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Estado de Minas SEMPRE UM PAPO

Independ�ncia foi 'sequestrada' por monarquistas, modernistas e ditadores

Historiadores Lilia Schwarcz, L�cia Stumpf e Carlos Lima Jr. discutem mitos que cercam a Independ�ncia do Brasil, nesta quinta (8/9), no Memorial Vale


08/09/2022 04:00 - atualizado 08/09/2022 00:31

Lilia Schwarcz
Lilia Schwarcz, historiadora (foto: Daniel Bianchini/Divulga��o)

Ao longo da hist�ria, a narrativa sobre a Independ�ncia do Brasil foi sequestrada tr�s vezes, afirma Lilia Schwarcz, historiadora e professora titular no Departamento de Antropologia da Universidade de S�o Paulo (USP).

A primeira durante a monarquia, quando o papel central da ruptura foi totalmente colocado sobre D. Pedro I. A segunda, em 1922, quando modernistas quiseram dar a S�o Paulo papel importante para a hist�ria do pa�s. E a terceira, em 1972, quando o governo ditatorial sequestrou a narrativa no intuito de dar um verniz militar para o acontecimento.

Tudo isso est� explicado no rec�m-lan�ado livro “O sequestro da Independ�ncia: Uma hist�ria da constru��o do mito do Sete de Setembro”, parceria de Lilia com os historiadores L�cia Stumpf e Carlos Lima Jr.

Os tr�s s�o os convidados do Sempre um Papo desta quinta-feira (8/9), no Memorial Minas Gerais Vale, para comentar a obra e o contexto pol�tico e social do Brasil atual. O bate-papo tamb�m ser� transmitido pelas redes sociais do Sempre um Papo no Facebook e no YouTube.

“N�s falamos que durante a monarquia ocorreu o primeiro sequestro da Independ�ncia, porque na �poca n�o se fazia nenhuma men��o ao Grito do Ipiranga. O que era relevante para as pessoas daquela �poca era a consagra��o de D. Pedro I como imperador. Portanto, num per�odo delicado, de baixa popularidade de D. Pedro II, ele come�ou a fazer men��es ao grito do pai, citando-o como ‘o glorioso 7 de Setembro’, a fim de alavancar sua popularidade e consequentemente a da monarquia”, explica Lilia.

O que muita gente n�o sabe, no entanto, � que Pedro Am�rico chegou a fazer uma primeira vers�o desse quadro ("Independ�ncia ou morte!"), que foi vetada por D. Pedro II

Lilia Schwarcz, historiadora


Pedro Am�rico � alvo de pol�mica

Ela conta ainda que a ideia de escrever o livro nasceu da necessidade que os historiadores t�m de sempre questionar os fatos hist�ricos e revisitar os documentos na tentativa de encontrar respostas para novas perguntas que v�o surgindo com o passar do tempo. Para a obra rec�m-lan�ada, portanto, o objeto de an�lise foram as telas de Pedro Am�rico (1843-1905), mais especificamente “O brado do Ipiranga”, mais conhecida como “Independ�ncia ou morte!”.

“O que muita gente n�o sabe, no entanto, � que Pedro Am�rico chegou a fazer uma primeira vers�o desse quadro que foi vetada por D. Pedro II. Isso porque a tela tinha a representa��o do povo na frente, o que n�o agradou ao imperador”, revela.

“Em nome da na��o, eu sacrifico a geografia” e “a realidade inspira e n�o escraviza o pintor”. Essas foram as frases ditas por Am�rico como que para tentar explicar a falta de verossimilhan�a da tela com a realidade.
 
Dom Pedro I ergue a espada, cercado por aliados, no quadro Independência ou morte, de Pedro Américo
Detalhe do quadro 'Independ�ncia ou morte!', de Pedro Am�rico (foto: Ag�ncia Brasil)
 

No entanto, conforme explica o livro, “Independ�ncia ou morte!” n�o foi concebido para ser um documento hist�rico. A ideia inicial era criar uma tela com o objetivo de unificar os sentimentos da popula��o, negar as divis�es, dissolver os conflitos e, sobretudo, amplificar uma cena mundana transformando-a em triunfal.

A representa��o de Pedro Am�rico, entretanto, ganhou outra interpreta��o e, com o passar dos anos, acabou se tornando um documento hist�rico.

Rivalidade Rio-SP

A reinterpreta��o tamb�m ocorreu de maneira importante para a hist�ria do Brasil em 1922, de acordo com Lilia. Ela explica que, inflamados pelo esp�rito nacionalista e pela rivalidade entre Rio de Janeiro e S�o Paulo, os artistas modernistas revisitaram a obra de Am�rico a fim de sublinhar ali a import�ncia da cidade na Independ�ncia. “Afinal, o Rio Ipiranga fica em S�o Paulo, n�o �?”, comenta a historiadora em tom um tanto quanto ir�nico.

Outra reinterpreta��o que a tela de Am�rico ganhou foi nas comemora��es dos 150 anos da ruptura entre col�nia e metr�pole. Na ocasi�o, o Brasil vivia um dos momentos mais repressivos da ditadura militar e a obra do pintor foi revisitada a fim de associar a imagem de D. Pedro I a um militar bravo, corajoso e guerreiro, tal qual os que estavam governando o Brasil em 1972.

“� lament�vel que hoje o governo, flertando com os militares da �poca da ditadura, esteja querendo sequestrar novamente a Independ�ncia. Ele j� conseguiu fazer isso com s�mbolos nacionais, como a bandeira e o hino. Agora, vem tentando fazer com a Independ�ncia tamb�m, de modo que muitos museus e institui��es que estavam para reabrir nas comemora��es do bicenten�rio preferiram antecipar ou adiar a reabertura para n�o serem assimiladas a esse governo”, afirma a historiadora em refer�ncia ao Museu do Ipiranga, que antecipou sua reabertura para 6 de setembro, em vez de voltar �s atividades no feriado, como havia anunciado anteriormente.

Capa do livro Sequestro da Independência tem ilustração de D. Pedro I sobre o cavalo
(foto: Companhia das Letras/reprodu��o)

“O SEQUESTRO DA INDEPEND�NCIA”

Uma hist�ria da constru��o do mito do  Sete de Setembro

• De Lilia Schwarcz, L�cia Stumpf e Carlos Lima Junior
• Companhia das Letras
• 375 p�ginas
• R$ 99,90 (livro f�sico)
• R$ 44,90 (e-book)
• Lilia Schwarcz, L�cia Stumpf e Carlos Lima Junior participam do projeto Sempre um Papo, nesta quinta-feira (8/9), �s 19h, no Memorial Minas Gerais Vale (Pra�a daLiberdade, 640, Funcion�rios), (31) 3308-4000. Entrada franca, mediante retirada de ingressos no local. A conversa ser� transmitida pelas redes sociais do Sempre um Papo no Facebook e YouTube


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