Favela e periferia invertem o jogo e ocupam o centro da cena cultural de BH
No M�s da Consci�ncia Negra, diretores, m�sicos, artistas visuais e dan�arinos exibem a pot�ncia de sua cria��o em eventos voltados para o cinema e hip-hop
Filme "Matriarcas da Serra", dirigido por Simone Moura, reconta, sob olhar feminino, a hist�ria do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte (foto: Renca Produ��es/divulga��o)
"A gente tem filmes de fic��o, document�rios, anima��o, curtas, m�dias e longas. N�o necessariamente eles falam sobre a periferia, n�o passa por a�. O que nos interessa � entender a multiplicidade de linguagens que emerge da periferia"
Siomara Faria, coordenadora do Cine Santa Tereza
Neste M�s da Consci�ncia Negra, a periferia est� no centro de Belo Horizonte – geogr�fica e simbolicamente. At� 28 de novembro, a 2ª Mostra de Cinema Periferia do Mundo apresenta um panorama da produ��o audiovisual das favelas e �reas perif�ricas da capital e regi�o metropolitana. A programa��o re�ne 28 t�tulos, a maioria deles in�ditos e produzidos durante a pandemia.
Em outra frente, come�a, neste domingo (7/11), o Circuito Hip-Hop e das Batalhas de Dan�as Urbanas, com shows, disputas de MCs, artes visuais, oficinas e debates virtuais. As duas a��es ocorrem no �mbito da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte. A mostra de filmes � parceria tamb�m com o Cine Santa Tereza, onde os filmes v�m sendo exibidos.
"Temos percebido o protagonismo da juventude negra como produtora de cultura em BH"
Aline Vila Real, diretora da Funda��o Municipal de Cultura
Com sess�es di�rias, sempre a partir das 19h, a mostra abarca curtas, m�dias e longas-metragens como “Matriarcas da Serra”, de Simone Moura, que busca reconstruir a hist�ria do Aglomerado da Serra pela vis�o das mulheres.
“� a mistura de document�rio e fic��o. A gente entrevistou v�rias mulheres, mais de 70, principalmente as mais velhas, para recuperar a hist�ria da comunidade. Trabalhamos no projeto desde 2018, as grava��es come�aram em 2019. O filme est� em processo, n�o foi finalizado. Com a pandemia, a gente teve de adiar o lan�amento. Estamos apresentando um recorte”, diz a coprodutora Gabriela Matos.
Integrante da Renca Produ��es, criada na comunidade para prestar servi�os audiovisuais – al�m de assinar suas pr�prias produ��es, como o curta “Ser”, inclu�do na mostra –, Gabriela diz que a ideia � lan�ar sete livros a partir das entrevistas com as moradoras do Aglomerado da Serra. “Montamos um roteiro com coisas importantes para se falar dessa comunidade por meio do olhar feminino”, explica.
A Cabana do Pai Tom�s,a regi�o Oeste de BH, � representada pelos filmes “Talib�”, de �berson Martins, al�m de “Desocupados” e “A morte da pomba da paz”, ambos de Dea Vieira – o primeiro, em parceria com Marcos Vieira. “Os dois s�o a mistura de document�rio com cinema experimental”, conta Dea. Artista pl�stica e moradora do Cabana, ela lida com produ��o audiovisual h� 10 anos.
“A gente come�ou nossa produ��o autoral com 'Da lona ao Pai Tom�s’, document�rio sobre o in�cio da constru��o do bairro, em 1963. Escravos habitavam aqui, a gente foi atr�s dos primeiros moradores do Cabana para contar sobre o processo de ocupa��o. Ele foi lan�ado em 2016, e a gente fez a primeira apresenta��o aqui. O processo de constru��o teve a colabora��o de v�rios moradores do bairro”, conta Dea.
V�rios t�tulos da mostra falam dos lugares de origem dos criadores, mas a diversidade d� o tom, com espa�o at� para a fic��o cient�fica “Abdu��o”, de Marcelo Lin, do Aglomerado da Serra. O car�ter plural da produ��o perif�rica � destacado por Siomara Faria, coordenadora do Cine Santa Tereza e uma das respons�veis pela curadoria do evento.
“A gente tem filmes de fic��o, document�rios, anima��o, curtas, m�dias e longas. N�o necessariamente eles falam sobre a periferia, n�o passa por a�. O que nos interessa � entender a multiplicidade de linguagens que emerge da periferia, a produ��o de narrativas e conte�dos”, destaca.
O que orienta a curadoria � a busca por realizadores que criam narrativas a partir das pr�prias viv�ncias. “Trata-se de tentar entender a periferia n�o s� como lugar f�sico, geogr�fico, que est� nas bordas dos centros, mas como um lugar simb�lico, rico e complexo. Tentamos trazer filmes que pensam na periferia n�o s� como lugar de exclus�o, mas de resist�ncia e de inven��o de possibilidades narrativas”, aponta.
