
Um dos m�sicos mais atuantes da cena de Belo Horizonte ao longo das �ltimas duas d�cadas, o cantor e compositor Dudu Nic�cio celebra essa trajet�ria com o disco “Vida em movimento”, que chega �s plataformas digitais na pr�xima sexta-feira (25/3). No mesmo dia, ele apresenta o show de lan�amento que marca seu reencontro presencial com o p�blico, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, �s 20h, com entrada franca.
S�timo t�tulo da discografia de Dudu, “Vida em movimento” n�o apenas marca os 20 anos de carreira dele, como condensa simbolicamente muito do que esse percurso representou. Entre as 10 faixas do repert�rio, algumas foram feitas recentemente, em parceria com o paulista Rafael Schimidt, e outras remontam ao in�cio da trajet�ria de Dudu, como “Auto da favela”, composta com Mestre Jonas (1976-2011) h� duas d�cadas. A dupla integrou o n�cleo do projeto “Reciclo geral” ao lado de v�rios talentos do cen�rio musical da cidade.
REFLEX�ES SOBRE O TEMPO
O que costura as faixas, segundo Dudu, � o fato de todas trazerem reflex�es que oscilam entre o car�ter existencial e filos�fico – tratando, muitas vezes, da passagem do tempo – e pol�tico e social, o que est� relacionado diretamente a outra esfera de sua vida, pois ele � doutor em direito, coordenador de projetos do programa Polos de Cidadania, da Faculdade de Direito da UFMG, e militante pelos direitos humanos.“Vida em movimento” espelha, de acordo com ele, o momento de maturidade musical, al�m de sua pr�pria identidade como cantor e compositor. H� pouco mais de um m�s, Dudu Nic�cio lan�ou o �lbum “Bloco Fera Nen�m”, com o repert�rio do bloco carnavalesco criado por ele em 2014. Em 2017, foi a vez de “Oceano brilhante”, disco com o qual considera ter alcan�ado o que vinha buscando desde o in�cio da carreira.
“Consegui ali uma est�tica, uma linha, para a qual olhei e me reconheci de maneira inteira”, diz, classificando seus trabalhos anteriores como curvas de amadurecimento. “Oceano brilhante” � minimalista, gravado apenas com viol�o e percuss�o, trazendo as can��es do jeito que ele queria, com acabamento sonoro e o modo de cantar que iam ao encontro do que sempre buscou.
“Cheguei, ali, a um ponto de maturidade, no sentido de gostar muito do que estava fazendo”, diz Dudu Nic�cio, afirmando que “Vida em movimento” chega para refor�ar essa identidade art�stica. “Entendo o novo disco como um momento de chegada. Claro que ainda tem muita coisa por vir, n�o se trata de ficar preso numa est�tica, mas no sentido de eu reconhecer, com esse novo trabalho, um caminho musical de composi��o e de interpreta��o com o qual me identifico, com o qual me entendo melhor enquanto artista”, observa.
“Vida em movimento” se distingue de “Oceano brilhante” por ser disco de banda, com arranjos cheios e produ��o a cargo de Thiago Delegado – respons�vel tamb�m por conduzir o disco de 2017. Dudu participou mais ativamente do novo trabalho nas �reas de concep��o art�stica, forma��o instrumental, mixagem e espacializa��o do som. “Chamei mais para mim, e o Thiago o tempo todo foi muito aberto a isso”, diz.
Ao comentar o norte tem�tico de “Vida em movimento”, ele aponta que “Auto da favela”, composi��o mais antiga do �lbum, pertence ao bloco que prop�e reflex�es de cunho social, ao lado das faixas “Dobrando o futuro”, “Suspendendo o c�u” (ambas com Rafael Schimidt), “Roendo osso” (com Fernando Limoeiro) e “O Brasil d�i” (tamb�m com Schimidt), homenagem ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, em especial, � comunidade do Quilombo Campo Grande. Pouco antes da chegada da pandemia, esse acampamento foi destru�do durante a��o da Pol�cia Militar, que n�o poupou nem a escola que funcionava no local, afirma.
J� “Cadenciado”, “Despertar” (parcerias com Schimidt), “Todo dia” (com Rodrigo Braga, da safra de 2006) e a faixa-t�tulo (feita com Moacyr Luz) pertencem ao bloco das quest�es existenciais e filos�ficas. “Elas falam muito da organiza��o do tempo na vida. A primeira do disco, ‘Vida em movimento’, e a �ltima, ‘Todo dia’, tratam da busca por tentar viver de uma maneira mais tranquila”, observa.

