Neil Young ganha ades�o em convoca��o de boicote ao Spotify
Joni Mitchell decidiu retirar suas m�sicas da plataforma, em protesto � difus�o de um podcast antivacina que espalha desinforma��o sobre a COVID-19
Neil Young acusou o Spotify de 'vender mentiras por dinheiro' e disse que 60% de suas receitas com streaming vinham da plataforma, uma renda que ele perde 'em nome da verdade' (foto: Alice Chiche / AFP)
O ultimato de Neil Young ao Spotify para que a plataforma escolhesse entre sua m�sica e o famoso e controverso podcaster Joe Rogan se tornou um ponto cr�tico no debate sobre desinforma��o digital e a responsabilidade corporativa de moder�-la.
Na semana passada, o roqueiro canadense radicado nos Estados Unidos exigiu que o gigante do streaming retirasse suas m�sicas (com 2,4 milh�es de seguidores e mais de 6 milh�es de ouvintes mensais), a menos que o Spotify estivesse disposto a se livrar de Rogan, cujo programa (“The Joe Rogan Experience”) � o mais popular da plataforma, mas � repetidamente acusado de propagar teorias da conspira��o.
Ator e comediante, Rogan, de 54, desaconselhou a vacina��o em jovens, com o argumento de que a vacina pode provocar cardiopatia, e promoveu o uso n�o autorizado da Ivermectina, um medicamento antiparasit�rio, para tratar o coronav�rus. O rem�dio n�o tem efic�cia contra a COVID-19 e seu uso para esse fim n�o � recomendado pela medicina.
Na carta aberta em que apresentou seu ultimato, intitulada “Em nome da verdade”, Young observou que “os jovens acreditam que o Spotify nunca apresentaria informa��o grosseiramente falsa. Infelizmente, eles est�o errados”. O artista escreveu ainda que “a maioria dos ouvintes que est�o escutando informa��o deturpada, enganosa e falsa sobre COVID-19 no Spotify tem 24 anos, sendo facilmente impression�veis e sujeitos a cair para o lado errado”. Ele acusou a plataforma de se tornar “uma casa para desinforma��o potencialmente fatal sobre COVID” e da pr�tica de “vender mentiras por dinheiro”.
Sua contesta��o veio ap�s uma a��o judicial apresentada por centenas de profissionais m�dicos pedindo ao Spotify que impedisse Rogan de promover "v�rias falsidades sobre as vacinas contra a COVID-19", que, segundo eles, estariam criando "um problema sociol�gico de propor��es devastadoras".
Rogan, que tem um contrato de exclusividade assinado com o Spotify no valor estimado de US$ 100 milh�es, prevaleceu na decis�o da plataforma.
A canadense Joni Mitchell seguiu o exemplo de Neil Young e anunciou
a retirada de suas m�sicas do Spotify
(foto: FREDERICK M. BROWN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
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SUCESSOS
Na �ltima quarta-feira (26/1), os sucessos de Young, incluindo "Heart of gold", "Harvest moon" e "Rockin' in the free world" foram retirados do Spotify. Na mesma quarta-feira, a empresa disse “lamentar a decis�o de Young” e esperar que “ele volte logo”. O Spotify citou em seu comunicado a necessidade de equilibrar "tanto a seguran�a dos ouvintes quanto a liberdade dos criadores" e afirmou ter removido aproximadamente 20 mil epis�dios de podcasts relacionados � COVID-19 desde o in�cio da pandemia.
No ano passado, o CEO da plataforma, Daniel Ek, disse n�o achar que o Spotify, que recentemente come�ou a investir pesadamente em podcasts, tivesse responsabilidade editorial por Rogan.
Ek comparou o podcaster a "rappers realmente bem pagos", dizendo que "tamb�m n�o ditamos o que eles est�o colocando em suas m�sicas".
O ator e comediante Joe Rogan conduz 'The Joe Rogan Experience',
o podcast mais ouvido da plataforma (foto: �Douglas P. DeFelice/Getty Images/AFP
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APOIOS
A atitude do Spotify de manter Rogan atraiu aplausos virtuais de organiza��es como o Rumble, uma plataforma de streaming de v�deo popular entre a direita, que elogiou a empresa sueca por "defender os criadores" e "a liberdade de express�o".
Mas Young tamb�m recebeu muitos elogios por se posicionar, inclusive do chefe da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). O m�sico pediu a outros artistas que sigam seu exemplo. E teve resposta.
A cantora canadense Joni Mitchell anunciou que vai retirar suas m�sicas do Spotify pelas "mentiras" que s�o transmitidas na plataforma sobre a COVID-19. Em um comunicado publicado em seu site, ela afirma que apoia Neil Young.
"Pessoas irrespons�veis est�o espalhando mentiras que custam vidas. Sou solid�ria a Neil Young e �s comunidades cient�ficas e m�dicas globais nesta quest�o”, escreveu. O site de Mitchell tamb�m publicou uma c�pia da carta aberta ao Spotify em que m�dicos e cientistas pedem medidas de combate � desinforma��o.
