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Estado de Minas M�SICA

Fernanda Takai fala sobre show, equil�brio de egos e pol�mica com Chico

Cantora apresenta neste s�bado (30/4) em BH repert�rio de seu sexto �lbum, ''Ser� que voc� vai acreditar?'', e inclui ''Com a��car, com afeto'' no set list


30/04/2022 07:30 - atualizado 30/04/2022 07:36

Fernanda Takai, de pé, vestida com casaco cinza, tem sua sombra projetada pela luz de um refletor em uma estrutura vertical à sua frente
A cantora manteve no repert�rio do show ''Com a��car, com afeto'' e afirma que Nara Le�o daria ''risada'' sobre a propor��o da controv�ria em torno da declara��o de Chico Buarque de que deixaria de cantar a can��o em raz�o de seu conte�do machista (foto: NADJA KOUCHI/DIVULGA��O)

Na pandemia, Fernanda Takai fez diferente. Enquanto boa parte dos artistas adiou o lan�amento de seus discos, a cantora antecipou o dela. E enquanto muitos aproveitaram as lives para mostrar novos trabalhos, Fernanda resolveu esperar. � por isso que seu mais recente �lbum, “Ser� que voc� vai acreditar?”, lan�ado em julho de 2020, somente agora ganha o formato de um show.

“N�o queria fazer o espet�culo digitalmente. Realmente, aguardei o momento de ir para a rua de novo”, afirma ela, que lan�a neste s�bado (30/4), no Cine Theatro Brasil Vallourec, esse que � o sexto disco de sua carreira. At� ent�o, foram apenas tr�s shows, em fevereiro passado, no Sesc Vila Mariana, em S�o Paulo. 

“Colocar o espet�culo pronto foi um desafio. Quando marquei as tr�s datas em S�o Paulo, investi tudo, cen�rio, figurino, mas n�o sabia quando iria fazer outro.” Agora, a hora chegou – al�m de BH, o show j� tem outras datas marcadas e o bloco est� pronto para voltar para a rua.

� o momento certo em outros sentidos. O show “Ser� que voc� vai acreditar?” marca os 15 anos da carreira solo da vocalista do Pato Fu – a banda chega aos 30 no segundo semestre. “O primeiro disco (‘Onde brilhem os olhos seus’, de 2007, com repert�rio dedicado � obra de Nara Le�o) repercutiu muito. Fiquei com medo de prejudicar a banda”, relembra Fernanda.
 

Mas pouco depois o Pato Fu lan�ou o primeiro “M�sica de brinquedo” (2010). “O trabalho explodiu, ent�o contrabalan�ou os egos. Acho que se ele n�o tivesse feito um grande sucesso e o Pato Fu tivesse ficado em um limbo, teria sido prejudicial para as rela��es. Desde ent�o, as coisas foram acontecendo, e eu n�o fiquei planejando. O que gostei, quando a carreira solo aconteceu, foi cantar com outras pessoas, aceitar convites que talvez na banda n�o coubessem. D� para ter as duas coisas com tranquilidade.”

 

''� um disco muito sincronizado com o mal-estar do mundo. Acho que o Brasil est� vivendo outra pandemia h� alguns anos, que � a do governo absoluto. Quando chegou a pandemia da sa�de, tudo ficou mais forte''

Fernanda Takai, cantora

 


Ainda que os horizontes tenham se aberto, Fernanda n�o mudou muito o modus operandi.  “Ser� que voc� vai acreditar?” foi gravado e produzido por John Ulhoa, seu marido e cofundador do Pato Fu (fun��o que ele exerceu nos �lbuns “Onde brilhem os olhos seus”, “Luz negra”, de 2009, e “Na medida do imposs�vel”, de 2014). 

Mas a pandemia afetou diretamente a produ��o, tanto t�cnica quanto conceitualmente. Em mar�o de 2020, o mundo parou. Fernanda tinha, at� ent�o, definido o repert�rio de seu pr�ximo �lbum, que deveria ser lan�ado no segundo semestre daquele ano. Com apenas duas can��es gravadas das 10 previstas do disco, e sem muito o que fazer, ela decidiu botar a m�o na massa.

