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Estado de Minas CINEMA

Filme de La�s Bodanzky mostra Pedro I como 'her�i t�xico' da Independ�ncia

Longa 'A viagem de Pedro' desconstr�i a imagem oficial do imperador. Solit�rio e atormentado, personagem de Cau� Reymond dialoga com o Brasil contempor�neo


01/09/2022 04:00 - atualizado 01/09/2022 09:16

Cauã Reymond, no papel de Pedro I, olha para a câmera e tem a imagem refletida num espelho
Filme aborda Pedro I (Cau� Reymond) �s voltas com seus dem�nios ao cruzar o Atl�ntico para voltar a Portugal (foto: F�bio Braga/divulga��o )

Impotente, epil�tico, paranoico e, principalmente, sozinho. Este � Pedro I (1798-1834) no filme “A viagem de Pedro”, que chega nesta quinta-feira (1º/9) aos cinemas. Primeira fic��o hist�rica de La�s Bodanzky, traz Cau� Reymond no papel-t�tulo.

O longa apresenta um retrato �ntimo do ex-imperador na viagem de retorno a Portugal, entre abril e junho de 1831, dias ap�s abdicar o trono do Brasil em favor de seu filho, Pedro de Alc�ntara, ent�o com 5 anos.

“Mesmo escolhendo um personagem muito conhecido, a maior parte do que est� no filme n�o est� em livro nenhum. Mas nada foi inventado do zero, n�o � um grande del�rio. (O roteiro foi escrito) A partir de informa��es pinceladas de documentos de �poca, uma hist�ria que n�o est� nos livros oficiais”, diz a cineasta.

"A maior parte do que est� no filme n�o est� em livro nenhum. Mas nada foi inventado do zero, n�o � um grande del�rio"

La�s Bodanzky, cineasta

Torre de Babel no oceano

Na narrativa, acompanhamos Pedro I (Reymond) rec�m-embarcado com a segunda mulher, Am�lia de Leuchtenberg (Victoria Guerra), na fragata inglesa que atravessaria o Atl�ntico. A viagem � uma Torre de Babel. Na tripula��o de 250 pessoas misturam-se membros da corte, oficiais, servi�ais e negros escravizados.

Fala-se em portugu�s, ingl�s, franc�s e iorub�, al�m de dialetos africanos. H� alguns momentos em alem�o, durante narra��o feita por Dona Leopoldina (Luise Heyer), a primeira mulher do personagem.

“Tinha o desejo de falar sobre um Brasil de tempos atr�s, mas com olhar contempor�neo. A ideia nunca foi a de reverenciar Pedro”, continua a diretora. A chegada aos cinemas, no in�cio da comemora��o do bicenten�rio da Independ�ncia, n�o foi planejada – a pandemia atrasou o lan�amento do longa.

“Quando a data se aproximou, n�o deu para fingir que n�o estava acontecendo. Mas o filme foi feito para questionar as est�tuas, quem narra as hist�rias e como elas foram registradas. A data (o bicenten�rio) tem de ser falada, mas n�o festejada. Tem de ser motivo de reflex�o. Ser� mesmo que houve uma Independ�ncia? �s custas de qu�?”, questiona Bodanzky, que considera “absurda” a vinda do cora��o de Dom Pedro ao pa�s.

O personagem que o filme traz � tona � “um homem t�xico”, continua a diretora. “Duzentos anos atr�s, o que era esperado de um homem em meio � estrutura patriarcal, machista, um opressor.”
 
 

Cau� foi Dom Pedro 'muito macho'na escola 

Cau� Reymond, al�m de protagonizar o filme, � tamb�m um de seus produtores. “Tudo o que li e aprendi sobre Dom Pedro (para fazer o projeto) n�o veio da sala de aula, mas de pesquisas, para que eu tivesse um personagem desconstru�do”, diz ele, que, na inf�ncia, interpretou o imperador no col�gio.

“Nem sabia que seria ator. E fiz o her�i, muito macho, no cavalo branco que era uma vassoura. Foi interessante fazer agora o personagem, falando sobre masculinidade t�xica, de racismo estrutural, aus�ncia de feminismo.”

O filme come�a a partir da observa��o de uma est�tua de Napole�o Bonaparte (1769-1821). Dom Pedro est� se despedindo do filho, o futuro Dom Pedro II. Na sequ�ncia, j� vemos o personagem dentro da fragata, ouvindo os gritos de brasileiros que o queriam fora do Rio de Janeiro.
 
A mulher, Dona Am�lia, sofre enjoos com o movimento do barco. Tenta se aproximar do marido como pode, mas ele a repudia, pois est� sofrendo de impot�ncia.

Com a fragata em curso, Pedro tenta se relacionar com parte da tripula��o: o comandante Talbot (Francis Magee), homem de poucos escr�pulos e muitas hist�rias; o contra-almirante Lars (Welket Bungu�), preto que n�o � aceito pela popula��o negra que trabalha no barco e s� se comunica em ingl�s; o chef (S�rgio Laurentino), que a princ�pio recusa a presen�a de Pedro, causando-lhe medo; Tigre (Denangowe Calvin), jovem que traz no corpo as marcas da escravid�o; e Dira (Isab�l Zuaa), mulher negra que trata da sexualidade como algo sagrado e ser� essencial para que Pedro reencontre o prazer.

Lembran�as e del�rios brasileiros

Em meio � viagem, o protagonista tem lembran�as do passado no Brasil, das rela��es com Dona Leopoldina e Domitila, a Marquesa de Santos (Rita Wainer), assim como del�rios com o irm�o Miguel (Isac Gra�a), com quem disputa o trono portugu�s.

“Foi um desafio fazer um filme com muitas l�nguas, mas sempre foi uma certeza, pois eu queria me aproximar ao m�ximo do Brasil da �poca. Era um Brasil em que a maior parte da popula��o era preta, popula��o esta arrancada de suas origens, de sua cultura e religi�o. Al�m disso, o Brasil tinha adotado o protocolo da corte, franc�s, e a embarca��o era da Inglaterra. Ent�o, o filme reflete esta salada cultural”, acrescenta Bodanzky.

Atriz Victoria Guerra está sentada no cenário que simula a cabine de um navio. Ao fundo veem-se bagagens
Am�lia de Leuchtenberg (Victoria Guerra) � rejeitada pelo marido, que enfrenta a impot�ncia sexual (foto: F�bio Braga/divulga��o)

Cineasta desistiu de ler os di�rios do imperador

N�o h� documenta��o hist�rica sobre a viagem de 1831, o que existe est� nos di�rios de Dom Pedro – a produ��o do filme n�o teve acesso a eles. “A partir de certo momento, j� n�o quis ler o di�rio para ter liberdade de poder imaginar como seria esse homem, no meio do Atl�ntico, visitando seus dem�nios”, diz a diretora.

Para La�s Bodanzky, o envolvimento do personagem com rituais de religi�o de matriz africana seria poss�vel. “Ele era conhecido por ser informal, gostava de ficar na cozinha conversando com os servi�ais. E, na �poca, 100% eram pessoas pretas. Se ele de fato avan�ou e participou de algum ritual, � uma licen�a po�tica do filme. Mas acho que o faria, pelas pr�prias caracter�sticas dele. E acho que isso (a sequ�ncia no filme) � educativo para o Brasil de hoje”, finaliza a cineasta.

“A VIAGEM DE PEDRO”

(Brasil, 2021, 97min., de La�s Bodanzky, com Cau� Reymond, Luise Heyer e Victoria Guerra) – Estreia nesta quinta (1º/9), no Centro Cultural Unimed-BH Minas, �s 18h15; e no UNA Cine Belas Artes, �s 14h e 18h30.


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