
"Curiosamente, a COVID-19 atacou somente os seres humanos, n�o nossos animais de estima��o. Era uma clara mensagem da M�e Terra aos humanos para que parassem de desflorestar, de eliminar os habitats dos v�rus e bact�rias. Mas ningu�m lhe d� ouvidos"
O te�logo Leonardo Boff, de 83 anos, chega nesta quarta (3/8) a Belo Horizonte para uma tripla jornada. At� sexta-feira (5/8), participa de tr�s encontros/palestras, todos com entrada franca: hoje no Armaz�m do Campo; amanh� no projeto Sempre um Papo; e na sexta no Tribunal de Contas.
Assunto n�o vai faltar. No per�odo da pandemia Boff escreveu seis livros, quatro deles j� lan�ados: “O pescador ambicioso e o peixe encantado: a busca da justa medida”, “Habitar a Terra: qual o caminho para a fraternidade universal?”, “COVID-19: A M�e Terra contra-ataca a humanidade” e “O doloroso parto da M�e Terra: Uma sociedade de fraternidade sem fronteiras e de amizade social”, todos pela Editora Vozes.
Al�m disto, a Planeta est� relan�ando uma de suas obras mais conhecidas. Vinte anos depois de sua publica��o original, “O casamento entre o C�u e a Terra – Contos dos povos ind�genas do Brasil”, ganha nova edi��o com ilustra��es da artista ind�gena Daniela Ramos e apresenta��o do escritor Daniel Munduruku.
Na entrevista a seguir, Boff fala sobre pandemia, elei��es, meio-ambiente, quest�o ind�gena, amor e livros – tem uma centena deles j� publicados. “Sempre que me perguntam sobre o que fa�o na vida, digo que sou um trabalhador que usa um instrumento, o alfabeto.”
"Este pleito possui a dimens�o de um plebiscito: que pa�s queremos? Um pa�s dominado pelas mentiras oficiais como pol�tica de Estado, pela exalta��o da viol�ncia e at� da tortura, da discrimina��o e �dio contra os pobres... ou um pa�s no qual vale a pena viver, trabalhar e sustentar a fam�lia?"
Pessoalmente, a pandemia foi um per�odo muito produtivo para o senhor, certo?
Eu fui, desde jovem, um trabalhador das letras. Foi assim que escrevi mais de 100 livros, alguns em outras l�nguas. � um trabalho �rduo, trabalhar com 25 s�labas, formar frases, das frases construir um pensamento e culminar com um livro. � um instrumento sutil e fragil�ssimo. Mas sempre que me perguntam sobre o que fa�o na vida, digo que sou um trabalhador que usa um instrumento, o alfabeto. Durante a pandemia, como observei estritamente o tempo de reclus�o social, acabei escrevendo seis livros, dos quais quatro j� sa�ram. O que melhor aceita��o teve foi ‘O pescador ambicioso e o peixe encantado: a busca da justa medida’. Houve outro que saiu antes, em Roma: ‘Habitar a Terra: qual o caminho para a fraternidade universal?’, que teve a honra de ser lido pelo papa. Nele, tento refletir sobre o seu sonho na enc�clica ‘Fratelli tutti’, de uma fraternidade universal e de um amor social.
Pandemia, guerra, conflitos de toda ordem em todo o mundo. A M�e Terra tem tentado mostrar para a humanidade que h� algo muito errado. Acredita que governos e sociedade civil est�o atentando para tantos sinais?
