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Estado de Minas LIVRO

Marjorie Estiano exp�e seu m�todo de trabalho em livro sobre atua��o

Ela e Claudia Ventura, Cristina Pereira, Maria Esmeralda e Patr�cia Pillar foram entrevistadas por Helena Varvaki para escrever "Ator: Um artes�o de si mesmo"


31/07/2022 04:00 - atualizado 31/07/2022 10:22

Vista da plateia vazia e do palco do teatro La Scala sendo preparado para apresentação de peça teatral no Festival de Avignon
Palco do teatro La Scala � preparado para receber sess�o do 76� Festival de Avignon (Fran�a), no �ltimo dia 5 (foto: Nicolas TUCAT / AFP)

A literatura voltada para o teatro e as artes da representa��o, de forma geral, oferece muitos textos dramat�rgicos e biografias de grandes nomes da cena. S�o raros, contudo, t�tulos dedicados � reflex�o sobre o of�cio do ator. Ciente dessa lacuna, a atriz, diretora e professora de teatro Helena Varvaki resolveu se debru�ar sobre a quest�o para sua disserta��o de mestrado em teatro na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

A pesquisa teve in�cio nos primeiros anos da d�cada passada e tomou como ponto de partida entrevistas com cinco atrizes de diferentes gera��es, orientadas pelo texto “O artista e o artes�o”, de M�rio de Andrade. Mesmo depois de conclu�do o mestrado, Helena seguiu burilando o texto, e o resultado � sua estreia como escritora, com o livro “Ator: Um artes�o de si mesmo”, que ser� oficialmente lan�ado na pr�xima quarta-feira (3/8), no Rio de Janeiro.

As atrizes entrevistadas para a feitura da obra s�o Claudia Ventura, Cristina Pereira, Maria Esmeralda, Marjorie Estiano e Patr�cia Pillar. O foco das conversas foi como cada uma, com sua inquietude e modo particular, vive o processo de cria��o e lida com os desafios de seguir na profiss�o.

Aspectos da cria��o 

Helena aponta que o fio condutor dessas entrevistas passa por tr�s aspectos da cria��o presentes em “O artista e o artes�o”, que ela relacionou com o trabalho do ator. “Nesse texto, M�rio de Andrade fala do artesanato, que � a nossa capacidade de mover o material, lidar com o material da nossa arte; da virtuosidade, que � a tarefa de aprender com quem veio antes; e da solu��o pessoal, que � a singularidade que cada um aplica ao trabalho”, detalha.

Ela conta que, escolhidas as cinco atrizes que entrevistaria, preparou um mesmo question�rio para elas, que foi o estopim das conversas que se seguiram. A partir das trocas com essas mulheres, da sua pr�pria experi�ncia e da inspira��o no texto de M�rio de Andrade � que nasce “Ator: Um artes�o de si mesmo”.

“O meu intuito ao lan�ar este livro � dialogar com os atores no sentido de assumirmos nossa pot�ncia nas obras das quais somos parte no processo de cria��o. � s� trabalhando sobre n�s mesmos, conhecendo nosso of�cio, nos aprimorando como artistas, � que podemos conseguir isso”, destaca Helena.

Mulheres pr�ximas 

Ao pensar nas atrizes com as quais iria conversar para escrever o livro, ela aponta que, al�m da quest�o geracional, contemplando diferentes faixas et�rias, quis delimitar um c�rculo de mulheres pr�ximas. “Com as cinco, eu, de alguma maneira, tinha uma rela��o pr�via”, diz.

Com Maria Esmeralda, ela lecionou lado a lado na d�cada de 1990; com Cristina Pereira e Cl�udia Ventura, fez alguns espet�culos, atuando como atrizes; em rela��o a Patr�cia Pillar, conta que fez o trabalho de prepara��o corporal dela em muitos espet�culos; e Marjorie Estiano � sua aluna no curso de interpreta��o que ministra h� mais de 10 anos.

“Escolhi essas atrizes para que a conversa pudesse ir para um ambiente de intimidade, que escapasse de um lugar an�dino, onde n�o se fala dos meandros. O livro tem essa caracter�stica de falar da lida do ator por dentro, por meio da voz de quem vive isso, com os momentos alegres dessa profiss�o, que s�o assustadores, e os momentos de ang�stia, que tamb�m s�o assustadores”, ressalta.

Mudan�as no of�cio 

N�o escapa a Helena nem �s suas entrevistadas o fato de que, por diferentes raz�es, o of�cio do ator tem sofrido mudan�as ao longo dos �ltimos tempos. Seja pelas novas configura��es na esfera da arte e do entretenimento que o ambiente digital e as redes sociais t�m moldado, seja pelo cen�rio pol�tico e social do pa�s ou, ainda, pela chegada da pandemia, que durante um longo per�odo colocou em suspenso a possibilidade do encontro – que, afinal, est� na ess�ncia do teatro.

Cl�udia Ventura identifica mudan�as n�o apenas intr�nsecas ao of�cio, mas na pr�pria forma de se realizar espet�culos e promover a circula��o de trabalhos – o que se relaciona com o cen�rio pol�tico. “Acredito que tenha havido uma mudan�a substancial na maneira de se fazer as coisas. H� algum tempo, a gente contava mais com mecanismos de fomento, mas ficamos muito �rf�os nos �ltimos anos. Falo n�o s� como atriz criadora, mas tamb�m como produtora”, diz.

