
Uma pergunta n�o sai da cabe�a dos f�s da s�rie "Bom dia, Ver�nica" (Netflix): afinal, haver� ou n�o uma terceira temporada?. A resposta, nem mesmo o autor da hist�ria, o escritor e roteirista Raphael Montes, tem. "Ainda n�o sabemos", diz ele.
Pela boa recep��o de p�blico e cr�tica, no entanto, � razo�vel supor que a trama n�o se esgotar� na segunda temporada, cujos seis epis�dios foram lan�ados pelo servi�o de streaming no m�s passado, dois anos depois da estreia da trama original sobre a escriv� de pol�cia Ver�nica Torres (Tain� M�ller), ambientada numa delegacia paulistana. "Bom dia, Ver�nica" � baseada no romance hom�nimo de Raphael Montes e Ilana Casoy.
Raphael Montes, contudo, afirma n�o ter escrito uma linha sequer sobre o destino do mission�rio Matias Cordeiro (Reynaldo Gianecchini), o vil�o da segunda leva de epis�dios, mas garante ter a ideia do que quer contar em uma eventual continua��o da s�rie.
Diferentemente do que ocorreu com o segundo ano da hist�ria, o roteirista pretende manter uma prov�vel continua��o centrada em Matias, “mas com um novo personagem”, conforme diz.
Diferentemente do que ocorreu com o segundo ano da hist�ria, o roteirista pretende manter uma prov�vel continua��o centrada em Matias, “mas com um novo personagem”, conforme diz.
"A gente est� cada dia mais em discuss�es sobre racismo, sobre crimes sexuais, sobre homofobia. Eu, como autor, posso amplificar essas discuss�es, o que � muito positivo. Infelizmente, situa��es de racismo, de homofobia, de crimes sexuais, viol�ncias em geral continuam a acontecer, por�m tudo isso est� sendo discutido, e a discuss�o, para mim, � o primeiro passo para a mudan�a"
Raphael Montes, escritor e roteirista
Al�m de Reynaldo Gianecchini, a nova safra de epis�dios tem no elenco a atriz Klara Castanho como �ngela, filha do mission�rio. Os holofotes se voltaram para a s�rie antes mesmo de sua estreia, quando se tornou p�blico (� revelia da atriz) que Klara Castanho sofreu um estupro, engravidou e decidiu entregar a crian�a para ado��o legal.
A partir da�, surgiram informa��es desencontradas sobre a segunda temporada, como a de que a hist�ria teria sido modificada em respeito � atriz, excluindo cenas de um abuso do qual Angela seria v�tima por parte do pai. Raphael Montes diz que a obra n�o sofreu cortes.
"Desde o in�cio da segunda temporada a gente queria tratar de assuntos muito atuais e, infelizmente, muito comuns nos lares brasileiros, que s�o o abuso sexual, os crimes sexuais contra a mu lher. E por ser tamb�m um tema muito fr�gil e ser uma s�rie policial, tomamos o cuidado desde o in�cio do projeto", diz.
Os crimes sexuais cometidos por Matias s�o, em sua maioria, narrados pelas v�timas. "Damos voz �s v�timas, e n�o ao crime. Por isso, n�o precisamos fazer mudan�as na s�rie quando a quest�o pessoal da atriz Klara Castanho veio � tona. O que saiu na imprensa foi pura fofoca", afirma.
Outro cuidado observado desde o in�cio do projeto foi o de n�o criticar nenhuma religi�o espec�fica – “Sou religioso, tenho forma��o cat�lica”, diz o roteirista - mas, sim, o uso da religi�o e da f� como instrumentos de poder e manipula��o.
"Na s�rie, o Matias n�o pertence a nenhuma igreja, a nenhuma religi�o espec�fica, porque o problema n�o � a religi�o, o problema � voc� usar a religi�o para influenciar as pessoas", diz Montes, apontando "evidentes deturpa��es nos �ltimos anos" da caracteriza��o do Brasil como um Estado laico.
