Atores s�o chefes com poder de demitir na 'Casa de Moli�re'
Criada para abrigar a companhia do dramaturgo, que ficou �rf� ap�s sua s�bita morte em cena, em 1673, a Com�die Fran�aise � hoje o maior teatro de Paris
A Com�die Fran�aise teve quatro sedes anteriores at� se instalar perto do Louvre, em Paris, onde promove apresenta��es desde 1799 (foto: Loic Venance/AFP)
A Com�dia Francesa, no cora��o de Paris, a poucos passos do Museu do Louvre, � a companhia de teatro mais antiga do mundo. Chama-se Casa de Moli�re porque foi criada em homenagem ao grande dramaturgo, que nunca a conheceu.
Quatrocentos anos depois do nascimento de Moli�re (1622-1673), sua ef�gie pode ser encontrada em v�rios cantos do imponente edif�cio, localizado ao lado do Pal�cio Real.
O busto de Moli�re � onipresente, mas a rel�quia mais venerada � a velha poltrona de couro e madeira, protegida em uma vitrine, na qual o autor agonizou durante uma representa��o de "O doente imagin�rio", na qual de fato sofreu um colapso que o matou.
"De certa maneira, � o �nico objeto que nos resta de seu teatro", explica Agathe Sanjuan, conservadora e arquivista da Com�dia Francesa. A poltrona foi utilizada pelos atores at� 1879. Desgastada, "tem tanta presen�a que parece que Moli�re ainda est� sentado", ela comenta.
A cadeira que Moli�re usou na encena��o de 'O doente imagin�rio', em que teve um colapso, est� em exibi��o no edif�cio (foto: BERTRAND GUAY / AFP)
Bustos do dramaturgo espalhados pela Casa de Moli�re s�o usados como talism� por atores� (foto: BERTRAND GUAY / AFP)
ILUSTRES
Nos corredores da Com�dia Francesa podem-se encontrar atores como Denis Podalyd�s e Dominique Blanc. Para dar boa sorte, tocam com frequ�ncia os bustos de Moli�re. Mas na sede tamb�m s�o prestadas homenagens a outros membros ilustres de sua companhia.
A Com�dia Francesa nasceu em 1680, sete anos ap�s a morte do dramaturgo, quando o rei Lu�s XIV, seu grande protetor, decidiu que a companhia �rf� deveria se fundir com outra.
A companhia percorreu quatro salas parisienses antes de se instalar definitivamente na Sala Richelieu, junto ao Palais Royal, onde se apresenta ininterruptamente desde 1799. A poucos passos da casa de Moli�re, onde ele faleceu.
Sua morte est� registrada no documento mais valioso que a Com�dia Francesa tem, conhecido como o registro de La Grange, bra�o direito de Moli�re, que documentou as atividades da "trupe".
Al�m da poltrona e desse registro, a Com�dia guarda na biblioteca do museu um gorro e um valioso rel�gio com o nome do imortal escritor.
Os arquivos mostram que "n�o houve um �nico ano em que (a Com�dia Francesa) n�o tenha representado Moli�re", destaca Sanjuan.
A “casa” funciona segundo o princ�pio da altern�ncia, com um espet�culo diferente todas as noites. Isso implica mobilizar todos os servi�os da empresa de manh� � noite, em turnos.
"Somos o primeiro teatro da Fran�a (exceto �peras) em volume de atividade: 400 funcion�rios, 70 atividades artesanais, 60 atores", afirma seu gerente geral, Eric Ruf.
Os cen�rios, devido ao seu tamanho, s�o constru�dos em oficinas localizadas em Sarcelles, nos arredores de Paris. Os figurinos e a tape�aria est�o na Sala Richelieu, em um labirinto de v�rios andares. Em seus dep�sitos, armazenam mais de 50 mil itens de vestu�rio.
“Fazemos entre 50 e 70 figurinos por encena��o teatral”, diz Sylvie Lombard, diretora de figurinos.
Alguns atores declamam enquanto experimentam as roupas, revela a costureira-chefe, Lionel Hermouet.
Mohamed Arbia, vice-diretor de adere�os, diz que as demandas dos diretores mudaram drasticamente nos �ltimos cinco anos. "Thomas Ostermeier queria uma 'praia' para a ‘Noite de reis’, de Shakespeare, ent�o jogamos duas toneladas de areia todas as noites. Ivo van Hove queria algo que parecesse lama na montagem de 'Electra/Orestes'."
H� mais de 50 mil pe�as de figurino armazenadas nos dep�sitos do teatro (foto: ALAIN JOCARD / AFP
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A Com�die Fran�aise tem suas pr�prias oficinas para constru��o e reparo de cen�rios (foto: BERTRAND GUAY / AFP)
S�CIOS
A Com�dia Francesa deve sua longevidade ao fato de ser uma cooperativa de atores. "� uma autogest�o que n�o mudou desde Moli�re", diz Ruf.
Novos atores s�o admitidos como "pensionistas" por um ano, em um contrato renov�vel. S� depois de um certo tempo eles podem se tornar "s�cios", por decis�o de uma comiss�o de sete membros que t�m esse status – e que tamb�m decidem sobre aumentos salariais.
A �ltima a se tornar "s�cia" numer�ria foi Dominique Blanc, neste m�s. � a de n�mero 538. "O gerente contrata, os atores demitem", diz um ditado interno da empresa. De fato, s�o os parceiros que podem decidir sobre a sa�da de uma pessoa.
"Pode parecer violento, mas � uma forma de se proteger", explica Eric Ruf. Muitos atores t�m grandes carreiras na Com�dia Francesa, mas "a longevidade desta casa deve-se" a essa pol�tica de renova��o. "Sen�o, sua hist�ria teria terminado em 1700", afirma.
Nos ateli�s de costura s�o preparados em m�dia entre 50 e 70 figurinos para cada espet�culo (foto: Alain Jocard/AFP
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Al�m dos figurinos, a Casa de Moli�re tem tamb�m armazenados os objetos de cena utilizados nos diversos espet�culos (foto: BERTRAND GUAY / AFP)