HOMENAGEM A MESTRE JONAS
Entre a cr�tica social e a reflex�o existencial est� “Cometa sideral”, parceria de Dudu com Rodrigo Braga em homenagem a Mestre Jonas. “Fala da viv�ncia dele, t�o curta no tempo. Jonas morreu com 35 anos, e �quela altura j� tinha feito quase mil m�sicas. A imagem dele � meio m�tica”, diz, lembrando a s�lida parceria dos dois.“Estava fazendo o Oficin�o do Galp�o, era ator, e a S�lvia Gomes tamb�m. Foi ela quem fez a ponte entre mim e Mestre Jonas, Makely Ka e a turma que acabou se juntando para fazer o 'Reciclo geral'. No dia em que conheci Jonas, a gente se tornou parceiro. Fizemos o musical ‘Macaia’, uma festa de umbanda que acontece da quinta para a sexta-feira da semana santa. Ele tinha essa viv�ncia, era filho de m�e de santo.”
Dudu Nic�cio gravou v�rias parcerias com Mestre Jonas – “N�o pagarei com o mal”, “Choro de solid�o”, “Barravento” –, mas ainda h� muitas in�ditas. Ele pretende apresent�-las aos poucos. “� a maneira de colocar Jonas permanentemente em pauta. Ele foi muito importante para muita gente e marcou o in�cio da minha carreira musical”, destaca.
Ao relembrar os tempos do “Reciclo geral” – s�rie de shows realizados de 2002 a 2003, no espa�o cultural da Asmare, voltado para novos compositores –, Dudu diz que a iniciativa, al�m de projetar toda uma cena de m�sicos mineiros, reverberou ao longo do tempo por meio de a��es com foco na produ��o autoral. Cita como exemplos o “Sarau tranquilo”, promovido por Thales Silva, e a Mostra Cantautores, criada por Luiz Gabriel Lopes e Jennifer Souza.
“Os projetos t�m muito a ver com o que a gente prop�s l� no in�cio dos anos 2000, coisas que v�m sendo feitas de maneira constante. Existem cenas que est�o o tempo inteiro se renovando. Antes do 'Reciclo', voc� tinha a cena pop rock, que foi muito grande na cidade, e tinha esse ambiente da composi��o j� estabelecido, com o pr�prio Vander Lee, por exemplo. A produ��o autoral, que era a alma do 'Reciclo', segue muito acesa”, explica.
SAMBA E MENINAS DE SINH�
Para lan�ar “Vida em movimento”, Dudu, a princ�pio, pensou em mostrar no show o disco na �ntegra, mas Thiago Delegado observou que a apresenta��o ficaria muito curta. A ideia de executar todas as faixas do novo �lbum permanece, mas temas de outros discos com foco no samba foram inclu�dos.
A ordem em que as m�sicas do novo �lbum ser�o apresentadas sofreu pequena altera��o, para comportar a participa��o especial do grupo Meninas de Sinh�, que sobe ao palco para dividir com Dudu os vocais em dois n�meros seguidos – “Todo dia”, em cuja grava��o as cantoras marcam presen�a, e um samba de roda que o cantor e compositor fez em homenagem ao grupo quando lan�aram seu primeiro disco, h� 15 anos.
Al�m das Meninas de Sinh� e de Thiago Delegado (viol�es de seis e sete cordas), participar�o do show Robson Batata (percuss�o), Marcelo Dai (bateria), Pedro Gomes (contrabaixo), Leonardo Brasilino (trombone) e Dudu Braga (cavaquinho).

O show “Vida em movimento” ser� gravado para posterior lan�amento. “Estamos cuidando do show em termos de cen�rio e luz, com equipe de filmagem e de capta��o sonora, para que vire uma outra coisa, um produto audiovisual, mas vou pensar depois nos desdobramentos. Sempre tive isso de querer muito, o que j� me levou a fazer muita coisa. Hoje em dia, j� n�o interessa fazer uma quantidade grande de coisas; quero � fazer bem-feito. � importante saber que as coisas t�m o seu momento”, conclui.

“VIDA EM MOVIMENTO”
• Disco de Dudu Nic�cio
• 10 faixas
• Dispon�vel nas plataformas digitais � meia-noite de sexta-feira (25/3)
• Show de lan�amento na pr�xima sexta-feira (25/3), �s 20h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Entrada franca, com retirada de ingressos no dia do show, na bilheteria do teatro, ou pelo site https://bit.ly/INGRESSOS_DUDUNICACIO.