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Estado de Minas M�SICA

Duda Brack d� a volta por cima na depress�o e lan�a 'Caco de vidro'

Cantora e compositora ga�cha adota tempero latino e exalta��o � brasilidade nas melodias, e aborda quest�es espinhosas nas letras de seu segundo disco


21/11/2021 04:00 - atualizado 21/11/2021 07:25

Rosto de Duda Brack é visto com fundo azul e atrás de um buraco no vidro
A cantora ga�cha Duda Brack acaba de lan�ar ''Caco de vidro'', seis anos depois de sua estreia em disco, com ''�'' (foto: Guilherme Nabhan/Divulga��o)

� dif�cil encontrar um �nico g�nero musical para definir o �lbum "Caco de vidro", da cantora e compositora Duda Brack, rec�m-lan�ado pelos selos Matogrosso e Al�. Composto por 11 faixas, o trabalho abarca estilos como pagode baiano, c�mbia, folk, funk, rock e pop. 

No esfor�o de tentar defini-lo, talvez seja poss�vel trat�-lo como um disco de ritmos latino-americanos. Ainda assim, essa defini��o parece insuficiente, e � a� que o pr�prio t�tulo do trabalho (e tamb�m nome de uma das can��es presentes nele) come�a a fazer sentido.

"Eu tenho um gosto musical muito diverso", explica a artista, que assina a produ��o do disco junto com o m�sico Gabriel Ventura. "Quando comecei a trabalhar no meu disco, tinha acabado de voltar de uma viagem ao M�xico. Ent�o  fui muito atravessada pela cultura de l�. Mas sempre ouvi muita m�sica latino-americana e a minha inten��o era fazer um disco carregado de brasilidade. Devagar eu fui entendendo qual seria o caminho a ser percorrido e, junto com o Gabriel, eu fui descobrindo."

A jornada de Duda at� "Caco de vidro" envolve um longo per�odo sem lan�ar trabalhos solo. Nascida em Porto Alegre e radicada no Rio de Janeiro, ela lan�ou seu disco de estreia, "�", em 2015. No ano seguinte, foi acometida por uma crise de depress�o e cogitou desistir da carreira art�stica. A isso somaram-se desilus�es amorosas e rela��es abusivas. 

Ap�s participar de alguns projetos em banda, como a Primavera nos Dentes, que prestava tributo aos Secos & Molhados, ela retomou, em 2018, a vontade de produzir um trabalho pr�prio.

"Fiquei muito tempo relutando em come�ar esse processo. Precisava me organizar. O meu primeiro disco foi muito intenso, ao mesmo tempo em que foi feito de uma forma muito despretensiosa. E a� a coisa foi acontecendo e eu n�o soube lidar muito bem com a propor��o que tudo tomou", ela explica. "Por isso j� existia uma certa cobran�a de que lan�asse algo novo. Mas eu precisei amadurecer muito, em muitos aspectos, como artista e como mulher."

''Fiquei muito tempo relutando em come�ar esse processo. Precisava me organizar. O meu primeiro disco foi muito intenso, ao mesmo tempo em que foi feito de uma forma muito despretensiosa. E a� a coisa foi acontecendo e eu n�o soube lidar muito bem com a propor��o que tudo tomou. Por isso j� existia uma certa cobran�a de que lan�asse algo novo. Mas eu precisei amadurecer muito, em muitos aspectos, como artista e como mulher''

Duda Brack, cantora e compositora


 
CONVIDADOS

A constru��o do �lbum come�ou a ganhar corpo de fato em 2019. Ele estava previsto para sair no in�cio 2020, mas a pandemia obrigou Duda Brack a mudar os planos. Isolada em casa, ela se aproveitou da agenda paralisada, tanto dela quanto de seus pares, e chamou uma s�rie de convidados para participar do registro.
 
 

A lista inclui a banda BaianaSystem, o grupo de percuss�o Os Capoeira, o grupo norte-americano Hypnotic Brass Ensemble e os m�sicos Elisio Freitas, Cuca Ferreira (saxofonista da banda Bixiga 70), Maycon Ananias e L�cio Maia. 

Mas a presen�a mais ilustre do trabalho � mesmo a do cantor Ney Matogrosso, que canta na faixa "Ouro lata", m�sica feita por Duda sob inspira��o do livro "As veias abertas da Am�rica Latina" (1971), do escritor uruguaio Eduardo Galeano.

"Quando ele [Ney Matogrosso] conheceu o trabalho da Primavera nos Dentes, a gente logo se conectou e viu que, entre a gente, rolava uma identifica��o. Depois disso, ele me chamou para lan�ar o disco pelo selo dele e eu retribu� o convite chamando-oe para cantar em uma das m�sicas", ela conta. 

