
O desenhista, gravador e professor Cl�bio Maduro apresenta a exposi��o “Col�nia”, no Centro Cultural UFMG, a partir desta sexta-feira (3/6). Gravuras e xilogravuras retratam os horrores vividos no manic�mio de Barbacena, que ficou estigmatizada como a “cidade dos loucos”.
Tema recorrente ao longo da trajet�ria art�stica de Maduro, o interesse em denunciar o que ocorria no Hospital Col�nia de Barbacena, criado em 1903, surgiu durante visita do artista � cidade, conhecida tamb�m como “capital das flores” devido a suas extensas planta��es de rosa.
Ex-professor de gravura da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maduro produziu as primeiras gravuras em matriz de metal a partir de cenas congeladas do document�rio “Em nome da raz�o” (1979), do cineasta Helv�cio Ratton, que denunciava viol�ncia e maus-tratos no hospital col�nia.
DITADURA
Criado perto de um manic�mio em Governador Valadares, Cl�bio revela que desde a juventude o tema lhe causaram assombro as interna��es compuls�rias de militantes de oposi��o durante a ditadura militar.“Assisti ao document�rio e, com toda a sinceridade, por uns dois, tr�s meses, n�o tinha um dia em que n�o pensava naquilo. Nas cenas, aquela coisa mais louca. N�o acreditava que aquilo era real. Quer dizer, acreditava, mas ao mesmo tempo n�o acreditava. A gente que trabalha com artes tem sensibilidade mais agu�ada. � muito dif�cil voc� n�o se comover e n�o registrar a cena que viu na sua mem�ria. Aquilo ficou registrado na minha”, revela.
A consci�ncia sobre o que ocorria em Barbacena o levou a duas incurs�es � cidade e suas cl�nicas psiqui�tricas. Maduro ouviu relatos de uma enfermeira internada no hospital col�nia, que deram origem �s xilogravuras.
“� muito forte. Se voc� 'isolar' as gravuras, os desenhos separados, n�o t�m nada de agressivo. N�o tem sangue jorrando ou gente sendo enforcada. Nada disso. Mas se voc� junta todas as imagens dentro de um contexto, a� voc� sente a pancada”, explica.
O trabalho de Cl�bio inspirou um poema de Am�lcar de Castro (1920-2002), �cone das artes pl�sticas brasileiras, de quem era muito amigo. Versos de “Holocausto feminino”, de 1989, relatam o abuso sexual de que as internas eram v�timas. A gravura “N�o toque o guizo” se refere ao sino tocado quando um estupro ocorria nas salas e corredores do hospital.
''Voc� tem de chegar perto e quase enfiar o nariz dentro da gravura. Minha inten��o � esta mesmo: chegue bem perto para sentir o cheiro da gravura, o cheiro da morte. O cheiro do sofrimento. N�o � bom, mas � verdade''
Cl�bio Maduro, artista pl�stico
Cl�bio convida profissionais da sa�de mental para conhecer seu trabalho. Ali�s, a curadora da mostra, Fernanda Medina, al�m de doutora em hist�ria da arte, � psiquiatra.
“A hist�ria terr�vel do que foi o Hospital Col�nia de Barbacena n�o pode passar em branco. Outras gera��es precisam ver o que aconteceu realmente no per�odo da ditadura militar. N�o eram s� 'doidos' que estavam l�, mas presos pol�ticos que ficaram 'doidos' de tanto tomar choque. Pude ver toda a aparelhagem”, afirma.
O artista diz que se trata de exposi��o pol�mica, � sua maneira. “N�o � aquele trabalho que voc� olha de longe e ele grita. N�o, voc� tem de chegar perto e quase enfiar o nariz dentro da gravura. Minha inten��o � esta mesmo: chegue bem perto para sentir o cheiro da gravura, o cheiro da morte. O cheiro do sofrimento. N�o � bom, mas � verdade”, afirma. De acordo com ele, os trabalhos existem para o Brasil “lembrar e n�o repetir” aquelas atrocidades.
“HOLOCAUSTO FEMININO”
. Poema de Amilcar de Castro
Andam entre mulheres nuas e expostas
Postas � venda
Vivas ou mortas
Ou quase
Na terra de son�mbulas
Os habitantes da solid�o.
� sil�ncio
A vida parou
A mem�ria estampa a multid�o est�tica
Que observa ap�tica.
O desenho � simples
Como feito na hora
Agora qualidade do n�o sabido
Gravado na madeira com sabedoria.
� um belo poema de Cl�bio Maduro
“COL�NIA”
Gravuras e xilogravuras de Cl�bio Maduro. Abertura nesta sexta-feira (3/6), �s 18h. Centro Cultural UFMG (Avenida Santos Dumont, 174, Centro). De ter�a a sexta, das 9h �s 20h; s�bado, domingo e feriado, das 9h �s 17h. At� 26 de junho. Classifica��o: 14 anos. Entrada franca
* Estagi�rio sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria