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Estado de Minas M�SICA

As elei��es s�o "oportunidade para renovar a corrente republicana", diz Gil

Cantor baiano se apresenta em BH neste domingo. Em entrevista, ele fala sobre a carreira e comenta a decis�o de Milton Nascimento de se aposentar do palco


16/09/2022 04:00 - atualizado 15/09/2022 19:42

Vestindo casaco com estampa floral, Gilberto Gil canta ao microfone, em palco com fundo azul
Gilberto Gil se apresenta no anfiteatro do Mineir�o neste domingo com o show da turn� 'Gil in concert", que revisita sucessos do passado, desde seu primeiro disco (foto: Mauro Pimentel/AFP)

Gilberto Gil est� no centro das aten��es. Seja porque completou oito d�cadas de vida neste ano; porque foi empossado como imortal da Academia Brasileira de Letras no �ltimo m�s de abril; porque protagoniza a s�rie “Em casa com os Gil”, lan�ada em junho; ou, ainda, porque circula, desde o ano passado, pelo Brasil e pelo mundo com sua nova turn�, que chega a Belo Horizonte no pr�ximo domingo (18/9), no Mineir�o.

Batizada “Gil in concert”, a turn� traz o cantor e compositor baiano dividindo o palco com os filhos Bem Gil (viol�o e guitarra) e Jos� Gil (bateria e percuss�o), e com os netos Jo�o Gil (viol�o e baixo) e Flor Gil (teclados e vocais). Promovido pela produtora H�brido.cc, realizadora do festival Sensacional, o show marca a estreia do projeto Sensacional Celebra.

A apresenta��o de Gil e fam�lia ser� precedida pelo show de abertura da cantora cubana radicada em Cabo Verde Mayra Andrade, que aporta pela primeira vez em Belo Horizonte. Os port�es de acesso para o anfiteatro do Mineir�o – uma estrutura que abarca parte das cadeiras superior e inferior, com o palco montado no gramado do est�dio – ser�o abertos �s 16h. Na entrevista a seguir ao Estado de Minas, Gil fala sobre a turn�, o ano eleitoral e comenta a decis�o de Milton Nascimento de se aposentar dos palcos. 

"� muito dif�cil a gente ter, em rela��o � nossa pr�pria obra, uma dist�ncia que os outros t�m, os que n�o se envolveram na constru��o dessa obra, que n�o estiveram engendrados nas tramas das can��es, dos shows. � dif�cil. Muitas das can��es que fiz est�o ligadas a tramas amorosas, a conflitos dom�sticos; outras s�o vis�es particulares de mundo, marcadas por um tra�o ideol�gico"

Gilberto Gil, cantor, compositor e violonista



Qual o sentimento de dividir o palco com diferentes gera��es de sua fam�lia?

� uma coisa que se tornou habitual com o passar do tempo, a chegada da idade, a acumula��o da experi�ncia, o prazer de encontrar jovens egressos de um tempo que foi bastante marcado e influenciado pela minha gera��o, ent�o s�o muitas circunst�ncias. Eles s�o adeptos, disc�pulos, compartilham do trabalho que fiz no passado, ent�o � muito prazeroso e honroso. Tem um lado edificante do ponto de vista moral.

A turn� “Gil in concert” teve in�cio no ano passado, quando percorreu 18 cidades da Europa e outras tantas no Brasil. Como � esse conv�vio familiar na estrada? Difere muito do que � no cotidiano do lar?

Claro, primeiro porque estamos reunidos em torno de uma opera��o, de uma tarefa espec�fica, que � a m�sica, o show, o concerto, enfim, � como se estiv�ssemos todos no trabalho em uma f�brica ou em uma loja. Tem esse lado aglutinador do trabalho, que, de certa forma, imp�e uma certa dist�ncia afetiva; s�o meus parentes, mas tamb�m s�o trabalhadores compartilhando comigo uma tarefa, ent�o tem uma disciplina, um lado voltado especificamente para aquele afazer.

Em casa � diferente, � viver a vida, dividir afetos, responsabilidades familiares, � uma outra coisa. Algo da casa vai para o palco tamb�m, mas o palco tem sua especificidade.
 
 
 
A s�rie “Viajando com os Gil” – que d� continuidade a “Em casa com os Gil” – vai acontecer? O diretor Andrucha Waddington fez os registros dos shows?

Sim, foi tudo gravado na excurs�o que fizemos pela Europa, entre julho e agosto deste ano. Deve ser lan�ada em junho do pr�ximo ano, como uma segunda temporada, complementando a primeira, que foi o “Em casa com os Gil”, disponibilizada h� pouco menos de tr�s meses.

O que voc� achou da experi�ncia de protagonizar, juntamente com sua fam�lia, esse misto de document�rio e reality show, conforme defini��o de Preta Gil?

