(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ARTES VISUAIS

Nova exposi��o do CCBB-BH aborda o universo dos jogos e da interatividade

''Playmode'', que ser� aberta nesta quarta (30/3), re�ne obras que usam refer�ncias l�dicas para fazer uma s�ria cr�tica a quest�es sociais e pol�ticas


30/03/2022 04:00

Dois homens cobrem o rosto com a camisa amarela da seleção brasileira e cruzam os braços atrás da nuca na instalação 'Morte súbita' (2014), de Jaime Lauriano
A instala��o "Morte s�bita" (2014), de Jaime Lauriano, inclui registro sonoro com a recita��o de nomes de v�timas da ditadura militar (foto: CCBB/Divulga��o)

Um jogo de amarelinha no qual, em vez de n�meros, os participantes encontrar�o nas “casas” nomes de lugares que sofreram com atrocidades de guerra. Uma partida de futebol em que, no campo e na plateia, misturam-se Mickey, Minnie, Padre C�cero, noivas e bailarinas. Uma mesa de sinuca (sem taco) em que convivem, numa harmonia desorganizada, elementos do xadrez, do baralho e de brinquedos tradicionais.

Bem-vindo ao mundo de “Playmode”, exposi��o em que � poss�vel, tamb�m, jogar. Mas n�o � exatamente isso que est� em jogo, com o perd�o do trocadilho, na mostra que ser� aberta nesta quarta (30/3), �s 10h, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte. 

“Tentamos criar uma composi��o em que as obras conseguem ser l�dicas, mas tamb�m trazem uma esp�cie de reflex�o, mostrando que jogo n�o � s� divertimento puro. Os jogos podem transformar uma sociedade. E cada vez jogamos mais”, comenta Filipe Pais, professor e pesquisador, que divide a curadoria com Patr�cia Gouveia. Ambos s�o portugueses – foi no al�m-mar que a exposi��o come�ou sua trajet�ria.

“Playmode” foi exibida em 2019 no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa. Ao chegar ao Brasil – al�m da capital mineira, a mostra ir� para as unidades do CCBB no Rio de Janeiro, S�o Paulo e Bras�lia – a mostra original teve o acr�scimo de sete obras de artistas brasileiros. Ao todo, s�o 44 pe�as de criadores de nove pa�ses, divididas em tr�s n�cleos.

A visita��o tem in�cio pelo eixo “Modos de desconstruir, de modificar e de especular”, o maior dos tr�s. A ideia dessa se��o, diz Filipe Pais, � apresentar obras que pretendem “subverter o jogo” e “ressignific�-lo”.

Algumas delas s�o interativas, como a supracitada “Amarelinha”. No hall do terceiro andar do CCBB, abrindo a mostra, a releitura da artista americana Mary Flanagan se chama “Mapscoth – Bombscotch” (2013). Hiroshima e Nagasaki s�o alguns dos lugares onde o p�blico poder� pular no jogo.
Cubo composto por seis tabuleiros de xadrez preto e branco, com suas respectivas peças, na obra ''Xadrez autocriativo''
Na obra ''Xadrez autocriativo'' (2019), de Ricardo Barreto e Raquel Fukuda, seis tabuleiros do jogo formam um cubo (foto: CCBB/Divulga��o)

REGRAS

O xadrez aparece em v�rias obras. Em “Mesa de jogos” (2020), de Laura Lima e Marcius Galan, os artistas propuseram uma quebra das regras, criando uma obra que mistura elementos de v�rios jogos. 

“Xadrez autocriativo" (2019), de Ricardo Barreto e Raquel Fukuda, traz duas vers�es. A primeira, no formato escult�rico, re�ne seis tabuleiros e suas respectivas pe�as, formando um grande cubo. Desdobrada, a obra apresenta numa mesa os seis tabuleiros prontos para serem jogados por seis duplas – mas h� um livro de regras que devem ser seguidas.

Um dos artistas mais importantes do Brasil a despontar nos anos 1960 – e uma refer�ncia forte para criadores contempor�neos –, Nelson Leirner (1932-2020) est� presente com duas obras, tamb�m do primeiro n�cleo. Uma delas � um cl�ssico do artista e professor. 

Em “Futebol” (2000-2001) est�o reunidas figuras do imagin�rio popular e religioso em uma partida. Trabalho mais antigo, “Cubo de dados” (1970) � uma escultura minimalista em pequeno formato que re�ne 216 dados.

VIGIL�NCIA

Mais cr�ticas s�o as obras que v�m a seguir. A instala��o em v�deo “Surveillance chess” (2012), que em bom portugu�s leva o nome de “Xadrez da vigil�ncia”, � uma obra interativa criada pelos artistas Carmen Weisskopf e Domagoj Smoljo; ela, su��a, e ele, croata, �s v�speras dos Jogos Ol�mpicos de Londres.

“Os artistas filmaram uma esp�cie de opress�o. Criaram um jogo de xadrez para ser jogado pelas pessoas que estavam monitorando as c�meras de vigil�ncia do metr� de Londres. Foi um jogo entre os artistas e o sistema de vigil�ncia, de controle”, explica Filipe Pais. 

