atividades”, complementa.
O coletivo nasceu em 2016, a partir da jun��o de dois grupos de artes c�nicas: Soma Grupo de dan�a e os integrantes da pe�a teatral - A Hist�ria da Cidade Onde a Mata Virou Rio e N�voa Virou Santa, dirigida pela Tr�ade Cia de Teatro.
Segundo Miranda, o setor cultural de Ribeir�o das Neves � diverso e potente em suas vertentes art�sticas. Por�m, n�o s�o valorizados, faltam pol�ticas p�blicas que contemplem os fazedores de cultura.
"At� ent�o, foram abertos apenas dois editais do Fundo de Preserva��o do Patrim�nio Cultural de Ribeir�o das Neves, um em 2015 e outro em 2019. A distribui��o de recursos atrav�s desse fundo com regularidade � de extrema import�ncia para fomentar as a��es culturais no munic�pio”, explica a fundadora do coletivo.
Miranda esclarece que, antes da pandemia, promover a cultura em Neves j� esbarrava em v�rias dificuldades, como formar p�blicos, ter acesso a recursos para a realiza��o dos eventos, patroc�nios e at� mesmo o transporte dentro do munic�pio, que dificulta o acesso das pessoas �s a��es culturais. Dentre v�rias outras quest�es.
"O custo financeiro para o consumo de uma cultura centralizada � muito alto. Ribeir�o das Neves � uma cidade fragmentada, com bairros e regi�es distantes. Ent�o conseguir fomentar nesse cen�rio sem apoio do poder p�blico � extremamente desafiante. Mas quando conseguimos, se torna um alento”, destaca.
De acordo com ela, em contexto pand�mico, houve a distribui��o de recursos da LAB, o que ajudou muitos produtores e gestores culturais, espa�os, artistas e grupos a conseguirem dar seguimento �s atividades.
“A pandemia come�ou em mar�o (de 2020). Ap�s alguns meses, procuramos alguma maneira de continuar com as atividades do coletivo. Nesse sentido, realizamos uma edi��o virtual do 'Conex�es Fragmentadas', utilizando muito nossas redes sociais", comenta Miranda.

Ela conta que quando soube da possibilidade de recursos atrav�s da LAB, o coletivo se reuniu para pensar em projetos que poderiam concorrer tanto no �mbito municipal quanto estadual da lei.
"Ainda este ano vamos realizar um projeto que foi contemplado no edital do Fundo Estadual (FEC) em 2019. Al�m disso, o pr�ximo passo � planejarmos e tra�armos metas para os pr�ximos anos, possivelmente, explorando mais o eixo de formativo", conclui Miranda.
Adapta��es - uma nova realidade
Marcos Brey, m�sico independente h� 20 anos na cidade, diz que o impacto da pandemia foi enorme, sendo o maior problema que a cultura do munic�pio j� enfrentou.

“Precisei reagir com muito trabalho e coragem, porque foi desesperador ver tudo desmoronando. Inicialmente fiquei muito assustado, com medo e tenso. Por�m o jeito era enfrentar esse momento com trabalho duro, pensando sempre em adapta��es para atravessar essa fase”, comenta o m�sico.
Marcos Brey explica que, como artista independente, sempre pensou em alternativas para gerar receita. Mas quando tudo fechou, ele viu que precisava pensar e fazer mais para conseguir sobreviver n�o somente como artista, mas como pessoa.
“N�o consegui me adaptar a essa nova realidade rapidamente. Na verdade, ainda estou me adaptando. Mas algumas ideias me ajudaram a concluir projetos e iniciar outros, me deixando ativo na carreira e tamb�m gerando renda. Por exemplo, estabeleci parcerias, intensifiquei as elabora��es de projetos para captar recursos, explorei outros campos da minha atua��o profissional dentro da cultura, e criei um selo musical para distribui��o digital de m�sica independente e perif�rica, o Semifusa Ecos, que � um bra�o do Instituto Cultural Semifusa”, pontua.
O m�sico conta que apesar da pandemia, entende que o setor cultural de Neves avan�ou, pois houve uma mobiliza��o dos artistas e da sociedade civil para pensar em solu��es, ajudar uns aos outros, e criar um di�logo com o poder p�blico, algo que n�o existia.
“A Lei Aldir Blanc foi um grande mote para que essas transforma��es acontecessem. Al�m disso, houve um processo de informa��o e conhecimento enorme, um grande aprendizado de forma coletiva”, explica o m�sico.
O profissional conta que no ano passado executou o projeto 'Cora��o Negro', que foi financiado com recursos do Fundo Municipal de Preserva��o do Patrim�nio Cultural de Ribeir�o das Neves. E tamb�m, teve o �lbum 'Luzir', que foi viabilizado por meio da LAB estadual.
O �lbum 'Luzir' foi lan�ado em cinco meses, no meio da pandemia. E ele diz que foi seu maior desafio profissional at� o momento, pois houve a preocupa��o de n�o promover a contamina��o das pessoas que estavam envolvidas no projeto.
“A maior mudan�a foi fazer encontros com menos pessoas da banda. Gravamos o ensaio para que os outros m�sicos pudessem estudar e criar seus arranjos. As faixas de teclado, por exemplo, foram todas gravadas em casa e enviadas para o produtor mix�-las. Os vocais de apoio e a percuss�o nunca estiveram em um ensaio. Estudaram em casa e gravaram no est�dio separadamente. Foi preciso tamb�m interromper os trabalhos durante a onda roxa, o que gerou um certo atraso. Mas foi necess�rio”, relata Marcos Brey.
Segundo o m�sico, o plano agora � divulgar o disco. A m�sica de trabalho � 'Flor', e o clipe, que � o mais acessado no canal do YouTube do artista.
“Quero continuar divulgando esse trabalho para as pessoas. J� estou fazendo pequenas apresenta��es em algumas cidades da Regi�o Metropolitana de BH, atrav�s do projeto 'Noite de Cinema'. E ainda pretendo fazer um show de lan�amento no formato presencial. Esse � o meu grande desejo. Mas vou esperar um pouco mais, para garantir a total seguran�a dos profissionais envolvidos e dos meus f�s”, conclui o m�sico.
