
Da Lilibet crian�a em “O discurso do rei” � ex-sogra insens�vel de “A rainha”, Elizabeth II, morta ontem, aos 96 anos, foi retratada em filmes e s�ries in�meras vezes ao longo de sua vida.
O longu�ssimo reinado fez com que testemunhasse da era do r�dio � era do streaming, passando pela populariza��o do cinema e da televis�o.
A pr�pria rainha pode ter ajudado a catapultar sua figura ao mundo da cultura pop ao fazer o primeiro discurso televisionado de um monarca do Reino Unido, h� mais de 60 anos, no Natal de 1957. Desde ent�o, ela fala � na��o todo fim de ano, presen�a constante e familiar atravessando guerras.

Na mira dos tabloides
A cobertura incessante dos tabloides ingleses sobre as pol�micas de sua fam�lia ajudou a potencializar o interesse dos brit�nicos e do mundo pela vida privada dos moradores do Pal�cio de Buckingham e adjac�ncias, culminando na celebridade planet�ria da princesa Diana nos anos 1980 e 1990 e de seus filhos, William e Harry, e respectivas esposas, Kate e Meghan, nos anos 2000 e 2010.A gera��o real mais recente parece ter entendido que, no mundo hiperconectado, sua privacidade n�o poderia mais ser ferozmente guardada e teria de ser cuidadosamente gerenciada, � moda dos influencers.
Assim, os n�cleos de William e Harry oferecem aos seguidores imagens e v�deos dos principais eventos de suas vidas – noivado, casamento, nascimento dos filhos, primeiro dia da escola das crian�as – e d�o entrevistas sobre sa�de mental. A estrat�gia, assim como para as celebridades em geral, resulta em menos poder dos paparazzi e em imagem mais humana e pr�xima.
Mas Elizabeth nasceu em 1926. Nos discursos, sempre destacou que seu dever � servir � na��o, mas n�o parece jamais ter pensado que isso inclu�sse revelar qualquer aspecto da sua intimidade.
Nos EUA, a fam�lia real brit�nica foi vista durante muito tempo apenas como uma gente esquisita e formal que toma ch� e gosta de cavalos, aparecendo de vez em quando em esquetes humor�sticos grosseiros. Mas nas �ltimas d�cadas, Hollywood viu um fil�o mais s�rio a ser explorado na vida de Elizabeth.
Com a rainha ainda viva, por�m, surgia um problema: poucos a conheciam intimamente; e, entre os que est�o nessa posi��o, quase ningu�m est� autorizado ou disposto a falar. O resultado disso � que muito do que se v� nos filmes e nas s�ries que retratam passagens da vida da rainha � fantasioso.
Ainda que os fatos hist�ricos sejam respeitados, di�logos entre a soberana, seu marido e seus filhos, com Winston Churchill e outros premi�s, s�o, na melhor das hip�teses, reconstru�dos a partir de relatos em terceira m�o, se n�o 100% inventados.
Assim, a Elizabeth das telas � uma esp�cie de esfinge, mais ou menos dura e formal a depender do roteiro e do diretor. Em “A rainha”, ela demora demais a perceber a propor��o que a adora��o a Diana iria adquirir com a morte da (ex) princesa.
J� em “The crown”, s�rie da Netflix, a rainha � mais nuan�ada; respons�vel por algumas moderniza��es no papel da fam�lia real, ela � capaz de alguma emo��o e amizade, ainda que seja puxada por alguns membros da fam�lia para o passado e instada a manter tradi��es ultrapassadas.
As quatro temporadas da s�rie foram, com alguns pulos no tempo, da coroa��o de Elizabeth � chegada da futura princesa Diana � fam�lia, explorando no caminho o casamento da soberana, a rela��o com Churchill e suas rea��es a eventos hist�ricos. Por vezes tomando grandes liberdades art�sticas, o seriado gerou todo um segmento de apura��es jornal�sticas para checar o que � e o que n�o � verdade nos epis�dios.
N�o se tem not�cia de que ela tenha opinado sobre as obras baseadas em sua vida, para aprov�-las ou reprov�-las, nem para corrigir eventuais erros factuais. A exce��o � “O discurso do rei” – filme no qual o personagem principal � seu pai, George VI –, que, de acordo com relatos, teria emocionado a monarca.
Meme com 007
H� ind�cios, no entanto, de que ela tinha senso de humor. Em uma esp�cie de meme dela mesma, apareceu no filmete dirigido por Danny Boyle exibido na abertura das Olimp�adas de Londres, em 2012, com Daniel Craig no papel do agente secreto James Bond, no qual ele pula de paraquedas.
Os fofos cachorros corgi da rainha tamb�m aparecem no v�deo das Olimp�adas, assim como em outros filmes e s�ries sobre Elizabeth II. A fama da rainha mais pop da hist�ria � tamanha que se estendeu at� os bichinhos: eles ganharam seu pr�prio filme de anima��o, “Corgi: Top dog”, em 2019.
Do punk ao rock
Duas das bandas inglesas mais influentes da hist�ria fizeram can��es sobre Elizabeth II. Em “God save the queen”, dos punks Sex Pistols, � chamada de fascista – Johnny Rotten canta, sobre guitarras distorcidas, que ela n�o � um ser humano. J� os Beatles – mais especificamente Paul McCartney – gravaram “Her majesty”, escondida no final do disco “Abbey Road”. “Sua Majestade � uma garota legal, mas n�o tem muito a dizer”, canta Paul.