(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ARTES C�NICAS

O genial dramaturgo Moli�re completa 400 anos, cercado de lendas

Ele n�o deixou di�rios, manuscritos ou correspond�ncia. Mas a obra que criou nos anos 1600 continua atual, encenada em teatros de todo o mundo


12/01/2022 04:00 - atualizado 11/01/2022 23:01

Busto do dramaturgo Molière, que viveu no século 17 na França
Busto de Moli�re no teatro Com�die-Fran�aise, em Paris, conhecido como a "casa" do dramaturgo, que viveu no s�culo 17 (foto: Raphaelle Picard/AFP )

A Fran�a celebra o 400º anivers�rio do escritor Moli�re (1622-1673), nascido em 15 de janeiro, com apresenta��es teatrais, confer�ncias e atos que se estender�o a outros pa�ses, como Reino Unido, It�lia, B�lgica e Estados Unidos, embora com perfil discreto por causa da pandemia.

N�o existe nenhum tra�o manuscrito de Moli�re, nenhum di�rio, nenhuma correspond�ncia, nem mesmo notas de suas produ��es. A �nica sobrevivente de seus quatro filhos, Esprit-Madeleine, perdeu todos os escritos � m�o do pai.

A primeira biografia do autor foi publicada em 1705, repleta de imprecis�es que alimentaram a lenda em torno de Jean-Baptiste Poquelin – esse era o verdadeiro nome dele.

Moli�re escreveu cerca de 30 com�dias em verso e prosa, entre elas “O misantropo”, “O burgu�s fidalgo” e “O avarento”, que se tornaram aut�nticos arqu�tipos humanos, assim como “Dom Quixote”, de Cervantes, e “Hamlet”, de William Shakespeare.

Poltrona que pertenceu a Molière
Poltrona de Moli�re, que foi usada em uma das encena��es de "O doente imagin�rio" (foto: Betrand Guay/AFP )


A LENDA DE CORNEILLE

Como costuma ocorrer com gigantes da literatura mundial, Moli�re foi alvo de lendas. Entre elas, a de que n�o foi ele quem escreveu suas obras e, sim, outro gigante do teatro franc�s, Corneille.

Disseram tamb�m que suas com�dias eram o reflexo de alguns de seus problemas pessoais. Em suas pe�as, utilizava recorrentemente a figura do homem tra�do.

Por�m, quatro s�culos depois, assim como ocorreu com Cervantes e Shakespeare, � incontest�vel que Moli�re e sua obra ultrapassaram – e muito – seus contempor�neos, em termos de popularidade.

“De certo modo, ele � um ator que se transforma em autor. � um autor que pensa suas obras a partir das imposi��es da cena, da aprova��o do p�blico, do efeito que ter� no p�blico. E tamb�m porque deve alimentar sua trupe”, explica Georges Forestier, autor da biografia de Moli�re lan�ada em 2018 e editor de sua obra para a cole��o “La Pl�iade”.

Livro de 1732 com peças escritas por Molière
Editada em 1732, em Londres, antologia que re�ne pe�as do dramaturgo est� guardada na biblioteca da Com�die-Fran�aise, em Paris (foto: Raphaelle Picard/AFP )


CERTID�O E BATISMO

O mist�rio em torno de Moli�re come�a com seu nascimento. A certid�o de batismo foi encontrada em 1820. Sabe-se que foi batizado em 15 de janeiro de 1622, na igreja parisiense de San Eustaquio.

Segundo os costumes da �poca, explica Forestier, isso significa que ele nasceu um ou dois dias antes.

Primog�nito de um estofador e gar�om real, pertenceu a uma fam�lia de pequenos empres�rios com contatos com a corte, que naquela �poca ainda tinha como epicentros o Louvre e o Pal�cio Real.

�rf�o de m�e aos 10 anos, Moli�re aprendeu a observar a vida e seus contempor�neos entre as luzes da corte e a vida das pessoas no Centro de Paris. O movimentado mercado de Les Halles ficava a dois passos da casa de seu pai.

Aprendeu grego, latim e no��es de teatro gra�as aos jesu�tas. Inteligente e leitor voraz, o jovem Jean-Baptiste leu Plauto e Ter�ncio. Logo entrou em contato com os teatros italiano e espanhol.

