Helena Ignez em cena do longa 'Carnaval na lama', de 1970, �poca em que a produtora Belair atuou de forma independente de est�dios e distribuidoras (foto: Fotos: Edi��es Sesc/Divulga��o
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A atriz Helena Ignez, de 82 anos, perambulou nas �ltimas semanas por v�rios cantos de S�o Paulo, na pele de uma andarilha, para as filmagens de “L.O.R.C.A.”, h�brido de cinema e teatro on-line, que dever� ser lan�ado no m�s que vem.
O projeto do diretor Andr� Guerreiro Lopes, inspirado em poemas do espanhol Federico Garc�a Lorca, teve cenas rodadas na Avenida Paulista, na Pra�a da S� e na Vila Brasil�ndia e, em meio aos outros atores, como Djin Sganzerla, Michele Matalon e Samuel Kavalerski, figuram transeuntes em intera��es registradas pelas c�meras, em um limite t�nue entre a performance e o document�rio.
Essa rela��o espont�nea de p�blico e int�rpretes faz parte do conceito de corpos societais, m�todo est�tico empregado pelos cineastas Rog�rio Sganzerla e J�lio Bressane na maioria dos filmes da Belair, produtora fundada pelos dois em parceria com Helena, que, no in�cio dos anos de 1970, realizou t�tulos fundamentais do cinema alternativo brasileiro.
Esse per�odo � o foco do livro “Helena Ignez: Atriz experimental”, escrito pelos professores e pesquisadores Pedro Guimar�es e Sandro de Oliveira, que analisa a trajet�ria da artista como coautora das personagens em longas como “A mulher de todos”, “Copacabana, mon amour”, “Fam�lia do barulho” e “Sem essa, Aranha” e refer�ncia de interpreta��o moderna no cinema nacional.
A atriz na pele da personagem S�nia Silke em 'Copacabana mon amour' (1970)
PERFORMANCE
O livro ter� lan�amento no pr�ximo dia 30, na 45ª Mostra Internacional de Cinema, com sess�o de aut�grafos na qual Helena estar� presente.
Da tr�ade Bressane-Sganzerla-Ignez resultaram obras que dispensavam o naturalismo a favor da performance, em que a inven��o, as express�es dos atores e as imagens captadas pela lente se sobrepunham aos di�logos do roteiro.
"A Belair desencaretou o cinema brasileiro, fizemos filmes envolvidos com a vida das pessoas e preg�vamos a necessidade de estabelecer uma comunica��o com os outros", afirma Helena.
O livro faz jus ao t�tulo que Helena carrega nas �ltimas cinco d�cadas, o de atriz experimental. � o r�tulo mais duradouro e aceito com relativa tranquilidade por essa baiana de descend�ncia aristocr�tica, que veio ao mundo em uma fam�lia quase falida e bateu p� para firmar a personalidade forte.
O teatro logo a afastou do curso de direito t�o festejado pelos pais, e um casamento precoce com o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) selou o destino de artista e mulher libert�ria. "Eu tinha uma filha ainda beb�, a Paloma, me entreguei a uma nova paix�o que logo acabou e, aos 23 anos, desquitada, precisei virar uma mesa pesada, que me deixou cicatrizes por muito tempo", relembra ela sobre a separa��o de Glauber.
No Rio de Janeiro, a atriz – que estreara no curta “P�tio”, de Glauber – despontou em filmes como “O assalto ao trem pagador”, “O grito da terra” e “O padre e a mo�a”. "Fa�o parte da primeira gera��o de mulheres que ganhou o direito de existir, talvez eu seja a cabe�a dessa turma, que contou ainda com Adriana Prieto, Leila Diniz, Isabel Ribeiro, Betty Faria", diz ela, que ficou conhecida como a musa do Cinema Novo.
A televis�o, nos prim�rdios da consolida��o, tamb�m alcan�ou Helena, que apresentou programas, foi entrevistadora e se testou rapidamente em novelas. "Logo vi que aquele mundo n�o era para mim, ainda mais depois que a Globo veio e desmontou a hist�ria das outras emissoras, assimilando todos os m�ritos para ela."