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Estado de Minas LAN�AMENTO

Livro conta a hist�ria da MPB (e a do Brasil) em 100 fotografias

Publica��o foi feita por equipe formada por historiadores do Projeto Rep�blica e especialistas em m�sica


12/10/2021 04:00 - atualizado 11/10/2021 23:20

Chico Buarque em sessão de autógrafo
Flagrante de Chico Buarque cercado por f�s na sess�o de aut�grafo de seu primeiro �lbum feito por fot�grafo n�o identificado, pr�tica que foi comum sobretudo dos anos 1920 aos 1950
A parceria entre a editora Bazar do Tempo, comandada por Ana Cec�lia Impellizieri Martins, o Projeto Rep�blica , da UFMG, capitaneado por Helo�sa Starling, e os jornalistas, cr�ticos e pesquisadores Hugo Sukman e Rodrigo Alzuguir resultou, ao fim de mais de dois anos de trabalho, no rec�m-lan�ado livro “ Hist�ria da m�sica brasileira em 100 fotografias ”.

Trata-se de um trabalho de f�lego, que traz � tona fatos e personagens da m�sica brasileira relativos a um per�odo que parte da segunda metade do s�culo 19 e chega at� os dias atuais. A obra joga luz, tamb�m, sobre nomes importantes da fotografia no pa�s e, no bojo, contribui para contar a pr�pria hist�ria do Brasil.

As tais 100 fotografias a que o t�tulo se refere foram escolhidas por Sukman e Alzuguir. Para cada uma foram escritos verbetes, pelos dois curadores, por especialistas convidados e por parte da equipe do Projeto Rep�blica. Nem todas as imagens tiveram os autores identificados, por uma car�ncia mesmo de registro, no caso das mais antigas, mas o livro traz, tamb�m, pequenas biografias dos fot�grafos creditados.

Imagem do livro História da música brasileira em 100 fotografias
Ary Barroso, Tom Jobim, Ronaldo B�scoli e Carlos Lyra numa imagem que sintetiza o surgimento da bossa nova, aben�oada pela gera��o anterior (foto: Indal�cio Wanderley/O Cruzeiro/Arquivo EM)

DOCUMENTOS 

“A ideia que rege esse projeto � fazer o cruzamento entre hist�ria e fotografia, com as imagens lidas como documentos que nos contam a hist�ria do pa�s. Ao mesmo tempo, a gente tamb�m refor�a ou constr�i a hist�ria de tudo o que est� ligado � fotografia e aos fot�grafos”, diz Ana Cec�lia.

Ela observa que, entre os anos 1920 at� meados dos anos 1950, a imprensa n�o creditava os fot�grafos, o que explica algumas lacunas. Na opini�o da editora, ao mergulhar nos acervos de fot�grafos e institui��es p�blicas e privadas, a pesquisa cumpre a fun��o de valorizar e colocar na hist�ria alguns nomes importantes da fotografia feita no Brasil.

“Esse livro � fruto de um entendimento que a gente tem – e o Projeto Rep�blica, da Helo�sa, tamb�m enxerga assim –, de que a m�sica brasileira � muito eloquente para falar da nossa hist�ria, ela serve como coment�rio sobre fatos da vida brasileira”, afirma a editora. 

Ela cita como exemplos a m�sica de protesto, que dialoga diretamente com os acontecimentos do Brasil durante a ditadura militar, nos anos 1960 e 1070, ou a chegada de Luiz Gonzaga ao Sudeste, a partir de quando o Brasil se abre para a produ��o cultural de uma regi�o que estava fora do mapa do show business.

Helo�sa Starling explica que o Projeto Rep�blica pesquisa a can��o popular brasileira h� 20 anos, por isso a parceria com a Bazar do Tempo foi “juntar a fome com a vontade de comer”. A historiadora diz que se trata de enxergar a can��o como um dos recursos poss�veis para se compreender o pa�s. 

Clube da Esquina no cenário mineiro
A emerg�ncia do Clube da Esquina no cen�rio mineiro e nacional tamb�m � tema do livro, cujos verbetes se referem �s respectivas imagens, assim como a seus autores

ANDAIMES 

“� exatamente essa a linha de pesquisa do Projeto Rep�blica: como o compositor popular � um int�rprete do Brasil? Como ele narra o Brasil e como narra o que significa ser brasileiro? O projeto resulta de uma pesquisa grande, porque t�nhamos que pensar cada recorte que os curadores nos enviavam. A gente contribuiu com a pesquisa hist�rica, levantando andaimes para os autores dos verbetes constru�rem o texto”, conta.

