Grupo de teatro celebra 15 anos com pe�a em que une atores e plateia

O grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum est� completando 15 anos de cria��o no mesmo momento em que come�a a retomar de forma sistem�tica as atividades, ap�s um per�odo de mais de mais de dois anos distante da presen�a f�sica de seu p�blico. 

Essa coincid�ncia de contextos � o que justifica a escolha do espet�culo “Fauna” – que cumpre temporada a partir desta quinta-feira (7/7), na Funarte MG, com entrada gratuita – para abrir as comemora��es pela d�cada e meia de trajet�ria da trupe.

Sexto espet�culo do Quatroloscinco, que estreou em 2016, “Fauna” � classificado pelo grupo como uma “pe�a-conversa”. Assis Benevenuto, que est� em cena ao lado de Marcos Coletta, com quem tamb�m assina a dramaturgia, observa que esta � a montagem que mais verticaliza a quest�o convivial do teatro. Em “Fauna”, n�o h� uma divis�o entre palco e plateia e, para que a pe�a aconte�a, � necess�ria a participa��o dos espectadores.

“O p�blico est� o tempo todo muito ativo. Digo que nesses dois anos e meio de impossibilidade do encontro, ‘Fauna’ foi a pe�a mais interditada do grupo. Durante a pandemia, apresentamos (a montagem) ‘Trag�dia’, sem p�blico, com transmiss�o ao vivo; n�o teria como fazer o ‘Fauna’ nesse modelo, por isso pensamos que, neste momento, era o espet�culo mais apropriado para iniciar as comemora��es por esses 15 anos”, explica Benevenuto.

Inspirado na obra “O circuito dos afetos: corpos pol�ticos, desamparo e fim do indiv�duo”, do fil�sofo Vladimir Safatle, o grupo explora, com “Fauna”, temas como viol�ncia, desejo, liberdade e desamparo. Os dois atores em cena convidam o p�blico a refletir sobre as afetividades entre corpos e discursos, que se misturam e se confundem, para desconstruir identidades.

Benevenuto considera que essa celebra��o vem muito a prop�sito n�o s� pelo per�odo dif�cil que o Brasil e o mundo passaram e ainda passam no que diz respeito � quest�o sanit�ria, mas tamb�m pelo ato de resist�ncia que � manter um grupo de teatro por tanto tempo. Ele acredita que as aspira��es que atravessavam os fundadores da trupe h� 15 anos foram levadas a cabo de maneira satisfat�ria.

“Quando um grupo de teatro com uma carater�stica muito coletiva completa 15 ou 20 anos – e a� eu penso no Galp�o, que est� fazendo 40 –, eu acho que sim, cumprimos e estamos cumprindo o nosso desejo enquanto artistas”, diz, acrescentando que a batalha para se manter n�o se limita �s dificuldades recentes, relativas � pandemia e ao cen�rio pol�tico.

“O Brasil � um pa�s que, historicamente, n�o valoriza a arte; a quest�o comercial sempre falou muito mais alto”, diz. Ele observa, contudo, que, ao longo desse percurso, o Quatroloscinco encontrou seu caminho. “Um grupo de teatro se faz durante a trajet�ria. � diferente de quando voc� cria um projeto empresarial, que � um neg�cio em que voc� sabe o que vai vender, para qual p�blico, quais metas precisa alcan�ar. Num grupo de teatro, � s� depois de alguns anos que voc� entende o que est� fazendo”, ressalta.

O ator e dramaturgo observa que os mecanismos que abrem espa�o para as express�es art�sticas – leis de incentivo, festivais, circula��es, ocupa��es – foram alvejados politicamente ao longo dos �ltimos anos. Apesar disso, o Quatroloscinco projeta um calend�rio de atividades comemorativas que se estende at� 2023.

“Comemorar �, tamb�m, uma luta, uma atitude de resist�ncia, porque, de outra forma, como produzir? A gente quer comemorar fazendo teatro, junto do p�blico”, pontua. No segundo semestre deste ano, o grupo se dedica ao projeto Encontro Comum, que vai gerar tr�s cria��es c�nicas in�ditas dirigidas pelos convidados Eid Ribeiro, Sara Rojo e Ricardo Alves Jr. A estreia dessas cria��es est� prevista para o final do ano.

“Estamos come�ando a trabalhar nesse projeto, que consiste na cria��o de tr�s experimenta��es c�nicas. Convidamos esses tr�s diretores para compartilharem com a gente. Cada um est� partindo de um lugar diferente. � uma forma que encontramos para refletir sobre esses 15 anos, que n�o s�o s� nossos; � uma reflex�o social, pol�tica, metaf�rica, que pensa n�o s� o que foi, mas tamb�m o que vir�. Tamb�m estamos estruturando outras coisas. Queremos apresentar outras pe�as do repert�rio, promover oficinas, conversas e atividades afins”, adianta.

Na sess�o de “Fauna” do pr�ximo s�bado, haver�, antes da apresenta��o da pe�a, um bate-papo com a cr�tica e pesquisadora Julia Guimar�es Mendes, da Faculdade de Letras da UFMG, sobre o tema “Rela��es com o p�blico na cena convivial”, a partir das 15h30.

“O que nos interessa nesse aspecto convivial em ‘Fauna’ � a gente se dar conta desse coletivo que n�s somos, n�o s� enquanto grupo, mas como sociedade, e da impossibilidade que existe, filosoficamente, de a gente fazer acordos plenos, entender plenamente o outro; s� que isso n�o pode fazer com que a gente n�o consiga viver coletivamente”, diz, antecipando os caminhos que a conversa deve percorrer.

Com o grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum, a partir desta quinta-feira (7/7) at� o pr�ximo domingo, sempre �s 19h30, na Funarte (Rua Janu�ria, 68, Floresta). Entrada gratuita, com retirada de ingressos no local a partir de 18h30. Lota��o: 80 pessoas.