O personagem Matias n�o foi inspirado em uma �nica figura, mas encontra eco em v�rias pessoas reais, n�o somente do Brasil. "L�deres religiosos que usam seu poder para cometer crimes est�o por a�. Al�m dos crimes sexuais do Matias ao longo da s�rie, eles tamb�m praticam outros que s�o uma busca pelo poder. O Matias tem uma esp�cie de ex�rcito que ele cria no orfanato, um ex�rcito de fi�is. Isso eu acho que dialoga, de algum modo, com v�rias quest�es do Brasil contempor�neo."
Por mais otimista que seja, Raphael Montes n�o acredita que t�o cedo o pa�s consiga se desvencilhar da rela��o que estabeleceu entre religi�o e pol�tica. "O brasileiro � um povo de muita f�, n�?", pondera. "Independentemente da religi�o, infelizmente temos muitos lobos em pele de cordeiro, muitos falsos samaritanos ainda fazendo uso da f� desse povo para adquirir poder."
Roteiro da s�rie
Assim como no livro, o roteirista teve a colabora��o de Ilana Casoy no desenvolvimento do roteiro adaptado para o formato de s�rie. Ele elogia a contribui��o dela para a hist�ria. “Ela � uma mulher 30 anos mais velha do que eu, com uma grande experi�ncia de vida, de viv�ncias. Al�m disso, � uma crimin�loga, especialista em n�o fic��o", diz. "V�rias dessas resson�ncias com o real ela traz e eu transformo isso em fic��o, em dramaturgia, � uma parceria muito feliz nesse sentido."
Mesmo com a boa repercuss�o da s�rie, ele n�o acredita num aumento do n�mero de tramas policiais produzidas pelo setor audiovisual brasileiro, que, segundo ele mesmo observa, segue muito ao sabor das tend�ncias.
"Acredito que as pessoas gostam de boas hist�rias. Eu sou um defensor fiel de contar boas hist�rias, tanto que criei junto com a produtora de desenvolvimento, que � a Casa Rodes, para contar hist�rias de suspense, mist�rio, terror, mas que prendam o espectador e que gerem coment�rios e reflex�es e fa�am provoca��es.”
"Acredito que as pessoas gostam de boas hist�rias. Eu sou um defensor fiel de contar boas hist�rias, tanto que criei junto com a produtora de desenvolvimento, que � a Casa Rodes, para contar hist�rias de suspense, mist�rio, terror, mas que prendam o espectador e que gerem coment�rios e reflex�es e fa�am provoca��es.”
Ele diz gostar “desse encontro do entretenimento com a pertin�ncia”. “Tor�o, sim, para que a gente fa�a mais s�ries, mais filmes de suspense e policial, um dos g�neros mais feitos nos Estados Unidos e na Europa, e no Brasil a gente ainda n�o tem tantas s�ries nesses g�neros".
Entre as s�ries recentes, ele aponta como suas favoritas “Succession” (HBO), “s�rie policial com muito suspense e com dramas familiares”, vencedora do Emmy 2022 na categoria s�rie dram�tica, e “Severance”, que o deixou bastante encantado. "� uma s�rie que pega um pouco da distopia e tamb�m de conversar com a realidade, � uma fic��o cient�fica que de algum modo dialoga com a realidade e a cultura da �poca”.
Raphael Montes se diz f� da utiliza��o das hist�rias de g�nero, como terror, suspense, policial, fic��o cient�fica, para debater algum assunto. N�o � toa, um de seus filmes favoritos � o sul-coreano vencedor do Oscar “Parasita”.
“S�o filmes de g�nero, mas que mudam o g�nero para fazer muito mais do que contar uma boa hist�ria”, diz ele, citando o longa nacional “O lobo atr�s da porta” como um de seus filmes preferidos. "(O diretor) Fernando Coimbra � incr�vel", afirma.
