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Estado de Minas LITERATURA

Babilak Bah revela viv�ncias no tratamento de transtornos mentais

Multiartista e arte educador lan�a 'Uma cl�nica de instantes inusitados', livro que traz suas experi�ncias com pessoas em sofrimento ps�quico


06/12/2021 04:00 - atualizado 06/12/2021 07:34

Multiartista paraibano radicado em BH, Babilak Bah
Multiartista paraibano radicado em BH, Babilak Bah � conhecido por integrar o grupo musical Trem Tan Tan, tamb�m formado por benefici�rios de programa de sa�de mental (foto: Netun Lima/DIVULGA��O)
H� 20 anos, o multiartista paraibano radicado em Belo Horizonte Babilak Bah, conhecido por integrar o grupo musical Trem Tan Tan, se divide entre as fun��es de m�sico e poeta enquanto desenvolve projetos como arte-educador. Na m�sica, como artista solo, ele acumula os discos "Enxad�rio – Orquestra de enxadas" (2006) e "Biografia dos homens inquietos" (2011) e o DVD "Afroprogressivo" (2014). Na poesia, ele soma as obras "Voomiragem" (2002), "Corpoletrado" (2012) e "Di�spora descontente" (2021). Agora, ele se prepara para lan�ar o registro de seu trabalho na arte-educa��o: o livro "Uma cl�nica de instantes inusitados".

O lan�amento, programado para a pr�xima quinta-feira (9/12), �s 20h, acontece por meio de live no canal de Babilak Bah no YouTube. A transmiss�o ao vivo contar� com bate-papo com o soci�logo Jos� M�rcio Barros, a professora Patr�cia Dornelles, os integrantes do Trem Tan Tan, Mauro Sergio Camilo e Marcos Evandro, o m�sico Rafael Sales e a psic�loga Soraia Marcos.

O livro, contemplado pelo edital Rumos Ita� Cultural 2019-2020, prop�e uma abordagem art�stica das reflex�es geradas por seu trabalho nos servi�os p�blicos de sa�de mental de Belo Horizonte, como os Centros de Conviv�ncia e o Centro de Refer�ncia em Sa�de Mental �lcool e Drogas (Cersam AD). Babilak Bah aborda as metodologias e os processos criativos utilizados em um trabalho atravessado pela m�sica, pintura, literatura e outras �reas da produ��o art�stica.

"Esse livro � fruto de um trabalho de duas d�cadas de pesquisa com linguagens que impactaram as minhas viv�ncias com arte-educa��o", explica o artista. "Eu comecei a escrever esses textos de maneira espor�dica, amadurecendo a ideia de escrev�-los. Um dia, estava participando de uma atividade em S�o Paulo e mostrei um desses escritos para um amigo, que achou muito interessante e me aconselhou a escrever um livro. Foi a partir da� que passei a escrever de maneira mais metodol�gica."

Em suas investiga��es, Babilak Bah desvenda o valor da poesia visual na pintura, a rela��o entre o corpo e a palavra na literatura e a linguagem art�stica como elemento de constru��o da subjetividade das pessoas em sofrimento ps�quico. "O livro � a reuni�o de v�rias reflex�es desse meu exerc�cio dentro da sa�de mental. S�o hist�rias que justificam o meu trabalho e mostram como a arte-educa��o � um elemento importante para essas pessoas", comenta.

DEMOCRATIZA��O 

Para ele, a inser��o de atividades art�sticas na rotina de indiv�duos com sofrimento mental faz com que eles tenham maior predisposi��o para entender a si mesmos e conviver em sociedade. O artista defende a import�ncia de ter esse tipo de atendimento no Sistema �nico de Sa�de (SUS) como forma de universalizar e democratizar o acesso ao tratamento humanizado.

"Nos Centros de Conviv�ncia, a gente trabalha a linguagem art�stica como forma de desenvolver a alteridade dos cidad�os. Ao recorrer a for�a da express�o art�sticas tamb�m estamos desenvolvendo a sensibilidade e o talento que, em muitos casos, as pessoas j� t�m, s� precisam de uma oportunidade para acess�-los. No meu trabalho como arte-educador, sempre assinalei a busca pelo autoral, deixando que o pr�prio indiv�duo desenvolva sua linguagem", ele afirma.

Estruturado em sete cap�tulos, "Uma cl�nica de instantes inusitados" tamb�m funciona como o registro do trabalho de Babilak Bah e remonta sua rela��o com a sa�de mental. No primeiro cap�tulo, por exemplo, intitulado "Breve arqueologia da mem�ria no tocante � loucura", ele conta o primeiro contato que teve com o sofrimento mental ainda na inf�ncia, na Para�ba, onde nasceu.

Uma das hist�rias narradas � a de Vassoura, como era conhecida Maria Isabel Bandeira, uma senhora que andava a cavalo por Jo�o Pessoa na d�cada de 1970 e, um dia, invadiu o Pal�cio do Governo a galope, desfraldando a bandeira do Brasil. "Ela foi uma esp�cie de m�e da performance no estado ao transformar del�rio em gesto art�stico", analisa Babilak.