Trabalhoso, porque � muita gente, pelo menos 60 pessoas envolvidas entre os membros da fam�lia, os realizadores e mais a equipe t�cnica de filmagem, de registro.


Na Europa, eram quatro �nibus viajando entre os lugares, de uma cidade a outra, aquela multid�o de gente nos hot�is, as quest�es log�sticas todas, ent�o � trabalhoso, mas – de novo – era a fam�lia, ent�o o lado afetivo estava ali. A casa estava sendo transportada o tempo todo para aquelas v�rias situa��es.

Estar em turn� � algo que lhe d� prazer, independentemente da companhia?

S�o cinquenta e tantos anos fazendo isso, regularmente desde 1978, todos os anos. De l� pra c�, somente um ano eu n�o fui para a Europa, ent�o � um ac�mulo de tempo de viagens. Me habituei a fazer dessa oportunidade de trabalho tamb�m um modo de conhecer os lugares, os pa�ses, as culturas, as l�nguas, ent�o � muito construtivo. Tem sido parte da constru��o da minha pr�pria vida, da minha personalidade, ent�o � prazeroso e, como tudo, d� trabalho tamb�m.

O repert�rio que voc� apresenta em “Gil in concert” tem se mantido o mesmo ao longo da turn�?
Tenho tentado fazer com que sim. J� que tenho a possibilidade de construir v�rios repert�rios e abordar esses repert�rios de v�rias maneiras, com pequenos grupos, com grupos maiores, solo �s vezes – foram v�rios os momentos em que me apresentei sozinho, com meu viol�o –, quando eu escolho para um determinado momento um roteiro musical, procuro mant�-lo.

Mantive nos v�rios shows que fiz na Europa e na volta tamb�m, em alguns que fiz aqui no Brasil. Tenho tentado manter o mesmo setlist, abrindo com “Expresso 2222”, seguindo com “Viramundo”, visitando momentos do passado, e com essa forma��o: eu, Bem, Jos�, Jo�o e Flor.

Al�m de seus filhos e netos, quem mais integra a banda que o acompanha nesse show?

Somos s� n�s mesmos e o Marcelo Costa, que compartilha num concerto ou em outro; vem e substitui o Jos� na bateria e �s vezes complementa como percussionista. Ele tem sido praticamente o �nico de fora da fam�lia que se junta a essa forma��o.

"(A decis�o de Milton Nascimento de se aposentar do palco) � um gesto importante, corajoso, desprendido, que significa uma ultrapassagem do ego, um ir al�m dos compromissos com a individualidade, um gesto de respeito � condi��o hist�rica que um personagem como ele adquiriu. O fato de ele deixar que a hist�ria presida a vida dele daqui pra frente � bacana; um ser hist�rico que se reconhece como tal"

Gilberto Gil, cantor, compositor e violonista



O que orientou a escolha das m�sicas que comp�em o roteiro do show?

� um desejo de revisitar coisas do passado que foram significativas, como “Viramundo”, composi��o minha com o Capinam que � do meu primeiro disco, um trabalho que foi muito marcado pela coisa tel�rica do Nordeste – � uma m�sica nordestina nesse sentido. Tem “Expresso 2222”, que d� t�tulo a um dos meus discos mais importantes.

E tem “Palco”, que tamb�m marcou �poca no conjunto do meu trabalho. Foram v�rios os crit�rios de escolha, e um deles foi a pr�pria meninada, sugerindo que eu tocasse isso ou aquilo, coisas que eles cresceram ouvindo; s�o m�sicas que v�m pelo afeto familiar.

Que vis�o voc� tem hoje, aos 80 anos, sobre a obra que voc� construiu ao longo de quase seis d�cadas?

� muito dif�cil a gente ter, em rela��o � nossa pr�pria obra, uma dist�ncia que os outros t�m, os que n�o se envolveram na constru��o dessa obra, que n�o estiveram engendrados nas tramas das can��es, dos shows. � dif�cil.

Ultimamente, por exemplo, com as tr�s edi��es dos livros sobre minha composi��o, com esse �ltimo agora abarcando quinhentas e tantas letras de m�sica, �s vezes tenho tido oportunidades de me debru�ar como um leitor qualquer de poesia, de obra liter�ria, mas sou muito envolvido pelas coisas que fiz, ent�o o distanciamento adequado � muito dif�cil de ter.

Muitas das can��es que fiz est�o ligadas a tramas amorosas, a conflitos dom�sticos; outras s�o vis�es particulares de mundo, marcadas por um tra�o ideol�gico.

A inspira��o para compor segue acompanhando-o da mesma forma como sempre acompanhou?

