(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LITERATURA

Antonio Cicero analisa a obra de Ferreira Gullar hoje em BH

Poeta, letrista e fil�sofo carioca � o convidado do projeto Como ler..., do Minas T�nis Clube, em seu retorno ao formato presencial, nesta ter�a (14/6)


14/06/2022 04:00 - atualizado 14/06/2022 07:08

O escritor Antonio Cicero, de pé, vestindo camisa e paletó, sob fundo neutro, olha para a câmera
O poeta, fil�sofo e letrista Antonio Cicero conta que se encantou com a obra de Ferreira Gullar desde que leu, na biblioteca do pai, "A luta corporal" (1954), livro de estreia do maranhense (foto: Chico Cerchiaro/Divulga��o)

Em meados dos anos 1950, o adolescente Antonio Cicero tinha o mundo em sua casa. Na robusta biblioteca do pai, o economista Ewaldo Correia Lima, descobriu “A luta corporal” (1954), obra de estreia do escritor e poeta Ferreira Gullar (1930-2016). Dois poemas, “Galo galo” e “A galinha”, o impactaram sobremaneira.

“S�o realmente extraordin�rios. Eu n�o tinha rela��o nenhuma com bicho; foi como se os tivesse descoberto ali. ‘Galo galo’ mostra o hero�smo natural, enquanto ‘A galinha’ deixa a gente muito comovido”, comenta ele. Aos 76 anos, o escritor, poeta, fil�sofo e letrista carioca chega a Belo Horizonte para participar da primeira edi��o presencial do projeto Letra em Cena desde o in�cio da pandemia.

Nesta ter�a (14/6), no caf� do Centro Cultural Unimed-BH Minas, Cicero fala precisamente sobre a obra de Gullar, em conversa com Jos� Eduardo Gon�alves, curador do projeto. O impacto inicial s� fez com que ele, ao longo da vida, n�o apenas se aprofundasse no conhecimento da obra, como tamb�m se aproximasse do poeta maranhense.  

A ideia do Letra em Cena de hoje � falar sobre as diferentes fases da poesia de Gullar – poemas tamb�m ser�o lidos por Cicero, exemplificando cada per�odo abordado. “O primeiro livro (‘Um pouco acima do ch�o’, de 1949, que o pr�prio considerava imaturo e ing�nuo, tanto que n�o o incluiu nas edi��es de sua obra completa) reunia poemas metrificados, parnasianos. Quando ele conheceu a obra dos poetas modernistas – Drummond, Manuel Bandeira –, ficou muito impressionado, porque ali j� n�o eram versos rimados nem ritmados nem metrificados. Isso influenciou a feitura de ‘A luta corporal’”, explica Cicero.

DESIST�NCIA 

A ideia de Gullar, segundo Cicero, era de que “a poesia ia inventando a linguagem”. “Isso foi seguido de tal maneira que alguns poemas ficaram simplesmente ileg�veis. Ele mesmo percebeu, depois de um tempo, que tinha destru�do a pr�pria possibilidade da poesia. Gullar se mostrou um grande poeta logo, mas neste af� ele chegou a um ponto em que desistiu, pois achou que n�o dava para continuar.”

At� que entra nesta hist�ria o poeta e tradutor Augusto de Campos, que foi ao Rio de Janeiro depois de ler “A luta corporal” para convencer Gullar, que j� havia deixado S�o Lu�s e se radicado na capital fluminense, a entrar para o movimento concretista. Em 1956, ele participou da 1ª Exposi��o Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de S�o Paulo, encontro pioneiro das artes de vanguarda no pa�s.

Mais tarde, romperia com os concretos. Em 1957, no artigo “Da fenomenologia da composi��o � matem�tica da composi��o”, publicado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o poeta e tradutor Haroldo de Campos, irm�o de Augusto, afirmava que a poesia concreta seria feita, a partir de ent�o, de acordo com f�rmulas matem�ticas. “Era contra tudo o que ele queria”, aponta Cicero.

"Eu n�o era muito ligado � escola nem aqui nem l� (nos EUA). O que aconteceu � que meu pai, que era um intelectual, tinha como grandes amigos o (jurista, soci�logo e escritor) H�lio Jaguaribe e o (professor, reitor e escritor) C�ndido Mendes. Eles se encontravam muito e comecei a ouvir as conversas. Eu ficava ouvindo, n�o dava opini�o, pois era um garoto, e o que diziam teve um efeito inesperado em mim. Comecei a desprezar professores e alunos da escola, pois achava que n�o sabiam nada em compara��o a papai e aos amigos dele"

Antonio Cicero, poeta e letrista



Descontente com os rumos do movimento, Gullar abandonou o barco e, a partir de 1959, encabe�ou o Neoconcretismo, inaugurado com uma exposi��o no MAM-Rio. O grupo, do qual tamb�m fizeram parte duas Lygias (Clark e Pape), Amilcar de Castro, Franz Weissmann, entre outros, atuou at� 1961. 

