Banda Uganga junta thrash metal, hardcore, dub, rap e orix�s no EP 'Libre!'
Criado por Manu Joker, ex-Sarc�fago, grupo do Tri�ngulo Mineiro defende as ra�zes sul-americanas do Brasil e critica a 'rebeldia fabricada' da cena musical
Formada em 1993 por Manu Joker, Uganga prepara turn� do novo EP e a comemora��o de suas tr�s d�cadas (foto: Raphael Franco/Divulga��o)
Em 1989, Manu Joker era conhecido como dono das baquetas do Sarc�fago no EP “Rotting”, considerado um dos principais trabalhos da banda belo-horizontina de death/black metal. Quatro anos depois, o ent�o baterista e futuro vocalista seguiria outro caminho art�stico ao criar o Uganga, tendo o thrash metal e o hardcore como cerne, acrescentando a seu leque musical elementos oriundos do dub, do hip-hop, do cancioneiro regional (nordestino e mineiro, por exemplo) e do pop.
� beira de completar tr�s d�cadas, o grupo do Tri�ngulo Mineiro lan�a nesta sexta-feira (1º/7) o EP “Libre!”, cujo sugestivo t�tulo remete � liberdade t�o almejada e alcan�ada por seu l�der, acompanhado atualmente por Christian Franco (guitarra), Umberto “Growler” Buldrini (guitarra e voz), Raphael “Ras” Franco (baixo e voz) e Marco Henriques (bateria).
Uganga rejeita 'emp�fia' nacional
“A escolha (do t�tulo “Libre!”) se deu pelo fato de nos afirmarmos como parte de um �nico e diversificado povo na Am�rica do Sul. Somos filhos da mesma terra e das mesmas causas. Acho insano o Brasil s� olhar para a Am�rica do Norte ou para o outro lado do Atl�ntico, inclusive culturalmente. As coisas t�m melhorado, � claro, mas ainda rola uma certa emp�fia em rela��o ao resto do continente – para mim, uma tremenda burrice. A exclama��o deixa isso ainda mais claro, como um grito, uma declara��o”, diz.
A capa do EP, assinada por Artur Fontenelle, da Deadmouse Design, se entrela�a ao t�tulo e �s mensagens das letras. “Ela retrata elementos do cerrado mineiro, nossa casa. O c�o preto em frente ao pequizeiro e as caveiras fazem refer�ncia a Omulu, senhor da terra, da vida, das doen�as e da renova��o. O arame farpado remete a Exu, o mensageiro, e o carcar� se desfazendo em v�rios p�ssaros menores simboliza essa liberdade”, relata Manu.
Assim como outras obras da banda, o novo rebento do Uganga transita por v�rias sonoridades, sem deixar de lado o DNA do primeiro registro, “Atitude Lotus” (2002).
O vocalista comenta que o intuito de “mostrar as v�rias cores do Uganga de maneira nua e crua” foi crucial para gerar faixas com diferentes camadas, que se complementam.
“Elas criam a sensa��o de continuidade e unidade durante toda a audi��o.Tem velocidade, agressividade, calmaria, groove, m�sica eletr�nica, moderna e old school. Tudo isso � Uganga”, enfatiza.
A primeira amostra dessa versatilidade � “Terra dos ventos”, cart�o de visitas guiado por crossover metal/hardcore, com acento rap e a participa��o da vocalista Yasmin Amaral, da banda paulista de thrash Eskr�ta.
Lacradores na mira de Manu Joker
Em termos l�ricos, “Terra dos ventos” tem como alvo “os ‘humildes profissionais’ que se vendem como revolucion�rios, mas s� pensam em lacrar e fazer m�dia”, diz Manu.
“� sobre padroniza��o est�tica, rebeldia fabricada, hype, falsidade e modismos. Tenho visto muita mentira ser embalada como verdade, muita c�pia malfeita ser tratada como novidade por desinformados ou por quem lucra com a desinforma��o”, destaca.
Confira clipe de 'Lobotomia' (2020), sobre o holocausto brasileiro no hosp�cio mineiro de Barbacena:
J� “Mal vinda morte dos teus sonhos” emerge com faceta mais “et�rea”, enquanto homenageia Exu, um dos principais orix�s no candombl�.
“Exu � a liga��o entre nosso mundo e o mundo de l�, � conhecimento, for�a e, com certeza, liberdade e amor. A parte instrumental traz vibe mais gelada, algo que possa remeter ao black metal e se casa bem com a tem�tica, mas tem muito groove. Isso se repete nos vocais, na fus�o de backing vocals mel�dicos e et�reos com minha interpreta��o mais r�spida e old school, por�m num flow de rap”, define Manu.
"N�o deixamos de nos posicionar, mas nunca querendo dar palestra ou pagar de professor. (...) Acho muito chato em algumas bandas atualmente a obriga��o comercial de falar de tudo, inclusive do que n�o se acredita ou conhece para
buscar aprova��o"
Manu Joker, compositor e vocalista
A terceira faixa, “Alguidar”, traz mudan�a mais dr�stica na musicalidade do �lbum, com o metal cedendo lugar ao rap e ao dub. Algo que pode at� causar “espanto” a alguns ouvintes. “Consigo imaginar a cara de alguns desavisados (risos)”, comenta o vocalista.
“Acredito que uma das fun��es da arte seja espantar, chocar, tirar da zona de conforto; creio que todo radicalismo � nocivo. N�o est� entre nossas preocupa��es agradar a todos, assim como tamb�m n�o buscamos desagradar, � s� o Uganga sendo Uganga mais uma vez. Todos os nossos �lbuns t�m essas pequenas pontes mais experimentais. A letra � homenagem ao meu querido irm�o Juarez ‘Tibanha’ T�vora (da banda Cirrhosis), que nos deixou h� pouco tempo”, continua.
Manu diz que o Uganga jamais teve medo de se posicionar, inclusive com cr�ticas � administra��o de Jair Bolsonaro (PL). “Nunca levei esse governo a s�rio, lamento pelos que levaram”, sintetiza.
“Defendemos o que acreditamos, n�o deixamos de nos posicionar, mas nunca querendo dar palestra ou pagar de professor. � o pensar, o refletir que nos move, n�o o doutrinar”, ressalta. “Acho muito chato em algumas bandas atualmente a obriga��o comercial de falar de tudo, inclusive do que n�o se acredita ou conhece para buscar aprova��o. Lugar de fala � importante, mas � preciso saber o que falar para validar e respeitar esse lugar. M�scaras sempre cair�o”, afirma.
Uganga planeja turn� de 30 anos
Em 2023, a banda completa 30 anos. “� uma vida, cara! Ser� muito foda, de repente, fazer uma turn� tocando material de toda nossa discografia, convidar ex-integrantes, amigos, etc. J� pensamos em v�rias a��es: o ‘Libre! em vinil, relan�amentos, compila��o, disco de covers, split com outra banda, tour na Am�rica Latina ou at�, quem sabe, um novo trabalho de in�ditas”, diz Manu.
(foto: Artur Fontenelle/divulga��o)
“LIBRE!”
.EP da banda Uganga
.Sete faixas
.Xaninho Discos
.Dispon�vel nas plataformas digitais
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