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Estado de Minas MEM�RIA

Refer�ncia de moda e estilo, Danuza Le�o se transformou em escritora ousada

Modelo e atriz morta na noite desta quarta-feira (22/6), aos 88 anos, cruzou d�cadas se reinventando, sempre acompanhada da fama


23/06/2022 20:45 - atualizado 23/06/2022 20:46

Danuza Leão com um computador
A escritora e cronista de jornal ganhou dois pr�mios Jabuti (foto: Tatiana Constant/AE/ 27/10/2000)

Nunca houve mulher como Danuza. Com o perd�o do clich�, a morte de Danuza Lofego Le�o, aos 88 anos, v�tima de complica��es respirat�rias decorrentes de enfisema pulmonar, deixou o Brasil ainda mais triste, menos inteligente e muito, mas muito menos divertido.

A capixaba que virou garota (do balalacobaco) de Ipanema foi socialite e escritora. Atriz de Glauber Rocha e modelo. Jurada de TV (“Programa Fl�vio Cavalcanti’’) e “directrice” do R�gine e do Hippopotamus, casas de arromba da noite carioca. Sofreu o diabo quando perdeu o filho. Confessou que bebeu, sim, para enfrentar a tristeza. Brilhou tanto quanto a irm� Nara Le�o, a musa da bossa nova e da MPB.

PODER

Danuza Le�o conheceu os podres poderes de perto. Casada com o jornalista Samuel Wainer (1910-1980), homem forte de Get�lio Vargas, dono do jornal �ltima Hora, recebeu em casa os manda-chuvas do Brasil. Tem at� foto com Mao Ts�-Tung na China. Tamb�m conheceu o ex�lio.

Foi musa de Ant�nio Maria (1921-1964), o aclamado cronista autor do repert�rio de samba-can��o que fez hist�ria. A chique Danuza, m�e dos tr�s filhos de Wainer, deixou Samuel para viver seu amor pelo pobret�o, ciument�ssimo, gordo e brilhante pernambucano, autor do cl�ssico “Ningu�m me ama”. Ficaram juntos tr�s anos. Separaram-se, ela se juntou ao ex Samuel, em Paris. O ex-poderoso foi for�ado a sair do pa�s pela ditadura dos generais.

Danuza exibe vestido da fábrica brasileira Bangu
Danuza Le�o exibe vestido da f�brica brasileira Bangu no Castelo de Cobberville, na Fran�a, em 1952 (foto: Jos� de Sousa/O Cruzeiro/Arquivo EM/ 1952)

Danuza n�o ficou � sombra de ex-maridos ou de qualquer homem. Foi  assim desde jovem. Aos 10 anos, ela e Nara se mudaram para o Rio de Janeiro com a fam�lia, vindas do Esp�rito Santo. A primog�nita nasceu em Itagua�u, a ca�ula em Vit�ria. Aos 14, j� era amiga do pintor Di Cavalcanti e de Vinicius de Moraes, como lembrou o escritor Ruy Castro no artigo em mem�ria dela.

Na d�cada de 1950, em que mo�as eram criadas para se casar, Danuza, aos 18, iniciou carreira de modelo internacional em Paris, posando para o respeitado Jacques Fath. Chegou l� para divulgar o Brasil em megaevento promovido por Assis Chateaubriand, dono dos Di�rios Associados, propriet�rio do Estado de Minas.

Vestida de Maria Bonita, a garota brasileira desfilou a cavalo num castelo nos arredores de Paris. Ficou por l�, “ralou” como modelo de Fath muito antes da era Gisele B�ndchen. Enfrentou inverno, conquistou cora��es. “Foi em Paris que conheci o mundo da sofistica��o”, escreveu anos depois.

De volta ao Brasil, viu a bossa nova nascer no famoso apartamento de sua fam�lia, em Copacabana. Em 1967, o amigo Glauber Rocha a fez viver S�lvia em “Terra em transe”, marco do Cinema Novo, alegoria sobre a corrup��o pol�tica no Brasil. Teve tr�s filhos com Samuel Wainer: a artista visual Pinky Wainer, o distribuidor de cinema Bruno Wainer e Samuel Wainer Filho, jornalista da TV Globo que morreu em acidente de carro em 1984, aos 29 anos.

Danuza Leão, como Maria Bonita, e Arbousse Bastides, como Lampiã
Danuza Le�o, como Maria Bonita, e Arbousse Bastides, como Lampi�o, na festa realizada na Fran�a por Assis Chateaubriand, em 1952 (foto: Carlos/O Cruzeiro/ Arquivo EM/1952)

REINVEN��O

Danuza gostava de comprar apartamentos antigos por bom pre�o, quebrar tudo e transform�-los. Gosto estranho esse por reformas, confus�o com pedreiros. Nada estranho para a mulher que se reinventou na d�cada de 1980 como “rainha da noite carioca” durante oito anos, e na d�cada de 1990 como escritora e colunista de jornal.