Ana Cec�lia diz que toda a equipe envolvida na realiza��o do livro buscou uma sele��o que fosse representativa de v�rios aspectos, tanto da fotografia quanto dos personagens e cenas fotografados, o que abrange a quest�o geogr�fica, os diferentes estilos musicais e a representatividade de g�nero. 

“Constru�mos uma cronologia e buscamos identificar quais eram os momentos mais importantes e o que a gente tinha que dar conta em termos de g�nero musical, de personagens e de tem�ticas”, diz, acrescentando que foi uma empreitada laboriosa. 

“Os verbetes para cada fotografia s�o textos n�o muito grandes, ent�o teve, ainda, o desafio de fazer caber ali a hist�ria do tema, seja o artista ou o epis�dio, e toda a contextualiza��o, al�m de tamb�m falar algo sobre a imagem, a leitura sobre ela, o porqu� de a gente ter escolhido uma e n�o outra, porque n�o s�o aleat�rias. N�o basta ter uma imagem do Chico Buarque, tem que ter uma imagem do Chico que represente um evento importante na trajet�ria dele e para o Brasil. Em muitos casos, a gente mudou a foto, porque a pesquisa seguia adiante e, de repente, aparecia uma imagem que dizia mais sobre o tema”, diz a editora.

DESAFIO 

Sukman afirma que coube a ele e a Alzuguir fazer a sele��o das 100 fotos, o que foi desafiador, porque, conforme diz, ambos s�o profissionais do texto – terreno em que, afinal, tamb�m puderam pisar, j� que, juntos, eles assinam 30 dos 100 verbetes. 

“A decis�o foi pela imagem, antes de tudo. Eu e Rodrigo somos jornalistas, pesquisadores, escrevemos livros, ent�o somos do texto, mas tivemos que nos disciplinar para essa fun��o de selecionar imagens que contivessem uma hist�ria e que fossem representativas de um tempo, de um movimento, de uma biografia. Foi isso que norteou a gente, pensar no valor da imagem como fotografia e como documento”, comenta.

Ele cita como exemplo a bossa nova, cujos personagens e epis�dios relacionados foram amplamente registrados em imagens. A foto escolhida para comentar o movimento, feita por Indal�cio Wanderley, flagra Ary Barroso, Tom Jobim, Ronaldo B�scoli e Carlos Lyra sentados em uma escada na casa do pianista Ben� Nunes, num encontro promovido pela revista “O Cruzeiro”.

“A gente poderia escolher milh�es de fotos da bossa nova, mas essa foto � impressionante. � uma foto inusitada, com os personagens corretos, e que, por meio dela, a gente consegue contar a hist�ria da bossa nova. Nessa imagem, o Ary Barroso, que era o grande compositor brasileiro da �poca, aben�oava aquela nova gera��o. E, diferentemente do samba, a bossa nova foi criada na sala da casa das pessoas. Essa foto � uma hist�ria. S�o v�rios crit�rios, mas o primordial � o encantamento que a imagem provoca. A partir da� voc� faz a leitura do que est� dito nela.”

Outro exemplo que ele cita � o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 1969. A imagem escolhida, de autoria de Ricardo Beliel, � da ala das baianas da Imp�rio Serrano. “Por que a gente escolheu essa foto? Porque ela � linda, uma foto em preto e branco com luz perfeita. E por que a Imp�rio Serrano? Porque naquele ano a escola levou para a avenida o enredo ‘Her�is da liberdade’, no desfile que aconteceu dois meses depois da decreta��o do AI-5. A Imp�rio deu um n� na ditadura, desfilou um enredo pedindo a volta da liberdade, mas quem pede n�o � a Imp�rio, � Tiradentes, ent�o era um desfile incensur�vel. O que � bonito desse livro � isso, voc� pega uma foto maravilhosa, quase abstrata, mas que permite contar a hist�ria daquele que talvez tenha sido o desfile mais importante e emblem�tico de todos os tempos”, diz.