Outro v�deo � de comunica��o mais direta e cala fundo nos brasileiros. Em “Morte s�bita” (2014), Jaime Lauriano colocou, lado a lado, homens vestidos com a camisa da Sele��o Brasileira. Nesta recria��o da apresenta��o de jogadores de uma partida, todos est�o com o rosto coberto pela camisa amarela da CBF. Ao fundo, ouve-se uma s�rie de nomes serem apresentados – n�o s�o de jogadores, mas de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985). 

Outra obra de Lauriano tamb�m dialoga com o ftebol e opress�o. A escultura “A ta�a do mundo � nossa” (2018) � uma r�plica da Jules Rimet, o trof�u da Copa do Mundo de 1970 roubado em 1983. A obra � tal e qual a original, mas foi constru�da a partir da fundi��o de muni��es utilizadas pelas For�as Armadas. 

O segundo n�cleo, “Modos de participar e de mudar”, � composto por 10 jogos digitais, todos acess�veis ao visitante. “S�o jogos gr�ficos bastante simples, de pequenos est�dios, independentes”, comenta o curador.

Um dos jogos � “The artist is present” (2011), em que Pippin Barr recriou uma c�lebre performance que Marina Abramovic apresentou no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York. Durante tr�s meses de 2010, per�odo que durou uma grande retrospectiva da artista iugoslava naquela institui��o, ela participou da performance, que consistia basicamente em ficar sentada em uma mesa – na outra cadeira, qualquer visitante da mostra podia se sentar em frente a ela. 

O contato entre artista e p�blico era somente visual, pois Marina n�o falava nada (gerou inclusive um document�rio, lan�ado em 2012). No videogame, o jogador explora a mesma performance. “A ideia � tentar encontrar a Marina, mas h� sempre complica��es. � um jogo de espera”, conta Pais.

Outro game, “Papers, please” (2013), foi criado h� quase uma d�cada por Lucas Pope, mas conversa diretamente com os dias de hoje. Remontando � Guerra Fria (1947-1991), leva o jogador at� o controle de imigra��o de Arstotzka. Depois de uma guerra com a vizinha Kolechia, o pa�s imp�s uma s�rie de restri��es fronteiri�as. O jogador deve analisar o pedido de viajantes e imigrantes, permitindo (ou n�o) a entrada no territ�rio. “� um espa�o fict�cio, mas at� sua linguagem gr�fica remete � R�ssia”, diz Pais.

Encerrando a exposi��o, o n�cleo “Modos de transformar, de sonhar e de trabalhar”, o �nico que n�o tem nenhuma obra interativa, re�ne pe�as que passeiam entre “o sonho, a utopia, a distopia e o trabalho”, comenta Pais.

“Atualmente, existem jogos para tudo, estamos em uma esp�cie de ludifica��o da sociedade. As pr�prias redes sociais se transformaram em jogos muito simples. O jogo normalmente � livre, jogamos porque temos vontade. Mas, ultimamente, h� quest�es por vezes abusivas, por exemplo, quando se usam jogos para tornar processos (de trabalho) mais eficientes”, acrescenta o curador, lembrando que os games s�o muito utilizados para “formar militares americanos”. 

Duas obras do alem�o Harun Farocki tratam dessa quest�o. Nas s�ries “Serious games” (2009 e 2010), o artista documentou como os jogos foram utilizados para treinar militares nos EUA. Al�m do treinamento, o artista mostrou como as tecnologias de realidade virtual s�o utilizadas para tratar do transtorno de estresse p�s-traum�tico de jovens que retornaram de guerras.

O portugu�s Filipe Vilas-Boas encerra a exposi��o, com a imagem das bandeiras da China e dos EUA. Alterados, os s�mbolos nacionais perderam estrelas. Em “The rated Republic of China” (2017), o artista tirou algumas das estrelas da bandeira, fazendo uma alus�o ao modelo de classifica��o que domina o mundo virtual. J� em “United likes of America” (2017), ele substituiu as estrelas dos 50 estados americanos pelo s�mbolo do like do Facebook. 

em sala de chão cinza e paredes brancas, uma maleta amarela está no chão. no encontro de duas paredes, uma tela de TV exibe o cartaz %u201Cyou are white%u201D
Na obra ''Surveillance chess'' (2012), os artistas Carmen Weisskopf e Domagoj Smoljo criaram um jogo entre eles e o sistema de vigil�ncia de Londres, segundo o curador Filipe Pais (foto: CCBB/Divulga��o)


PALESTRA DO CURADOR

Nesta quarta (30/3), �s 20h, o curador Filipe Pais ministrar� a palestra “Playmode: Modos de jogar, criticar e sonhar”. O encontro ser� no Teatro 1 do CCBB. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados pelo bb.com.br/cultura ou na bilheteria da institui��o.


“PLAYMODE”
Exposi��o no Centro Cultural Banco do Brasil, Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios, (31) 341-9400. Abertura nesta quarta (30/3), �s 10h. Visita��o de quarta a segunda, das 10h �s 22h. Entrada franca. At� 6 de junho


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)