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Estado de Minas CINEMA

Longa 'Pureza' conta a hist�ria da m�e-coragem que combateu a escravid�o

Personagem-t�tulo ajudou a impulsionar a legisla��o brasileira, depois de ter o filho aliciado por uma rede criminosa. Filme estreia nesta quinta (19/5)


19/05/2022 04:00 - atualizado 19/05/2022 09:26

Vestida com blusa clara e saia preta, em acampamento cheio de trabalhadores, a atriz Dira Paes sorri, em cena do filme Pureza
Dira Paes interpreta a protagonista, com quem se encontrou pessoalmente. Hoje, Pureza est� perto dos 80 anos (foto: Gaya Filmes/Divulga��o)

Bacabal � um munic�pio do Maranh�o distante 240km da capital, S�o Lu�s. Foi nesta cidade, hoje com 100 mil habitantes, que a maranhense Pureza Lopes Loiola chegou com a fam�lia, marido e tr�s filhos, para tentar uma vida melhor. Algum tempo depois, n�o havia mais casamento, mas a mulher e a prole continuavam a ganhar a vida em uma olaria.

Em 1993, o ca�ula, Ant�nio Abel Lopes Loiola, resolveu que era hora de ir al�m. Deixou Bacabal para tentar a sorte no garimpo no Par�. Sem not�cias dele, Pureza decidiu tentar encontrar o filho. Com a roupa do corpo e quase nenhum dinheiro, partiu para o estado vizinho. Foram mais de tr�s anos para que finalmente tivesse o filho a seu lado – mas a jornada desta mulher impactou a vida de centenas de jovens trabalhadores que, como o pr�prio Abel, se tornaram escravos.

Com estreia nesta quinta-feira (19/5) nos cinemas, “Pureza”, de Renato Barbieri, apresenta uma hist�ria impressionante – pela for�a de sua personagem central e tamb�m por mostrar que o Brasil contempor�neo ainda n�o se desvinculou da heran�a do Brasil Col�nia. 

Hoje uma senhora de quase 80 anos, Pureza percorreu sozinha garimpos, carvoarias, madeireiras e planta��es do interior do Maranh�o e do Par�. A partir das informa��es que tomou com as pessoas com quem conviveu, esta mulher que s� se alfabetizou na idade adulta para ler a B�blia encaminhou den�ncias ao governo federal.

''Fomos para o Sul do Par�, um lugar com um manancial de recursos natural e tamb�m zona de conflito de terras. Al�m disso, tivemos a participa��o de um grande n�mero de trabalhadores ex-escravos no filme. Uma coisa � inventar um espa�o, outra � estar no lugar onde tudo aconteceu. Isto tudo deu corpo para o filme''

Dira Paes, atriz


DEN�NCIAS

Somente em 1995 o Brasil admitiu a exist�ncia de trabalho escravo em seu territ�rio. Devido �s den�ncias de Pureza, o Minist�rio P�blico do Trabalho, o Executivo e o Judici�rio criaram o Grupo Especial M�vel de Fiscaliza��o para atuar na Regi�o Norte. Em 1997, ela recebeu o pr�mio anual da institui��o brit�nica Anti-Slavery International, considerada a primeira ONG do mundo, criada em 1839 por abolicionistas do Reino Unido.

Tal trajet�ria � dramatizada no cinema com Dira Paes no papel-t�tulo. “Conhecia a hist�ria de Pureza atrav�s da hist�ria dos Direitos Humanos, a quem sou ligada desde os 13 anos. Mas n�o tinha no��o da preciosidade dela, e tive isto quando a conheci pessoalmente”, comenta a atriz paraense.



Experiente documentarista, com carreira iniciada nos anos 1980 junto � produtora paulista Olhar Eletr�nico, onde trabalhou ao lado de Fernando Meirelles, Paulo Morelli e Marcelo Tas, Barbieri estava em busca de uma grande hist�ria para estrear na fic��o. Em 2007, conheceu a trajet�ria de Pureza por meio do fot�grafo Hugo Santar�m. 

“Queria uma hist�ria universal que pudesse se comunicar com todo mundo. Foi uma longa jornada de 15 anos”, comenta ele, que filmou em 2018 e finalizou o longa no ano seguinte. O adiamento de 2020 para 2022 em decorr�ncia da pandemia � hoje celebrado pelo diretor.

“Estou achando o momento perfeito. Estamos em um ano eleitoral e estamos refletindo sobre quem somos e quem queremos ser. ‘Pureza’ vem trazer essa contribui��o. Queremos continuar sendo escravagistas ou queremos construir uma na��o livre? Isto n�o cabe a governos. � a sociedade brasileira que tem que assumir para si a ideia de na��o que quer ser.”

Antes de lan�ar o longa de fic��o, Barbieri fez um documental, “Servid�o” (2019), tamb�m sobre o mesmo tema. “‘Pureza’ coloca o espectador na cena do crime enquanto ‘Servid�o’ mostra a perspectiva hist�rica de uma mentalidade escravagista secular. O Brasil nunca deixou de ser escravagista, j� que a primeira aboli��o foi prec�ria e ainda vivemos em um apartheid social.”