O cineasta Andr� Novais de Oliveira e a produtora Filmes de Pl�stico se destacam em festivais no Brasil e no exterior (foto: Acervo pessoal)
CONTAGEM
H� alguns anos, essa produ��o vem conquistando destaque na cena cultural tradicional. Trabalhos da produtora Filmes de Pl�stico, de Contagem, foram premiados em importantes festivais, por exemplo. “Esses filmes j� est�o se deslocando da margem para o centro, ganhando notoriedade entre a cr�tica cinematogr�fica”, observa a curadora.
O movimento tem sido poss�vel gra�as ao equipamento digital, o que torna os meios de produ��o audiovisual mais acess�veis, e a pol�ticas de incentivo implementadas dos anos 2000 at� meados da d�cada passada. “H� maior presen�a de pessoas da periferia nas universidades, estudando cinema e audiovisual, conseguindo acessar mecanismos de incentivo. O cinema, que � uma arte t�o cara, chegou nas m�os dessas pessoas”, ressalta Siomara.
A dimens�o da pot�ncia dessa produ��o no tecido cultural de BH � evidenciada tamb�m pela Associa��o Filme de Rua, o coletivo Cine Leblon, localizado no bairro Jardim Leblon, e a mostra A Cidade em Movimento, que contemplou filmes de comunidades na �ltima edi��o da CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, realizada em setembro.
“Ainda somos um povo colonizado, simb�lica e culturalmente. As imagens que consumimos v�m de fora, s�o produzidas por outros povos, outras viv�ncias, outras experi�ncias”, comenta Siomara Faria. “A periferia traz o que h� de mais forte no sentido de produzir imagens contracoloniais, no sentido de repensar nossa hist�ria. Os realizadores tensionam esse lugar, questionam as imagens colonialistas que nos cercam.”
O m�sico Real da Rua � uma das atra��es do Circuito Hip-Hop e das Batalhas de Dan�as Urbanas, que come�a neste domingo (7) (foto: THL/divulga��o)
CIRCUITO DE HIP-HOP
A pujan�a dessa produ��o art�stica est� expressa na agenda do 2º Circuito Hip-Hop e das Batalhas de Dan�as Urbanas. “O circuito foi criado para valorizar artistas dos diversos territ�rios de BH. Para isso, o Teatro Mar�lia, no Centro, e importantes espa�os dedicados � cultura hip-hop nas regionais recebem vasta programa��o”, explica Aline Vila Real, diretora de promo��o das artes da Funda��o Municipal de Cultura.
Gratuito e majoritariamente presencial, o evento foi concebido em conson�ncia com as a��es do M�s da Consci�ncia Negra. “Temos percebido o protagonismo da juventude negra como produtora de cultura em BH. O hip-hop � uma linguagem art�stica muito presente nesse movimento, at� pela capacidade de organizar v�rias linguagens art�sticas, a dan�a, a m�sica, as artes visuais. H� nessa linguagem a pot�ncia produtiva que a gente sente pulsar na cidade”, diz Aline..
At� o pr�ximo domingo (14/11), o Centro Cultural Urucuia, no Barreiro, a Casa Hip-Hop, no Taquaril, e o Teatro Mar�lia, no Centro, v�o receber os rappers Real da Rua, Mat�ria Prima, Abu, Roger Deff e o convidado especial, KL Jay, o DJ do grupo Racionais MCs. A dan�a estar� representada pelo Coletivo Breaking no Asfalto, Fabiana Santos e Wallison Culu.
Batalhas de MCs e de dan�as urbanas ter�o premia��o em dinheiro. A agenda contempla tamb�m a exposi��o “Vendaval”, com obras de Priscila Paes, no Teatro Mar�lia; as oficinas “Hist�rias do rap, r�dio e podcasts” e “Vis�o liter�ria de quebrada” na Casa do Hip-Hop; e a��es virtuais, como a exibi��o do curta-metragem “Beag�, a capital do hip-hop”, de Artur Ranne. A��es e debates poder�o ser acompanhados pelo canal da Funda��o Municipal de Cultura no YouTube e pelo site do Circuito Municipal de Cultura.
DJONGA
“O hip-hop tem colocado Belo Horizonte em destaque nacional. Pensar no que o Duelo de MCs j� proporcionou para a cidade, pensar que um dos principais nomes do rap no Brasil hoje, o Djonga, � daqui e vem com essa for�a, mostrando que a cidade � diversa, polif�nica, negra e perif�rica, isso tudo nos d� a dimens�o da pot�ncia dessa express�o na atualidade”, afirma Aline Vila Real.
De acordo com ela, o rap representa uma vis�o peculiar sobre a cidade e suas complexidades. “Poderia citar tamb�m o F�rum Hip-Hop, com uma organiza��o e uma forma de se colocar na cidade muito interessante. � a��o de pol�tica real, n�o da pol�tica institucional, no sentido de atuar nas bases comunit�rias e nas comiss�es locais de cultura. Eles s�o muito antenados, participantes. Essa express�o ocupa papel central na produ��o cultural da cidade”, afirma a diretora da FMC.
MOSTRA DE CINEMA E CIRCUITO HIP-HOP
Agendas da Mostra de Cinema Periferia do Mundo e do Circuito Hip-Hop e das Batalhas de Dan�as Urbanas e de MCs em http://portalbelohorizonte.com.br/eventos/circuitomunicipaldecultura/programacao
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