“S�o filmes de g�nero, mas que mudam o g�nero para fazer muito mais do que contar uma boa hist�ria”, diz ele, citando o longa nacional “O lobo atr�s da porta” como um de seus filmes preferidos. "(O diretor) Fernando Coimbra � incr�vel", afirma.
APOIO A KLARA Raphael conta que conversou diretamente com Klara Castanho logo quando o caso veio � tona. "N�o me manifestei publicamente em m�dias sociais justamente por ser um caso de ordem pessoal e que ela n�o queria que viesse � tona, e veio � tona gra�as a uma imprensa vulgar que infelizmente n�s ainda temos no Brasil", critica. "Na medida em que eu tenho uma rela��o pessoal com a atriz, fui conversar com ela e oferecer o meu apoio e o meu carinho."
Em rela��o �s redes sociais, sem deixar de reconhecer aspectos que podem ser positivos em seu bom uso, ele observa que elas tamb�m amplificam discurso de �dio, not�cias mentirosas, fofocas, bullyings, viol�ncias em geral. "Por isso t�m que ser tratadas com muito cuidado."
Ele se considera bastante ativo nas redes sociais, onde encontra uma maneira de manter contato com o p�blico, de informar sobre trabalho, de mostrar um pouco da vida pessoal e de manter contato com amigos.
"Eu tento sempre usar as redes sociais para o lado positivo, mas � evidente que o lado negativo por vezes transborda e nos atinge. Assim, a gente tenta seguir adiante, porque voc� n�o vai ficar a� se protegendo de tudo. A gente est� vivo � para isso mesmo, para enfrentar as situa��es”, diz.
"Eu tento sempre usar as redes sociais para o lado positivo, mas � evidente que o lado negativo por vezes transborda e nos atinge. Assim, a gente tenta seguir adiante, porque voc� n�o vai ficar a� se protegendo de tudo. A gente est� vivo � para isso mesmo, para enfrentar as situa��es”, diz.
No entanto, o roteirista pondera sobre a amplitude da cobran�a por opini�es. “Agora, me assusta um pouco o fato de que todo mundo tem que ter uma opini�o sobre tudo. E a�, necessariamente, as opini�es s�o superficiais, s�o pouco aprofundadas, t�m pouco tempo de reflex�o. Sempre tenho muito cuidado, porque eu sei que tudo que vai para a rede social � complicado."
Redes sociais
Ele tamb�m usa as redes sociais como ferramenta de trabalho. "Hoje as not�cias correm mais r�pido, as rela��es se mant�m mesmo a dist�ncia. Antigamente, era por carta, depois por telefone, e hoje em dia a gente consegue ter um contato muito mais pr�ximo. � importante estar nas redes sociais, atento ao mundo que nos rodeia."

Neste ano, Raphael Montes comemora 10 anos do lan�amento de seu livro de estreia, “Suicidas” (Companhia das Letras). O escritor garante que apesar de sempre escrever hist�rias que envolvem crime e viol�ncia, ele � um otimista e por isso tenta acreditar que o mundo evoluiu ao longo da d�cada.
"A gente est� cada dia mais em discuss�es sobre racismo, sobre crimes sexuais, sobre homofobia. Eu, como autor, posso amplificar essas discuss�es, o que � muito positivo. Infelizmente, situa��es de racismo, de homofobia, de crimes sexuais, viol�ncias em geral continuam a acontecer, por�m tudo isso est� sendo discutido, e a discuss�o, para mim, � o primeiro passo para a mudan�a."
O escritor acredita que a velocidade do mundo de hoje mudou a forma de se contar hist�rias em rela��o ao que era 10 anos atr�s. "As pessoas hoje em dia se informam mais, conhecem mais sobre diferentes personalidades, as pessoas fazem psicoterapia. Acho que isso faz com que a gente tenha personagens cada vez mais complexos, com falas cada vez mais �geis."
Ele atualmente est� escrevendo o livro "Os disc�pulos", que espera lan�ar no ano que vem.
Ele atualmente est� escrevendo o livro "Os disc�pulos", que espera lan�ar no ano que vem.
