
Em 2021, a Feira de Cer�mica tem curadoria dos artistas pl�sticos mineiros Regiane Esp�rito Santo e Sebasti�o Pimenta. O modelo a dist�ncia foi uma novidade para boa parte dos ceramistas, acostumados a divulgar e vender seus trabalhos nas edi��es f�sicas. A adapta��o para o ambiente on-line incluiu o processo de fotografar as obras, editar as imagens e disponibiliz�-las na loja virtual.
“S�o coisas muito novas para todos n�s, principalmente porque o nosso grupo de ceramistas n�o � da gera��o com 20, 30 anos. Os mais novos est�o na faixa dos 40”, conta Regiane Esp�rito Santo, de 59 anos. Na primeira edi��o on-line da mostra, em 2020, o modelo n�o abalou significativamente as vendas da feira. “Muita gente vendeu mais (em compara��o com as edi��es presenciais). E outros venderam muito menos”, descreve a curadora.

O principal prop�sito desta edi��o � apresentar a versatilidade da cer�mica para al�m dos objetos utilit�rios, como copos, filtros e potes de barro. A inten��o � propiciar uma forma cr�tica da consci�ncia cultural e um olhar �ntimo em rela��o aos moldes, padr�es e utilidades da vida pr�tica. “Nosso olhar est� sendo para os objetos art�sticos, independentemente da utilidade”, define Regiane.
Ela admite que a cer�mica � injusti�ada dentro do universo das artes. “Todos os artistas renomados do modernismo fizeram cer�mica, como Salvador Dal� e Picasso. Mas como a cer�mica nasceu como um utilit�rio, ou seja, para fazer caneca de cerveja, tigela para fazer comida, ela nunca foi considerada uma arte. Mesmo com os grandes artistas que j� fizeram cer�mica, esse material nunca � bem-visto”, justifica.
Regiane conta que a cada edi��o da feira s�o produzidas mais varia��es de arte a partir do barro e garante que este ano n�o vai ser diferente. Esculturas, lumin�rias e objetos decorativos fazem parte do acervo dos 56 artistas (que inclui ela). “Vamos ter inova��es bem interessantes, bonitas e de todos os pre�os”, disse.
NOVOS ARTISTAS
A feira inova ao convidar artistas de diferentes regi�es do Brasil para participar de bate-papos sobre o processo art�stico, entre eles Maria Cheung (Foz do Igua�u, PR), Sonia Bogaz (S�o Paulo), Leandro Kanagusku (S�o Paulo) e o influencer C�sar Augusto Barbosa (S�o Paulo). As conversas, mediadas por Regiane Esp�rito Santo e Sebasti�o Pimenta, acontecem no Instagram (@feiradeceramicamg), em 10, 17 e 24 de novembro, �s 20h. A conversa fica dispon�vel na plataforma ap�s a transmiss�o.
A abertura, nesta segunda-feira (1º/11), foi com Maria Cheung, um dos mais importantes nomes da cer�mica mundial, tendo exposto na �ndia, �ustria e Alemanha. Nascida na China, ela se mudou para o Brasil em 1964, quando tinha apenas 7 anos. No entanto, s� foi apresentada � cer�mica na universidade. A experi�ncia foi uma paix�o � primeira vista, segundo diz.
“Nunca tinha trabalhado com cer�mica. Eu mesma me surpreendi com a facilidade. Na primeira aula, j� tive muita facilidade com a mat�ria”, diz Maria Cheung, de 63 anos, que faz sua estreia na Feira de Cer�mica.
A artista inaugurou seu ateli� em Foz do Igua�u (PR), em 1995. Sua obra � conhecida por retratar quest�es do Oriente, como a mulher e a crian�a chinesa, com um fazer art�stico conceitual e contempor�neo, sendo exemplo das m�ltiplas variedades da cer�mica.
“Neguei minha cultura por muito tempo. Quando era crian�a, optei por negar minhas ra�zes (chinesas) para ser aceita na escola, na rua onde eu morava”, descreve. Na faculdade, por influ�ncia de um professor, Maria resgatou as ra�zes orientais em seu processo art�stico. “Em geral, as pessoas pensam na cer�mica s� como objeto utilit�rio ou decorativo. Mas argila � um suporte como qualquer outro material. Eu uso para expressar as minhas ideias, trazer a minha cultura e provocar uma reflex�o, principalmente sobre essa condi��o da mulher”, destaca a artista pl�stica.
