"Minhas piadas s�o inspiradas em problemas pessoais", diz Bruna Louise

Aos 37 anos, a paranaense Bruna Louise ocupa hoje um lugar de destaque no cen�rio do humor nacional. Neste fim de semana, ela se apresenta em Belo Horizonte, onde deve ter o maior p�blico para seu espet�culo solo de stand up num �nico dia. 

Bruna far� tr�s sess�es (�s 14h30, �s 17h e �s 20h) de seu show, neste domingo (15/5), no  Sesc Palladium, com a venda j� esgotada em alguns setores do teatro, que tem capacidade para 1.321 espectadores. 

Tratando de temas s�rios, como a preval�ncia do machismo na sociedade, ou doloridos, como desilus�es amorosas, de forma leve, ela promete fazer o p�blico rir e se divertir tamb�m com o relato de situa��es inusitadas de seu cotidiano.

Em setembro de 2021, Bruna esteve em Belo Horizonte para apresentar seu show solo, mas, em raz�o dos protocolos sanit�rios impostos para conter a dissemina��o da COVID-19, a capacidade do teatro foi reduzida. 

“No ano passado, fiz tr�s sess�es e foi meu recorde de p�blico, com 1.600 pessoas num dia s�. Agora, nessa minha segunda ida, estamos na terceira sess�o no mesmo teatro, s� que agora com 100% da capacidade e j� passamos de 2.200 pessoas. Estou muito feliz porque � BH batendo o pr�prio recorde e o meu recorde de p�blico”, diz.

A comediante enche o p�blico mineiro de elogios: “� um p�blico maravilhoso, todos os comediantes amam a plateia de BH, inclusive sempre levamos alguma coisa pronta para gravar para o canal, porque sabemos que a rea��o � sempre muito forte, muito boa. Ent�o estou muito empolgada, por mais que fazer tr�s sess�es seja muito cansativo, eu sei que vai ser incr�vel, que vai ser um showz�o e vou amar”.

Ela ainda d� spoilers do que o p�blico pode esperar. “Uma Bruna mais madura, falando de alguns problemas de que ainda n�o falei, algumas coisas mais profundas.”

Formada em artes c�nicas, ela conta ao Estado de Minas que a com�dia nem sempre foi um sonho, mas que a conquistou. “Eu j� era atriz quando vi um v�deo de stand up e, no come�o, relutei um pouco, por ser muito diferente do que eu fazia”, diz. Ela diz que achava “dif�cil subir em um palco sem estrutura nenhuma, no sentido de n�o ter uma luz pensada, figurino, texto escrito por algu�m e, principalmente, sem ter outros atores para me dar suporte”. 

Para superar o receio inicial com o formato, que a “assustava” e com a impress�o de que “n�o era capaz” de se desempenhar bem nele, Bruna teve o incentivo de amigos e conhecidos que lhe diziam que o stand up era a sua cara. “At� que tomei coragem. A partir do primeiro momento em que subi no palco, fiquei completamente apaixonada e nunca mais parei de fazer”, comenta.

Com aproximadamente 12 milh�es de seguidores, somando-se suas redes sociais, Bruna Louise pode ser considerada hoje uma das maiores vozes da com�dia feminina. Atuando em um mercado predominantemente masculino, ela afirma que ainda enfrenta dificuldades para exercer seu trabalho. 

“Sempre vai ter algu�m desmerecendo o meu trabalho, duvidando do que eu posso fazer, tentando entender como eu cheguei t�o longe e tentando colocar o m�rito em outras pessoas ou algum acaso, ou sorte, ou eu estava no lugar certo fazendo a coisa certa. Mas tamb�m tem essa representatividade, porque hoje eu tenho um p�blico muito feminino que gosta muito do meu trabalho, e eu fico muito feliz com isso”, diz.

Em seus shows, inspirados em problemas pessoais, ela faz quest�o de tratar desse assunto de uma forma divertida, mas com o objetivo de incentivar a plateia a refletir sobre a quest�o. “Stand up � sobre o cotidiano e em absolutamente tudo o que eu fa�o o machismo est� envolvido. As pessoas n�o t�m a menor no��o de que na menor escolha que as mulheres t�m que tomar, tem machismo – desde se eu posso pegar o metr� �s 23h ou o comprimento da minha roupa, se eu posso tomar um vinho sozinha em um bar ou n�o”, afirma. 

“S�o pequenas decis�es sobre as quais a gente tem que pensar duas vezes e n�o temos a mesma liberdade que um homem. Ent�o, acho important�ssimo falar a respeito, porque quanto mais a gente questiona, mais a gente muda.”

