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Estado de Minas ARTES VISUAIS

CCBB-BH abre hoje exposi��o coletiva que se interroga: 'que pa�s � este?'

''Brasilidade p�s-modernismo'' re�ne a partir desta quarta (29/6) obras que questionam a heran�a colonial e a influ�ncia do modernismo na cultura do pa�s


29/06/2022 04:00 - atualizado 28/06/2022 19:17

pintura em acrílica multicolorida 'Dancing', de Beatriz Milhazes, exposta no CCBB-BH
Acr�lica ''Dancing'', de Beatriz Milhazes, integra o segmento Est�tica, um dos seis eixos da exposi��o que ser� aberta hoje no CCBB-BH (foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A.PRESS)

“O avesso do avesso do avesso do avesso”, verso de “Sampa” (Caetano Veloso, 1978), � levado ao p� da letra na exposi��o “Brasilidade p�s-modernismo”, que ser� aberta nesta quarta (29/6), no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte. Mas, aqui, n�o � a cidade de S�o Paulo o foco, e sim todo o pa�s.

“Nos 100 anos do modernismo e 200 da Independ�ncia, estamos revendo preceitos e heran�as. Olhar o avesso � buscar algo mais que n�o foi narrado anteriormente. Ser� que as verdades s�o essas que foram ditas at� agora?”, questiona Tereza de Arruda, que assina a curadoria da exposi��o.

Para tal, foram reunidos trabalhos de 51 artistas brasileiros, boa parte deles atuantes no cen�rio da arte contempor�nea. Algumas das obras foram produzidas exclusivamente para a exposi��o – outra parte saiu do acervo dos pr�prios artistas. 

Seis n�cleos tem�ticos – Liberdade, Futuro, Identidade, Natureza, Est�tica e Poesia, temas trabalhados na Semana de 1922 – re�nem pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, instala��es e novas m�dias.  

J� exibida nas unidades do CCBB em S�o Paulo, Rio de Janeiro e Bras�lia, a mostra teve, at� o momento, p�blico de 70 mil pessoas. Encerra na capital mineira sua trajet�ria – a visita��o vai at� 19 de setembro. 

 18 xilogravuras do artista cearense Francisco de Almeida penduradas em formato de móbile no pátio do CCBB-BH
Conjunto de 18 xilogravuras do artista cearense Francisco de Almeida � a �nica obra exposta do p�tio do centro cultural; as demais est�o no terceiro andar (foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A.PRESS)

P�TIO

“Brasilidade” ocupa o terceiro andar, principal espa�o expositivo da institui��o. Apenas uma obra est� no p�tio, motivo de orgulho e emo��o para o artista cearense Francisco de Almeida. Dezoito xilogravuras est�o expostas em suspens�o na �rea, formando como que um m�bile de grandes propor��es.

“� a primeira vez que a obra do Francisco � apresentada desta forma. O trabalho dele � baseado na literatura de cordel e a nossa ideia era transform�-la em um grande varal. Os elementos v�m do sincretismo, religiosidade, das heran�as familiares, e o trabalho faz a liga��o da arte popular com a contempor�nea”, comenta Tereza. A disposi��o com que as xilos s�o apresentadas permite que o p�blico veja a frente e tamb�m o avesso de cada uma.

Francisco diz que tudo foi feito a partir da intui��o. “S� quando vi a primeira montagem, em S�o Paulo, entendi o que tinha feito. Eu chorei, como h� pouco tamb�m”, diz ele, que conferia a finaliza��o da montagem. Nascido em Cret�us, no sert�o cearense, e criado pela av�, ele utiliza em suas obras refer�ncias familiares: “Os bordados, as ora��es, a paix�o pelo m�stico e pela religiosidade”.

Ainda que seu trabalho tenha se voltado para a xilogravura, Francisco afirma que hoje o que faz n�o � mais xilo. “Talvez uma t�cnica mista, porque tem pintura, grava��o e um m�todo criado por mim que n�o � convencional. A gravura tradicional � prensada. No meu caso, � manual, com uma colher de pau”, conta ele, que realiza suas obras em uma mesa de casa.

No hall do terceiro andar, a mostra � aberta com trabalhos do paraibano Jos� Rufino. “Suas obras falam muito das rela��es burocr�ticas desde o per�odo colonial”, observa Tereza – o av� paterno do artista foi senhor de engenho. 

Tela mostra de um lado caipira com chapéu de palha, dois homens em banco de madeira sobre água de outro e uma galinha com pintinhos abaixo
Entre as obras escolhidas para a mostra h� pinturas, esculturas, instala��es e novas m�dias, como filme (foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A.PRESS)

FICH�RIO

Nas paredes, duas grandes telas criadas a partir de documentos originais, “uma heran�a da oligarquia”, trabalhadas sobre a maneira de Rorschach (t�cnica de avalia��o psicol�gica pict�rica, criada pelo psicanalista su��o Herrmann Rorschach). No centro, uma escultura formada por antigo fich�rio que est� literalmente enraizado. “At� que ponto toda a burocracia do p�s-colonial ainda est� enraizada na nossa exist�ncia?”, discute a curadora.

