
bell hooks � na verdade um pseud�nimo – o nome de batismo da escritora � Gloria Jeans Watkins. Segundo ela, homenagem � sua bisav�, chamada assim. Mas assinado em min�sculas de modo a p�r em evid�ncia a mensagem que queria passar, e n�o ela mesma.
Escrita muitas vezes em primeira pessoa, a obra de hooks aborda as conex�es entre ra�a, g�nero e classe a partir de diversos campos, como cinema, m�sica e pol�tica – seus ensaios j� examinaram de videoclipes de Madonna � representa��o negra em melodramas dos anos de ouro de Hollywood.
Sistemas de ensino, hist�ria dos Estados Unidos e amor tamb�m fazem parte da vasta lista de assuntos que marcaram as obras da escritora, que publicou n�o s� prosa, como tamb�m poesia.
hooks cresceu no Sul dos Estados Unidos na �poca em que a segrega��o ainda estava em curso no pa�s. Ela se formou em literatura na Universidade de Stanford. Cursou o mestrado na Universidade de Wisconsin, em Madison, e doutorado na Universidade da Calif�rnia, em Santa Cruz.
Aos 19 anos, come�ou a escrever aquele que se tornaria seu primeiro livro, “E eu n�o sou uma mulher?: Mulheres negras e feminismo”. Desde 2004, lecionava na Faculdade de Berea, no Kentucky.
Conhecida como uma das intelectuais mais importantes do feminismo negro, hooks � autora de dezenas livros, incluindo os sucessos “Anseios: Ra�a, g�nero e pol�ticas culturais”, “Ensinando pensamento cr�tico: Sabedoria pr�tica” e “O feminismo � para todo mundo: Pol�ticas arrebatadoras”.
Em 2014, a escritora fundou o Instituto bell hooks, com o intuito de estimular estudos de pedagogias feministas e cr�ticas, al�m de documentar a vida e obra de aclamados intelectuais, cr�ticos culturais, artistas e escritores.
"Quando me encontrei com o trabalho de Freire, exatamente num momento de minha vida em que come�ava a questionar profundamente as pol�ticas de domina��o, o impacto do racismo, o sexismo, a explora��o de classe e o tipo de coloniza��o dom�stica que existe nos Estados Unidos, senti-me profundamente identificada com os agricultores marginalizados sobre os quais ele falava''
bell hooks, escritora e pensadora
BRASIL
A autora americana tinha conex�o com o Brasil. Era admiradora e, de certa forma, disc�pula do educador pernambucano Paulo Freire. “Antes de encontrar Paulo Freire, aprendi muito com seu trabalho – aprendi novas maneiras de pensar sobre a realidade social que eram libertadoras”, comentou ela em artigo em “Introdu��o aos estudos da educa��o: Enfoque filos�fico”, publica��o da USP dispon�vel no site da universidade.
“Quando me encontrei com o trabalho de Freire, exatamente num momento de minha vida em que come�ava a questionar profundamente as pol�ticas de domina��o, o impacto do racismo, o sexismo, a explora��o de classe e o tipo de coloniza��o dom�stica que existe nos Estados Unidos, senti-me profundamente identificada com os agricultores marginalizados sobre os quais ele falava, com meus irm�os e minhas irm�s negras, meus companheiros na Guin�u-Bissau”, observou.
''Esta experi�ncia posicionou Freire em minhas m�os e no meu cora��o como um professor desafiador, cujo trabalho ampliou minha pr�pria luta contra o processo colonizador -- a mente pass�vel de coloniza��o''
bell hooks, escritora e pensadora
Nesse artigo, hooks diz que o pensador brasileiro lhe deu “uma linguagem”. “Ele me fez pensar profundamente sobre a constru��o de uma identidade na resist�ncia. Existe uma frase de Freire que se tornou um mantra revolucion�rio para mim: 'N�s n�o podemos entrar na luta como objetos para nos tornarmos sujeitos mais tarde'. Realmente, � dif�cil achar palavras adequadas para explicar como esta frase era como uma porta fechada – e lutei comigo mesmo para achar a chave –, e aquela luta engajou-me num processo de pensamento cr�tico que era transformador”, revelou. “Esta experi�ncia posicionou Freire em minhas m�os e no meu cora��o como um professor desafiador, cujo trabalho ampliou minha pr�pria luta contra o processo colonizador – a mente pass�vel de coloniza��o”.
A morte da escritora foi lamentada por intelectuais e artistas. “Oh, meu cora��o. bell hooks. Que ela descanse. Sua perda � incalcul�vel”, disse no Twitter a escritora Roxane Gay, autora de livros como “M� feminista” e “Mulheres dif�ceis”.
O escritor americano Ibram X. Kendi, uma das pessoas mais influentes do mundo em 2020, segundo a revista Time, afirmou que a pensadora deixa importante legado. “A morte de bell hooks machuca profundamente. Ao mesmo tempo, como ser humano, sinto tanta gratid�o pelos tantos presentes que ela deu � humanidade. 'Ain't I a woman: Black women and feminism' � um de seus muitos livros cl�ssicos. E 'All about love' me mudou. Obrigado, bell hooks. Descanse em nosso amor”, postou Xendi nas redes sociais.
“GIGANTE”
No Brasil, o rapper Emicida comentou a morte da ativista e lamentou sua perda: “bell hooks gigante. Descanse em paz. Obrigado por partilhar sua luz com o mundo.”
Rashid, outro nome de destaque no rap brasileiro, tamb�m se manifestou: “Que a incr�vel bell hooks possa ir em paz! Obrigado pelos ensinamentos, por compartilhar suas ideias conosco! Meu cora��o foi partido por essa not�cia. Sua obra � uma riqueza para a humanidade. Que sua fam�lia e amigos fiquem firmes.”
''bell hooks me ensinou muito desde que li seus primeiros textos. Depois peguei o h�bito de presentear pessoas que n�o entendiam muito ou questionavam o feminismo com o livro 'O feminismo � para todo mundo'. Sei que esse livro transformou vidas, n�o s� a minha. bell hooks e suas provoca��es me tiravam do eixo. Tiravam? N�o! Ainda tiram e sempre v�o tirar''
Ta�s Araujo, atriz
A atriz Ta�s Ara�jo fez um convite aos brasileiros: “bell hooks me ensinou muito desde que li seus primeiros textos. Depois peguei o h�bito de presentear pessoas que n�o entendiam muito ou questionavam o feminismo com o livro 'O feminismo � para todo mundo'. Sei que esse livro transformou vidas, n�o s� a minha. bell hooks e suas provoca��es me tiravam do eixo. Tiravam? N�o! Ainda tiram e sempre v�o tirar (…) Vc j� leu algo da bell hooks? Se ainda n�o, n�o perca essa oportunidade, ela vai te virar do avesso e voc� vai sair melhor. Viva bell hooks, sua vida, sua hist�ria, seu legado!”.