Embora esteja segura de seu papel na dire��o da mudan�a desse quadro, Bruna reconhece que a resist�ncia, sobretudo por parte de uma parcela do p�blico masculino, � grande. “Tenho uma resist�ncia masculina na internet relativamente grande. Apesar de que, no YouTube, por exemplo, meu maior p�blico � masculino”, relata. 

“No meu show, fica muito claro que � meio a meio, at� porque vai muito casal. J� no Instagram tem um p�blico muito feminino, ent�o � um equil�brio. Mas entre quem me xinga,  90% s�o homens”, observa. “� um machismo estrutural, o mesmo que eu encontro na minha carreira e na vida pessoal. Ent�o � um saco, � dif�cil, mas n�o � o suficiente para me fazer desistir.” Na entrevista a seguir, ela fala sobre a carreira, as inspira��es para piadas e o projeto de dar mais espa�o na com�dia para mulheres.

"Stand up � sobre o cotidiano e em absolutamente tudo o que eu fa�o o machismo est� envolvido. As pessoas n�o t�m a menor no��o de que na menor escolha que as mulheres t�m que tomar, tem machismo - desde se eu posso pegar o metr� �s 23h ou o comprimento da minha roupa, se eu posso tomar um vinho sozinha em um bar ou n�o"

Bruna Louise, comediante

Esse meu projeto � para fortalecer e ampliar a cena feminina de com�dia no Brasil. Eu n�o tive quem fizesse isso por mim e hoje eu entendo a import�ncia da minha voz, do meu alcance e acho que tenho essa oportunidade de dar um “empurr�ozinho” para outras mulheres. O projeto � uma iniciativa minha de lutar contra essa hist�ria de que mulher n�o � amiga de mulher e que a gente � extremamente competitiva. N�o, a gente se ajuda. Ent�o eu pensei em v�rias maneiras de como mostrar isso e a pr�tica sempre � a melhor.

Olhando para a minha carreira, desde o princ�pio, eu me arrependo de n�o ter confiado em mim antes. Demorei muito para confiar no meu potencial, dei ouvido v�rias vezes a muitas cr�ticas negativas. N�o que elas tenham me parado, mas talvez me atrasaram um pouco. Queria estar passando essa fase da minha carreira um pouco mais nova, apesar de que talvez eu n�o tivesse maturidade para encarar as coisas do jeito que eu encaro agora. Talvez o meu arrependimento seja mais de ter duvidado de mim quando me apontaram, porque hoje,quando apontam alguma coisa, eu paro e escuto, da� eu falo: “Isso n�o faz sentido”. At� porque, eu j� escuto as mesmas coisas h� anos, ent�o j� estou acostumada.

Sim, as minhas piadas s�o sempre inspiradas em problemas pessoais. Eu estou sempre tentando n�o pegar muito pesado com as pessoas que convivem comigo. Por exemplo, eu falo brincando da minha m�e, mas n�o brinco muito para essa “v�ia” n�o me deserdar e nunca mais olhar na minha cara. Eu procuro n�o expor muito as pessoas, ent�o, se eu for contar de um “boyzinho” que deu errado, n�o vou falar nome nem dar muito detalhe, para ningu�m saber realmente quem � e n�o expor tanto essa pessoa.

Estou estreando meu terceiro solo. O primeiro eu j� postei no YouTube. O segundo j� gravei para a Netflix. Agora estou no terceiro. N�o posso falar muito do que esperar, porque o que eu espero sempre � que as pessoas riam, � isso que eu espero (risos). Neste ano, haver� o lan�amento do meu especial para a Netflix, mas ainda n�o temos data. Estou rodando o Brasil com meu novo solo e tenho projetos sobre os quais ainda n�o posso falar.

Acho que o mercado de stand up comedy brasileiro est� crescendo muito. Quem est� come�ando hoje v� que existe um futuro pela frente, com a gente que j� est� vivendo disso. Mas tamb�m as pessoas est�o entendendo que o que vivemos hoje foi fruto de muito trabalho, sempre levamos tudo muito a s�rio e ralamos muito.

Show solo de stand up. Neste domingo (15/5), no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro), �s 14h30, �s 17h e �s 20h. Ingressos entre R$ 30 (Setor 3) e R$ 80 (Setor 1; esgotados), � venda na bilheteria do teatro e na plataforma Sympla. Mais informa��es: (31) 3270-8100