Com John como sempre � frente do est�dio 128 Japs (que o casal mant�m nos fundos de sua casa, na regi�o da Pampulha) a maior parte do �lbum foi produzida nos primeiros meses do confinamento. John gravou todos os instrumentos. “� um disco muito sincronizado com o mal-estar do mundo. Acho que o Brasil est� vivendo outra pandemia h� alguns anos, que � a do governo absoluto. Quando chegou a pandemia da sa�de, tudo ficou mais forte”, comenta Fernanda.

''Aquilo (a controv�rsia sobre 'Com a��car, com afeto') ficou muito maior do era para ser. N�o iria tirar a m�sica (do repert�rio do show). E acho que a pr�pria Nara, tivesse ouvido falar da pol�mica, daria muita risada. Ali � um eu l�rico ficcional. N�o sou essa mulher, mas essas mulheres existem''

Fernanda Takai, cantora


PARA NINA

A can��o de abertura, “Terra plana” foi composta por John no ano anterior, bem antes de se ouvir falar em crise sanit�ria, como um recado para Nina, a filha de 18 anos do casal. Um dos versos acabou se tornando tamb�m o t�tulo do �lbum: “E se algu�m te contar/Que a terra � plana/E que n�o d� para o espa�o viajar/Ser� que voc� vai acreditar?”.

Outra m�sica na mesma toada � “N�o esque�a”, composta pelo ga�cho Nico Nicolaiewsky (1957-2014), do Tangos & Trag�dias, para a pr�pria filha. “Ou seja, foi feita muitos anos antes, mas o verso ‘N�o esque�a de lavar as m�os’ se encaixou total com o momento.” J� “Cora��es vazios”, mais uma de John, foi feita no in�cio da crise sanit�ria. 

Ainda que a presen�a e a influ�ncia de John sejam marcantes no trabalho de Fernanda, h� quase uma d�cada ele n�o sai em turn� com ela. “Ao mesmo tempo em que o disco � um exerc�cio da solid�o de n�s dois, no show est� a equipe toda.” A banda que a acompanha � formada pelo guitarrista Borba, pela tecladista Camila Lordy, pela baixista Larissa Horta e pelo baterista Caio Pl�nio. 

“Agora somos tr�s mulheres, maioria”, diz Fernanda. Finalmente, vale dizer. Durante parte das tr�s d�cadas de carreira, ela foi a �nica mulher em cena. Isso acabou aproximando Fernanda da cantora e compositora franco-brasileira Virginie Boutaud, que na d�cada de 1980 foi a vocalista da banda Metr�. As duas compuseram e gravaram “O amor em tempos de c�lera”, outra das in�ditas do novo disco.

“Eu sou da gera��o que escutou anos 80, toquei Metr� na banda do col�gio. A Virginie (que vive na Fran�a) fez contato comigo via rede social e comentamos que eu, nos anos 1990, ainda era uma das poucas mulheres em banda, como ela mesma foi”, relembra. Comentaram sobre como cantavam parecido – “Temos a mesma tonalidade” – e o encontro, primeiramente virtual, acabou levando Virginie a mandar uma m�sica. Fernanda fez a letra, que ficou guardada e prometida para o disco da franco-brasileira.

“S� que o disco dela nunca ficava pronto e a� falei que estava escolhendo repert�rio para meu disco e perguntei se poderia lan�ar”, diz Fernanda. As duas acabaram se encontrando no palco no �ltimo dia do show de S�o Paulo.  

Mesmo que as can��es do novo �lbum prevale�am no show – al�m das in�ditas, h� tamb�m uma vers�o para “Love is a losing game”, de Amy Winehouse, que ela gravou para este trabalho – Fernanda passeia em cena pelo repert�rio dos �lbuns anteriores. E a� chega � invari�vel quest�o da inclus�o de “Com a��car, com afeto” ap�s a pol�mica envolvendo a declara��o de Chico Buarque sobre a m�sica que fez para Nara Le�o.
 
