
Dividir o trabalho e a vida n�o � novidade para os integrantes do Corpo. V�rios casais j� se formaram (alguns se desfizeram) nos 46 anos de trajet�ria da companhia de dan�a mineira.
Entre os seus atuais 18 bailarinos, o grupo tem tr�s casais, que ser�o vistos nos �nicos pas-de-deux de “Primavera”, espet�culo concebido durante a pandemia do novo coronav�rus, que estreia nesta quarta-feira (10/11), em Belo Horizonte.
O core�grafo Rodrigo Pederneiras n�o costuma colocar sempre casais juntos em pas-de-deux. Mas, com a crise sanit�ria, n�o poderia ser diferente, j� que a montagem, com trilha do Palavra Cantada – de Sandra Peres e Paulo Tatit, que s�o uma dupla, n�o um casal – come�ou a ser trabalhada antes do in�cio da vacina��o.
Dessa maneira, os �nicos momentos do espet�culo onde h� um encontro de corpos s�o nos pas-de-deux, protagonizados pelos casais �gatha Faro e Lucas Saraiva (que abrem a montagem, apresentando-se logo na segunda m�sica), Karen Rangel e Rafael Bittar (que dan�am em duo no meio do espet�culo) e Mariana do Ros�rio e Elias Bouza (que encerram “Primavera”).
A reportagem ouviu os tr�s casais. Felizes todos est�o com o retorno aos palcos e a possibilidade de encontro com o p�blico, ap�s quase dois anos de aus�ncia. A oportunidade de dividir um momento �nico com o (a) parceiro (a) de vida tamb�m � motivo de comemora��o. Igual n�o pode ser – e estranho seria se fosse.
. Mariana do Ros�rio e Elias Bouza
N�o foi apenas com a impossibilidade de trabalhar nos moldes de sempre que Mariana do Ros�rio e Elias Bouza tiveram que lidar no �ltimo ano e meio. Quando a crise sanit�ria come�ou, a filha do casal, Nina, estava com pouco mais de 2 anos, uma fase nada f�cil. Ainda mais para uma crian�a que, aos quatro meses, foi para a creche.
“P�nico geral, ainda mais porque ela, desde crian�a, estava super habituada a conviver com gente, sair na rua, abra�ar, pegar. E foi tudo tirado dela, fora que �ramos n�s dois trabalhando com dan�a. O que vai acontecer com a gente? Como ir�amos sobreviver?”, lembra Mariana, sobre a fase inicial. Houve dificuldades, mas tamb�m aprendizado.
Juntos h� 12 anos, Mariana, carioca de 39 anos, h� 16 no grupo, e Elias, cubano de 43, sendo 23 de Brasil e 15 de Corpo (teve uma primeira passagem de 2000 a 2003 na companhia e voltou em 2009), encerram “Primavera” com um pas-de-deux diferente. “� muito mais calmo, lento, � outro tipo de trabalho”, conta ela.
Para Mariana, a temporada paulistana reafirmou a import�ncia do encontro entre artistas e seu p�blico. “Quando abriu a cena, j� estava todo mundo da plateia batendo palma – e a gente batendo palma na coxia. Mais do que uma estreia, ‘Primavera’ � um trabalho de resist�ncia, de uma companhia particular que sobreviveu.”
Veteranos no grupo, os dois fizeram poucos pas-de-deux juntos. “O Rodrigo (Pederneiras) n�o gosta de mexer muito com casal, pois � muita intimidade”, comenta ela, que se tornou a primeira professora dos workshops on-line do Corpo, fun��o que dividiu com o marido.
Formado na Escola Nacional de Arte, em Cuba, Elias, por seu lado, tornou-se recentemente o professor de bal� cl�ssico dos colegas. E da mulher. “Antes da pandemia, eu j� dava aulas particulares e para outros grupos. A� surgiu a oportunidade de dar aula para o grupo”, conta ele.
Mariana conta que, nesta hora, a intimidade fala bem alto. “Ele me corrige diferente”, diz ela. Elias, com humor, completa: “�s vezes nem consigo corrigir. Melhor n�o falar nada, pois pode sobrar para mim.”

. Karen Rangel e Rafael Bittar
Ainda que “Primavera” tenha estreado no fim de outubro, em S�o Paulo, para Rafael Bittar, de 30 anos e 10 de Corpo, e Karen Rangel, 29 de vida e quatro e meio no grupo, a estreia se d� efetivamente em Belo Horizonte.