No cap�tulo seguinte, "Percurso de um percussionista no territ�rio da sa�de mental", Babilak Bah discute o di�logo da cultura popular com a arte moderna e contempor�nea. Ele aborda a constru��o de uma linguagem percussiva a partir dos signos da loucura como pot�ncia, em uma experi�ncia vivida para al�m da interpreta��o, que faz de cada apresenta��o um momento �nico e irreproduz�vel.

AFETO NO COTIDIANO 

O terceiro cap�tulo, "Uma cl�nica de sons inusitados", traz uma reflex�o sobre o exerc�cio desenvolvido no servi�o substitutivo antimanicomial, desbravando um territ�rio criativo de limites borrados, na interface entre sa�de e cultura, com pr�ticas art�sticas cotidianas de enfrentamento das fragilidades pelo afeto, extrapolando a ideia de oficina.

No quarto cap�tulo, "Viv�ncia da loucura na r�tmica da paisagem social", o artista apresenta os eixos metodol�gicos que sustentam a "Oficina experimental l�dica de sons e movimentos". No quinto, "O Centro de Conviv�ncia em um desafio di�rio", ele discute a percuss�o como linguagem, instrumento de inclus�o e produ��o de sentido no territ�rio da sa�de mental.

O sexto cap�tulo � dedicado � hist�ria do grupo musical Trem Tan Tan, coordenado por Babilak Bah e formado por benefici�rios do programa de sa�de mental da Prefeitura de Belo Horizonte. Ao falar do grupo, o autor reflete sobre a rela��o do samba com a loucura e define a banda como uma a��o de interven��o est�tica.

No s�timo e �ltimo cap�tulo, "Literatura do corpo", se debru�a sobre o processo criativo de vi�s liter�rio, com os m�todos adotados e refer�ncias � obra dos in�meros poetas que emergem no ambiente da sa�de mental.

O livro ainda conta com anexo em que Babilak Bah apresenta o projeto Ritmo, corpo e palavra, atividade ofertada aos usu�rios do servi�o p�blico de sa�de mental de BH que funde m�sica, literatura e outros est�mulos criativos na produ��o de signos.

Quanto ao t�tulo, "Uma cl�nica de instantes inusitados", o autor explica: "A cl�nica a que me refiro � com licen�a po�tica. J� os 'instantes inusitados' s�o aqueles em que entro em contato com a subjetividade criativa dos indiv�duos, que conseguem se revelar diante de m�todos art�sticos, da literatura e da express�o corporal".

Para ele, a arte-educa��o � um instrumento que "possibilita o cuidado de maneira humanizada". "As pessoas est�o abertas a aprender por meio dela e se deixar desenvolver. Para mim, o que mais me encanta � o desprendimento da linguagem. A partir dela, as pessoas conseguem se expressar de maneira muito �ntegra e livre."

Ele, que se considera um "artista e poeta que tem como miss�o repassar saberes e conhecimento", tamb�m afirma que a arte-educa��o "ajuda na sensibilidade, na socializa��o e na maneira como os indiv�duos se enxergam no mundo". "A arte � um agente pol�tico e um ve�culo capaz de desenvolver a alteridade de quem entra em contato com ela. Ela � um porta-voz para a linguagem e isso gera socializa��o."

RETROCESSOS 

Para al�m de servir como um registro das reflex�es e dos trabalhos que Babilak Bah realizou nas �ltimas duas d�cadas, o livro "Uma cl�nica de instantes inusitados" tamb�m serve, de certa forma, como um documento em defesa do movimento antimanicomial, que luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental e contra a exclus�o de pessoas em sofrimento ps�quico grave.

"Essa luta segue importante porque estamos vivendo um momento de muitos retrocessos e, se n�o tomarmos cuidado, os dispositivos de sa�de mental ser�o destru�dos. BH � uma vanguarda de tratamento de sofrimento ps�quico e n�o podemos perder os avan�os que foram t�o dif�ceis de conquistar", ele analisa.

Entre os retrocessos que Babilak Bah pontua, est� o retorno dos manic�mios e os tratamentos de eletrochoque, por exemplo. "Eu tenho a luta antimanicomial como uma bandeira muito importante do meu trabalho. � um direito b�sico o tratamento da loucura acontecer em liberdade. N�o podemos tolerar, por exemplo, um ministro que defende os manic�mios e o eletrochoque."

'UMA CLÍNICA DE INSTANTES INUSITADOS'
(foto: Divulga��o)

UMA CL�NICA DE INSTANTES INUSITADOS

.Babilak Bah
.180 p�ginas
.Rumos Ita� Cultural 2019-2020
.R$ 50
.O livro pode ser adquirido por meio do site.
.A live de lan�amento acontece na pr�xima quinta-feira (9/12), �s 20h, no canal de Babilak Bah no YouTube.


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