A escritora surgiu em 1992, com “Na sala com Danuza”, manual de etiqueta descolado que se transformou em best-seller. “Vai contar uma hist�ria e sentiu que, exagerando, fica melhor? V� em frente, sem o menor pudor”, ensinou ela.

Outro mandamento: “� bom sempre tratar as pessoas da mesma maneira. Tratar melhor quando est� precisando de alguma coisa e mudar o tratamento quando n�o est� mais � uma vergonha. Quando acontece comigo (e acontece), fico p�ssima, me sinto usada, n�o tem sensa��o pior.”

O talento para a escrita, o olhar ir�nico (e tamb�m delicado) conquistaram muitos f�s da  cronista do Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo e O Globo, republicada no Di�rio da Tarde, em BH. Em 2004, lan�ou “Na sala com Danuza 2”. Em 2005, o livro de mem�rias “Quase tudo” fez imenso sucesso. Com ele ganhou o pr�mio Jabuti, merecidamente.

Ali, Danuza Le�o relembrou sua trajet�ria. Contou casos saborosos, �timas fofocas (algumas sem revelar nomes), soube emocionar. Rememorou os dias de profunda depress�o devido �s mortes de Nara e do filho Samuca. Bebeu, ficou na pior. Certo dia, acordou em sua cama, em casa. N�o sabe quem foi a alma caridosa que a levou at� l� ap�s v�-la mal num bar carioca.

O livro – todo mundo j� sabe, n�o � spoiler – mostra o recado de Danuza para mulheres que j� passaram dos 50. Em Paris, ela conhece um cubano, hospedado no mesmo hotel, num bar. Passa a noite com ele. Seu terceiro marido havia sido Renato Machado, hoje com 79 anos, conhecido jornalista que trabalhava na Globo.

Mais sucessos editoriais vieram com os livros “Danuza Le�o fazendo as malas” (2008, outro Jabuti), “Danuza Le�o de malas prontas” (2009) e “� tudo t�o simples” (2011).

Danuza Le�o sempre foi conhecida como mulher que fala o que pensa. Na �poca do governo Lula, disse que viajar para Paris “tinha perdido a gra�a”. Desculpou-se, mas pegou mal.

“Ir a Nova York ver os musicais da Broadway j� teve sua gra�a, mas, por R$ 50 mensais, o porteiro do pr�dio tamb�m pode ir. Ent�o, qual a gra�a? Enfrentar 12 horas de avi�o para chegar a Paris, entrar nas perfumarias que d�o 40% de desconto, com vendedoras falando portugu�s e onde voc� s� encontra brasileiros – n�o � melhor ficar por aqui mesmo?”, afirmou.

Vai contar uma hist�ria e sentiu que, exagerando, fica melhor? V� em frente, sem o menor pudor

Danuza Le�o, escritora


ME TOO

N�o se emendou. Atraiu a ira de muita gente ao comentar casos de ass�dio sexual que inspiraram o movimento Me Too.

“N�o acho que as den�ncias de ass�dio possam gerar uma ca�a �s bruxas, porque s�o uma coisa rid�cula, para come�o de hist�ria. � doloroso saber que uma mulher pode fazer uma acusa��o e tirar o emprego de um homem. � algo pecaminoso. Mas isso � coisa de americano. L� eles n�o t�m no��o de sexo. � �timo passar em frente a uma obra e receber um elogio. Sou desse tempo. Acho que toda mulher deveria ser assediada pelo menos tr�s vezes por semana para ser feliz. Viva os homens...”, escreveu ela.

Recebeu, digamos, resposta � altura. Os netos – Jo�o Wainer, fot�grafo e diretor de cinema, e Rita, estilista e artista visual – publicaram na internet um post t�o ir�nico quanto a av� j� fora outrora. Na foto, via-se o muro pichado com a frase “Minha av� t� maluca”. Letra de MC Carol para um funk de sucesso.

Esta foi Danuza: do so�aite ao pancad�o.

LIVROS

»  1992 – “Na sala com Danuza”
»  2004 – “Na sala com Danuza 2”
»   2005 – “Quase tudo”
»  2008 – “Danuza Le�o fazendo as malas”
»  2009 – “Danuza Le�o de malas prontas"      
»  2011 – “� tudo t�o simples”


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