(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ERUDITO E POPULAR

BH discute o precioso legado de Ariano Suassuna e do Movimento Armorial

S�rie de encontros gratuitos no CCBB aborda o multifacetado universo do autor paraibano, que englobou literatura, artes visuais, m�sica, teatro e dan�a


15/01/2022 04:00 - atualizado 15/01/2022 09:41

Foto mostra os artistas Carlos Newton Júnior, Dantas Suassuna e Ricardo Gouveia de Melo na casa de Ariano Suassuna, no Recife
Carlos Newton J�nior, Dantas Suassuna e Ricardo Gouveia de Melo na casa de Ariano Suassuna no bairro da Casa Forte, no Recife (foto: Cristiana Dias/divulga��o)

Em 2013, alguns meses ap�s o infarto sofrido em agosto daquele ano, Ariano Suassuna reuniu-se com o professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Newton J�nior, em sua casa no Recife. Os dois retomavam ali os encontros de muitos anos. O acad�mico e ex-aluno, grande especialista na obra de Suassuna, o acompanhava na prepara��o do �pico “Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores”, em que Ariano trabalhava havia d�cadas.

Esse encontro n�o foi como os anteriores. Ariano pediu a presen�a de Manuel Dantas Suassuna, o terceiro de seus seis filhos. “Como ele teve o infarto, nos chamou para que se acontecesse de ele ir embora, a gente conduzisse a obra dele, principalmente aquele livro”, conta Dantas, o �nico dos filhos do casal Ariano e Z�lia de Andrade Lima que se tornou artista.

O “encantamento” do pai, como diz ele, ocorreu um ano mais tarde – 23 de julho de 2014. E o romance “Dom Pantero” saiu em 2017 pela Nova Fronteira – livr�o de mais de 1 mil p�ginas, divididas em dois volumes.
Foto de 2007 mostra o escritor Ariano Suassuna gesticulando e conversando, em sua casa no Recife
Obra de Ariano Suassuna, entusiasta da arte popular, � tema de ampla exposi��o no Centro Cultural Banco do Brasil, em BH (foto: Juliana Leit�o/DP/2007)
 
Desde a morte de Ariano, um condom�nio administra sua obra – Dantas est� � frente de tudo. Ao lado de Newton J�nior, ele atuou como consultor da exposi��o “Movimento Armorial – 50 anos”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte, at� 7 de mar�o.

Neste s�bado (15/1), a partir das 19h, no CCBB-BH, os dois conversam sobre as artes visuais no universo armorial. Compondo a mesa estar� tamb�m o designer Ricardo Gouveia de Melo, que assinou capas e projetos gr�ficos das mais recentes edi��es da obra de Ariano, que hoje integra a editora Nova Fronteira.
 

ERUDITO E POPULAR

O encontro integra o projeto “Conversas sobre a arte armorial”, s�rie de debates que at� o pr�ximo s�bado (22/1) vai lan�ar luzes sobre as diferentes vertentes do movimento. Lan�ado em 1971 por Ariano, o Armorial prop�s, na base te�rica escrita por ele, “uma arte brasileira erudita a partir das ra�zes populares da nossa cultura”. E tudo est� inclu�do: literatura, dan�a, m�sica, artes visuais, teatro.

“Ariano, al�m de uma obra indiscut�vel, criou uma po�tica, indicou caminhos que s�o princ�pios program�ticos para a realiza��o de uma obra de arte. Tais princ�pios n�o representam tolhimento da liberdade criadora, eles s�o abertos, como se indicassem uma dire��o. Ao estabelecer uma po�tica que diz que a cultura popular � fonte de inspira��o constante para o artista armorial, o artista, se acredita nisso, � livre para escolher”, comenta Newton J�nior, que assina a curadoria do evento e atua como mediador das conversas.

No encontro sobre artes visuais, mediador e convidados falar�o tanto sobre a xilogravura nordestina (que pode ser vista na exposi��o, em obras de Samico e Jota Borges), como escultura, cer�mica, tape�aria. O armorial no mundo contempor�neo ser� um dos v�rtices do debate, que prima pelo di�logo entre as artes.

“De in�cio, Ariano elegeu o folheto de cordel como uma esp�cie de s�mbolo do armorial. Ali voc� tem a capa baseada na xilogravura, o texto que pode dar origem a uma pe�a de teatro ou pode ser cantado. N�o se pode pensar em uma edi��o de ‘A Pedra do Reino’ sem os desenhos, pois eles fazem parte da narrativa”, exemplifica Newton J�nior.

ILUMIARAS ANCESTRAIS

Na d�cada de 1970, Ariano criou as chamadas lumiaras, que nos anos 1990 passaram a ser denominadas ilumiaras. O neologismo refere-se a “altares iluminados”. Sua origem � a Pedra do Ing�, na Para�ba, uma itaquatiara, monumento arqueol�gico com inscri��es rupestres.

