Filme sobre o m�dium Z� Arig� defende a for�a do bem contra a intoler�ncia
'Acredito piamente em todas as pessoas que Arig� curou', afirma o ator ateu Danton Melo. Perseguido e preso, mineiro atraiu multid�es de doentes a Congonhas
Filme "Predestinado" mostra pessoas na fila para serem operadas por Z� Arig� (Danton Mello), com sua faca enferrujada (foto: Andr� Cherri/divulga��o
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''Depois de ler o roteiro, pesquisar, conhecer mais a fundo a hist�ria, ler o relat�rio da comiss�o de paranormalidade da Nasa que foi a Congonhas para estud�-lo, � dif�cil ser t�o c�tico. Voc� realmente fica abalado''
Gustavo Fernandez, cineasta
Z� Arig� � um nome que agu�a a mem�ria e a curiosidade de muita gente. Mineiro de Congonhas, pai de sete filhos, ficou conhecido mundialmente por curar por meio de cirurgias espirituais durante as quais incorporava o esp�rito do Dr. Fritz, suposto m�dico alem�o que cuidava de feridos na 1ª Guerra Mundial.
Arig�, apelido de Jos� Pedro de Freitas (1921-1971), enfrentou dilemas para encarar seu destino. Desagradou � Igreja Cat�lica, foi condenado e preso sob acusa��o de curandeirismo, atraiu pesquisadores da Nasa a Minas, dispostos a descobrir de onde vinha aquele dom. Morreu em acidente de carro na BR-040, nove meses antes de completar 50 anos.
Parte da vida do m�dium foi registrada no livro “Arig� e o esp�rito do Dr. Fritz” (1974), do jornalista John G. Fuller, fonte de inspira��o do roteiro de “Predestinado – Arig� e o esp�rito do Dr. Fritz”, longa-metragem que entra em cartaz nesta quinta-feira (1º/9) nas salas de cinema de todo o pa�s.
Z� Arig� cumpriu sete meses de cadeia, em Conselheiro Lafaiete, condenado por pr�tica ilegal da medicina
(foto: Luiz Alfredo/O Cruzeiro/Arquivo EM/1964
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O m�dium do 'Fant�stico'
Gustavo Fernandez, que estreia na dire��o de filmes com esta produ��o, conta que seu conhecimento sobre Arig� vem das mem�rias de inf�ncia, ao ouvir o nome do m�dium no “Fant�stico” e em telejornais.
Em 2014, ao receber o convite do produtor Roberto d’�vila (Moonshot) para o projeto, Fernandez, com amplo curr�culo em novelas da Globo, questionou se seria capaz de dirigir o filme. Afinal de contas, criado em fam�lia cat�lica – n�o muito praticante –, ele n�o dominava o universo espiritualista.
A d�vida permaneceu at� poucos meses do in�cio das grava��es. Chovia, quando Gustavo sofreu um acidente ao voltar da visita �s loca��es em Minas Gerais. Pouco depois de Juiz de Fora, ele viu quatro, cinco desastres. Na descida da Serra de Petr�polis, havia �leo na pista, o diretor perdeu o controle do carro, bateu com as duas rodas na canaleta e capotou.
“Eu, ateu e agn�stico, quando entrei no carro, botei a m�o no volante. A primeira coisa que me veio � cabe�a: Arig� morreu em um acidente de carro”, conta. Gustavo despencou por 30 metros do barranco, com o lado do motorista ro�ando a terra.
“Por sorte, tinha comprado um carro blindado usado. Por isso os vidros n�o voaram na minha cara. Consegui sair pela porta do passageiro, escalei a montanha at� chegar � estrada.” Foi a� que Gustavo se lembrou do fato ocorrido com ele e o ator Domingos Montagner, a quem dirigiu na novela “Velho Chico” (2016).
VEJA trailer de "Predestinado":
Em determinado momento da trama, o personagem de Montagner sofre acidente e � resgatado por �ndios, que o salvam durante um ritual – verdadeiro, como determinou o diretor art�stico. Na �poca, algu�m da equipe, pessoa espiritualizada, alertou todos para o fato de que n�o conheciam as for�as com as quais estavam lidando.
Pouco tempo depois, em 15 de setembro de 2016, Montagner morreu afogado no Rio S�o Francisco durante a folga das grava��es.