Fernanda Takai canta "Com a��car com afeto" no DVD 'Luz negra', em 2009:
 
 

Em janeiro passado, foi lan�ada a s�rie documental “O canto livre de Nara Le�o”, no Globoplay. No terceiro epis�dio, Chico afirma ao documentarista Renato Terra, diretor da s�rie, que n�o mais cantaria a can��o que ele comp�s para Nara ap�s a m�sica ter sido criticada por feministas. 

“Se a Nara estivesse aqui, ela n�o cantaria, certamente”, dis- se. A letra fala de uma mulher que fica em casa enquanto o marido vive na rua, entre bares e outras mulheres. Ao retornar � casa, a mulher “abre os bra�os” para o marido.

Das 13 can��es do repert�rio de Nara que Fernanda gravou em sua estreia solo, “Com a��car, com afeto” foi uma das que mais fizeram sucesso, tanto que nunca deixou o repert�rio dos shows dela desde ent�o. 

''�s vezes, fico preocupada com a volatilidade e a visibilidade excessivas. H� pessoas que s�o s� famosas. O que s�o famosos se n�o tiverem uma marca pagando? Fico um pouco assustada porque pessoas que n�o t�m uma fun��o clara t�m muita visibilidade''

Fernanda Takai, cantora


RISADA

A pol�mica causada, muito maior do que o esperado, levou Fernanda ao Twitter, onde postou, tamb�m em janeiro: “Fiz a lista do meu novo show. J� tinha colocado ‘Com a��car, com afeto’. E ela vai continuar. Adoro a can��o, a hist�ria sobre como surgiu, muito bem escrita. Uma letra que d� voz a uma personagem. Um espa�o bem delimitado na arte”.

“Aquilo (a controv�rsia) ficou muito maior do era para ser. N�o iria tirar a m�sica. E acho que a pr�pria Nara, tivesse ouvido falar da pol�mica, daria muita risada. Ali � um eu l�rico ficcional. N�o sou essa mulher, mas essas mulheres existem”, diz Fernanda.

Bastante ativa nas redes sociais, mas mantendo a vida pessoal resguardada, ela diz que hoje entende melhor seu papel no mundo. “Sou uma pessoa que tem que ter responsabilidade ao dar opini�o nas posturas que tomo politicamente. Hoje n�o me furto de me colocar. Quando era mais jovem, at� por conta do coletivo da banda, eu evitava, pois nem todo mundo do Pato Fu pensa como eu. Agora, �s vezes, fico preocupada com a volatilidade e a visibilidade excessivas. H� pessoas que s�o s� famosas. O que s�o famosos se n�o tiverem uma marca pagando? Fico um pouco assustada porque pessoas que n�o t�m uma fun��o clara t�m muita visibilidade.” 

Fernanda entrou na pandemia com 48 anos e saiu com 50. “Quando voc� tem 20, 30 anos, acha que quando chegar aos 50 estar� velho. Eu me sinto muito bem fisicamente e mentalmente mais forte. Por mais que tenha que lidar com a decad�ncia do corpo em alguns momentos, cheguei aos 50 feliz. Sei fazer v�rias coisas que s�o independentes de eu ter sucesso o tempo inteiro. E n�o s� na carreira art�stica, mas voc� sabe que n�o precisa ser o melhor o tempo todo. Ficar mais velho lhe d� certa paz, sem a competitividade da juventude”, afirma.

''Eu me sinto muito bem fisicamente e mentalmente mais forte. Por mais que tenha que lidar com a decad�ncia do corpo em alguns momentos, cheguei aos 50 feliz. Sei fazer v�rias coisas que s�o independentes de eu ter sucesso o tempo inteiro''

Fernanda Takai, cantora



“SER� QUE VOC� VAI ACREDITAR?”

Show de lan�amento do �lbum de Fernanda Takai. Neste s�bado (30/4), �s 21h, Cine Theatro Brasil Vallourec, Pra�a Sete – Rua dos Carij�s, 258, Centro, (31) 3201-5211. Ingressos: Plateia 1: R$ 120 e R$ 60 (meia); Plateia 2: R$ 100 e R$ 50 (meia). � venda na bilheteria e no site Eventim


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