A primeira sala � a �nica a misturar artistas de diferentes segmentos tem�ticos. J� na abertura, nos deparamos com uma grande (e facilmente reconhec�vel) acr�lica de Beatriz Milhazes, “Dancing” – h� outras telas da artista carioca, de menor dimens�o. Milhazes pertence ao segmento Est�tica, por sua obra trazer ritmo, cor e sonoridade que representam a brasilidade.

No mesmo ambiente est�o trabalhos do eixo Identidade. Do paulista Alex Fleming h� duas fotografias de pessoas que representam as diferentes etnias do pa�s, imagens que integram espa�os p�blicos de S�o Paulo (a Esta��o Sumar� do Metr� e a fachada da Biblioteca M�rio de Andrade). Tamb�m paulistano, Fl�vio Cerqueira apresenta figuras em formato escult�rico (uma em bronze e quatro em pintura eletrost�tica sobre bronze) sobre pessoas que passam despercebidas no cotidiano das grandes cidades.

“O grande desafio foi fazer uma mostra coerente com a ideia e trabalhar com v�rias gera��es de artistas, divididos por diferentes segmentos”, diz Tereza. H� nomes incontestes da arte contempor�nea, caso de Cildo Meireles, Nelson Leirner, Tunga e Adriana Varej�o. 

Cildo, por exemplo, pertence ao segmento Est�tica, que exp�e alguns de seus trabalhos mais conhecidos, como “Inser��es em circuitos ideol�gicos”. A s�rie de 1970 consistia na reutiliza��o de objetos que, modificados, eram relan�ados no mercado com outra ideologia. Desta s�rie est� um exemplar do “Projeto Coca-Cola”, em que o artista gravava nas garrafas de vidro retorn�veis inscri��es: “Yankees go home!” � uma delas, s� vista quando a garrafa est� cheia do refrigerante.

O n�cleo Liberdade re�ne obras que fazem men��o � quest�o ind�gena, como um busto de madeira do mineiro Farnese de Andrade. “O t�tulo n�o oficial da obra � ‘O av�’, um oligarca que est� postado confortavelmente”, comenta Tereza. Um olhar com mais aten��o na parte de tr�s da pe�a traz uma imagem de um ind�gena, quase escondida.

Tal imagem est� em frente � obra da maranhense G� Viana, que re�ne na s�rie “Paridades” fotografias antigas de pessoas que comp�em a identidade brasileira com imagens de pessoas atuais. H� ainda, no mesmo segmento, alguns trabalhos de Anna Bella Geiger. Obra do acervo da artista, “Brasil nativo-Brasil alien�gena” re�ne 18 cart�es postais colocados lado a lado. Do lado direito est� a artista com sua fam�lia; no esquerdo, imagens de ind�genas. “Ou seja, a paridade que a G� Viana faz agora, a Anna Bella j� fazia nos anos 1970, propondo uma conversa horizontal”, acrescenta a curadora.

TAPETE

Esta conversa de que fala Tereza tamb�m acontece em outras obras da exposi��o. Artista cearense radicada em Berlim, Luzia Simons, que veio a BH para a abertura da mostra, criou para a exposi��o o tapete “�ndias Ocidentais”, obra de 9 metros de extens�o. Tal trabalho traz uma rela��o com o varal de xilos de Francisco de Almeida.

“A partir da leitura do direito e do avesso, estou utilizando justamente o avesso do tapete”, explica ela, que nesta parte do tapete bordou, � m�o, imagens com temas brasileiros, como plantas, frutas e ind�genas. O bordado, em dourado, � muito sutil. O lado direito, por assim dizer, do tapete, � visto somente na parte de tr�s – foi tecido na B�lgica, a partir de tulipas que a artista havia escaneado. 

O segmento Futuro destaca uma pintura de Oscar Niemeyer, uma das duas �nicas que o arquiteto realizou. O �leo sobre tela foi produzido em 1964, em Paris, quando Niemeyer estava exilado e desiludido com o golpe militar. H� refer�ncias sobre Bras�lia, que representou o futuro do pa�s, em serigrafias de L�cio Costa e um filme em Super-8 do cineasta Jorge Bodanzky, recuperado recentemente pelo Instituto Moreira Salles.

 A mostra termina com uma sala dedicada a Poesia. Traz desde trabalhos cl�ssicos de Augusto de Campos e Julio Plaza at� pinturas, a partir da escrita, de Arnaldo Antunes, seguindo com obras realizadas para a exposi��o, como pe�as do curitibano Andr� Azevedo, que faz bordado a partir da m�quina de escrever. 


“BRASILIDADE P�S-MODERNISMO”
Abertura nesta quarta (29/6), �s 10h, no Centro Cultural Banco do Brasil, Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios, (31) 3431-9400. Visita��o di�ria (exceto ter�a-feira), das 10h �s 22h. At� 19 de setembro. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados pelo site Eventim.


DEBATE COM ARTISTAS
Nesta quarta (29/6), �s 19h, haver� debate sobre a mostra “Brasilidade P�s-Modernismo” com a curadora, Tereza de Arruda, e os artistas Armarinhos Teixeira, Andr� Azevedo, Joaquim Paiva, Francisco de Almeida e Luzia Simons. Ap�s a conversa, o grupo ir� conduzir uma visita mediada � exposi��o. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados pelo site Eventim.


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