“Quando consegui chegar � estrada, a primeira coisa que me veio na cabe�a foi o Domingos e a frase ‘eu n�o conhe�o com o que estou mexendo’. Decidi n�o fazer o filme. Aquilo n�o era para mim, seria desrespeito fazer aquele filme porque sou descrente.” Por�m, o senso de responsabilidade falou mais alto. Naquela altura do campeonato, n�o havia como dizer n�o.
"A gente est� precisando desta mensagem de bem, de olhar para o outro. Acho bonito que isso esteja sendo feito no cinema, muito abalado pela pandemia"
Gustavo Fernandez, cineasta
Peregrina��o espiritualista
De volta para casa, Gustavo Fernandez iniciou o que considera “uma peregrina��o”, conversando com pessoas conhecidas e desconhecidas ligadas � espiritualidade. “Eu s� queria era que algu�m falasse: ‘Voc� n�o pode fazer este filme’. Mas me disseram o contr�rio: ‘Isso (o acidente) aconteceu para voc� fazer o filme’.”
Ao ler o roteiro, percebeu que havia ali uma outra inten��o. “Revendo o filme agora, dois anos depois de pronto, acho que ele � menos esp�rita do que eu achava que era”, observa.
Desde o in�cio, Fernandez manteve a inten��o de contar a hist�ria de um ser humano afetado pelo dom da mediunidade.
“Ele tentou renegar esse chamado, mas depois aceitou a miss�o de atender as pessoas, abrindo m�o do lado pessoal”, comenta. Calcula-se que Z� Arig�, com sua famosa faca enferrujada, tenha atendido mais de dois milh�es de pessoas. Sem cobrar um centavo.
Z� Arig� carregado pelo povo, em Congonhas, ao deixar a pris�o, em 1964 (foto: Luiz Alfredo/O Cruzeiro/Arquivo EM/1964)
Gustavo reconhece: hoje, o ceticismo diminuiu. “Depois de ler o roteiro, pesquisar, conhecer mais a fundo a hist�ria, ler o relat�rio da comiss�o de paranormalidade da Nasa que foi a Congonhas para estud�-lo, � dif�cil ser t�o c�tico. Voc� realmente fica abalado”, pondera.
Ele diz que houve um motivo para fazer o filme. “Talvez para me reconectar com minha espiritualidade. Acho que foi melhor ele ter sido feito por algu�m que n�o � um seguidor. Talvez eu tenha conseguido transitar melhor na dicotomia entre ser respeitoso � biografia, mas sem ser reverente e submisso ao mito”, avalia.
As filmagens foram conclu�das em cinco semanas. Tempo muito curto para um filme que conta uma hist�ria como a de Arig�, acredita o cineasta. “Era muito raro ter um dia de filmagem em que n�o chegasse algu�m e falasse: 'Ah, meu pai foi tratado pelo Z� Arig�'. Ou, ent�o, 'minha av�, minha m�e me levou quando era crian�a, porque eu tinha n�o sei o qu�'. Isso era muito recorrente, impressionante”, comenta.
Z� Arig� opera o olho de mulher em seu centro esp�rita, em Congonhas (foto: O Cruzeiro/Arquivo EM/1967
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Fam�lia apoiou o filme
A presen�a dos sete filhos do m�dium refor�ou a energia no set. “Em nenhum momento eles questionaram o que a gente estava fazendo. O Sidney (Wenceslau Freitas), o filho que mais teve contato com a equipe, jamais disse n�o, que n�o era assim”, afirma.
Certa vez, Gustavo Fernandez acompanhava a cena do julgamento do m�dium no monitor. “Na hora em que o Arig� � condenado e olha para o juiz com aquele olhar do Fritz, o Sidney estava chegando. Ele falou: '� o careca, n�? Agora ele � o careca' (referindo-se ao esp�rito do m�dico)”, conta.
Danton Mello faz o papel de Z� Arig�. O ator tinha poucas refer�ncias sobre o m�dium, a maioria delas vinda dos tempos de inf�ncia e adolesc�ncia, a partir de hist�rias contadas pelos primos mais velhos.
A proximidade se deu a partir da constru��o do personagem, do encontro com os filhos de Arig�, das visitas a Congonhas e do material de pesquisa oferecido pela produ��o. Foi dessa forma que o ator conheceu a “hist�ria t�o bonita de amor, caridade, toler�ncia e generosidade”, nas palavras dele.
