O "Batman" de Robert Pattinson encara hoje a briga pela bilheteria

Ao longo dos �ltimos anos, alguns filmes de super-her�is (ou anti-her�is) t�m demonstrado ambi��o para ir al�m desse escaninho. “Logan” (2017), de James Mangold, e “Coringa” (2019), de Todd Philips, s�o dois exemplos que lograram sucesso nesse sentido.

O primeiro por contar com muitas camadas, que acabam por tornar o confronto mocinho versus bandido praticamente acess�rio. E o segundo por ser mais plaus�vel, menos fantasioso, dialogando com a realidade de maneira convincente. 

Falta ao longa dirigido por Matt Reeves, que marca a estreia de Robert Pattinson nas vestes do Homem-Morcego, essa ambi��o de furar a bolha esquem�tica do modelo manique�sta dos bons contra os maus. 

Mas sobram outras ambi��es: “Batman” parece querer abarcar de tudo um pouco. Ao menos tr�s quadrinhos do “Cavaleiro das Trevas” servem de inspira��o para o longa: “Batman: Ano um”, “Batman: O longo dia das bruxas” e “Batman: Ego”. Tal am�lgama acaba por tornar a hist�ria um tanto rocambolesca.

Ao longo de tr�s horas de proje��o, a trama passa de um tom contido, que faz clara refer�ncia aos policiais noir e aos filmes de detetive, para a pirotecnia fe�rica t�o caracter�stica das produ��es do g�nero. Entre a sugest�o e o grito, “Batman” perde o prumo. 

A ambienta��o da primeira parte do filme pode suscitar tanto “Blade Runner” (1982), de Ridley Scott, – Gotham City � focalizada sempre � noite, sob uma chuva ininterrupta –, quanto “O colecionador de ossos” (1999), de Phillip Noyce, ou “Seven – Os sete crimes capitais” (1995), de David Fincher.

Isso porque a trama come�a a se desenrolar a partir de uma s�rie de assassinatos de figuras p�blicas proeminentes e da investiga��o que Batman, o comiss�rio Gordon e o enxuto “n�cleo do bem” da trama empreendem. Para o p�blico, o filme entrega logo de cara que � o Charada quem est� por tr�s dos crimes, e que ele tem um objetivo a cumprir com suas a��es – o que � revelado ao longo da hist�ria.

Al�m do Charada, comparecem outros personagens cl�ssicos do universo de Batman, como a Mulher-Gato, vivida por Z�e Kravitz, o Pinguim, em composi��o impressionante de Collin Farrell, e o mafioso Carmine Falcone, papel que John Turturro conduz com a habitual desenvoltura. 

Al�m deles, desfila pela tela uma mir�ade de personagens, praticamente todos eles alocados na ala dos bandidos. O tom soturno do novo “Batman” reflete uma Gotham City decadente, tomada pela criminalidade, pela corrup��o e pela desesperan�a. A trama transcorre dias antes da elei��o do novo prefeito da cidade.

Some-se a esse cen�rio as inquieta��es que acometem o personagem de Pattinson, que, em seus momentos como Bruce Wayne, parece sempre taciturno, um tanto desiludido, constantemente confrontado com o passado de sua fam�lia. � nesse aspecto que parece residir a ambi��o do diretor. 

O problema � que o “Batman” de Matt Reeves trabalha com elementos demais, tenta abarcar diversos tons, estabelecer pontes em excesso e criar situa��es que atendam ao gosto dos aficionados pelo universo do her�i.

Mas talvez precisamente por isso, pela forma como trabalha com uma pletora de c�digos dos filmes do g�nero, “Batman” deve fazer bonito nas bilheterias brasileiras e brigar pelo p�dio das maiores arrecada��es neste primeiro semestre de 2022, por ora ocupado por “Homem-Aranha: Sem volta para casa”. 

O fato de ter tr�s horas de dura��o � que eventualmente pode comprometer esse percurso, j� que ter� menos sess�es do que um filme de duas horas, por exemplo, pode ter.

ROMANCE

H� os crimes, a investiga��o, mist�rio, muita pancadaria e muito tiro, h� o pano de fundo pol�tico e o coment�rio social um tanto pueril. H�, tanto por parte do protagonista quanto do antagonista, um �mpeto que � conduzido por desejos de vingan�a e de justi�a que se confundem. E h� romance, com a rela��o entre Batman e a Mulher-Gato.

