'Stranger things' n�o perde o pique na quarta temporada, que estreia hoje

� dif�cil crescer, quanto mais em Hawkins, Indiana. Ap�s o hiato de quase tr�s anos, “Stranger things” retorna nesta sexta-feira (27/5) com sua quarta temporada. Muito maior, vale dizer. Sete dos nove epis�dios estreiam nesta semana – os dois finais, somente em 1º de julho. � uma narrativa longa – todos eles t�m mais de uma hora, sendo que o final, duas horas e meia.

Crescidos tamb�m est�o os atores. E tr�s anos, quando se � crian�a ou adolescente, faz uma diferen�a enorme. Mesmo que eles estejam mais velhos, a trama � ambientada apenas seis meses depois do ocorrido no terceiro ano, �poca em que a trupe principal ainda exibia fei��es infantis.

Em 2016, quando a s�rie dos irm�os Matt e Ross Duffer estreou, a Netflix reinava absoluta no streaming. Diminui��o de assinaturas – 200 mil assinantes foram perdidos no primeiro trimestre de 2022 –, corte do quadro de funcion�rios e queda do valor das a��es da plataforma v�m marcando este ano.

Ao contr�rio de 2016, a Netflix enfrenta, hoje, v�rias concorrentes. Ent�o, lan�ar agora uma das produ��es originais que se tornaram seu alicerce tem significado grande para a empresa. Com um pouco de cinismo, podemos relacionar o alongamento dos epis�dios para al�m de 60 minutos com o fato de que o p�blico vai gastar mais tempo na plataforma, o que, no final das contas, � o objetivo final do algoritmo da empresa.

Mas o que realmente importa para o p�blico (ou f�s, j� que “Stranger things” soma milh�es de seguidores mundo afora) � que o retorno vale a pena. Passado tanto tempo, a s�rie continua a fazer sentido, mantendo a relev�ncia e o n�vel da produ��o.

Para chegar � nova trama, � preciso relembrar como terminou a temporada anterior. Eleven (Millie Bobby Brown) derrotou o Devorador de Mentes no shopping local, e o xerife Hopper (David Harbour) quase se sacrificou para fechar o �ltimo port�o para o Mundo Invertido. Na batalha do shopping, Max (Sadie Sink) viu o irm�o Billy (Dacre Montgomery) ser morto pelo monstro.

Reencontramos a turma na primavera de 1986, �s v�speras do feriado da P�scoa. A fam�lia Byers (Joyce, papel de Winona Ryder, e os irm�os Jonathan, vivido por Charlie Heaton, e Will, interpretado por Noah Schnapp) se mudou para uma cidadezinha da Calif�rnia, com Eleven a reboque.

Sem poderes, ela tem “vida civil” como Jane. Namora Mike (Finn Wolfhard) a dist�ncia e n�o v� a hora de a pausa na escola chegar, pois ele vai visit�-la. Eleven est� com problemas de adapta��o – � v�tima constante de bullying no col�gio e esconde o fato de Mike, que acha que ela est� cercada de amigos.

Em Hawkins, Lucas (Caleb McLaughlin) integra (como reserva) o time de basquete da escola. Quer ser popular a todo custo, o que o distancia de Mike e Dustin (Gaten Matarazzo), que se juntaram ao Hellfire Club, grupo de alunos nerds que jogam Dungeons and Dragons liderados pelo desafiador Eddie (Joseph Quinn, uma das boas aquisi��es da nova temporada).

Traumatizado com a morte do irm�o, Max n�o quer papo com ningu�m – passa seus dias ouvindo “Running up that hill”, de Kate Bush, no walkman.

Steve (Joe Keery) e Robin (Maya Hawke) continuam melhores amigos e trabalham na locadora local. A irm� de Mike, Nancy (Natalia Dyer), est� se preparando para a faculdade de jornalismo. Sua inten��o � estudar ao lado de Jonathan, mas a dist�ncia de milhares de quil�metros parece ter desanimado o rapaz, que passa os dias experimentando novas sementes de canabis ao lado de Argyle (Eduardo Franco, outra �tima novidade), maconheiro f� de reggae que entrega pizza em uma van supercolorida.

Este momento “vida normal” dura pouco. Acontecimento envolvendo uma cheerleader, a rainha da escola em Hawkins, vai revelar nova amea�a. Vindo do Mundo Invertido, Vecna � realmente assustador. Do outro lado dos EUA, Eleven acaba descoberta depois do ataque em um rinque de patina��o e retorna para o laborat�rio.

Joyce, por seu lado, se aboleta ao lado do amalucado Murray (Brett Gelman) na jornada que a levar� da Calif�rnia ao Alasca e, de l�, para a Uni�o Sovi�tica.

 

Com a temporada estendida (s�o cinco horas a mais em rela��o aos anos anteriores), � preciso dar conta de muitas tramas envolvendo todos os personagens. “Stranger things” n�o perde o f�lego, mas o espectador ter� que dar conta de diferentes ambientes. Em dado momento, a s�rie conta com quatro n�cleos – o principal, de Hawkins; o da Calif�rnia, que logo vira road trip; o gelado, com Joyce � frente; e finalmente o de Eleven, que continua explorando sua hist�ria de origem.

A parte mais interessante da trama continua sendo a de Hawkins, que mant�m fidelidade � narrativa lan�ada seis anos atr�s. Na ca�a ao monstro Vecna, o grupo vai at� um hosp�cio, onde se encontra a figura deformada interpretada por Robert Englund – essa sequ�ncia homenageia tanto “O sil�ncio dos inocentes”, ao recriar o primeiro encontro de Clarice (Jodie Foster) e Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), quanto o principal personagem do veterano Englund, o assassino Freddy Krueger.

“Stranger things” mostra o seu melhor na intera��o dos personagens. Ainda que os quatro amigos e Eleven sejam protagonistas, neste novo ano n�o h� muitas divis�es. O melhor n�cleo da s�rie, pelo menos nos seis epis�dios disponibilizados para a reportagem, � formado pelo trio Steve, Robin e Nancy, os mais velhos da turma.

Os dois primeiros vivem uma rela��o plat�nica (ambos gostam de peitos, como Steve n�o se cansa de dizer a Robin). A garota, que entrou na trama na temporada passada, exibe verborragia incontrol�vel, o que acaba a aproximando da neur�tica Nancy.

Gaten Matarazzo continua garantindo boas tiradas a Dustin – e sua rela��o com Eddie, o metaleiro mais velho, suscita algumas risadas.

Com sua miscel�nea de g�neros – horror, suspense, com�dia, drama e sci-fi – e atirando para v�rios lados, “Stranger things” acerta v�rios deles, principalmente nas sequ�ncias em Hawkins, quando faz jus � hist�ria original.

A quarta temporada, com os epis�dios 1 a 7, estreia nesta sexta-feira (27/5), na Netflix. Os epis�dios 8 e 9 estreiam em 1º de julho