Ao longo da carreira, Maria Cheung produziu obras baseadas no p� de l�tus – tradi��o chinesa de amarrar os p�s das mulheres para modificar o formato em fun��o de uma exig�ncia est�tica masculina. “Eu me lembrei da minha bisav�, que tinha esses p�s enfaixados e totalmente deformados, horrorosos. Foi uma coisa que me marcou, mas n�o sabia que era por causa disso (da cultura de opress�o feminina). Ent�o, comecei a fazer um trabalho enorme sobre esses p�s, porque sou mulher, chinesa, artista.”
“Eu trago as coisas da minha cultura para provocar as pessoas a refletirem essa opress�o. N�o existe nos dias de hoje essa tradi��o (do p� de l�tus), mas existem outras formas de opress�o”, destaca a ceramista, que tamb�m desenvolveu esculturas baseadas na pol�tica chinesa do filho �nico, vigente entre 1970 e 2016, onde era permitido apenas um beb� por fam�lia. A obra critica a prefer�ncia dos casais por filhos do sexo masculino.
Patamar
A hist�ria e os detalhes do seu processo art�stico fizeram parte do bate-papo mediado por Regiane Esp�rito Santo, que abriu a segunda edi��o virtual da Feira de Cer�mica. A artista afirma que s�o fundamentais eventos dedicados ao of�cio para mudar o patamar da cer�mica, muitas vezes vista como uma “arte menor”. E considera que a tecnologia � um aliado importante para consolidar a versatilidade da arte nos dias de hoje. “Veio como uma ferramenta para auxiliar e nos aproximar muito mais.”
Entre novembro e dezembro, a programa��o da feira oferece seis oficinas voltadas para diferentes p�blicos e processos de manipula��o de argila. S�o elas: Alguma crian�a quer aprender a fazer uma x�cara? (com Djenane Vera Eduardo); Cer�mica para iniciantes (com Emanuelle Tolentino); Simplificando a qu�mica da cer�mica (com Eduardo Apolaro); Adorno corporal/Uma nova cole��o (com Germana Arthuso); Oficina de objetos sonoros (com Cibele Tietzmann); e Printonclay – Introdu��o � t�cnica de impress�o e transfer�ncia de imagens em cer�mica, (com Regina Mota).
As aulas ser�o ao vivo, por meio da plataforma Zoom. As inscri��es est�o abertas e devem ser feitas previamente no site https://www.feiradeceramicamg.com.br, com valores entre R$ 100 e R$ 200. A lista com os materiais necess�rios e as datas est�o dispon�veis na p�gina da respectiva oficina.
A programa��o demonstra que a cer�mica tamb�m � para todos os gostos. “A crian�a, o adulto se sentem � vontade com isso. N�o � um trabalho dif�cil, � uma manipula��o simples. � s� pegar na argila e come�ar a esticar. Qualquer um de n�s pode fazer, � s� acreditar”, descreve Regiane. Com forma��o em arte-terapia, ela acredita que a cer�mica cumpre um papel terap�utico importante neste per�odo de isolamento social.
“A cer�mica alivia o estresse, a ansiedade. Voc� pega o seu sentimento e come�a a represent�-lo no barro. A argila recebe sua emo��o, sabe? Ela � extremamente terap�utica”, afirma. “Assim que come�ou a campanha de vacina��o (contra a COVID-19), por exemplo, muita gente veio me procurar no meu ateli� para fazer aula (de cer�mica). E n�o veio ter aula para ser ceramista, mas porque est� precisando fazer alguma coisa”, revela a curadora da feira.
*Estagi�rio sob a supervis�o da subeditora Tet� Monteiro
FEIRA DE CER�MICA DE MINAS GERAIS
Edi��o virtual segue at� 18 de dezembro
pelo site, onde tamb�m podem ser feitas as inscri��es par oficinas e consta a programa��o completa. Bate-papos, sempre �s 20h,
pelo Instagram.