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Estado de Minas 'CINEMA E (RE)INVEN��ES'

Karla Vaniely vai ao cinema pela primeira vez para ver estreia de seu filme

Nesta quinta (20/1), diretora do curta 'Fi di quem?', rodado em Janu�ria, estar� no Cine Humberto Mauro para participar da mostra 'Cinema e (Re)Inven��es'


20/01/2022 04:00 - atualizado 20/01/2022 09:27

Usando blusa amarela, jovem cineasta Karla Vianely Rodrigues sorri, tendo o céu como cenário
Finalmente a diretora Karla Vaniely, de 24 anos, poder� comer pipoca em frente � telona, no Cine Humberto Mauro (foto: Karla Vaniely/acervo pessoal )

Karla Vaniely Rodrigues tem 24 anos, � apaixonada pela s�tima arte, mas nunca assistiu a um filme no cinema. A sala de sua cidade, Janu�ria, no Norte de Minas Gerais, est� fechada h� mais de 30 anos. “Nunca tive a emo��o de comprar o ingresso, a pipoca e aguardar a sess�o come�ar”, ela diz. A espera vai acabar nesta quinta-feira (20/1), quando Karla se sentar� diante da tela grande na sala escura – com um detalhe: para assistir a seu pr�prio filme, “Fi di quem?”.

Realizado no ano passado, “Fi di quem” tem roteirio, produ��o e dire��o de Karla. Foi um dos selecionados pelo 7º Pr�mio BDMG Cultural/Funda��o Cl�vis Salgado destinado a curtas-metragens de baixo or�amento. Integra a mostra “Cinema e (Re)Inven��es”, em cartaz no Cine Humberto Mauro desde 14 de janeiro.

“TATO GESTUAL” 

“Fi di quem?” participa do programa tem�tico “Tato gestual”, que encerra a mostra e abarca os curtas “APP”, de Aisha Brunno, “N�o h� ningu�m perto de voc�”, de Juliana Antunes, e “Decifra”, de C�cero Menezes, todos de Belo Horizonte.

Karla n�o s� vai assistir � sess�o, como participar de um debate com os outros diretores. O bate-papo ter� transmiss�o pela plataforma CineHumbertoMauroMAIS, �s 19h. O intuito � conhecer um pouco mais sobre o processo de produ��o de cada filme, desmitificando a realiza��o cinematogr�fica. O p�blico � convidado a participar, enviando perguntas ao vivo atrav�s do chat.

O envolvimento mais profundo de Karla com o cinema come�ou em 2015, quando ela se formou no ensino m�dio. A porta de entrada foi aberta por Alfred Hitchcock.

“Tinha um canal do YouTube que eu acompanhava, o apresentador fazia cr�ticas e indicava filmes. Ele falou de ‘Psicose’. Fiquei curiosa. Peguei a bicicleta, fui � banca de DVDs e pedi ao dono para baixar. Ele ficou surpreso, porque � um filme da d�cada de 60. Assisti no notebook e achei uma loucura. Entendi a ideia de cl�ssico. Passei a voltar � banca sempre – a cada dia pedia para baixar um Hitchcock diferente”, recorda a diretora.

Foi ali que Karla resolveu fazer cinema, embora, aparentemente, nada contribu�sse para a realiza��o de tal desejo no contexto vivido por ela. “Pensei: ‘Onde estou? Em Janu�ria, no sert�o de Minas, n�o tem faculdade de cinema aqui’. Meus pais falaram que n�o tinha condi��o de eu fazer cinema, mas comecei a ler bastante sobre roteiro, estudar tudo a meu alcance, e comecei a escrever muito tamb�m”, conta.

Corta. Salta para setembro de 2020. Karla estava na loja Cinem�, que mantinha com a amiga Luane Gomes, onde a dupla pintava camisetas com motivos cinematogr�ficos, quando foi procurada por Gleydson Mota, que a convidou para integrar o coletivo Cine Barranco, criado por ele no final de 2019 com a proposta de dar um cineclube para Janu�ria.