J� nos ajustes finais do espet�culo, Rafael fraturou o quinto metatarso do p� direito. Teve que ficar de molho e s� voltou a ensaiar h� duas semanas – tamb�m por isso, ficou de fora das fotos oficiais da montagem, feitas por Jos� Luiz Pederneiras.
“Voltar dentro de casa tem um gostinho melhor. E, depois de parados por dois anos, retornar com sua parceira tem um significado especial”, afirma ele. Rafael e Karen fazem o pas-de-deux do meio do espet�culo.
“Em S�o Paulo, eu dancei com o Lucas (Saraiva). Mas agora, com o Rafa, � tudo novo, pois o tamanho do homem � diferente, a energia � outra, ent�o o pas-de-deux tamb�m � feito de outra forma”, comenta ela.
Ele, mineiro; ela, carioca, os dois come�aram o relacionamento h� quase tr�s anos, pouco depois do espet�culo “Gira” (2017), em que tamb�m fizeram um dueto – n�o estar�o juntos nesta remontagem, j� que Rafael ainda tem que pegar leve no retorno aos palcos, por causa de sua les�o.
“Para dan�ar um pas-de-deux voc� precisa de concentra��o e intimidade. O grau de intimidade de dan�ar com quem voc� vive traz fa�scas, mas voc� pode cobrar e se colocar mais”, continua Karen.
Na pandemia, o casal tamb�m exerceu junto outra fun��o. Os dois come�aram a trabalhar nos projetos on-line do Corpo para al�m da dan�a. Karen apresentou v�rias lives, e Rafael fez todas as transmiss�es.
“Karen e eu sempre tivemos interesse em tecnologia, mas entramos nesse projeto sem saber nada, apanhando um pouco, e fomos adquirindo know-how”, conta ele. Hoje, al�m de Rafael ser o respons�vel pelas transmiss�es, Karen passou a atuar tamb�m nas redes sociais do Corpo.

. �gatha Faro e Lucas Saraiva
A responsabilidade � grande, j� que o casal faz o primeiro dos tr�s pas-de-deux de “Primavera”. “� um desafio, pois, depois de quase dois anos sem encontrar o p�blico, a coreografia traz um misto de sensa��es. E ainda tem a cobran�a pessoal, de realizar bem uma coisa que voc� est� ensaiando h� um ano. N�o pode ser meia-boca”, comenta Lucas Saraiva.
Paulista de 32 anos, ele chegou ao Corpo h� oito; a carioca �gatha Faro, de 28, est� h� cinco na companhia, os quatro �ltimos ao lado de Lucas. Os dois j� fizeram alguns pas-de-deux em montagens do grupo e sabem bem como funciona.
“Quando voc� est� sozinha, se acontece alguma coisa d� seu jeito. Com outra pessoa, tem que estar 100%. Agora, com o Lucas, ele j� me entende s� no olhar”, diz �gatha.
O aprendizado no �ltimo ano e meio foi grande, eles comentam. Na primeira fase da pandemia, eram os dois em casa, os m�veis da sala em um canto e uma s�rie de exerc�cios (ioga, c�rdio) para n�o ficar parado.“Tivemos que buscar alternativas para n�o deixar o corpo estagnar. Foi um baita desafio nos manter saud�veis, manter a forma e a excel�ncia”, conta Lucas.
Passados os primeiros meses da crise sanit�ria, o Corpo colocou barras nas casas de todos os bailarinos. “Mas, no fim das contas, fizemos as aulas (on-line) apoiados no puff, segurando no corrim�o da escada. Era do jeito que dava”, diz �gatha. Ela comenta da estranheza inicial de voltar a trabalhar na sede do grupo. “No nosso trabalho, dependemos uns dos outros, sempre fizemos aula em conjunto. Quando voltamos, as aulas eram em separado”, descreve.
Essa separa��o mudou tamb�m a montagem de “Primavera”. “Normalmente, � a companhia inteira criando com o (core�grafo) Rodrigo (Pederneiras). Agora, foi individual, de acordo com cada m�sica”, diz ela.
Mas, com o avan�o da vacina��o, o processo foi se alterando. “Tomamos todos os cuidados, mas hoje, com todos vacinados, a companhia est� bem mais junta”, diz �gatha.
GRUPO CORPO
Espet�culos “Primavera” e “Gira”. Estreia nesta quarta (10/11), �s 20h30, no Pal�cio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Apresenta��es at� 14/11, de quarta a s�bado, �s 20h30, e domingo, �s 19h. Ingressos: Plateias 1 e 2: R$ 150 e R$ 75 (meia); Plateia superior: R$ 120 e R$ 60 (meia). � venda na bilheteria do Pal�cio das Artes e no site Eventim.