Vejo que grande parte da humanidade, especialmente os chefes de Estado, os gerentes das grandes corpora��es, n�o tiraram nenhuma li��o da pandemia. Pensam em retornar ao que era antes, exatamente �quela situa��o que provocou a intrus�o do v�rus. Curiosamente, a COVID-19 atacou somente os seres humanos, n�o nossos animais de estima��o. Era uma clara mensagem da M�e Terra aos humanos para que parassem de desflorestar, de eliminar os habitats dos v�rus e bact�rias. Mas ningu�m lhes d� ouvidos, pela simples raz�o de que os ‘donos do poder e do dinheiro’ deveriam trocar o modo de produ��o, de acumula��o, de consumo e sua rela��o destrutiva para com a natureza. Temo que se n�o cuidarmos, o v�rus pode conhecer variantes, uma das quais poder� ser t�o potente que as vacinas se tornem quase ineficazes, e dizime milh�es de seres humanos. Seria o justo castigo de nossa irresponsabilidade para com a M�e Terra, superexplorada a ponto de que precisamos de uma Terra e meia para atender o consumismo humano.
Al�m dos t�tulos in�ditos, tamb�m est� sendo lan�ada uma nova edi��o de “O casamento entre o C�u e a Terra”. A quest�o ind�gena, urgente em 2001, quando do lan�amento da obra, se tornou ainda mais relevante nos dias de hoje. Houve mudan�as na obra?
A conselho de Darcy Ribeiro reuni os 30 melhores contos e mitos das culturas ind�genas que se referissem a uma rela��o amig�vel para com a natureza. Acrescentei uma longa parte sobre onde se situam hoje as na��es ind�genas, suas l�nguas, sua contribui��o � nossa cultura e � cultura mundial. Fiz poucas mudan�as, mais nos dados. O t�tulo me foi sugerido pelos samis (esquim�s) ind�genas da Su�cia. Quando encontrei, quase no topo do mundo, tr�s caciques, colocaram-me a primeira pergunta: ‘Os �ndios do Brasil casam ainda o C�u com a Terra?’ Eu captei logo a mal�cia e respondi: ‘L�gico, eles mant�m esse casamento porque deste casamento nascem todos os seres.’ E eles, felizes, disseram: ‘Ent�o s�o ainda ind�genas’. A maioria dos suecos n�o cr� no C�u, s� na Terra. Por isso s�o infelizes e muitos se suicidam. O sentido do livro � para mostrara a concep��o integral que eles, os ind�genas, possuem, e que n�s perdemos j� h� muito tempo e precisamos resgatar. Nisto, eles s�o nossos mestres e doutores.
Na opini�o do senhor, qual o significado maior das elei��es de 2022?
Este pleito possui a dimens�o de um plebiscito: que pa�s queremos? Um pa�s dominado pelo �dio, pelas mentiras oficiais como pol�tica de Estado, pela exalta��o da viol�ncia e at� da tortura, da discrimina��o e �dio contra os pobres, os ind�genas, os negros, as mulheres e outros com outra defini��o sexual ou um pa�s no qual vale a pena viver, trabalhar e sustentar a fam�lia, com sa�de acess�vel a todos, com educa��o de qualidade para todos, com seguran�a e com um regime democr�tico de direito onde reinem as liberdades e se evitem rela��es de viol�ncia e exclus�o? � o confronto entre um Brasil que coloca a vida no centro e outro que coloca a puls�o de morte, o descuido do povo e especialmente dos mais vulner�veis.
PROGRAMA��O
>> Confer�ncia “Os desafios para a reconstru��o do Brasil”
Nesta quarta (3/8), �s 19h, no Armaz�m do Campo (Avenida Augusto de Lima, 2.136 – Barro Preto). Entrada franca.
>> Debate “A energia do amor” no Sempre um Papo
Quinta (4/8), �s 19h30, no Audit�rio da Cemig (Avenida Barbacena, 1.200 – Santo Agostinho). Entrada franca
>> Palestra “Amor: energia transformadora”
Sexta (5/8), �s 10h, no Audit�rio Vivaldi Moreira do TCE-MG (Avenida Raja Gabaglia, 1.305 –Luxemburgo).
Sexta (5/8), �s 10h, no Audit�rio Vivaldi Moreira do TCE-MG (Avenida Raja Gabaglia, 1.305 –Luxemburgo).
Entrada franca.