PANDEMIA MUDOU TUDO

Cine Barranco chegou a apresentar, no centro de artesanato da cidade, tr�s sess�es – de “Bacurau”, dirigido por Kleber Mendon�a Filho, “Abril despeda�ado”, de Walter Salles, e “O menino e mundo”, de Al� Abreu – antes da chegada da pandemia, quando se viu obrigado a reconfigurar suas atividades.

“Com a chegada da Lei Aldir Blanc, o Gley estava chamando todos os artistas da cidade para escrever projetos. Ele me encontrou pelo Instagram, por causa da minha lojinha. Comecei no Cine Barranco j� com o projeto para fazer o document�rio ‘Cine Janu�ria’, sobre o cinema da cidade que est� inativo h� 30 anos”, diz, destacando que sua �nica experi�ncia, at� o momento, de pisar dentro de uma sala de exibi��o foi aquela – num cinema praticamente em ru�nas.

Com a chegada da pandemia e a impossibilidade de o coletivo Cine Barranco continuar atuando como cineclube, o foco passou a ser a produ��o audiovisual.

“Cine Janu�ria” contou com o suporte do BDMG Cultural para sua realiza��o, est� pronto e aguardando momento mais prop�cio para ser lan�ado. Karla aponta que a Lei Aldir Blanc e o 7º Pr�mio BDMG Cultural/Funda��o Cl�vis Salgado permitiram ao coletivo levar o projeto adiante.

“Quando a gente ficou sabendo do edital do BDMG e da Funda��o Cl�vis Salgado com tem�tica livre, todo mundo do Cine Barranco quis produzir. Somos seis integrantes, ficamos todos muito empolgados, porque cada um podia ter sua pr�pria identidade ali. Paralelamente ao ‘Cine Janu�ria’, fui fazendo o ‘Fi di quem?’”, conta Karla.

“O per�odo entre setembro de 2020 e setembro de 2021 foram tr�s anos em um: no in�cio, a gente estava aprendendo, fazendo tudo no celular, depois conseguimos comprar material e produzir. Fizemos v�rios filmes, document�rios e uma s�rie, tudo por meio da Lei Aldir Blanc”, informa.

Formado por Gleydson Mota, Samylla Alves, Ernane Silva (Nan Ferresi), Luane Gomes e Maria Clara Almeida, al�m de Karla, o coletivo Cine Barranco conseguiu emplacar outros dois filmes no 7º Pr�mio BDMG Cultural/Funda��o Cl�vis Salgado: “Betha Ville”, de Maria Clara, exibido em 17 de janeiro, e “Perspectiva”, de Luane, que entrou na programa��o da mostra “Cinema e (Re)Inven��es” como men��o honrosa, ao lado de outros sete t�tulos.

Sentadas em cadeiras na calçada, duas senhoras conversam em cena do filme Fi di quem?
Bordadeiras de Janu�ria adoraram ser atrizes de 'Fi di quem' e querem mais pap�is no cinema (foto: Karla Vaniely/acervo pessoal)

C�mera na m�o e conversa na cal�ada


A ideia para “Fi di quem?” surgiu durante o processo de realiza��o de “Cine Janu�ria”. Quando a equipe do coletivo entrevistava pessoas mais velhas para saber a hist�ria do antigo cinema da cidade, sempre ouvia a pergunta, ao fim da conversa: “Voc� � filho de quem?” – ou, em bom “mineir�s”, “C� � fi de quem?”. O questionamento agu�ou a curiosidade de Karla Vaniely.

“Por que as pessoas do interior de Minas sempre perguntam isso? Minhas inspira��es foram minha av� e minha tia, que sempre ficavam sentadas na porta de casa, na rua, conversando. Como minha av� diz, conversa de comadres. Janu�ria � cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo, e nas conversas as pessoas sempre s�o associadas aos parentes. No bate-papo do meu pai com o vizinho, eles gastam uns cinco minutos s� tentando identificar quem � determinada pessoa. Fiquei com isso na cabe�a, pensei que dava um filme legal”, comenta a diretora.

FIC��O 

Como o prazo era curto para entregar o filme a tempo da sele��o do Pr�mio BDMG Cultural/ Funda��o Cl�vis Salgado, n�o daria tempo de fazer investiga��o documental. Por isso ela resolveu apostar na fic��o.

