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Estado de Minas CINEMA

Document�rio sobre os que v�o embora de casa abre a mostra CineBH

"Os ossos da saudade", de Marcos Pimentel, ouve pessoas que migraram e se sentem desenraizadas no local onde vivem


19/09/2022 04:00 - atualizado 18/09/2022 18:18

estrutura envelhecida de navio encalhada no mar em cena do filme 'Os ossos da saudade'
Angola foi um dos pa�ses em que o longa foi rodado; filmagens inclu�ram Mo�ambique, Cabo Verde, Portugal e Brasil (foto: Matheus Rocha/Divulga��o)


Nos �ltimos 20 anos, o diretor Marcos Pimentel definitivamente n�o teve resid�ncia fixa. Natural de Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, ele se mudou para Belo Horizonte no in�cio da vida adulta. Contudo, passou os �ltimos anos mais viajando pelo mundo do que na cidade em que escolheu para se estabelecer.
 
“Viajar faz parte de mim”, afirma o diretor. “Sou documentarista. Tenho de ir onde as hist�rias est�o”. Foi numa dessas viagens, em busca de hist�rias que pudessem render algum filme, que  ele se deu conta de que vivia uma crise de identidade: tendo nascido em um lugar, decidido viver em outro onde, na pr�tica, ela n�o se fixou, de onde ele era, afinal?

De pronto, o documentarista responde que � da cidade do interior mineiro. Afinal as primeiras lembran�as que lhe v�m � mente s�o a din�mica familiar na casa de seus pais, os costumes de cada membro da fam�lia e os pratos que comia na inf�ncia. 
 
árvores submersas em cena do filme 'Os ossos da saudade'
'Os ossos da saudade' ouve sete pessoas cujas trajet�rias se relacionam com o Brasil e procura traduzir em imagens suas sensa��es em rela��o � terra natal (foto: Matheus Rocha/Divulga��o)
 
 
Mas, pensando mais um pouquinho, ele se recorda de que, nas �ltimas vezes em que esteve em sua cidade natal, n�o teve a sensa��o de pertencimento. Por mais que os familiares e amigos estivessem ali diante dele, ele n�o se sentia mais como parte integrante da din�mica da casa. Constatou ainda que os modos e costumes das pessoas com quem conviveu na inf�ncia haviam mudado com o tempo.

“� como se a gente percebesse que n�o pertence mais �quele lugar”, comenta. Munido dessa sensa��o estranha - uma esp�cie de orfandade mesclada com nostalgia -, Pimentel decidiu procurar outras pessoas que sentissem o mesmo, a fim de transpor para as telas esse sentimento dif�cil de apreender. O resultado de sua busca se concretizou no longa “Os ossos da saudade”, que ter� pr�-estreia nesta ter�a-feira (20/9), no Cine Theatro Brasil Vallourec, na abertura da 16ª edi��o da Mostra CineBH.
 

Dificuldade para encontrar quem compartilhasse o mesmo dilema ele n�o teve. No entanto, era necess�rio encontrar algum ponto que interligasse todas as hist�rias.

“Decidimos, ent�o, estabelecer o Brasil para ser esse ponto convergente. No document�rio, temos sete personagens de nacionalidades diferentes, mas que t�m algum tipo de rela��o afetiva com o Brasil”, afirma.
 
Rodado em Portugal, Angola, Mo�ambique, Cabo Verde e no Brasil, o longa traz as perspectivas de Abdel Rassul, Adelmisa Brand�o, H�lia Samara, Joana Carneiro, Rodrigo Almeida, Ros�nia da Silva e Z� Melo. Eles s�o brasileiros ou estrangeiros que moraram no Brasil em algum momento de suas vidas e t�m na mem�ria um lugar carinhoso para essa experi�ncia. 
 
O conflito que sobressai nos personagens de “Os ossos da saudade” se relaciona com a no��o de desterro. “Por mais que eu tenha os meus amigos e a fam�lia que me acolheu por aqui, tenho que lidar com a solid�o”, afirma, em certo momento, H�lia Samara, angolana que partiu de sua terra natal para o Brasil.
 
O diretor procura traduzir esse conflito n�o apenas com os depoimentos dos entrevistados, mas tamb�m com imagens. Uma cena muito marcante - para o pr�prio diretor, inclusive - � um plano no qual caranguejos andam pela orla da praia e, a todo momento, s�o atingidos pela mar� que est� subindo. Os crust�ceos, entretanto, n�o se deixam levar, cravam as patinhas na areia e aguardam as ondas baixarem para seguir com a caminhada.
 
“As imagens s�o muito metaf�ricas. Quando sa�mos da nossa cidade ou do nosso pa�s, mantemos em nossa mem�ria aqueles momentos que vivemos enquanto estivemos l�. Quando retornamos, acreditamos, em fun��o dessa mem�ria, que as coisas estar�o do mesmo jeito que elas estavam quando fomos embora. E o curioso � que n�s mantemos firmes essa convic��o, mesmo quando tudo ao redor nos mostra que as coisas mudaram”, diz.
 