Ariano criou cinco ilumiaras, que em s�ntese s�o conjuntos art�sticos que integram v�rias manifesta��es art�sticas – a mostra no CCBB traz imagens de algumas, vale dizer. Uma delas, chamada “A coroada”, foi elaborada em sua pr�pria resid�ncia, no bairro de Casa Forte, no Recife.

Dantas tem levado adiante o pensamento do pai. Al�m da publica��o de sua obra – outro t�tulo recente � “A pens�o de Dona Berta” (2021), em que Newton J�nior reuniu as hist�rias que Ariano contava –, o artista tem trabalhado nas ilumiaras. A que leva o nome de Ja�na fica em Tapero�, Para�ba – � uma grande escultura feita em pedra, releitura da Pedra do Ing�.

“Uma coisa muito importante da arte armorial � a ancestralidade. Na minha obra, tento transmitir isso com um olhar contempor�neo”, completa Dantas.



O escritor Bráulio Tavares, sentado, autografa um livro e olha para a câmera
Br�ulio Tavares diz que ao se ler Ariano, pode-se ''ouvir'' a voz dele narrando o que escreveu (foto: Acervo pessoal)
 

A literatura oral do mestre Ariano

Br�ulio Tavares chegou a Belo Horizonte em 1969. O jovem paraibano, ent�o com 19 anos, morava fora de casa pela primeira vez. Veio � capital mineira para estudar na Escola Superior de Cinema da PUC-Minas. A saudade de casa era apaziguada semanalmente, com as cartas que o pai, apaixonado pela poesia, lhe enviava.

Nesta �poca surgiu o Movimento Armorial. Junto �s missivas paternas sempre vinham jornais do Recife, em que eram destacados os poemas de Ariano, autor que Tavares conhecia desde os 10 anos, quando o descobriu por meio de “O auto da Compadecida”.
   
Em 1971, Ariano lan�ou o romance “A Pedra do Reino”, para Tavares uma das obras fundadoras de sua “hist�ria pessoal de leitura e escrita”. Sem pensar duas vezes, ele deixou o curso de cinema, arrumou as malas e voltou para a Para�ba. “Fui redescobrir o Nordeste”, conta.

Neste domingo (16/1), Tavares, ao lado da atriz e diretora In�s Viana, conversa com Carlos Newton J�nior sobre o teatro no Movimento Armorial.
 

O ABC DE SUASSUNA

Escritor, poeta, letrista, dramaturgo e um dos grandes especialistas do Brasil de literatura fant�stica, Tavares tem tr�s trabalhos em torno da obra de Ariano: foi corroterista do telefilme “A farsa da boa pregui�a” (1995) e da miniss�rie “A Pedra do Reino” (2007), ambos dirigidos por Luiz Fernando Carvalho para a Globo. Ainda em 2007, lan�ou o livro “ABC de Ariano Suassuna”.

“Gosto de inventar paradoxos. Ent�o, eu diria que Ariano � um escritor de literatura oral. Ao ler grande parte da obra, voc� quase que ouve a voz dele dizendo o texto. E o teatro do Ariano tem v�nculo maior com a com�dia do que com a trag�dia. Se observar cronologicamente, ele, muito jovem, come�ou a escrever trag�dia. Mas depois que a primeira com�dia fez sucesso (‘O auto da Compadecida’), ele descobriu o veio mais aut�ntico da oralidade. Nos textos, s�o hist�rias engra�adas que acontecem em voz alta.”

Tavares s� foi conhecer Ariano pessoalmente depois dos 40 anos “T�nhamos muita coisa em comum, apesar da diferen�a de quase 30 anos. Ariano, como eu, lia muito, gostava de romances policiais, de aventura, de pirata. Convers�vamos n�o naquele tom de dois intelectuais, mas como dois leitores. E o papo de leitor � o melhor que tem”, afirma Br�ulio.

ENCONTROS

A programa��o paralela da mostra “Movimento Armorial 50 anos” conta tamb�m com a s�rie “Encontros musicais”. No teatro do CCBB ser�o realizados, sempre �s 20h, os seguintes shows: Grupo Rosa Armorial (19/1), do Paran�; Ant�nio N�brega (20/1), com “Recital para Ariano”; Quinteto da Para�ba (23/2) e Trio Lancinante (25/2). Entrada franca. Retirada de ingressos: bb.com.br/cultura

CONVERSAS SOBRE A ARTE ARMORIAL


Os encontros ser�o sempre �s 19h, no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados em bb.com.br/cultura

>> Neste s�bado (15/1)
Artes visuais. Com o artista pl�stico Manuel Dantas Suassuna e o designer gr�fico Ricardo Gouveia de Melo

>> Domingo (16/1)
Teatro. Com a atriz e diretora Inez Viana e o escritor, dramaturgo, compositor e poeta Br�ulio Tavares

>> Sexta (21/1)
M�sica. Com o instrumentista, compositor e bailarino Ant�nio N�brega e a cantora Isaar Fran�a

>> S�bado (22/1)
Dan�a. Com a bailarina e core�grafa Maria Paula Costa R�go, cofundadora, com Ariano, do Grupo Grial e o brincante e bailarino popular Pedro Salustiano


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)