As filmagens foram realizadas em alguns dos lugares por onde Pureza passou duas d�cadas atr�s. “Fomos para o Sul do Par�, um lugar com um manancial de recursos natural e tamb�m zona de conflito de terras. Al�m disso, tivemos a participa��o de um grande n�mero de trabalhadores ex-escravos no filme. Uma coisa � inventar um espa�o, outra � estar no lugar onde tudo aconteceu. Isto tudo deu corpo para o filme”, comenta Dira.

''Estou achando o momento (da estreia) perfeito. Estamos em um ano eleitoral e estamos refletindo sobre quem somos e quem queremos ser. 'Pureza' vem trazer essa contribui��o. Queremos continuar sendo escravagistas ou queremos construir uma na��o livre? Isto n�o cabe a governos. � a sociedade brasileira que tem que assumir para si a ideia de na��o que quer ser''

Renato Barbieri, diretor


COZINHEIRA

Na fic��o, Pureza consegue trabalho como cozinheira de uma fazenda que conta com v�rios trabalhadores escravizados. � neste lugar que ela conhece as trajet�rias de jovens como seu pr�prio filho desaparecido. Ao mesmo tempo em que tenta ajud�-los como pode, tem que fugir de seu principal algoz, o capataz Narciso (Fl�vio Bauraqui).

Na fazenda, para onde s�o levados com a promessa de muito trabalho e tamb�m remunera��o, os trabalhadores n�o demoram a descobrir que n�o t�m direito a nada e que devem muito. Alimenta��o, roupa, local para dormir e at� o transporte para as fazendas, tudo � cobrado – e n�o h� nenhum sal�rio no fim de cada m�s.

Perdem inclusive a identidade – os documentos s�o tomados pelo administrador da fazenda, assim que cada um d� entrada no local – e o nome. Cada trabalhador/escravo � chamado pela regi�o de onde veio. Como Maranh�o � um jovem que lembra muito Abel, Pureza rapidamente se afei�oa a ele. 
 
O ator Guto Galvão une as mãos e faz expressão compenetrada em cena do filme Pureza, com uma corda atrás de si
O ator Guto Galv�o � Maranh�o, um dos jovens escravizados que Pureza tenta ajudar (foto: Gaya Filmes/Divulga��o)
 

Ator paraense radicado no Rio de Janeiro, Guto Galv�o interpreta o jovem que ter� uma trajet�ria tr�gica. Ele estava de f�rias em Bel�m, quando soube do casting para o filme. Mandou seu material, fez o teste e n�o passou. “Vida que segue. Quatro meses depois, fui chamado para uma substitui��o, que era um papel relativamente pequeno”, conta Guto, que est� fazendo sua estreia em longas. 

Assim que come�ou a trabalhar, a din�mica mudou. “No processo de desenvolvimento do filme, o diretor foi gostando das propostas que eu fazia e fui ganhando espa�o. At� que o Renato me prop�s uma cena impactante e, como ele � tamb�m o roteirista, criou uma hist�ria para o personagem. O Maranh�o acabou representando v�rios personagens”, acrescenta Guto. 

O elenco atuou em contato com trabalhadores que foram escravizados naquela regi�o. “O Renato fez muita quest�o de trazer tudo para perto de n�s. Atrav�s do Maranh�o ficamos sabendo como � realizado o trabalho escravo contempor�neo, como um jovem trabalhador que busca uma vida digna � atra�do para o sistema escravocrata sob falsas promessas”, diz Guto.

OUTROS TRABALHOS

Uma das estrelas do remake de “Pantanal”, onde interpreta Filomena, Dira Paes tamb�m � a narradora da s�rie “Relatos do front – A outra face do cart�o postal”, que estreia em 27 deste m�s, �s 22h30, no Canal Brasil. A s�rie de quatro epis�dios d� sequ�ncia ao filme “Relatos do Front” (2018), de Renato Martins (o longa ser� exibido neste s�bado, 21/5, �s 14h50, no mesmo canal). Filme e s�rie tratam da seguran�a p�blica no Rio de Janeiro, do passado at� os dias de hoje. 

“PUREZA”

(Brasil, 2022, 102min., de Renato Barbieri, com Dira Paes e Fl�vio Bauraqui) – Estreia na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes, �s 14h e 18h30; no BH 7, �s 14h45 e 22h20; no Cidade 1 �s 15h05 (qui, sex, sab e qua), 19h05 (s�bado, seg, ter e quarta) e 13h35 e 17h45 (dom); no Cidade 3, �s 15h20 (dom); no Cidade 8, �s 14h30, 16h35, 18h40, 20h50 (qui e sex), 14h20 e 16h25 (seg e ter); Contagem 5, �s 14h20 (seg e ter); Contagem 7, �s 15h05 e 19h15 (qui e qua); Contagem 8, �s 14h e 21h10; Del Rey 4, �s 15h20 e 19h20; Del Rey 7, �s 13h30; Ponteio 4, �s 15h e 19h20 


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