Durante a semana, as redes sociais foram tomadas com a not�cia de que o brit�nico Peter Frampton e o estadunidense Barry Manilow haviam seguido o exemplo de Neil Young e decidido retirar suas m�sicas do Spotify.
No caso de Frampton, ele postou uma mensagem de apoio a Young em seu Twitter e aderiu �s cr�ticas a Joe Rogan. “Boa, Neil. Em se tratando de streaming, eu sempre fui um cara da Apple. Nada de Joe Rogan pra mim, obrigado”, escreveu, marcando tanto Young quanto a conta oficial do Spotify. No entanto, seu cat�logo permaneceu na plataforma.
J� Barry Manilow negou que tenha decidido aderir ao boicote convocado por Young. Na sexta-feira, ele escreveu em sua conta oficial no Twitter: “Recentemente ouvi rumores sobre mim e o Spotify. N�o sei onde isso come�ou, mas n�o come�ou comigo nem com ningu�m que me representa”.
A pol�mica teve um efeito nas a��es do Spotify, que sofreram queda de 12% na �ltima sexta-feira (28/1) em rela��o � semana anterior. Estima-se uma perda de US$ 4 bilh�es para a plataforma com esse resultado. Segundo os dados mais recentes do Spotify, a empresa tem 318 milh�es de ouvintes mensais ao redor do mundo e 172 milh�es de assinantes.
De acordo com Neil Young, o Spotify representava 60% do total de sua receita com streaming, algo que ele est� “perdendo em nome da verdade”. Em 2015, com reclama��es sobre a qualidade do som, o roqueiro retirou suas m�sicas do Spotify e de sua maior concorrente, a Apple Music, mas voltou atr�s pouco depois.
MUDAN�AS
No �ltimo domingo (30/1), Daniel Ek divulgou um comunicado no qual abordou diretamente as cr�ticas ao Spotify pela divulga��o de desinforma��o sobre a COVID-19 e anunciou um conjunto de medidas para tentar melhorar a imagem da plataforma.
“Com base na repercuss�o das �ltimas semanas, ficou claro para mim que temos a obriga��o de fazer mais para prover equil�brio e acesso a informa��es das comunidades m�dica e cient�fica largamente aceitas, que nos guiam nesses tempos sem precedentes. Esses assuntos s�o extraordinariamente complexos. N�s ouvimos voc�s, especialmente voc�s das comunidades m�dica e cient�fica”, escreveu.
A seguir, Ek anunciou que tomar� medidas como a ado��o de uma sugest�o de conte�do relacionado � COVID-19, a ser acrescentada em todos os podcasts que tratam do tema, direcionando o ouvinte para um “centro de informa��es baseadas em dados e fatos e com informa��o atualizada fornecida por m�dicos e cientistas”.
Ele anunciou ainda a publica��o das regras internas do Spotify para os criadores e a inten��o de ampliar sua divulga��o para “elevar a consci�ncia do que � aceit�vel e ajudar os criadores a compreender a responsabilidade que t�m pelo conte�do que postam na plataforma”.
CONSPIRA��O
Nos �ltimos anos, tit�s da m�dia on-line, incluindo Facebook e YouTube, foram criticados por permitir que te�ricos da conspira��o divulgassem seus pontos de vista.
Mas, apesar de seu crescimento explosivo, o podcasting passou despercebido.
Valerie Wirtschafter, analista de dados s�nior da Brookings Institution, que estuda a m�dia contempor�nea e o comportamento pol�tico, avalia que isso se deve principalmente ao fato de o podcasting ser "um espa�o vasto e descentralizado".
No entanto, admite que o �udio � um meio particularmente poderoso para espalhar inverdades: "H� um tipo de experi�ncia pessoal acontecendo l�". A intimidade do som combinada com o estilo conversacional dos podcasts permite que os ouvintes processem a informa��o de uma forma que "potencialmente a torna um meio mais forte para essas falsidades".
“DELETE O SPOTIFY”
A banda de rock norte-americana Belly usou sua p�gina no Spotify para protestar contra o Spotify no �ltimo s�bado (29/1), inserindo nela a convoca��o “Delete o Spotify”. Em postagens nas redes sociais e declara��es para a imprensa, a banda criticou a plataforma e seu “modelo de neg�cio que, desde o in�cio, deprecia o trabalho criativo e achata a remunera��o dos artistas”. Disseram ainda que “usar uma grande por��o desse dinheiro que deveria ser distribu�do aos artistas para fundar e proporcionar uma plataforma para a desinforma��o – desinforma��o que pode prolongar a pandemia e prejudicar ainda mais os artistas, ao limitar suas op��es de apresenta��es ao vivo – por fim � demais”. Os membros da Belly disseram no Facebook que gostariam de retirar sua m�sica do Spotify, mas o processo � “dif�cil” e “complicado demais”.
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