''Imagina para um pai que questiona a aceita��o da miss�o de ser o elo, a ponte no plano espiritual para ajudar as pessoas, n�o poder ajudar o filho''
Danton Mello, ator
Ator ateu acredita em Arig�
Danton revela que o projeto mexeu muito com ele. O artista mineiro, de 47 anos, vem de fam�lia cat�lica, mas ao longo da adolesc�ncia foi se afastando da religi�o at� se considerar ateu. “Acredito piamente em todas as pessoas que Arig� curou. Ningu�m consegue explicar este fen�meno que ajudou tanta gente.”
O ator chegou at� a pedir a ajuda de Arig� na sequ�ncia rodada no pres�dio desativado da cidade mineira de Rio Novo. “Estava sozinho dentro da cela, todos da equipe do lado de fora. Senti uma energia muito pesada; afinal, era um pres�dio. Disse para mim que n�o pediria para sair dali nem para n�o fazer a cena, mas pedi a Arig� que me protegesse se ele estivesse por perto.”
A cena que mais emocionou Danton � o momento em que Arig� diz ao filho mais velho, Tarc�sio, que n�o pode cur�-lo. “Imagina para um pai que questiona a aceita��o da miss�o de ser o elo, a ponte no plano espiritual para ajudar as pessoas, n�o poder ajudar o filho.”
Juliana Paes, com quem Gustavo Fernandez havia trabalhado em duas novelas, interpreta Arlete, a mulher de Arig�. A atriz vem de fam�lia esp�rita. “Ela teve inicia��o na umbanda. Inclusive, topou fazer o filme por conta disso. Juliana havia acabado de fazer 'A for�a do querer' e ia come�ar uma outra coisa, mas conseguiu se encaixar. Ela queria muito fazer o filme, queria muito fazer a personagem”, conta o diretor.
Pris�o n�o impediu Jos� Arig� de distribuir donativos, no Natal, � popula��o carente de Conselheiro Lafaiete, em 1964
(foto: Jos� Nicolau/O Cruzeiro/EM/1964)
Esperan�a na tela
Neste momento delicado no Brasil, em que a religi�o � motivo de intoler�ncia, viol�ncia e persegui��o, o cineasta Gustavo diz ter a esperan�a de que o filme venha mais para unir do que para polemizar.
“Realmente, nossa inten��o � contar a hist�ria desta figura extraordin�ria, que abriu m�o de sua vida em prol dos outros. Essa � a caracter�stica dos grandes l�deres. O filme n�o � doutrin�rio, pelo contr�rio, foge dessa pretens�o justamente para n�o criar p� atr�s em rela��o ao processo. A minha cren�a sincera � de que o filme ajude a aparar essas diverg�ncias.”
De acordo com o cineasta, at� a longa espera pela estreia do filme nas salas de cinema tem o seu motivo.
“Ele veio na hora certa. A gente est� precisando desta mensagem de bem, de olhar para o outro. Acho bonito que isso esteja sendo feito no cinema, muito abalado pela pandemia. Espero que para al�m da religi�o, para al�m da pol�tica, o filme resgate um pouco do aspecto cultural de assistir coletivamente a uma obra de arte”, conclui.
“PREDESTINADO: ARIG� E O ESPIRITO DO DR. FRITZ”
Cinebiografia do m�dium mineiro Z� Arig�, que assombrou o mundo com curas atribu�das ao esp�rito do suposto m�dico alem�o Dr. Fritz. Dire��o de Gustavo Fernandez. Com Danton Mello, Juliana Paes, Alexandre Borges, Marco Ricca, C�ssio Gabus Mendes e Marcos Caruso. Estreia nesta quinta-feira (1º/9). BH 6: 14h, 16h35, 19h10 e 21h45 (qui, sex, seg, ter, quar); 13h40, 16h20, 19h, 21h40 (s�b e dom). BH 10: 18h10 (qui, sex e ter); 18h20 (s�b, dom). Diamond 2: 15h10 (qui, sex, s�b, seg, ter); 13h40 (dom); 13h10, 15h50, 18h30 (qua). Diamond 3: 19h30 (qui, sex, s�b, dom, ter). Diamond 6: 17h50 (qui, sex, s�b, seg, ter); 17h30 (dom). Cidade 2: 13h50, 16h10, 18h30, 20h45 (qui, sex, s�b, seg, ter). Contagem 2: 14h, 16h15,18h30, 20h45. DelRey 5: 14h20, 16h35, 18h50, 21h. ItauPower 2: 14h10, 16h25, 18h35, 20h50. Minas 2: 14h10, 16h25, 18h35, 20h50. Ponteio 2: 16h45, 19h, 21h10 (qui, sex, s�b, som, seg, quar); 14h30, 16h45, 19h (ter).
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