
Dois homens, um que tem todo o tempo do mundo e outro que quer fazer tudo o que puder no per�odo que lhe resta, est�o no centro do longa-metragem “A queda”. A produ��o mineira, rodada em Cataguases e Leopoldina, na Zona da Mata, e em Belo Horizonte, chega aos cinemas na pr�xima quinta-feira (14/7). Dirigida por Diego Rocha, traz nos pap�is principais Daniel Rocha e Gracindo J�nior.
Eles s�o Beto e Gera, av� e neto. Fot�grafo forense, Beto vive com o homem mais velho, que o criou. H� alguns pontos de atrito, pois o av�, querendo aproveitar o m�ximo poss�vel, se descuida da sa�de. Impaciente com o neto certinho, d� suas escapadelas sempre que pode.
A virada de chave se d� quando Beto come�a a acompanhar a investiga��o da morte de um rico empres�rio de 75 anos. Enquanto estava acamado, o homem caiu do s�timo andar de um hospital. Para o respons�vel pelo caso, o delegado Nogueira (Rodrigo dos Santos), n�o h� d�vidas de que tenha sido suic�dio.
AMANTE
Beto acha a hist�ria estranha. O empres�rio havia acabado de mudar seu testamento, incluindo nele a jovem amante B�rbara (Juliane Guimar�es). Desta maneira, o casal de filhos teria que dividir os milh�es do pai. Por conta pr�pria, o fot�grafo come�a a frequentar o hospital. L� conhece a m�dica Ana (Branca Messina), com quem acaba se envolvendo.
“A queda” passeia entre g�neros – tem um forte teor dram�tico, mas com muitas nuances de thriller. “Eu queria fazer uma hist�ria de amizade. No in�cio, nem era av� e neto, mas pai e filho”, conta Diego Rocha.
A partir de uma situa��o particular – um exame de tomografia computadorizada, em que teve que assessorar sua m�e e sua av�, que acabou sendo levada para o filme – o diretor e roteirista mudou os protagonistas. “Quis colocar duas pessoas de gera��es bem diferentes e com objetivos diferentes tamb�m.”
Nascido em Divin�polis, o cineasta, depois de viver em Belo Horizonte, mudou-se para Londres, onde est� h� 15 anos. Foi l� que estreou na dire��o de longas, no terror “Writers retreat” (2015, n�o lan�ado no Brasil). “A queda” � seu primeiro longa feito no Brasil.
Othon Bastos foi a primeira op��o de Diego para o papel de Gera. Ele chegou a ler o roteiro, mas quando o filme foi ser rodado, o ator j� tinha assumido outro compromisso. “Ele me disse que iria indicar um amigo, o Gracindo J�nior. Mandei o roteiro para ele �s tr�s da tarde; �s oito ele me respondeu: ‘Esta � a minha vida, quero fazer o filme’”, relembra Diego, acrescentado que n�o imagina hoje outro ator para o papel. “Ele � engra�ado, extrovertido, tinha muito a ver com o personagem”. Gera foi inspirado em tr�s amigos de Diego.
MEM�RIA
Quando foi chamado para o filme, Daniel Rocha tinha acabado de fazer o pugilista Acelino “Pop�” Freitas na s�rie “Irm�os Freitas”. “A hist�ria de um av� e um neto em que o papel se inverte, em que o mais novo se torna como um pai do av� me pegou. Todo o mundo vai passar por envelhecimento, perda de mem�ria. E o filme � muito sobre os dois, ainda que tenha suspense”, diz o ator.
Criado pelos pais sem os av�s por perto, Daniel n�o tinha muito presente esta rela��o em sua vida. “Foi interessante viver isto de outra maneira”, comenta ele, que assistiu a v�rios filmes sobre envelhecimento. Destaca “Amor” (2012), de Michael Haneke, vencedor do Oscar de Filme Internacional. “� uma rela��o muito bonita de despedida, do tempo contado, da hora que vai chegar, seja amanh� ou daqui a um m�s.”
“A queda” traz uma trama urbana, mas metade do filme foi rodado entre Cataguases, Leopoldina e lugarejos pr�ximos – o filme contou com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), patroc�nio da Energisa (cuja sede fica em Cataguases), via Lei de Incentivo � Cultura de Minas Gerais, e apoio do Polo Audiovisual da Zona da Mata.
As filmagens come�aram na Zona da Mata – inclusive a cena final, rodada em uma casa do interior. “Filmamos tamb�m em Cataguases muitas cenas internas. A delegacia � l�, como tamb�m a casa de repouso. At� mesmo a casa do Beto e Gera, que foi rodada em um s�tio. Em Belo Horizonte, exploramos muito a noite, com v�rias externas, pois gosto de planos abertos”, conta Diego.
Ainda que Belo Horizonte n�o seja identificada no filme, a cidade � facilmente reconhec�vel. H� uma cena que mostra uma placa indicando a Savassi, outra rodada no estacionamento S�o Jos�, no Centro, conhecido por ter elevadores para carros. O hospital tamb�m � em BH – o Mater Dei da Avenida do Contorno, que, na �poca da filmagem, no final de 2018, estava com os �ltimos andares desocupados.
“Foi um achado, pois (um hospital) seria muito dif�cil e caro de reproduzir. E eu queria ter realismo”, diz o diretor. As sequ�ncias no hospital contam com a participa��o de v�rios rostos conhecidos do teatro mineiro. Chico Pel�cio, do Galp�o, interpreta um m�dico, enquanto Rodolfo Vaz faz um doente terminal. Gustavo Werneck � o diretor do hospital, Jefferson da Fonseca, o filho do empres�rio morto, e Beth Grandi a respons�vel pela casa de repouso.
A “Rua Guaicurus” em filme
Outro filme mineiro deve chegar aos cinemas nesta semana. Primeiro longa-metragem de Jo�o Borges, “Rua Guaicurus” combina documental e fic��o para tratar do universo da prostitui��o na via hist�rica de Belo Horizonte. Desde 1950, a rua no Baixo Centro da cidade abriga hot�is em que trabalham profissionais do sexo.
O longa partiu de um intenso processo de pesquisa, iniciado em 2016, quando Borges participou de uma resid�ncia art�stica em parceria com a Associa��o das Prostitutas de Minas Gerais (APROSMIG), realizada nos hot�is da regi�o. Na �poca, ele produziu uma s�rie de imagens usando uma c�mera de infravermelho, registrando as trabalhadoras do sexo e seus clientes nos quartos.
O roteiro acompanha tr�s mulheres. Uma delas, a mais jovem e inexperiente, acaba de chegar � rua para iniciar a vida na prostitui��o. A segunda, mais experiente, recebe, acolhe e d� conselhos � novata. E a �ltima, mais velha, decide voltar para sua cidade de origem, no interior.
O roteiro acompanha tr�s mulheres. Uma delas, a mais jovem e inexperiente, acaba de chegar � rua para iniciar a vida na prostitui��o. A segunda, mais experiente, recebe, acolhe e d� conselhos � novata. E a �ltima, mais velha, decide voltar para sua cidade de origem, no interior.
As hist�rias que as personagens apresentam foram tiradas de casos relatados ao diretor pelas profissionais na �poca da pesquisa. Uma das atrizes � Elizabeth Miguel, que trabalhou na Guaicurus at� 2017, �poca em que conheceu Jo�o Borges.