PONTE 

Imagem dois negros escravizados
Imagem de 1865 que mostra dois negros escravizados tocando tambor abre o livro, numa refer�ncia �s matrizes da m�sica brasileira�

Sukman destaca, ainda, os di�logos que as imagens estabelecem entre si. Uma foto de Inezita Barroso, por exemplo, que come�ou a dar visibilidade para a m�sica sertaneja nos anos 1950, estabelece uma ponte com a imagem de Chit�ozinho e Xoror� em est�dio, muitos anos depois, cercados de tecnologia.

“Da mesma forma, a gente pega Dorival Caymmi meio que posando de pescador em um barco, ele come�ando a tradi��o da m�sica baiana, e isso se conecta com uma foto da Daniela Mercury, 40 anos depois, cantando para uma multid�o no v�o do Masp”, aponta.

A foto que abre o livro, a mais antiga, de 1865, feita por Cristiano J�nior, flagra dois negros escravizados tocando tambores. A segunda foto � de Carlos Gomes, “talvez nosso primeiro compositor moderno”, conforme destaca Sukman. A terceira foto � o registro de botocudos tocando flautas ind�genas na beira do Rio Doce, no Esp�rito Santo. 

“Com esse in�cio, a gente d� conta das matrizes. Depois vamos seguindo a hist�ria cronologicamente, tentando abarcar todos os movimentos da m�sica brasileira”, diz. A estrutura cronol�gica do livro passa, ent�o, por Catulo da Paix�o Cearense, segue para a pra�a 11, no Rio de Janeiro, em 1915, na “Pequena �frica”, onde nasceu o samba, chega nos Oito Batutas, sai do eixo Rio-S�o Paulo e vai para Pernambuco, onde h� o registro do frevo, com uma banda de pau e corda em a��o. 

“Da� tem a Chiquinha Gonzaga, o Noel Rosa, uma foto maravilhosa do M�rio de Andrade percorrendo o Brasil, feita pelo L�vi-Strauss, e mais Carmem Miranda, Villa-Lobos, os cantores do r�dio, as primeiras escolas de samba, o trio el�trico na Bahia, o encontro de Tom e Vin�cius, Lamartine Babo vestido de diabo num carnaval”, cita Sukman.

Ele salienta que essa linha se desenrola at� os dias atuais, com uma imagem, por exemplo, que resulta de uma montagem em que aparecem Marcos Valle, Joyce Moreno e Ivan Lins, que, durante a pandemia, cada um de sua casa, gravaram uma m�sica em parceria. “� uma foto dividida em tr�s, uma reprodu��o da internet. Quer dizer, chegamos ao momento atual, da pandemia.”

No rol das atualidades aparecem, ainda, Marisa Monte fotografada por Leo Aversa, Caetano Veloso pelas lentes de Bob Wolfenson, os Tit�s representando o rock brasileiro, os Racionais MCs como um s�mbolo da revolu��o das periferias, um baile funk no Rio de Janeiro e o retrato de Elza Soares, feito em 2015 por Steph Munnier, sob o t�tulo “Mulher do fim e do come�o”, que fecha o livro.

“Esse livro traz uma maneira de entender o Brasil, mas o Brasil � maior do que um livro. Ele � um caminho, n�s poder�amos fazer as mil can��es, que seria outro caminho, mas � bom a gente ter em mente que essa obra � uma hist�ria poss�vel do Brasil em 100 imagens relacionadas � m�sica. O Brasil n�o cabe em um �nico livro. Uma coisa que sinto, que me dei conta na hora que vi o livro, � que ele fala de um Brasil que n�s n�o reconhecemos hoje e que precisamos voltar a reconhecer”, diz Helo�sa Starling, chamando a aten��o para um trecho da apresenta��o.

Esse trecho diz: “� com um tanto de orgulho que se folheiam essas p�ginas, e que sentimos pulsando a for�a da nossa m�sica, que tamb�m � a da nossa poesia, nossa l�rica, nosso ritmo, nossa harmonia. Essa for�a que � a nossa cultura; o que somos, ao fim – ou dever�amos vir ou voltar a ser, quando for queimada, do mal, a semente, e o sol brilhar outra vez”.

Capa do livro
"HIST�RIA DA M�SICA BRASILEIRA EM 100 FOTOGRAFIAS"

Organiza��o : Hugo Sukman e Rodrigo Alzuguir
Bazar do Tempo (304 p�gs.)
R$ 120 


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