"'Ouro lata' � uma m�sica que escrevi pensando nele. A letra faz uma cr�tica a essa degrada��o ambiental que estamos vivendo. O BaianaSystem, que eu amo muito, assina a produ��o dessa faixa. Eles s�o uma das bandas contempor�neas que mais me interessam."

O encontro de gera��es tamb�m est� presente na lista de compositores de "Caco de vidro". De um lado, est�o os contempor�neos Chico Chico (que divide com Duda a autoria da m�sica "Sa�da obrigat�ria"), Sandro Dornelles (autor de "Esmigalhado") e Bruna Caram (autora de "Toma essa"). Do outro, est� a cantora e compositora Alzira E, o m�sico e produtor Itamar Assump��o (1949-2003) e o m�sico, poeta e cantor cubano Silvio Rodriguez.

Da parceria entre Alzira e Itamar, Duda Brack regravou "Man", can��o lan�ada h� 30 anos pela cantora e compositora no �lbum "Amme" (1991). Do repert�rio de Silvio Rodriguez, Duda pin�ou "Sue�o con serpientes", lan�ada no disco "D�as y flores" (1975). No Brasil, a m�sica ficou famosa na voz de Milton Nascimento, que a incluiu no repert�rio do �lbum "Sentinela" (1980). Ambas soam muito bem colocadas na am�lgama de ritmos e sonoridades de "Caco de vidro".
 

ESTILHA�O

Questionada sobre a mensagem que o trabalho carrega, Duda Brack o define como a "narrativa do estilha�o". "Todo fim de ciclo � o in�cio de outro. Para mim, isso � uma verdade muito forte, principalmente no sentido emocional. N�o tem como construir algo novo se voc� opera atrav�s do passado. Eu percebi que a gente precisa quebrar essas engenharias de poder que est�o a� impostas para abra�ar o novo. Foi o que tentei explorar na narrativa desse trabalho. Demorei para chegar nesse entendimento. Todo o processo desse disco foi como se eu estivesse tentando morder o meu pr�prio rabo."

No �lbum, n�o s�o raros os momentos em que Duda discute abertamente quest�es feministas, como no caso da m�sica "Macho rey", composta por Ian Ramil e Juliana Cortes. Na letra, est�o descritos padr�es de comportamento masculinos problem�ticos. Segundo a cantora e compositora, tratar de temas como esse foi "inevit�vel".

"Desde 2018, o cerco foi fechando tanto. Eu estava extremamente incomodada. � como a Nina Simone disse: '� dever do artista refletir o seu tempo'. Infelizmente, estamos vivendo tempos extremamente obscuros. Como eu n�o vou falar sobre isso? Mas tentei abordar esse assunto de uma forma minimamente leve. Queria que fosse vibrante para que as pessoas fizessem uma ponte entre a reflex�o e a liberdade", ela explica.

Para a cantora e compositora, a pandemia foi um momento de amadurecimento, ao mesmo tempo em que foi "a gota d'�gua" para o pa�s. "E, como artista, tive o privil�gio de parar e pude continuar me comunicando com o meu p�blico, marcando presen�a e levando m�sica para as pessoas. Eu me sentia viva por causa disso. Os nossos problemas come�am antes da pandemia. Com ela, a gente perdeu muito o poder de a��o e rea��o. Mas os problemas j� estavam a�".

Criativamente, tamb�m foi um momento f�rtil. Al�m de produzir e finalizar "Caco de vidro", nos dias em casa Duda Brack conseguiu compor m�sicas para um terceiro disco, a ser lan�ado no futuro. "Eu j� tenho o repert�rio fechado. Agora que entreguei esse, quero come�ar a trabalhar no pr�ximo e lan��-lo quanto antes. Estou numa fase boa de produ��o, ent�o quero aproveitar", ela conta.

Antes disso, ela pretende cair na estrada. Por enquanto, os shows de lan�amento est�o anunciados para S�o Paulo. Mas, em breve, Duda Brack pretende desbravar outras capitais, incluindo Belo Horizonte. 

"Quando paro para pensar que passei quase dois anos sem subir num palco, n�o sei como eu me aguentei. Preciso disso e estou muito feliz em ver que as pessoas est�o ansiosas por esse tipo de contato com a arte."

“CACO DE VIDRO” 
• De Duda Brack 
• 11 faixas
• Matogrosso/Al� 
• Dispon�vel nas plataformas digitais 


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