Menos, hoje em dia. Antigamente havia uma vol�pia, uma voracidade, um senso aflitivo de dever. Agora n�o, n�o existe mais essa afli��o. Eu, mais velho, as energias s�o outras, muito mais moderadas j�, n�o tenho tanta vol�pia como tinha.

Caetano, Milton Nascimento e Paulinho da Viola s�o outros tr�s art�fices da m�sica popular brasileira que completam oito d�cadas de vida este ano. No seu entendimento, qual a principal contribui��o que essa gera��o deu para a cultura brasileira?

� uma cultura que come�a a se produzir no meio do s�culo 20, depois da Segunda Guerra Mundial, porque somos todos nascidos nesse per�odo; somos de 1942, com a guerra em plena vig�ncia, a luta contra o nazismo, e junto com ela o fortalecimento do desejo da constru��o democr�tica povoando o mundo todo, a Europa, o Brasil, ent�o � uma gera��o marcada por tudo isso.

Tamb�m pelo surgimento de movimentos culturais importantes, como a bossa nova e tudo o que a antecedeu de imediato. Somos resultado de tudo isso. E, como disse, de uma vis�o de mundo onde o p�s-guerra nos dava um senso de responsabilidade para com a democracia, uma vis�o republicana do Estado moderno. Somos filhos disso e � isso que expressamos com nossa arte.

"� um momento de busca por uma renova��o pol�tica em meio a um mundo onde as coisas est�o muito dif�ceis. A p�s-modernidade e a globaliza��o d�o ao Brasil e a muitos outros pa�ses uma condi��o de dificuldade mesmo para operar essa dimens�o republicana. Mas as elei��es agora s�o uma oportunidade para um novo momento de renova��o dessa corrente"

Gilberto Gil, cantor, compositor e violonista



Milton, com quem voc� gravou um �lbum em parceria em 2000, anunciou no in�cio deste ano a aposentadoria dos palcos. Como voc� recebeu essa not�cia? Foi algo que o fez refletir a respeito?

Acho que sim, � um gesto importante, corajoso, desprendido, que significa uma ultrapassagem do ego, um ir al�m dos compromissos com a individualidade, um gesto de respeito � condi��o hist�rica que um personagem como ele adquiriu. O fato de ele deixar que a hist�ria presida a vida dele daqui pra frente � bacana; um ser hist�rico que se reconhece como tal.

Que avalia��o voc� faz do atual cen�rio musical brasileiro?

S�o outras coisas, uma gama muito variada de artistas, todos eles submetidos � velocidade extraordin�ria dos meios contempor�neos, � fragmenta��o extraordin�ria de g�neros que nos povoa hoje, com o surgimento de propostas novas, que foram se sucedendo como h�bridos de coisas do passado, mas tamb�m com muita originalidade.

� tamb�m uma gera��o marcada pelo individualismo t�pico da sociedade contempor�nea, ent�o � outra hist�ria, outra m�sica, outra poesia, outro texto e outro contexto.

E com rela��o ao cen�rio pol�tico e social, que avalia��o voc� faz do Brasil de hoje?

Estamos �s portas de uma elei��o que vai, de uma certa forma, redefinir a rela��o entre a sociedade e o Estado no Brasil, com muitos governos estaduais sendo renovados, com o Congresso, at� certa medida, sendo renovado, e com a renova��o do pr�prio Executivo, ante a expectativa de elei��o do ex-presidente Lula (de quem Gil foi ministro da Cultura), que � uma expectativa cada vez mais a se confirmar.

� um momento de busca por uma renova��o pol�tica em meio a um mundo onde as coisas est�o muito dif�ceis. A p�s-modernidade e a globaliza��o d�o ao Brasil e a muitos outros pa�ses uma condi��o de dificuldade mesmo para operar essa dimens�o republicana. Mas as elei��es agora s�o uma oportunidade para um novo momento de renova��o dessa corrente.

SENSACIONAL! CELEBRA
Shows de Mayra Andrade e Gilberto Gil, neste domingo (18/9), a partir das 18h, no anfiteatro do Mineir�o (Av. Ant�nio Abrah�o Caram, 1.001, Pampulha). Port�es abertos �s 16h. Ingressos: Pista: meia (1º lote) R$ 200; ingresso solid�rio (1º lote) R$ 240; inteira (1º lote) R$ 400. Cadeira inferior: meia (1º lote) R$ 100, ingresso solid�rio (1º lote) R$ 140, inteira (1º lote) R$ 200. Cadeira superior: meia (1º lote) R$ 80, ingresso solid�rio (1º lote) R$ 100, inteira (1º lote) R$ 160. O ingresso solid�rio exige a entrega de 1kg de alimento n�o perec�vel na entrada do evento. � venda no Sympla


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