Diante de tantas pontas para costurar e planos para sobrepor, resta pouco espa�o para uma constru��o mais bem elaborada das personagens. Quando Pattinson foi anunciado como o novo Homem-Morcego, n�o foram poucos os questionamentos; os f�s do her�i n�o viram nele a figura ideal para tal papel. 

Fato � que o ator, que protagonizou de forma marcante longas como “Cosm�polis” e “O farol”, disp�e de muito mais recursos dram�ticos do que Ben Affleck, que estava inicialmente escalado para este “Batman”, mas n�o chegou a ter um filme para chamar de seu (teve que se contentar em dividir o protagonismo com Henry Cavill em “A origem da Justi�a”, de 2016, e com um elenco estrelado em “Liga da justi�a”, de 2017).

Os predicados de Pattinson como ator, no entanto, estiveram longe de ser plenamente explorados. Quando est� sem a m�scara, o personagem sustenta quase sempre uma mesma express�o, que guarda um tanto de recalque, outro de inseguran�a, e n�o vai muito al�m disso.

O olhar vazio que Bruce Wayne carrega se justifica, em parte, porque o Batman que vemos no filme de Reeves � um vigilante ainda incipiente, est� apenas h� dois anos nas ruas, combatendo o crime numa cidade em que ele transborda por todos os cantos.

De todo o elenco, quem tem a melhor oportunidade de mostrar servi�o � Paul Dano, com seu Charada – ainda que em apenas uma ou duas cenas, j� que, na maior parte do tempo, ele tem o rosto coberto por um capuz. Os demais atores cumprem de forma um tanto protocolar e chapada a miss�o de dar vida aos seus personagens.

Outro problema do novo “Batman”, que tamb�m se relaciona com a profus�o que toma conta da tela, s�o algumas incoer�ncias da narrativa. Num dado momento, por exemplo, o Homem-Morcego se v� numa situa��o em que toda a pol�cia de Gotham City est� em seu encal�o. No momento seguinte, sem que tenha havido um desfecho para tal situa��o, a rela��o entre o vigilante noturno e os homens da lei parece apaziguada.

Em outra cena, ao lado da Mulher-Gato, ele � alvo de rajadas de metralhadoras, num cerco de muitos mafiosos. Batman aparece ca�do no ch�o, enquanto ela tenta se esgueirar e fugir dos criminosos. No instante seguinte, o batm�vel aparece em cena pela primeira vez, com o her�i ao volante, como num passe de m�gica, para dar in�cio a uma sequ�ncia de persegui��o pelas ruas da cidade que faz o espectador se perguntar, confuso, se ele n�o teria sido transportado para alguma das sequ�ncias de “Velozes e furiosos”.

A Warner vinha alimentando grandes expectativas quanto ao lan�amento do longa de Matt Reeves e um dos motivos para isso � que, pelo menos em sua estreia, os filmes do Batman costumam faturar excelentes n�meros.

>> Originalmente, Ben Affleck havia sido contratado para estrelar, dirigir e escrever “Batman”. Ele chegou a concluir o roteiro, mas, por problemas pessoais, acabou desistindo de dirigir e estrelar o projeto. A Warner contratou Matt Reeves, que decidiu apostar em uma nova abordagem.

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Jonah Hill era cotado para o elenco de “Batman” e chegou a entrar em negocia��es com a Warner. Matt Reeves o queria como o Pinguim, mas o ator estava mais interessado no papel de Charada, al�m de supostamente ter exigido um cach� considerado muito alto, o que fez com que as negocia��es fracassassem.

>> As grava��es de “Batman” foram muito complicadas por causa da pandemia. O longa teve o azar de come�ar a ser produzido no mesmo per�odo em que a pandemia come�ou a se intensificar, o que fez com que as grava��es levassem v�rios e v�rios meses.

>> “Batman” � o come�o de um novo universo na DC. No momento, est�o sendo desenvolvidos v�rios projetos derivados, girando em torno de Gotham, como uma s�rie do Pinguim e outra dos policiais da cidade do Batman.

>> Matt Reeves afirmou que, desde que come�ou a trabalhar em “Batman”, viu Robert Pattinson como o protagonista ideal. O ator tamb�m estava interessado no papel. No entanto, Pattinson n�o foi aprovado como o novo Batman at� fazer um teste com o traje do personagem. Curiosamente, esse teste tamb�m contou com Nicholas Hoult, que era visto como uma segunda op��o, mas acabou sendo superado por Pattinson.