Aos 21 anos, deu um salto arriscado, embora tudo indique que o pai o tenha apoiado: decidiu renunciar � heran�a para se tornar ator.

Naquela �poca, comediantes, geralmente, eram excomungados, a menos que se arrependessem – algo que Moli�re n�o p�de ou n�o quis fazer no leito de morte.

N�o se sabe ao certo por que decidiu ser ator, mas a morte do irm�o mais novo, em 1660 ,permitiu que recuperasse o privil�gio como estofador real.

Atores Xavier Gallais e Helene Bressiant em cena durante a peça Tartufo, em Marselha
Atores Xavier Gallais e Helene Bressiant encenam "Tartufo", em Marselha, em outubro de 2021, quando os teatros reabriram ap�s o confinamento imposto pela pandemia (foto: Juliette Rabat/AFP )


CIA. TEATRO ILUSTRE 

Em 30 de junho de 1643, ele criou O Teatro Ilustre, sua pr�pria companhia, com outros 10 atores, entre eles Madeleine B�jart, ruiva com muitas personagens e conhecida no meio liter�rio.

Madeleine foi amante de um nobre rico e passou a ser amante de Moli�re durante tr�s d�cadas.

Outro mist�rio: em 23 de janeiro de 1662, o j� conhecido autor se casa com Armande, filha ad�ltera de Madeleine. Durante anos, as duas estiveram registradas como irm�s.

O costume franc�s era atores assumirem um “nome de guerra”. Madeleine era conhecida como La Bejart, Jean-Baptiste Poquelin escolheu Moli�re, localiza��o geogr�fica muito comum na Fran�a. N�o se sabe o porqu�.

Carism�tico, Moli�re se tornou chefe de seu grupo. Mas em Paris havia duas companhias estabelecidas e a concorr�ncia era implac�vel. O Teatro Ilustre acumulou d�vidas e Moli�re acabou na pris�o. O pai pagou as d�vidas e o ator, ferido em seu orgulho, abandonou a capital com 23 anos.

Por 13 anos, Moli�re aperfei�oou sua arte nas prov�ncias. Performou para o p�blico mais popular, para os nobres locais, para a burguesia. Passou a fazer sucesso e os lucros da companhia cresceram.

Numa �poca em que o teatro era o �nico meio de divers�o em massa, embora sob estreita vigil�ncia da Igreja Cat�lica, ele produziu incessantemente para sobreviver.

Moli�re adaptou obras espanholas e italianas, mas decidiu confiar em seu talento. “As preciosas rid�culas”, pe�a de 1659, fez um sucesso fenomenal. Um ano antes, j� havia alcan�ado uma grande conquista: atuar para o jovem Luis XIV, monarca que adorava teatro e bal�. O rei chegou a dan�ar para sua pr�pria corte.

Em 1662, Moli�re deu mais um passo e escreveu “Escola de Mulheres”, retratando a educa��o absurda que qualquer jovem rica da �poca poderia usufruir. A rea��o da Igreja n�o demorou a chegar.

As dificuldades aumentaram com “O tartufo ou o impostor”, vingan�a particular de Moli�re contra os beatos e sua hipocrisia. Precisou reescrev�-la tr�s vezes para evitar a censura. Destemido, come�ou a criar sua pr�pria vers�o de um mito, o Don Juan.

O fil�sofo libertino de Moli�re foi um triunfo. Depois, chegou “O misantropo” (1666), sua com�dia mais cruel, mas tamb�m a mais humana.
 
A COM�DIA MORAL

Com essas obras, Moli�re criou um novo g�nero: a com�dia moral, empenhada em corrigir os v�cios da sociedade, mas por meio da risada.

Os sucessos prosseguiram, interpretados pessoalmente por ele: “O avarento” (1668) e “M�dico � for�a”, al�m de com�dias de bal� como “O amor m�dico” (1665).

Moli�re fez o papel de Argan em “O doente imagin�rio”, em 17 de fevereiro de 1673. Sentia-se indisposto. A lenda diz que morreu em cena, mas, na realidade, teve tempo de voltar para casa. Provavelmente, morreu de pneumonia. Sem se confessar. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)