Ela destaca que esse novo panorama acabou por tomar conta do fazer coletivo no meio art�stico. “N�s, atores e companhias de teatro, come�amos a realizar nossos pr�prios projetos, sendo produtores de n�s mesmos, por causa dessa realidade. Para al�m disso, existe a vontade de dizer alguma coisa, como donos do nosso trabalho”, aponta.

Rela��o madura 

Integrante do grupo teatral O Grelo Falante e coautora do seriado “Garotas de programa”, exibido em 2000 pela Rede Globo, ela diz que conhece Helena desde o in�cio dos anos 1990, quando, conforme aponta, pensar o teatro j� fazia parte de suas pr�ticas cotidianas. 

“Nossos encontros sempre foram envoltos em comemora��o, em festa, em alegria e tamb�m em reflex�o. A gente se acompanha h� muitos anos, ela v� meus espet�culos, eu vejo os dela, ent�o h� uma maturidade na nossa rela��o, por isso acredito que ela me fez esse convite”, afirma.

A chegada da pandemia tamb�m teve um impacto grande no fazer art�stico, segundo Cl�udia. “Durante o per�odo de isolamento, acabamos realizando muitas coisas de forma solit�ria, fazendo pequenas grava��es em casa, por exemplo. A gente teve que se reinventar para sobreviver, no sentido de n�o parar de criar. Isso tem um reflexo no momento atual, quando muitos projetos passam a acontecer em formatos reduzidos; mon�logos, montagens pequenas”, avalia.

Redes sociais 

No que diz respeito �s mudan�as provocadas pelo espa�o que as redes sociais ocupam atualmente na vida cotidiana, ela considera que existam aspectos positivos e negativos. Por um lado, h� a quest�o dos algoritmos, do alcance, de se medir o quanto um ator vale em fun��o do n�mero de seguidores que ele tem. “Esse � o lado ruim, porque, de repente, voc� tem pessoas que est�o falando para muita gente e que, na verdade, n�o est�o falando para ningu�m”, aponta.

O aspecto positivo, ela diz, � que as redes sociais trouxeram a possibilidade de atores e produtores divulgarem seu trabalho sem intermedia��es. “� um caminho mais democr�tico. Antes, a gente tinha que ter grana para fazer an�ncios, porque os espa�os de m�dia eram muito caros. Agora, as redes ajudam nesse sentido, amplificam nossa voz”, destaca.

Movimento reativo 

Helena, por sua vez, acredita que todos esses vetores de mudan�as no cen�rio das artes dram�ticas redundam em um movimento reativo, imbu�do de gana. Ela conta que, durante a pandemia, fez um curta-metragem focado em uma atriz que est� se preparando para fazer uma personagem e esse processo � for�osamente interrompido. “Essa atriz do curta atravessa a dor da perda e recria. Acho que a gente est� recriando”, diz.
“Eu acho – e sinto isso nas pessoas com quem trabalho – que ficamos com mais vontade ainda, estamos mais desejosos de nos dedicarmos ao trabalho. Teve essa dor muito grande da perda, provocada pela pandemia, e por mais brutal que seja este momento que estamos vivendo, com esse boicote � cultura, eu sinto que estamos ficando ainda mais fortes”, acrescenta.

Ela acredita que o maior desafio de ser ator nos dias atuais � justamente manter a conex�o com o desejo, n�o perder a dignidade, n�o perder o foco e seguir trabalhando, mesmo que as condi��es sejam muito adversas. “� seguir trabalhando e seguir se trabalhando. O livro trata muito disso e n�o por acaso tem esse nome, ‘artes�o de si mesmo’. Mesmo nos momentos em que n�o estamos conectados com algum trabalho espec�fico, � fundamental n�o estagnar, n�o ceder”, ressalta.

Qualidade da carpintaria 

Para Cl�udia Ventura, o desafio do ator no tempo presente reside em saber o que dizer e, sobretudo, como dizer. Ela observa que espet�culos muito impactantes, com quest�es prementes e pautas identit�rias, t�m vindo � cena, mas que, com frequ�ncia, eles sofrem com a “qualidade da carpintaria”.

“A gente tem muito o que dizer e �s vezes voc� tem um conte�do importante para ser dito, mas isso acaba recaindo num lugar de palanque, que n�o tem a ver com a cena teatral. Esse livro chega em boa hora, porque ele reafirma a ideia da artesania; a gente est� tecendo espet�culos, tecendo uma dramaturgia c�nica, textual, em di�logo muito intenso com o nosso tempo. Esse pensamento � o que mais me move neste momento”, salienta.

J� Helena diz que � movida pela necessidade, e que este � outro aspecto que ela trabalha em “Ator: um artes�o de si mesmo”. Ela chama de “necessidade querida” aquela que se coloca para al�m da subsist�ncia ou dos afazeres cotidianos.

“� aquilo que a gente precisa para viver. � necess�rio fazer o que se faz para a vida n�o ficar meio sem sentido. Percebo isso em mim e nos meus pares. Quando estou trabalhando, a vida ganha sentido; quando n�o, voc� fica sem rumo, se limita a acordar, pagar as contas, comer, voltar a dormir. A necessidade querida � aquela de quem encontra na arte, por exemplo, um sentido para viver.”

“ATOR: UM ARTES�O DE SI MESMO”
• Helena Varvaki
• Editora C�ndido (216 p�gs.)
• R$ 84 


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