“O caminho � comprido at� ‘Poema sujo’ (1976), que � o centro do trabalho dele. Mas eu considero que os maiores livros dele vieram depois”, afirma Cicero, citando como um de seus favoritos “Em alguma parte alguma” (2010), eleito o livro do ano pelo Jabuti de 2011.

BETH�NIA 

Ainda que a obra de Gullar tenha sido importante para o adolescente Antonio Cicero, outros autores tamb�m marcaram sua forma��o. Aos 12 anos, ele conta, emocionou-se com “Juca Pirama”, de Gon�alves Dias. Pouco depois, quando o pai assumiu um cargo executivo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a fam�lia se mudou para Washington.

“Eu n�o era muito ligado � escola nem aqui nem l�. O que aconteceu � que meu pai, que era um intelectual, tinha como grandes amigos o (jurista, soci�logo e escritor) H�lio Jaguaribe e o (professor, reitor e escritor) C�ndido Mendes. Eles se encontravam muito e comecei a ouvir as conversas. Eu ficava ouvindo, n�o dava opini�o, pois era um garoto, e o que diziam teve um efeito inesperado em mim. Comecei a desprezar professores e alunos da escola, pois achava que n�o sabiam nada em compara��o a papai e aos amigos dele”, conta.

A mudan�a para outro pa�s n�o produziu grandes efeitos at� que, no col�gio, os estudantes eram obrigados a ler uma pe�a de Shakespeare por ano. Cicero leu tudo, sobretudo as grandes trag�dias. “Decorei muita coisa de ‘Macbeth’, ‘Hamlet’ e, encantado por aquilo, passei a ler muita poesia inglesa e americana. Foi papai quem me fez voltar a ler poesia brasileira de novo, a� com outros olhos.”

No retorno ao Brasil, nos anos 1960, ele come�a a estudar filosofia – em 1969, � exilado em Londres, onde conclui a gradua��o. Escrevia poesia desde essa �poca – “O que eu achava que era poesia”, diz hoje Cicero. Nos anos 1970, retorna para os EUA para fazer p�s-gradua��o. Dez anos mais nova, a irm� Marina Lima foi com ele.

“Um dia, quando estava na faculdade, ela, sem eu saber, pegou um poema que eu tinha escrito e p�s m�sica nele. Quando cheguei fiquei danado, pois como aquela menina tinha coragem de mexer nas minhas coisas?”. � medida que ouviu, acabou gostando. 

O primeiro poema a virar can��o foi “Alma caiada”. “Quando viemos para o Brasil, mandamos para uma prima nossa, L�a. Ela trabalhava com Beth�nia e mostrou para ela, que cantou a m�sica, que acabou censurada. Mas s� o fato de a Beth�nia ter gostado e cantado fez Marina e eu nos considerarmos compositores”, comenta Cicero.

J� na estreia da irm� em disco, “Simples como fogo” (1979), ele foi parceiro dela em quatro das 10 can��es. Standards de Marina, como “Fullg�s” (1984) e “Pra come�ar” (1986), t�m letra dele. “A parceria come�ou com os poemas que ela musicava, mas, depois, a Marina j� me dava a m�sica e eu fazia a letra”, descreve.

Cicero acabou se tornando conhecido primeiramente como letrista, ainda que a poesia tenha vindo muito antes em sua trajet�ria profissional. Mas sua produ��o po�tica s� veio a ser publicada a partir de 1996, com o lan�amento de “Guardar”. Com uma consider�vel obra po�tica e ensa�stica, em 2017 ele foi eleito para ocupar a cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras.

“Para mim, � muito bom ter contato com poetas e romancistas que admiro muito”, diz ele, afirmando que a ABL voltou � rotina. As reuni�es semanais, sempre �s quintas, come�am �s 16h. “O tal ch�, t�o famoso, � na verdade um ch� que se toma antes de come�ar a sess�o de discuss�o.”

LETRA EM CENA
Como ler… Ferreira Gullar. Com Ant�nio C�cero. Nesta ter�a (14/6), �s 19h, no caf� do Centro Cultural Minas T�nis Clube, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Entrada franca. Inscri��es via Sympla


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)