
O desacordo com a proposta de reorganiza��o do ensino p�blico feita pelo ent�o governador Geraldo Alckmin levou � ocupa��o de 213 escolas no estado de S�o Paulo. Os alunos protestavam contra o corte de gastos, o fechamento de unidades, a consequente transfer�ncia de alunos e professores e pediam melhorias no ensino. O movimento resultou na queda do secret�rio de Educa��o e na suspens�o do plano de reorganiza��o escolar.
A origem de “Selvagem” tem rela��o com a capital mineira. O diretor estava acompanhando um festival de cinema em BH, em 2015, quando decidiu produzir o filme, ao lado do roteirista mineiro Vinicius Cabral, seu amigo de longa data. A equipe de roteiristas incluiu os tamb�m mineiros Victor Drummond e Gabriela Gois.
Inicialmente, a ideia era fazer um filme sobre o romance adolescente entre Ciro (Kelson Succi) e Sofia (Fran Santos). Entretanto, o in�cio das ocupa��es modificou o projeto. O romance entre os adolescentes foi transferido para as ocupa��es, um ambiente ideal para ampliar a abordagem do filme, segundo o Diego da Costa, ao incluir o despertar da pol�tica na juventude e os caminhos do movimento estudantil.
“N�s estudamos em escolas p�blicas. O cinema norte-americano trata muito a respeito de suas escolas, enquanto a gente as retrata pouco. � um universo do qual gostamos muito, ent�o foi (uma escolha) natural”, diz o cineasta, de 38 anos.
FIC��O
A op��o por fazer um filme de fic��o sobre o movimento, e n�o um document�rio, tem a ver com a inten��o do diretor de “fazer um filme que n�o ficasse preso nas ocupa��es em si, que fosse s� um registro hist�rico, mas sim um filme que tratasse a ideia de que, coletivamente, a gente pode transformar os espa�os e nosso pr�prio ambiente”.
O diretor paulista lan�ou em 2016 o document�rio “A Plebe � Rude" (2016). Ele acredita que seu filme tem a import�ncia de um registro hist�rico e define “Selvagem” como uma esp�cie de "ensaio para a revolu��o”, com o objetivo de n�o deixar as pessoas esquecerem desse movimento.
“As ocupa��es n�o ocorreram s� no estado de S�o Paulo. Elas foram para o Brasil inteiro em algum momento, e a gente conhece muita gente que viveu isso, que era pai, amigo, irm�o dos participantes. O movimento das ocupa��es ainda est� latente na gente”, afirma.
O roteiro foi adaptado v�rias vezes ao longo da produ��o. Nos primeiros ensaios, foram feitas rodas de conversa para ouvir o elenco. Alguns dos atores, como Fran Santos e Jaday Maria do Santos, haviam participado das ocupa��es e compartilharam suas experi�ncias, que foram consideradas pelos roteiristas.
Ao mesmo tempo, a produ��o buscou abranger diferentes pontos de vista na narrativa. A influ�ncia de professores e pais dos alunos conquista parte importante da trama. O pai de Sofia, por exemplo, representa a oposi��o de parte da popula��o ao movimento.
“Ele (o pai) tem as quest�es dele, n�o � somente um opositor. Ele tem medo do que vai ser o futuro da filha e deseja o bem dela. Ent�o a gente tentou colocar todas essas pequenas quest�es e n�o transformar ningu�m em vil�o ou mocinho. Todo mundo tem seu ponto de vista”, diz o diretor.
“Selvagem” critica a for�a policial e a cobertura midi�tica em torno das ocupa��es, destacando, por exemplo, a insist�ncia em definir o movimento como uma “invas�o”. Um outro aspecto � ressaltado positivamente: “A arte foi fundamental no movimento dos secundaristas. Quando eles ocuparam, artistas prontamente se conectaram e ofereceram apoio. Nessa troca, os estudantes descobriram que n�o eram s� as disciplinas escolares que eles podiam fazer. Come�ou a ter oficina de fotografia e m�sica. Tinha escolas com instrumentos musicais trancados, que ningu�m usava”, conta Diego.
Na trama, Ciro � um poeta e come�a a revelar seus versos para os colegas na ocupa��o. Batalhas de slam tamb�m fazem parte da rotina do movimento. “A arte os ajudou a se descobrirem belos, porque o cinema hegem�nico, a televis�o sempre imp�em os mesmos padr�es de beleza. Quando os estudantes est�o descobrindo a arte e seus corpos, eles passam a se aceitar mais”, afirma o diretor.
O rapper Rincon Sapi�ncia integra o elenco, no papel do professor de f�sica Ant�nio, um dos apoiadores do movimento. Durante as filmagens, ele se ofereceu para fazer a m�sica que encerra o filme, “Funk 150”, dialogando com a juventude.
O final original de “Selvagem” – que mostrava a vit�ria dos estudantes contra o governo paulista - foi alterado durante a produ��o, pois o diretor afirma que a reorganiza��o escolar e a repress�o est�o acontecendo at� hoje. “Diretores e professores que apoiaram (o movimento) foram transferidos. Muitos alunos foram perseguidos e n�o puderam se matricular mais (na mesma escola). � o caso, inclusive, de uma das atrizes do filme”, afirma.
Diante disso, ele avalia que “n�o houve uma vit�ria. No final das contas, o estado usou da sua estrutura para minar uma nova tentativa de ocupa��o e de movimento estudantil secundarista”. O filme tenta, contudo, transmitir a mensagem de que os estudantes n�o devem desistir da luta.
“SELVAGEM”
(Brasil, 2021, 95min.) Dire��o: Diego da Costa. Com Vilma Melo, Luc�lia Santos, Dagoberto Feliz, Luc�lia S�rgio, Rincon Sapi�ncia, Kelson Succi, Fran Santos, Juliana Gerais, Paulo Pinheiro, �rica Ribeiro, Rafael Imbroisi, Everson Anderson, Leonardo de S�, Jady Maria Bandeira, Felipe Marinho, Renata Jesion, Igor Veloso, Fabricio Zava, Melina Marchetti, Cleyton Nascimento, Mona Rikumbi, B�rbara Arakaki, Vict�ria Ferreira, Juracy de Oliveira, Nadja Kouchi, Ligia Yamaguti, Matheus Prestes, Bia Paganini, Alexandre Correia, Bianca Cristina, Daniel Arcanjo. Estreia nesta quinta-feira (2/12), no Cine UNA Belas Artes. No s�bado (4/12), a sess�o de 13h30 � exclusiva para professores cadastrados.
*Estagi�rio sob a supervis�o da editora Silvana Arantes