“Fui botar em pr�tica o que tinha aprendido lendo sobre roteiros. Escrevi pensando numa com�dia, duas pessoas tentando adivinhar quem � a terceira sobre quem est�o conversando. Chamei duas amigas bordadeiras do centro de artesanato, Joana e Socorro, e falei que elas s� tinham de fazer o que sabem fazer de melhor: ficar sentadas proseando, seguindo o roteiro que eu tinha escrito. Tamb�m chamei a Luane para ajudar”, diz.

As amigas bordadeiras gostaram muito da experi�ncia e j� se prontificaram a participar como atrizes de produ��es futuras do Cine Barranco. “Quando o curta foi aprovado pelo edital, falei que elas iam ficar famosas”, diz Karla.

Com os projetos aprovados na Lei Aldir Blanc, o coletivo conseguiu comparar c�mera, lente, gravador e microfone. “Para fazer ‘Fi di quem?’, filmamos com c�mera digital e celular, usando dois pontos de microfone, um para cada personagem. A gente gravou no centro de artesanato, s� precisamos de duas cadeiras e dois pontos de microfone”, relata. O processo de escrita do roteiro, produ��o e realiza��o do curta ocorreu em um m�s.

Quando o resultado da sele��o do 7º Pr�mio BDMG Cultural/ Funda��o Cl�vis Salgado foi divulgado, os integrantes do Cine Barranco estavam nas respectivas casas, escrevendo outros projetos.

“Mas a gente ficava entrando no site toda hora para saber se j� estava l�. Quando saiu, comecei a tremer. Nem tinha visto meu filme na lista ainda. Quando vi, tremi mais ainda e suei de felicidade. Tirei o print e mandei para todo mundo. O Gley chorou. Depois vimos que o curta da Maria Clara tamb�m tinha sido selecionado e que o da Lu ganhou men��o honrosa. Foi uma felicidade enorme para todo mundo, o indicativo que estamos no caminho certo”, conta.

Gleydson Mota, Karla Vaniely, Maria Clara Almeida, Ernane Silva, Samylla Alves e Luane Gomes posam com o rio ao fundo. Eles formam o grupo Cine Barranco
Gleydson Mota, Karla Vaniely, Maria Clara Almeida, Ernane Silva, Samylla Alves e Luane Gomes formam o coletivo Cine Barranco (foto: Coletivo Barranco/reprodu��o)

Filmes ao alcance de todos

Adepta de Glauber Rocha, a mineira Karla Vaniely acredita que basta uma c�mera na m�o e uma ideia na cabe�a para fazer cinema. Este � o recado que o coletivo Cine Barranco tenta passar para os moradores de Janu�ria e regi�o.

“Queremos continuar fazendo cinema para a nossa gente, desmistificar a ideia de que voc� precisa estar nos grandes centros para fazer filmes. Espero que nosso trabalho sirva de est�mulo”, diz Karla.

Os planos dela s�o investir cada vez mais no aprendizado e na produ��o audiovisual. Dos integrantes do Cine Barranco, Maria Clara Almeida j� estuda cinema no Recife (PE), e Karla quer seguir o mesmo caminho, porque considera a capital pernambucana polo cinematogr�fico muito potente no panorama brasileiro.

“Tenho alguns roteiros prontos que pretendo tirar do papel, mas o que a gente quer mesmo � continuar estudando bastante, cada um se especializando cada vez mais, e continuar produzindo. Talvez possa at� tentar fazer uma faculdade de cinema. O pessoal est� me incentivando a ir para Recife, onde a Maria Clara est�, estudar l�, me aprofundar. A gente admira muito o Kleber Mendon�a Filho, o Irandhir Santos. Queremos fazer filmes por todos os editais que aparecerem”, informa a jovem diretora de Janu�ria.

“CINEMA E (RE)INVEN��ES”

Exibi��o dos curtas “APP”, de Aisha Brunno; “N�o h� ningu�m perto de voc�”, de Juliana Antunes; “Decifra”, de C�cero Menezes; e “Fi di quem?”, de Karla Vaniely. Sess�o presencial nesta quinta-feira (20/1), �s 19h, no Cine Humberto Mauro do Pal�cio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Transmiss�o pela plataforma CineHumbertoMauroMais. Entrada franca.


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