Embora seja um filme de abordagem intimista e, na teoria, f�cil de ser feito, Marcos Pimentel diz que ele e sua equipe passaram por muitas dificuldades durante a grava��o. Uma delas foi a odisseia que a turma enfrentou para subir em um vulc�o inativo levando todo o equipamento, que, al�m de pesado, ocupa muito espa�o. 
 
Outro problema foram os ventos fortes de Cabo Verde, que eram captados pelo microfone e n�o deixavam Z� Melo (o personagem de nacionalidade cabo-verdense) falar. Isso fez a equipe perder horas e mais horas, que poderiam ter sido aproveitadas com grava��es.

 
Document�rio

Os maiores entraves, contudo, apareceram em Angola. De acordo com o diretor, o pa�s � extremamente burocr�tico e pode colocar um diretor estrangeiro na situa��o de se ver instado a pagar propina para a libera��o de uma grava��o j� devidamente autorizada pelas autoridades locais.
“Eles chegam com aquela conversa: ‘O amigo est� te ajudando, logo voc� tem que ajudar o amigo tamb�m’. Nossa sorte � que t�nhamos na equipe pessoas naturais da Angola, que j� sabiam como lidar com esse tipo de situa��o. Mas era chato porque t�nhamos que ir conversar com as autoridades, explicar que t�nhamos autoriza��o para filmar ali, mostrar toda a documenta��o. Isso fez a gente perder muito tempo”, relembra.
 
O documentarista, no entanto, diz ter apre�o pelo pa�s africano e afirma que os sorrisos mais bonitos que viu foram em Angola. “E em Mo�ambique”, emenda.

Tendo tido sess�es de pr�-estreia em Pernambuco, Bras�lia e Paris, “Os ossos da saudade” chega a Belo Horizonte em um contexto especial para o diretor. Isso porque o CineBH � realizado junto com o Brasil CineMundi, uma plataforma de viabiliza��o de projetos via coprodu��o, da qual ele participou com a ideia do seu longa, que foi premiada.
 
“Poder exibir em Belo Horizonte durante este evento � muito especial, justamente porque o CineMundi acreditou na gente, o que nos estimulou a montar o filme”, afirma. Concebido h� 10 anos apenas como uma ideia vaga, “Os ossos da saudade” s� foi ganhando forma a partir de 2018, quando foram realizadas as pesquisas para encontrar as personagens e idealizadas as imagens que poderiam ser feitas. 
 
O trabalho de Marcos como curador do Festival de Cinema de Pa�ses de L�ngua Portuguesa (CinePort) fez com que ele j� soubesse correr atr�s de quem poderia ajud�-lo em cada um dos pa�ses em que o filme foi rodado. Conclu�da a pesquisa e a escolha dos sete personagens, come�aram as grava��es.

Tudo foi filmado em 2019, de modo que a pandemia de COVID-19 n�o atrapalhou a filmagem do longa.
Depois das sess�es de pr�-estreia, “muita gente veio falar que se identificou com o filme. Falavam que haviam se reconhecido em um personagem ou ent�o que viam nesse personagem algum parente ou amigo”, conta o diretor.
 
Terminada a exibi��o no Festival CineBH, o document�rio segue para o circuito comercial, a partir de quinta-feira (22/9).
 

 
Festival exibir� gratuitamente mais de 100 filmes

 
A 16ª edi��o da Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (CineBH) come�a nesta ter�a-feira (20/9) e fica em cartaz at� domingo (25/9). Ser�o exibidos mais de 110 filmes nacionais e internacionais; pr�-estreias e mostras retrospectivas, al�m da programa��o de oficinas, workshops, laborat�rios, masterclasses, debates e pain�is.
 
Os filmes est�o divididos nas mostras Continentes, Brasil-Longas, Brasil-Curtas, CineMundi, Di�logos hist�ricos, Pra�a, Homenagem, Cidade em movimento, Mostrinha e Cine-escola. Entre os t�tulos j� conhecidos pelo p�blico est�o “Eduardo e M�nica” (2020), de Ren� Sampaio; e os mineiros "Temporada" (2018), de Andr� Novais Oliveira; e "Marte Um" (2022), de Gabriel Martins, este �ltimo representante do Brasil no Oscar.
 
O festival ter� sess�es no Cine Humberto Mauro, UNA Cine Belas Artes, Teatro Sesiminas, Centro Cultural Minas T�nis Clube, Sesc Palladium, MIS Cine Santa Tereza, Teatro Espanca!, Cine Theatro Brasil Vallourec. Tamb�m ser�o montados espa�os especiais, como a tenda na Pra�a da Liberdade.
As atividades do CineBH s�o gratuitas e a programa��o completa est� no site oficial do evento


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