A conjuntura pol�tica brasileira a partir do ano de 2013, com as manifesta��es de junho, � repassada por Antonio Prata na colet�nea "Por quem as panelas batem"; acima, ato na �rea em torno do Mineir�o, em 26 de junho daquele ano (foto: Jackson Romanelli/Reuters)
Entre 2001, quando editou seu primeiro livro, e 2010, quando ganhou visibilidade ao publicar "Meio intelectual, meio de esquerda", a colet�nea de cr�nicas urbanas sobre a vida como ela �, o roteirista Antonio Prata olhava para a pol�tica com o vi�s de um bate-papo de botequim.
Sua especialidade era tratar de assuntos e personagens cotidianos que orbitavam ao redor de sua bolha e, talvez por isso, conquistando um n�mero fiel de seguidores, que n�o s� passaram a consumir seus livros, como sua coluna no jornal “Folha de S.Paulo”, e os trabalhos que fez para a TV Globo, a maioria como colaborador.
Entretanto, ao enxergar um movimento incomum nas manifesta��es de 2013, que culminariam, dois anos depois, no impeachment da presidente Dilma Rousseff, Prata decidiu se dedicar a lan�ar seu olhar ir�nico para a pol�tica brasileira, analisando desde a sa�da da petista da Presid�ncia da Rep�blica, at� a elei��o de Jair Bolsonaro e tudo o que define o movimento bolsonarista na sociedade e nas redes.
"Me causa uma indigna��o perp�tua a realidade brasileira que se acentua de 2013 em diante", diz. "Eu n�o costumava escrever sobre pol�tica, era muito raro, mas ficou muito dif�cil n�o tocar no assunto."
Essa mesma indigna��o deu origem a "Por quem as panelas batem", colet�nea que re�ne as cr�nicas publicadas pelo autor no jornal entre 2013 e 2022. "Tem um arco narrativo de 2013 para c�, ent�o eu peguei as cr�nicas mais evidentemente pol�ticas, que falam de uma pol�tica institucional, e fui selecionando as que faziam mais sentido e as que estavam mais bem escritas retratando eventos importantes."
Eu estava muito pessimista uns anos atr�s, porque aquele discurso que nasce com Gilberto Freyre, que transforma a miscigena��o numa promessa e, de certa forma, � retomado pela antropofagia e atravessa todo o s�culo 20, bateu num muro, n�? Porque se revelou nesses �ltimos anos, com a elei��o de Bolsonaro, que � mentira essa mistura harm�nica, e que o discurso da democracia racial cabia muito mais para o Leblon do que para a favela da Mar�
Antonio Prata, escritor
Indigna��o seletiva
O livro � composto por 60 textos, entre eles o que d� nome � publica��o, que exp�e uma radiografia da indigna��o seletiva do brasileiro, capaz de bater panelas para um pronunciamento de Dilma, mas n�o pelo desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo, por exemplo.
"Eu estava muito pessimista uns anos atr�s, porque aquele discurso que nasce com Gilberto Freyre, que transforma a miscigena��o numa promessa e, de certa forma, � retomado pela antropofagia e atravessa todo o s�culo 20, bateu num muro, n�? Porque se revelou nesses �ltimos anos, com a elei��o de Bolsonaro, que � mentira essa mistura harm�nica, e que o discurso da democracia racial cabia muito mais para o Leblon do que para a favela da Mar�."
O autor, entretanto, passou a enxergar uma redefini��o do que chamou de "pot�ncia brasileira", e isso est� retratado em "Por quem as panelas batem".
"Existe uma certa possibilidade de transforma��o da trag�dia em beleza que a gente tem que ressignificar. N�o adianta fazer essa transforma��o se n�o tem escola, se n�o tem educa��o para 90% da popula��o, sen�o fica uma coisa que s� faz sentido no apartamento da Nara Le�o em Ipanema."
"Eu acredito que tem um combust�vel para a gente transformar o Brasil, e eu falo disso escrevendo porque � a voz que eu tenho. N�o sei se tenho como furar a bolha, mas � sempre uma tentativa, e eu escrevo cr�nicas pol�ticas pensando em convencer as pessoas, e n�o vai ser chamando quem votou no Bolsonaro de imbecil, de burro. Eu quero sempre trazer essas pessoas para o lado de c�."
(foto: Companhia das Letras/Divulga��o)
"POR QUEM AS PANELAS BATEM”
• Antonio Prata
• Companhia das Letras (320 p�gs.)
• R$ 59,90
receba nossa newsletter
Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor